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Aspectos psicológicos na gestação

Aspectos psicológicos na gestação

Existem inúmeros aspectos psicológicos na gestação que podemos detectar em grande parte adas mulheres que atravessam essa fase em suas vidas.

Afinal, as transformações da gestação, embora gradativas, resultam em mudanças significativas na vida dessas mulheres. O parto, no entanto, é um impacto ainda mais rápido e profundo, o que pode provocar medo e angústia antes mesmo de acontecer.

Pensando nessas questões, trouxemos diversas informações relevantes sobre essa temática, visando oferecer um esclarecimento de fatores importantes envolvidos com a saúde mental da gestante. Assim, torna-se viável a compreensão do que você, gestante, pode estar sentindo no período gravídico, aumentando o conhecimento e a segurança com relação a essa fase.

Acompanhe para saber mais.

Aspectos psicológicos na gestação

Podemos perceber, considerando bases científicas, as três fases da gestação como precursoras de aspectos psicológicos específicos: são as fases do primeiro, do segundo e do terceiro trimestre.

Cada qual pode representar mudanças e impactos diferentes para as mulheres que realizam o sonho de engravidar ou vivem a angústia e a rejeição de uma gestação indesejada.

A seguir, destacamos cada uma dessas fases.

Primeiro trimestre

O primeiro trimestre costuma ser marcado por uma série de sentimentos e emoções que se entrelaçam com a própria identidade da mulher.

Ela pode viver uma alegria imensa ao descobrir que está grávida, como também pode sentir desespero e dor devido às situações de gravidez indesejada. Veja alguns aspectos psicológicos na gestação relacionados ao primeiro trimestre:

1. Sentimento de ambivalência
O sentimento de ambivalência pode acontecer no primeiro trimestre da gestação, embora algumas mulheres o experimentem em outras fases do período gravídico.
Isso porque ao mesmo tempo em que a mulher pode se sentir realizada ao ter o filho, ela também pode sentir angústia e até mesmo raiva por ter engravidado.
Ao mesmo tempo em que ela sonha com viver a maternidade, pode ter repulsa pelo papel de mãe, o que pode ocasionar conflitos emocionais que merecem atenção por parte do psicólogo que acompanha essa mulher.
É natural a mulher viver essa montanha russa de sentimentos, sentindo-se plena com a gestação e, ao mesmo tempo, angustiada pois não queria ser mãe agora, por exemplo.

2. Frustração e angústia nos casos de gravidezes indesejadas – rejeição
Muitas mulheres, infelizmente, engravidam em fases de suas vidas nas quais não havia o desejo pela gestação. Aqui, configuram-se as gravidezes indesejadas.
Vale ressaltar que gravidez indesejada não é o mesmo que gravidez não planejada. A primeira tem relação com os sentimentos de rejeição, enquanto a segunda pode estar associada com o medo do que vai acontecer ao filho nascer, por exemplo.
Uma mulher que se vê diante de uma gravidez indesejada pode, inclusive, ter o impulso de pensar em aborto e interrupção da própria vida, devido aos desequilíbrios emocionais e psicológicos que a “surpresa” da gestação pode oferecer.
Nessas situações, a busca por acompanhamento psicológico é um caminho relevante para restabelecer o equilíbrio emocional da mulher.

3. Desconfortos que causam mal-estar psicológico
No primeiro trimestre, a mulher pode perceber muitas mudanças em seu organismo, passando pelos momentos de náuseas e vômitos, bem como outros sintomas que causam desconforto.
Esse tipo de sensação pode ocasionar angústia, uma vez que vemos a gravidez sendo “lapidada”, na sociedade, como algo mágico e apenas repleto de sensações e sentimentos positivos.
Por isso, a tristeza por se sentir mal na gravidez pode aparecer, e é papel do profissional da saúde acolher essas dores sem julgar, proporcionando à mulher a oportunidade de falar sobre o que está vivendo.

4. Medo e dúvida com relação à saúde
Devido às mudanças corporais e até mesmo aos impactos nos hormônios e nas questões fisiológicas da mulher, somado com o histórico familiar e o conhecimento que a mulher tem sobre a gestação, o medo com relação à própria saúde e à saúde do filho pode surgir.
A gestante pode temer que não tenha saúde para desenvolver um bebê, bem como pode temer que o filho desenvolva alguma doença ou complicação em seu útero.
A angústia de não compreender todas as dimensões físicas e biológicas da gestação pode fazer com que a mulher acredite que seu corpo não está pronto para gerar e parir um bebê.
Aqui, tanto o médico quanto o psicólogo, devem oferecer suporte para as dúvidas da gestante, esclarecendo as mudanças que estão acontecendo e acolhendo o sentimento de medo, para que ela compreenda, aos poucos, a real gestação que está vivendo.

Segundo trimestre

No segundo trimestre, as “marcas no corpo” se tornam mais evidentes, e a gestação passa a se tornar uma realidade ainda mais forte na vida da mulher.
Inclusive, é nesta fase que as outras pessoas, em volta da gestante, começam a perceber o crescimento da barriga, parabenizando-a pelo bebê e criando um foco ainda maior no período gravídico.

1. O reconhecimento do novo corpo
A mulher passa a reconhecer um novo corpo diante do espelho. Suas mamas mudam, sua barriga cresce e, em muitos casos, a mulher pode perceber que aumentou o seu peso corporal.
Por conta disso, sua autoestima e autoimagem podem ser afetadas, nem sempre de modo negativo, como também positivo.
A mulher pode se sentir feliz por ver o bebê crescendo dentro de si, como também pode se sentir angustiada ao pensar se terá o corpo de antes de volta.
Suas mudanças corporais podem gerar dúvida, medo, alegria, euforia e diversos outros sentimentos de ambivalência.

2. A idealização do bebê que cresce no útero
Ao ver a barriga crescendo, a ideia de que há uma vida dentro do seu útero começa a ganhar ainda mais credibilidade e força.
Esse é um dos aspectos psicológicos na gestação que podem proporcionar à mulher, mais uma vez, o sentimento de ambivalência.
Ela pode sentir segurança e felicidade ao sentir os primeiros chutes do bebê, bem como pode apreciar a forma como a sua barriga cresce.
Ao mesmo tempo, pode ter angústia e até raiva dos efeitos colaterais, como o aparecimento de estrias, dores nas costas, etc., além de ter angústia ao pensar no bebê que está “chegando”.
O bebê, que agora parece mais real do que nunca, começa a receber um espaço especial na imaginação da mulher. Ela imagina seu rosto, sua personalidade, suas manias, etc.
A mulher pode idealizar um bebê, imaginando como ela agirá com ele em determinadas situações, criando um mundo ideal onde o seu filho possui as características que ela tem sonhado há anos.
Nesta etapa, o profissional de saúde mental precisa acolher essa idealização da mulher, ao mesmo tempo em que a auxilia na compreensão de que nem sempre o filho terá as características que foram idealizadas, mas que ainda assim ele poderá ser um filho inteiro, completo, “perfeito” com seus defeitos.

Terceiro trimestre

No terceiro trimestre, a mulher pode se sentir mais angustiada e pensativa com relação ao parto e à nova fase que está prestes a iniciar em sua vida.

Afinal, agora, mais do que nunca, o nascimento do filho está próximo, e as mudanças no corpo ficam ainda mais evidentes, resultando em aspectos psicológicos na gestação, bem específicos nesta fase.

Saiba mais:

1. O medo da dor do parto
Inevitavelmente, muitas mulheres poderão viver o medo do parto em algum momento do período gravídico. Afinal, culturalmente, vemos muitos filmes, séries e comentários a respeito do parto, especialmente do parto normal, como algo que gera muita dor e desconforto para a mulher.
Neste momento, o medo da dor ser extrema, tão extrema a ponto de acreditar que ela pode incapacitar o parto, é uma das questões que podem surgir na mente da mulher.
Inclusive, há ainda os casos de tocofobia, caracterizados como um medo extremo da gravidez e do parto, que exige acompanhamento profissional para lidar com essas questões emocionais envolvidas com as crenças de que o parto é “insuportável”.
Além disso, situações nas quais a mulher presenciou ou ouviu falar de algum parto difícil e doloroso, pode agravar ainda mais o medo.

2. O medo da morte
Além de haver o medo de sentir dor, muitas mulheres podem começar a mentalizar o medo da morte no parto. Esse medo também tende a ser ainda mais intenso em situações nas quais a mulher conhece uma gestante que morreu no parto ou que viveu uma experiência de quase morte.
Novamente, o acompanhamento profissional é crucial para lidar com os pensamentos relativos à morte.

3. Medo de perder o bebê
O medo de morrer pode ser evidente em alguns casos, enquanto outras mulheres podem temer que os seus bebês morram antes de nascer ou durante o parto.
Esse medo pode aparecer tanto em mulheres saudáveis, ou seja, sem sinais de que o parto possa ser complicado, quanto em mulheres adoecidas, com riscos eminentes de problemas no parto.

4. Desconfortos físicos que causam impactos no psicológico da mulher
No terceiro trimestre, os aspectos psicológicos na gestação também podem estar associados com os efeitos físicos da fase gravídica.
É o caso da mulher que vive um intenso estresse por ter problemas para dormir, ou uma tristeza por conta da sensação de cansaço.
A incapacidade de fazer atividades intensas, devido às dores na lombar, por exemplo, também podem servir de gatilhos para angústias e pensamentos negativos.
Por isso, é importante que a mulher compreenda a sua situação atual para entender que essas situações são normais e, assim, aprenda a lidar com as adversidades da gestação de um modo mais leve.

5. Medo da nova fase que virá a seguir
O medo do novo papel que será assumido depois do nascimento do bebê também pode aparecer nesta fase. A mulher pode ter medo de não ser uma boa mãe e de não conseguir desenvolver um papel maternal que supra as necessidades básicas do seu filho.
Porém, é importante que a mulher lembre que ela não precisará estar 100% pronta assim que o bebê nascer. Embora o parto seja abrupto e crie a ideia de que, de uma hora para outra, a mulher é mãe, ainda assim é necessário pensar que a maternidade é um crescimento gradativo.
Contar com uma rede de apoio, nesse caso, para tirar dúvidas e contar com a ajuda de familiares, amigos e profissionais da saúde, pode fazer toda a diferença nesse sentido.
Afinal, o medo da fase seguinte é comum, e a mulher não precisa enfrentá-lo sozinha.

6. Questões de autoestima voltadas ao corpo
As questões relacionadas à autoestima também podem retornar com mais força nesta fase da gestação.
A mulher, que se vê diferente diante do espelho, pode temer nunca mais ter o corpo de antes, crendo que estará “menos bonita” por conta disso.
Porém, é imprescindível ter em mente que as mudanças no corpo foram gradativas, e que a retomada de um estilo corporal também tenderá a ser gradativo.
Além disso, a mulher não precisa ter o corpo de antes, muito menos da noite para o dia. A nova fase pode resultar em angústias, mas também pode ser o caminho para fortalecer aspectos singulares daquela mulher, que não se reduzem apenas ao corpo.
A dor de perder o corpo é válida, e a mulher merece viver esse luto, obviamente, mas também é interessante pensar que uma nova fase pode exigir novos traços, não é mesmo?

7. Possíveis lutos que podem começar a ser vividos
Construir uma nova identidade é algo intenso, que resulta em lutos vividos pela mulher.
Luto pelo corpo antes da gestação e o luto pelo corpo de grávida, que, aos poucos, deixará de existir.
Luto pela identidade de mulher, que passa a se vincular a uma identidade de mulher mãe.
Luto pelo bebê que foi idealizado, e em seguida aparecerá como alguém real, longe dos pensamentos que a mãe tinha, ou ao menos desvinculado deles, em grande parte.
São diversos lutos que a gravidez pode ocasionar na mulher, especialmente no período do puerpério. Mas, neste caso, estaríamos entrando nos aspectos psicológicos do puerpério, que veremos em outro conteúdo.

O pré-natal psicológico pode auxiliar a gestante

O pré-natal psicológico pode oferecer um suporte para a gestante que vive todos os aspectos psicológicos que aqui citamos, e todos os outros que possam surgir provenientes de sua singularidade.
Isso porque, por meio desse acompanhamento, o psicólogo poderá tirar dúvidas, quebrar tabus, acolher dores, auxiliar nos cuidados com as emoções, etc., visando uma gestação ainda mais equilibrada e saudável.
Permitir-se viver essa experiência pode ser um bom caminho.

Referências
KLEIN, M. M. S.; GUEDES, C. R. Intervenção psicológica a gestantes: contribuições do grupo de suporte para a promoção da saúde. Psicol. cienc. prof. 28 (4), 2008.

VIEIRA, B. D.; PARIZOTTO, A. P. A. V. Alterações psicológicas decorrentes do período gravídico. Unoesc & Ciência – ACBS, Joaçaba, v. 4, n. 1, p. 79-90, jan./jun. 2013.

BASSAN, A. E. V.; BARBOSA, L. L.; PÁRRAGA, M. B. B. Aspectos psicológicos relacionados ao período gestacional: uma revisão bibliográfica. Disponível em: <https://repositoriodigital.univag.com.br/index.php/Psico/article/view/100/99>. Acesso em 16 set. 2022.