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Depressão pós-parto

Depressão pós-parto

A depressão pós-parto é um quadro que acomete mulheres no puerpério e pode perdurar por meses. As causas podem ser fisiológicas, genéticas, psicológicas e emocionais, devido às mudanças corporais e psíquicas que a mulher pode viver no pós-parto.

Exige acompanhamento médico para que os sintomas sejam tratados e a mulher possa ter mais qualidade de vida, bem como uma melhor relação com o seu próprio bebê.

A seguir, você verá um panorama geral da depressão pós-parto. Acompanhe-nos.

Aspectos gerais da depressão pós-parto

Como o próprio nome nos dá a entender, a depressão pós-parto é um quadro depressivo que aparece após o parto.

Para se ter uma ideia, a fase perinatal é uma das fases da vida da mulher que apresenta maior risco de desenvolver um quadro de depressão ou ansiedade. Por isso, a depressão na gestação ou no pós-parto pode, muitas vezes, ser mais recorrente do que imaginamos.

Porém, a depressão pós-parto não é a mesma coisa que a tristeza materna ou baby blues. Neste segundo caso, a mulher pode viver uma fase de sensibilidade e tristeza, devido às mudanças vividas entre a gestação e o pós-parto. No baby blues a tristeza costuma durar até 3 semanas depois do parto.

Já no caso da depressão, os sintomas podem surgir depois de 3 semanas e até de meses, sendo esses sintomas mais intensos do que o que ocorre na tristeza materna.
Analisar o caso com base nesses fatores é muito importante para oferecer o melhor suporte à mulher.

Na depressão pós-parto a mulher pode ter dificuldade para se vincular ao seu bebê, mas também é possível que o vínculo aconteça, mesmo que frágil. Ou seja, nem sempre a mulher “rejeita” o bebê, mas outros sintomas podem ser vistos, como por exemplo:

  • Tristeza profunda.
  • Baixa autoestima.
  • Sentimento de culpa.
  • Fadiga.
  • Entre outros.

A seguir, detalhamos um pouco mais os sintomas da depressão pós-parto. Continue lendo.

Sintomas da depressão pós-parto

Os sintomas da depressão pós-parto se assemelham com a depressão que pode ocorrer em outras fases da vida da mulher. No entanto, neste caso, muitas questões sintomáticas estão relacionadas com a fase do puerpério.

Veja a seguir:

1. Distúrbios do sono
Uma mulher com depressão pós-parto pode apresentar sinais de que o sono está desregulado. É o caso de passar noites em claro com insônia, ou horas a fio dormindo com hipersonia.
Cada mulher pode reagir de uma forma diferente com relação à rotina do sono, mas as alterações são perceptíveis e podem acarretar em prejuízos funcionais no dia a dia da puérpera.

2. Distúrbios alimentares
A mulher pode ter um aumento acentuado em seu apetite, alterando o seu peso corporal e engordando de forma relativamente repentina.
O contrário também pode acontecer: a falta de interesse em se alimentar e a ausência do apetite podem fazer com que a puérpera perca peso e, até mesmo, sofra impactos na produção de leite materno, por exemplo.

3. Sentimento de desvalia
A autoestima da mulher, tendencialmente, pode ficar diminuída. Ela começa a se sentir incapaz de ser uma boa mãe, bem como pode sentir culpa e acreditar que é apenas “um peso” na vida das outras pessoas.
A falta de autoconfiança é evidente e gera sofrimento para uma mulher com depressão pós-parto.

4. Fadiga e cansaço excessivo
Embora a mulher possa dormir e até mesmo ter momentos de descanso, a sensação é que as pequenas atividades do dia a dia já são capazes de provocar um cansaço intenso. Isto é, a simples necessidade de tomar banho pode ser um “peso” para a puérpera.
A perda de energia é muito rápida, e faz com que a mulher sinta um cansaço excessivo na maior parte do dia.

5. Falta de interesse e apatia
Também é possível detectar a falta de interesse em atividades que antes eram prazerosas para a mulher. A apatia começa a fazer parte do humor da puérpera, que não sente vontade de cumprir nenhuma atividade, nem mesmo os seus hobbies.

6. Dificuldades para lidar com o papel de mãe
O papel de mãe, obviamente, pode ser muito “assustador” no começo. De uma hora para outra a mulher assume a maternidade e isso pode causar angústia.
Porém, quando essa dificuldade se torna profunda, a ponto de impactar na funcionalidade da mulher no dia a dia, é interessante investigar.
Se a mulher se sente incapaz de ser mãe ou não consegue aceitar essa posição, sentindo-se triste, irritada, cansada ou frustrada, é muito importante buscar apoio psicológico.

7. Tristeza profunda
A tristeza profunda é uma característica da depressão em adultos. No caso da depressão pós-parto, a mulher pode ficar com um choro fácil, um sentimento de “vazio” e uma dificuldade para encontrar sentido para o que faz no dia a dia.

8. Dificuldade para se concentrar e tomar decisões
A dificuldade para se concentrar e tomar decisões também é uma característica comum de um quadro depressivo. Isso pode estar relacionado com o sono inadequado, fadiga excessiva, tristeza e preocupação, baixa autoestima, etc.

Causas da depressão pós-parto

As causas da depressão pós-parto podem ser multifatoriais. Isso significa que um conjunto de fatores pode ocasionar o aparecimento de um quadro depressivo na puérpera, como por exemplo:

  1. Mudanças no organismo: O corpo passa por mudanças que podem ocasionar o aparecimento dos sintomas de depressão. É o caso das alterações cerebrais em decorrência das mudanças hormonais, por exemplo, que mexem diretamente nas emoções e no funcionamento do organismo.
  2. Mudanças psicológicas: O novo papel que a mulher precisa assumir, bem como suas questões psicológicas sobre maternidade que são construídas ao longo de sua vida, podem resultar em desequilíbrios emocionais e no desenvolvimento de quadros como a depressão pós-parto.
  3. Pressões sociais e romantização da maternidade: A romantização da maternidade pode fazer com que a mulher se veja obrigada a cumprir determinados parâmetros e padrões que escapam do seu alcance, sobrecarregando-a e diminuindo a autoestima na maternidade. Essa pressão e essa sobrecarga constante podem ocasionar problemas emocionais e psicológicos mais sérios, como a depressão.
  4. Falta de apoio: A rotina de uma puérpera pode ser bastante intensa, especialmente quando ela não recebe nenhum tipo de apoio de outras pessoas. Esses excessos vão acumulando angústias, tristezas e cansaços excessivos, tanto no sentido emocional, quanto no físico, resultando em patologias.
  5. Genética: Mulheres com familiares que têm transtornos mentais, especialmente depressão, podem ter uma propensão genética para desenvolver o quadro.

Tratamento para depressão pós-parto

O tratamento para depressão pós-parto deve respeitar o quadro e os sintomas da mulher. Isto é, tanto o tratamento medicamentoso, feito com o acompanhamento de um psiquiatra, quanto a psicoterapia, oferecida por um psicólogo, devem ser prescritos e desenvolvidos de acordo com a história clínica singular da mulher.
Na psicoterapia, a mulher terá um espaço para falar sobre suas dores, emoções, angústias, etc. Ao mesmo tempo, receberá intervenções que a ajudem a fortalecer a autoestima, desenvolver uma rede de apoio, entre outros pontos.
Já com o medicamento é possível reduzir a intensidade dos sintomas, oferecendo mais qualidade de vida e bem-estar à mulher.

Como lidar com a depressão pós-parto?

Obviamente, não existe um passo a passo ou uma receita mágica para lidar com a depressão pós-parto. No entanto, mudanças específicas na rotina e nos cuidados consigo mesma podem resultar em efeitos positivos, que complementam o tratamento profissional.
Veja a seguir algumas dessas possibilidades:

1. Buscando rede de apoio
Buscar uma rede de apoio é um caminho relevante para a vida da mulher com depressão pós-parto. Claro que sabemos que essa busca não é simples e fácil, especialmente quando a mulher está se sentindo sozinha ou com desvalia – como se “incomodasse” as outras pessoas.
Porém, é muito importante refletir sobre o assunto. Quem são as pessoas que estão com você? Com quem você pode conversar e solicitar apoio em alguns momentos? Ou ainda, quais profissionais podem ajudar você na hora de cuidar do seu bebê para que seja possível descansar e cuidar de si mesma? Pense sobre isso.

2. Desmistificação da maternidade
Trabalhar a desmistificação da maternidade também é importante. Muitas vezes, as mulheres crescem ouvindo, assistindo e lendo coisas sobre uma maternidade “mágica”, na qual há apenas alegria e sensações felizes.
No entanto, a realidade não é como nos contos de fada. Existem momentos de frustração, tristeza, sobrecarga e, até mesmo, arrependimento.
Pouco se fala sobre isso, mas às vezes a mulher pode se arrepender de ter decidido ser mãe. E isso não tem relação com não amar o filho, mas sim com a sobrecarga que a maternidade perfeita é capaz de trazer.
Sendo assim, entender que é mais viável seguir um caminho de “maternidade possível” do que de “maternidade perfeita”, é interessante e pode ajudar a mulher a quebrar paradigmas internos.
Você não precisa acreditar que a maternidade é a coisa mais plena e maravilhosa do mundo. Você pode ser uma boa mãe mesmo entendendo que tem limites, falhas e que a maternidade, às vezes, apresenta aspectos negativos.

3. Fortalecimento do vínculo com o bebê
Fortalecer o vínculo com o bebê, aos poucos, também pode ser enriquecedor. Afinal, muitas mulheres se sentem inferiorizadas quando têm dificuldades para lidar com seus bebês nas primeiras semanas ou meses. Porém, é preciso ter consciência de que você está conhecendo um ser humano novo.
Embora ele seja o seu filho e tenha saído de dentro de você, isso não quer dizer que você tenha que conhecer todos os traços dele assim, da noite para o dia.
Dê tempo ao tempo. Aproxime-se, ouça os chorinhos, pegue-o no colo, converse, fale sobre a sua vida para o seu bebê, brinque… Vá desenvolvendo o vínculo aos poucos, sem querer parecer a supermãe que adivinha tudo do filho de um segundo ao outro. Aprenda com ele e veja como essa perspectiva pode ser mais leve do que aquela que diz que a mulher tem que “decifrar” tudo do seu bebê, sem ao menos conhecê-lo.

4. Investimento em hábitos saudáveis
Embora possa parecer impossível, em um primeiro momento, a busca por hábitos saudáveis, mesmo no caso de “micro hábitos”, pode começar a ajudar a reorganizar o organismo e a vida da mulher.
É o caso de pensar um pouquinho na alimentação, beber mais água, tentar estabelecer um horário de sono (contando com o apoio da família, por exemplo), entre outras ações.
As práticas de exercícios físicos, como caminhadas ao ar livre, também podem ser interessantes. Essas práticas estimulam as sensações de prazer e bem-estar no organismo, impactando na forma como enxergamos as situações à nossa volta.
Se sentir dificuldade para estabelecer essas ações na sua rotina, converse com seu psiquiatra ou psicólogo, bem como com quem convive com você para receber o suporte necessário para lidar com essas questões.

5. Conversar com alguém de confiança
Conversar com alguém de sua confiança, além do psicólogo, é algo que pode ajudar a descarregar, ao menos um pouco, das angústias e tristezas vividas na depressão pós-parto.
A fala pode ser muito terapêutica, pois, quando falamos, nós mesmos nos escutamos e começamos a “decodificar” o que está em nossa mente.
Isto é, colocando em palavras, temos maiores chances de elaborar o que estamos sentindo dentro da nossa mente e do nosso coração.
E elaborar os sentimentos e emoções é uma forma de enxergar novas perspectivas e caminhos.
Porém, se você sente que não tem alguém para “desabafar”, experimente escrever sobre o assunto. Isso também costuma ajudar.

6. Fazer psicoterapia e consultar-se com um psiquiatra
Sem dúvidas, o acompanhamento profissional é indispensável em casos de depressão pós-parto. Portanto, procure um psicólogo, especialmente um psicólogo perinatal, e invista na psicoterapia.
Esse processo pode ser muito enriquecedor, afinal, você poderá se autoconhecer, fortalecer sua autoestima, enxergar novas perspectivas para a maternidade, e assim por diante.
Além disso, procurar um Médico Psiquiatra também é um caminho relevante para encontrar o apoio médico necessário para um tratamento medicamentoso.

7. Não se compare e trabalhe a autoestima
Jamais se compare com outras mães que estão à sua volta. Lembre-se de que cada mulher possui uma história única e incomparável. Ter consciência disso é muito importante para não correr o risco de se diminuir diante de situações que estão longes da sua realidade.
Ao mesmo tempo, trabalhe a sua autoestima. Faça exercícios que ajudem você a enxergar as conquistas da sua vida, as suas próprias habilidades, etc.
Lembre-se de que todas as pessoas têm qualidades e defeitos. Às vezes, apenas precisamos pensar sobre o assunto com mais atenção.

Como a família pode apoiar a mulher com depressão pós-parto?

Se você está convivendo com uma mulher que tem depressão pós-parto, veja algumas recomendações que podem ajudar:

1. Jamais anule o sentimento da mulher
Nunca anule o que a mulher está sentindo. A depressão pós-parto não é frescura, preguiça ou algo que pode, simplesmente, ser deixado de lado. A mulher não se sentirá melhor se você disser “levante e vá em frente”, pois se ela realmente pudesse fazer isso sem nenhuma intervenção, acredite, ela faria.

2. Escute as emoções da puérpera
Se a mulher precisar chorar e desabafar, dê a ela um espaço seguro para que isso aconteça. Escute sem julgá-la, mostrando que está presente e que está ali com ela.

3. Ajude-a nas demandas do dia a dia
É muito importante que a rede de apoio ajude a mulher nas tarefas cotidianas, dando o apoio necessário e permitindo que ela tenha momentos de descanso e hobby, por exemplo.

4. Ajude a fortalecer a autoestima da mulher
Fortaleça a autoestima da puérpera. Ajude-a a enxergar os atributos e as qualidades que possui. Elogie-a. Ajude-a a entender que todas as pessoas têm defeitos, e que os defeitos dela não são do tamanho que ela costuma enxergar.

5. Incentive e apoie o tratamento
Por fim, não se esqueça de ser um incentivador do tratamento. Às vezes, a puérpera poderá sentir vergonha de ter depressão pós-parto e de precisar buscar um psiquiatra.
Portanto, está nas suas mãos ajudá-la a entender que essa busca é importante e que não há problema algum em cuidar da saúde mental. Pelo contrário! Só há benefícios.
Converse com ela e mostre o quanto esse cuidado pode aumentar a qualidade de vida da mulher e preservar a relação que ela está construindo com o bebê.

Essas ações, somadas ao tratamento profissional, podem ajudar uma mulher com depressão pós-parto a atravessar esse momento turbulento.

Referências
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

SCHMIDT, E. B.; PICCOLOTO, N. M.; MÜLLER, M. C. Depressão pós-parto: fatores de risco e repercussões no desenvolvimento infantil. Psico-USF 10 (1) • Jun 2005.