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Síndrome da Péssima Mãe

Síndrome da Péssima Mãe

Apesar de não estar presente no DSM-V ou no CID-10, a Síndrome da Péssima Mãe é um quadro que vem sendo, pouco a pouco, estudado e discutido por especialistas.

Isso porque é possível notar, no universo materno, algumas mães que apresentam um conjunto de sintomas característicos, que provocam falta de autoconfiança, baixa autoestima e o desenvolvimento de um autoconceito negativo.

Por isso, trouxemos informações relevantes sobre essa síndrome, a fim de esclarecer dúvidas e ajudá-lo a pensar sobre essa temática. Confira lendo este texto até o fim.

O que é a Síndrome da Péssima Mãe?

A Síndrome da Péssima Mãe ainda não está catalogada nos Manuais Estatísticos de Transtornos Mentais. No entanto, especialistas têm percebido um conjunto de sintomas semelhantes, em diversas mães, que podem caracterizar um quadro específico.

Esse quadro, portanto, seria a Síndrome da Péssima Mãe. Assim, essa síndrome pode ser caracterizada como um autoconceito negativo que a mulher mãe faz de si mesma, com relação à maternidade e ao cuidado com os seus filhos.

A mulher pode acreditar que é uma mãe “ruim”, incapaz de suprir as necessidades das crianças, oferecendo uma educação inadequada. A autoestima dessa mulher pode ficar extremamente abalada, bem como ela pode se sobrecarregar de atividades para tentar “compensar” as suas “falhas”.

Quais as causas da Síndrome da Péssima Mãe?

As causas da Síndrome da Péssima Mãe podem ser multifatoriais. Isso porque existem muitos cenários que podem desencadear os sintomas que veremos mais adiante.

Afinal, cada mulher é única e vive a maternidade de uma maneira completamente singular. Logo, não é possível descrever uma única causa detectável para a síndrome. Ainda mais se considerarmos o conceito de síndrome que significa “reunião”, ou seja, reunião de sintomas sem uma causa detectável.

No entanto, existem algumas situações que, agregadas a outras, podem desencadear problemas no autoconceito e na autoestima da mulher. Abaixo citamos alguns desses casos:

1. Baixa autoestima
A baixa autoestima pode ser um dos pontos capazes de desencadear a Síndrome da Péssima Mãe. A mulher, que se sente inferior, incapaz e diminuída, pode ter dificuldades para enxergar os seus próprios atributos, inclusive dentro do papel de mãe.
Dessa maneira, passa a se ver por meio de um olhar muito negativo, acreditando que não está oferecendo aos filhos um suporte adequado.

2. Imposições sociais
As imposições sociais, querendo ou não, também podem servir de estopim para a Síndrome da Péssima Mãe. Afinal, vemos constantemente, seja na internet, na TV ou no círculo social, as pessoas falando sobre quais são as características de uma boa mãe.
Porém, quando a mulher percebe que, obviamente, ela não consegue arcar com todas essas características que vêm sendo apresentadas, ela pode se sentir pressionada e diminuída, resultando em pensamentos deturpados sobre a própria atuação dentro da maternidade.

3. Comparações excessivas
Se a mulher mãe convive com outras mulheres mães, ela pode começar a desenvolver o comportamento de comparação. Essa comparação, quando excessiva, pode desencadear sentimentos de inferioridade e incapacidade.
Ao ver uma mãe tendo um desempenho X dentro da maternidade, essa mulher pode se sentir inferiorizada por não conseguir atingir a mesma performance – mesmo que ela não tenha o suporte igual ao da primeira mãe.
Essas comparações, quando repetidas e frequentes, podem minar o bem-estar e a saúde mental da mulher, resultando em quadros psicológicos semelhantes aos sintomas da Síndrome da Péssima Mãe.

4. Questões vividas na infância
Durante a infância, nós vivenciamos o nosso próprio relacionamento com os nossos pais. Contudo, muitas vezes podemos viver frustrações nesses relacionamentos, enxergando “falhas” ou “limites” na atuação materna e paterna.
Sendo assim, questões vividas na infância também podem servir de estopim para a Síndrome da Péssima Mãe. É o caso de uma mulher que teve uma mãe muito ausente e hoje, em seu papel de mãe, tenta estar presente o tempo todo, sentindo culpa por trabalhar, por exemplo.
Perceba que nesse exemplo a mulher pode estar projetando algo que viveu na infância, buscando sanar aquela falta ao ser uma mãe extremamente presente – o que, na realidade, é impossível.

5. Desejo de “compensar as ausências”
Seguindo o exemplo acima, infelizmente muitas mulheres ainda sentem uma angústia e uma culpa muito grande por precisar se afastar dos seus filhos no dia a dia. Afinal, antigamente tinha-se a ideia de que a mulher precisava passar o dia inteiro com os seus filhos, exceto quando eles estavam na escola.
Porém, os tempos mudaram. Hoje a mulher está muito mais inserida no mercado de trabalho, por exemplo, o que resulta num impeditivo de permanecer o tempo todo com as crianças.
Entretanto, isso não é motivo para se enxergar como uma mãe ruim! A ausência também é importante, quando ocorre na medida certa, pois ela auxilia no desenvolvimento da autonomia e até mesmo da sociabilidade da criança, que interagirá com outros adultos e crianças.
No entanto, ainda é muito comum as mães tentarem compensar as suas ausências, “mimando” seus filhos ao aceitar tudo o que pedem e sanando suas vontades o quanto antes.
Mas, infelizmente, essa busca incessante por compensação pode resultar em um quadro de Síndrome da Péssima Mãe.

6. Busca por perfeição e idealização da maternidade
No decorrer deste texto, trouxemos algumas pinceladas sobre as comparações e visões que as pessoas podem ter da maternidade.
Portanto, é válido destacar que esse tipo de visão e romantização também pode ocasionar casos de Síndrome da Péssima Mãe. Afinal, a mulher pode se ancorar no que vê na TV, por exemplo, crendo que a maternidade é 100% feliz e mágica.
Porém, quando se depara com a realidade e com os sentimentos e emoções negativos que podem aparecer na maternidade, a mulher pode sentir culpa ou até mesmo se sentir inferior às outras mães.
Consequentemente, com a autoestima abalada e com uma visão deturpada da maternidade, a mulher pode desenvolver quadros importantes que afetam a sua saúde mental.

Quais os sintomas da Síndrome da Péssima Mãe?

Agora que já discutimos um pouco mais sobre as possíveis causas e conjuntos de causas da Síndrome da Péssima Mãe, vamos adiante! Discutimos, a seguir, alguns dos principais sintomas que podem caracterizar esse autoconceito negativo que a mulher faz de si mesma:

1. Sentimento de incapacidade
Apesar de oferecer aos filhos um suporte saudável, a mulher sente que é incapaz de desenvolver um lar adequado para os pequenos. Ela pode estar, a todo momento, tentando suprir alguma falta, como se nunca fosse o bastante.
Tudo isso pode ocasionar o sentimento de ser incapaz, “ruim” ou, como o próprio nome da síndrome nos dá a entender, “uma péssima mãe”.

2. Sensação de estar sendo negligente
A sensação de estar sendo negligente também pode aparecer no dia a dia da mulher. Se ela precisa sair para resolver alguma coisa e deixa o filho com a babá, a sensação é de que está negligenciando os cuidados do pequeno – que não é verdade.
Além disso, mesmo que ela ofereça tudo o que está ao seu alcance, ainda assim sente que não é o bastante, tendo a sensação de que não está suprindo o mínimo viável.

3. Culpa por não passar 24 horas ao lado do filho
Seja por conta do trabalho ou por conta de qualquer outra atividade, a mulher com sintomas de Síndrome da Péssima Mãe pode sentir uma culpa excessiva por não ficar o tempo todo ao lado do filho.
Ela passa a acreditar que está “deixando a desejar” ou que o seu filho se sentirá “abandonado” pelo simples fato de ela não estar, a todo momento, com ele no colo ou por perto.
Porém, sabemos que é inviável e humanamente impossível estarmos com os nossos filhos o tempo todo, certo?

4. Exaustão por tentar “dar conta de tudo”
Uma mulher com Síndrome da Péssima Mãe pode apresentar exaustão física e mental, também chamado de burnout materno, por tentar dar conta de tudo o tempo todo. Afinal, ela pode enxergar a maternidade como algo que exige um sacrifício infinito, que não lhe dá o direito de descansar e pausar.
Isso porque essas pausas e descansos podem ser vistos como algo “negativo” aos olhos dessa mãe e, por isso, ela tenta manter-se extremamente ativa e inabalável o tempo todo.
Entretanto, o problema é que nós não somos seres inabaláveis, infelizmente, e a “conta” desse excesso vem em forma de exaustão e esgotamento.

5. Medo do julgamento alheio
Dependendo do contexto social ou da visão que a mulher tem sobre o contexto social no qual ela está inserida, o medo do julgamento alheio também pode ser uma mola propulsora para a Síndrome da Péssima Mãe.
Ela pode se sentir constantemente avaliada, fazendo com que os seus comportamentos sejam calculados o tempo todo, como se tentasse atingir uma perfeição para não ser “mal falada” ou algo semelhante.
Essa preocupação excessiva com o julgamento alheio pode provocar o sentimento de não estar à altura de uma boa mãe.

6. Dificuldade para solicitar apoio e ajuda
Uma mulher com sintomas de Síndrome da Péssima Mãe também pode ter certa dificuldade para solicitar ajuda. Isso porque ela enxerga que os pedidos de ajuda podem ser compreendidos como uma fraqueza ou uma “incapacidade” dela de dar conta de tudo.
Por isso, busca, constantemente, dar conta de tudo sozinha, uma vez que enxerga o “delegar” como algo que a caracterizaria como uma mãe incompleta, embora essa crença negativa não condiga com a realidade.

7. Preocupação excessiva relacionada ao papel de mãe
A preocupação excessiva relacionada ao papel de mãe também pode estar bastante presente. O tempo todo a mulher se autoavalia, sendo muito crítica com as suas próprias posturas, visando reconhecer as falhas para “saná-las”.
Porém, dificilmente ela enxerga fatores positivos, e está sempre preocupada se realmente está conseguindo atingir bons resultados ou não.
Toda essa preocupação pode acarretar em problemas emocionais e psicológicos, como a própria Síndrome da Péssima Mãe.

Como lidar com a Síndrome da Péssima Mãe?

Até aqui pudemos ter uma visão mais clara e maior sobre o que é a Síndrome da Péssima Mãe. Agora, vamos discutir alguns caminhos para lidar com essa situação e desenvolver uma maternidade mais equilibrada e saudável. Veja:

1. Interrompa as comparações
Um ponto que deve ser policiado é com relação às comparações que são constantemente feitas. Se você costuma se comparar com outras mulheres mães, tente interromper esse tipo de postura.
Quando se der conta de que está pensando nas outras mães, enquanto se inferioriza frente à elas, considere mudar o pensamento neste momento. Afinal, não se esqueça de que cada pessoa é única, possui uma história única, dificuldades únicas, etc.
Isso quer dizer que é impossível desenvolver uma história igual a outra, o que nos dá a entender que nunca teremos como comparar duas pessoas.

2. Evite atender todas as demandas do seu filho o “quanto antes”
Não pense que uma boa mãe é aquela que atende todas as demandas do seu filho o quanto antes. Uma mãe boa também se ausenta, também demora e também diz “não”.
Portanto, não fique anulando a sua rotina e as suas vontades apenas para satisfazer o seu filho no instante em que ele solicita alguma coisa. Respeite o seu tempo e os seus limites, dando a ele, também, limites importantes sobre a vida como um todo.
Afinal, que adulto que recebe tudo o que quer de uma hora para outra, não é mesmo?

3. Considere a qualidade do tempo compartilhado com o seu filho
Muitas mães se sentem culpadas por trabalhar, o que, na realidade, é reflexo das imposições sociais que muitas mulheres ainda sofrem.
Porém, ao invés de ancorar os pensamentos na ausência, que tal considerar o desenvolvimento da qualidade do tempo compartilhado?
Isto é, devemos focar na qualidade, e não na quantidade de horas.
Como você tem aproveitado o tempo livre com os seus filhos? Pense sobre isso e pare de culpar por, simplesmente, ter uma vida para além da maternidade.

4. Viva a sua própria companhia e pratique o autocuidado
O autocuidado e a sua própria companhia têm um papel importante na manutenção da sua saúde mental.
Cuidado para não anular a sua pessoa sujeito em prol de um único papel dentro da sua vida: o papel de mãe.
É claro que o papel de mãe é muito importante, mas ele não deve ser soberano a ponto de anular todos os outros papéis que você possui – como o papel que você tem de um simples ser humano!
Portanto, separe momentos para viver a sua companhia, descansar, ler um livro, passear sozinha, curtir um hobby. Também pratique o autocuidado e priorize-se dentro da sua rotina. Desse modo, torna-se mais viável construir um dia a dia mais saudável.

5. Busque a compreensão da romantização da maternidade, quebrando-a
Entenda que, ao longo de nossas vidas, vemos muitos conteúdos e discursos que romantizam a maternidade. Vemos pessoas falando da “mágica” de ser mãe e da alegria sem fim de gestar e parir.
Porém, como seres humanos, não existe uma fase de nossas vidas que seja, simplesmente e completamente, feliz e plena. Mas sim, todas as fases têm altos e baixos que podem impactar as nossas emoções e formas de se portar diante da vida.
Por isso, devemos quebrar com essa romantização da maternidade para tirar esse peso de que se não estamos dando conta de tudo ou se estamos infelizes com algo, é porque somos péssimas mães. Isso não é verdade!

6. Faça psicoterapia
A psicoterapia também tem um papel importante nos casos de Síndrome da Péssima Mãe. Por meio dela você pode:

  • Entender as suas emoções.
  • Falar sobre os fatores negativos da maternidade, desabafando e sem medo de ser julgada.
  • Encontrar ferramentas para lidar com as sobrecargas.
  • Aprender um pouco mais sobre si mesma.
  • Encontrar os seus pontos fortes e fracos, aprendendo a lidar melhor com os seus limites.
  • Reconhecer a sua força no papel de mãe, compreendendo que, mesmo na imperfeição, há muito do que se orgulhar.
  • Entre outros pontos envolvidos com o autoconceito e a autoestima.

7. Aprenda a delegar e pedir ajuda
Por fim, considere aprender a delegar e a pedir ajuda. Ninguém, nesta vida, merece arcar com tudo sozinho, sem nenhum tipo de apoio. Por que na maternidade seria assim?
Você merece pedir o apoio de quem está ao seu lado, construindo uma rede de relacionamentos que tornem o desenvolvimento da sua maternidade algo mais positivo e sadio, sempre respeitando os seus limites.
Lembre-se disso e busque apoio, seja com familiares, amigos ou até mesmo com profissionais. Cuide-se!

Referências
BELMIRO, M. A síndrome da péssima mãe. Instituto de Crescimento Infantojuvenil. 15 de janeiro de 2020.

PIRES, E. M.; LIMA, A. L. G. “#Síndrome de menasmain #”1: A mãe má e a boa mãe da blogosfera materna brasileira. Rev. Textura. v. 23 n. 55 p.38-58 jul./set. 2021.

SAMPAIO, J.; SANTOS, M. F. S.; SILVA, M. R. F. A representação social da maternidade de crianças em idade escolar. Psicol. cienc. prof. 28 (1) • 2008.