medicina e exercicio
Pesquisar
Pesquisar

Comunicação não-violenta

Comunicação não-violenta

Você, pai ou cuidador, já ouviu falar em comunicação não-violenta? Se ainda não, este é um bom momento para saber um pouco mais sobre essa prática parental positiva.
Além disso, mesmo que você já tenha algum conhecimento sobre o assunto, nós te convidamos a seguir conosco aqui neste conteúdo. Afinal, separamos uma série de informações e sugestões que podem ser úteis para você. Confira!

O que é a comunicação não-violenta?

Basicamente, podemos dizer que a comunicação não-violenta baseia-se no uso de determinadas habilidades de linguagem e comunicação, que têm como propósito construir uma relação que se baseie na empatia, na humanidade e na compaixão, inclusive em momentos de conflitos e adversidades.
Dito de outro modo, trata-se de usar a comunicação de uma forma positiva, sem agressões ou punições, na hora de lidarmos com problemas que temos com as outras pessoas, inclusive com os nossos filhos.
Essa comunicação orienta a nossa maneira de expressarmos as nossas ideias, para fortalecer os laços sociais, uma vez que conseguimos nos expressar com mais sinceridade, equilíbrio, e clareza.
Com a ausência da comunicação não-violenta, podemos “dizer o que vem à mente”, proibindo e negando algo às crianças, sem que elas entendam a situação de fato. Com a comunicação não-violenta, isso não acontece. Nós poderemos apresentar nossos pontos de vista com mais assertividade, carinho, cuidado e atenção, auxiliando os pequenos frente aos conflitos familiares, por exemplo.

Quais são as características da comunicação não-violenta?

Como vimos acima, a comunicação não-violenta apresenta um olhar mais empático e carinhoso para com as outras pessoas. Quando pensamos no relacionamento com os nossos filhos, podemos nos ver diante de características como:

1. Observação
A comunicação não-violenta parte do pressuposto de que nós devemos observar, com mais paciência, a situação na qual estamos inseridos.
O que sentimos diante de tal situação? Quais comportamentos do outro impactam a nossa forma de enxergar o momento? O que nos afeta profundamente? Quais emoções surgem dessa relação?
Todo esse conhecimento é valioso, pois ele nos ajuda a enxergar o momento com mais clareza, auxiliando na hora de diminuirmos nossos comportamentos impulsivos.

2. Paciência
A comunicação não-violenta também prega a ideia de que devemos ser mais pacientes. Antes de simplesmente “agredirmos” uma pessoa verbalmente, nós devemos respirar fundo, refletir e pensar nas palavras que iremos usar.
Assim, reduzimos aqueles comportamentos defensivos e irracionais que, muitas vezes, podem surgir fortemente frente aos conflitos cotidianos.
Desse modo, começamos a perceber uma nova perspectiva sobre nós mesmos e as outras pessoas, melhorando os mais diversos relacionamentos.
Afinal, quantas vezes a falta de paciência pôde afetar a relação que você construiu com alguma pessoa, inclusive com os seus filhos?

3. Análise das emoções
Prestar mais atenção nas nossas próprias emoções e nas emoções que percebemos no outro é algo valioso. Esse tipo de visão pode nos ajudar na hora de abordarmos, com mais cuidado, determinados assuntos com as outras pessoas.
Da mesma maneira, reconhecer as próprias emoções pode nos auxiliar na hora de mantermos um equilíbrio de nossas ações. Pois pare e pense: quantas vezes você cometeu ações e atitudes das quais se arrependeu, pois estava apenas emocionalmente abalado no momento do ocorrido? Pense nisso.

4. Pedidos assertivos
Muitas vezes, pensamos em solicitar algo a alguma pessoa, como por exemplo, nossos próprios filhos, mas a forma como fazemos essa solicitação pode ser pouco assertiva, gerando conflitos e desentendimentos.
Um exemplo seria você querer que o seu filho deixasse o celular de lado. Ao invés de apenas dizer “largue esse celular”, na comunicação não-violenta você poderia dizer algo como “estou com saudade de você, podemos conversar um pouco e passar um tempo juntos?”.
Perceba que a perspectiva e o tom do pedido mudam completamente. Além disso, há mais assertividade na solicitação. O filho pode compreender que o objetivo do seu pedido é passar mais tempo com ele, e não apenas proibi-lo de consumir determinado tipo de dispositivo móvel.
Afinal, se você apenas manda ele “largar o celular”, pode ser que ele se sinta irritado ou muito contrariado, demonstrando um comportamento “rebelde”, especialmente na adolescência.
Assim sendo, fica aqui mais uma reflexão: quantas vezes acreditamos que se trata de rebeldia na adolescência, mas, na realidade, estamos apenas nos comunicando de forma negativa com os pequenos? Pense nisso e analise a sua maneira de expressar os seus pedidos.

5. Compreensão e empatia
A compreensão e a empatia também são peças-chave da comunicação não-violenta. Quando nos colocamos no lugar do nosso ouvinte, agimos com mais respeito, carinho e atenção. Quando pensamos apenas nas nossas emoções e nos esquecemos de que do outro lado há um ser humano nos ouvindo, podemos agir de forma pouco compreensiva e até mesmo autoritária.
Sendo assim, pensar em um processo de comunicação não-violenta é, justamente, pensar em formas de abordar diferentes temáticas de um modo empático, carinhoso, atencioso e gentil.
Pois pare e pense: quantas vezes, diante de um conflito com o seu filho, você deu atenção verdadeira ao que ele estava dizendo? Ou você simplesmente estava tentando impor a sua vontade, sem empatia alguma? Reflita com atenção, pois acredite, às vezes nós nem nos damos conta de que nossos comportamentos estão longes de serem empáticos. Cuidado.

Como aplicar a comunicação não-violenta com os filhos?

Agora que pudemos ter uma visão mais clara do que se trata a comunicação não-violenta, vamos digerir a ideia e pensar em estratégias que nos auxiliem na hora de colocarmos isso em prática com as nossas crianças e adolescentes. Continue lendo!

1. Observe as necessidades do seu filho
Antes de, simplesmente, impor um limite ou algo do tipo, considere analisar e observar as necessidades do seu filho. O que ele está solicitando quando contraria a sua vontade? O que ele realmente quer dizer?
Ter esse olhar atento, para acolher a demanda do seu filho e demonstrar interesse pelo o que ele tem a dizer é algo muito importante. Pois, muitas vezes, especialmente na adolescência, o seu filho pode estar tentando contrariar você apenas para ser “visto” e ouvido. Isto é, nem sempre os comportamentos conflitantes são para provocar os pais, mas sim, podem ser para demonstrar uma necessidade de atenção e afeto.
Portanto, comece a observar mais o seu filho. Compreenda mais a fundo as demandas que ele traz para você. O que será que ele quer? Quais são os desejos dele? O que ele está tentando comunicar com determinados comportamentos?

2. Analise quais emoções ele apresenta
Durante uma conversa com o seu filho, considere escutar, ativamente, o que ele está dizendo. Isso pode ajudar na hora de captar as emoções que ele apresenta.
Lembre-se de que as crianças e os adolescentes ainda estão aprendendo a lidar com as emoções sentidas. Isso significa que eles podem ter explosões de raiva, tristeza, vergonha e etc., sem conseguir se controlar.
Muitas emoções ainda são novas e pouco compreendidas, o que faz com que os jovens tentem entender o que sentem, mas sem conseguir colocar em palavras.
Essa dificuldade para colocar em palavras pode apresentar comportamentos “desajustados”. Sendo assim, é papel do pai e da mãe conseguir ouvir o filho e entender, mesmo que inicialmente, quais emoções ele está apresentando.
Tente, inclusive, ajudá-lo a descrever o que sente. Se o seu filho apresentar uma crise de raiva diante de uma regra estabelecida em casa, tente ajudá-lo. Diga que entende a frustração dele, acalente-o, demonstre apoio e compaixão. Mas jamais seja “arrogante” ou “rude” diante disso. Se você levantar a voz toda vez que o seu filho se irritar, a relação poderá ficar fragilizada.
Afinal, ele ainda não tem total controle das emoções, mas nós, adultos, podemos trabalhar isso com um pouco mais de facilidade.

3. Seja empático com o seu filho
Cuidado com as punições e com as “consequências” oferecidas ao seu filho. Muitas vezes, na hora do conflito e da raiva, os pais podem ser muito duros com as crianças e com os adolescentes. Sabemos que não é fácil educá-los, mas nós nunca podemos nos esquecer da premissa de que, dentro dessa relação, os adultos somos nós.
Portanto, é nosso dever sermos empáticos na hora de lidar com os mais diversos conflitos cotidianos. Assim, a comunicação não-violenta poderá ser instaurada no seio familiar.
Por isso, antes de dizer ao seu filho que ele está de castigo, tente enxergar a situação por outra perspectiva.
Por exemplo, se ele mentiu dizendo que estava dormindo, quando na verdade estava no celular até tarde, tente conversar de forma empática. Algo como “eu entendo que você goste de ficar com os seus amigos, mas é muito importante que você durma para que a sua saúde se mantenha, filho. Estou querendo que você durma mais cedo para ter dias melhores, com mais disposição para brincar e se divertir com seus amigos ao longo do dia, inclusive pela internet”.
Perceba que não há uma proibição, mas sim, uma justificativa, um embasamento e um direcionamento, ao mesmo tempo em que é apresentada a preocupação e o carinho.
Portanto, tente se colocar no lugar do seu filho antes de comunicar um castigo. Pense como você gostaria de ser orientado na situação, e como ele poderia gostar de ser orientado.

4. Pratique a escuta ativa
A escuta ativa também tem um papel muito importante no dia a dia de qualquer relacionamento. Afinal, por meio dela nós conseguimos escutar o que o outro realmente quer dizer – ou ao menos grande parte do que ele quer realmente dizer.
Isto é, quando não praticamos a escuta ativa, podemos cair no erro de pensar a partir da nossa visão de mundo, julgando a fala alheia e deixando de lado os significados que o outro está atribuindo às palavras.
Por isso, sugerimos que você, pai ou cuidador, que deseja implementar a comunicação não-violenta, comece a praticar a escuta ativa com os pequenos. Ouça cada palavra que ele tem a dizer, dando a devida importância para o ponto de vista dele.
Mas jamais tente deduzir o que o outro quis dizer. Se você não entender algo, pergunte. Procure também repetir o que o outro disse. Assim, ele poderá confirmar se você realmente entendeu, ou não.
Esse tipo de escuta pode diminuir as falhas na comunicação, que podem ser as molas propulsoras de diversos conflitos.

5. Seja assertivo e cuidadoso com os seus pedidos
Quando você solicitar algo ao seu filho, procure ser mais assertivo com os seus pedidos. Anteriormente, no decorrer deste artigo, descrevemos um exemplo no qual o pai solicitava que o filho simplesmente largasse o celular. Nesse exemplo, vimos que não há assertividade no pedido.
Afinal, por que a criança tem que largar o celular? Qual o benefício disso? Por que é mais importante ela estar desconectada? Ela pode ter muitas dúvidas, e até mesmo acreditar que o seu pedido é apenas uma punição sem fundamento.
Portanto, considere apresentar os motivos pelos quais determinada ação é solicitada. Como vimos anteriormente, dizer que quer que o seu filho deixe o celular um pouco de lado para conversar com ele, pois está com saudade, é algo muito mais assertivo do que apenas proibir o uso do aparelho.
Para ser mais assertivo nos seus pedidos, considere colocar-se no lugar daquele que ouve. Como você preferiria receber tal orientação? Como seria mais fácil compreender os motivos de tal solicitação? Pense nisso.

6. Procurem encontrar um ponto de acordo
Nem sempre será possível oferecer aos nossos filhos aquilo que eles nos solicitam. Porém, sempre é possível procurar um ponto de acordo.
Por exemplo, se o seu filho quer usar o celular antes de dormir, é interessante determinar que esse uso não aconteça 1 hora antes de ele se deitar. E que esse consumo pode ser feito na sala, onde todos estão reunidos e assistindo algo na TV.
Perceba que é possível permitir o uso do celular à noite, mas com condições que mantenham a saúde e o bem-estar do seu filho.
Deixe sempre claro os motivos de determinada regra. Faça-o entender os benefícios de não usar o celular na cama, como por exemplo: noites mais bem dormidas, descanso mais revigorante, mais energia no dia seguinte, melhora no foco e na memória, etc.
Assim, torna-se viável construir acordos mais tranquilos dentro da família.

7. Respire fundo e tente sempre manter a calma
Por fim, lembre-se de que a comunicação não-violenta não tem relação com comportamentos nocivos ou com uma linguagem negativa. Ela tem a ver com a calma, a paciência, a compaixão e a compreensão.
Por isso, quando você tiver a sensação de que está muito irritado, considere respirar fundo e tentar manter a calma. Se não for possível mantê-la, diga que irá conversar com o seu filho mais tarde, pois precisa pensar em uma melhor solução para os dois, e que quer ajudá-lo da melhor forma possível.
Assim, é possível deixar o tempo passar e os pensamentos fluírem melhor, inibindo ações impulsivas que possam magoar o filho.

Esperamos que este conteúdo sobre comunicação não-violenta possa ter lhe ajudado a pensar em novas maneiras de educar com amor e humanidade.

Referências
ROSENBERG, M. B. Comunicação não violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. 3a ed. Editora Ágora. 5a ed. tradução. 2021