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Desafios da adoção homoafetiva

Os desafios da adoção homoafetiva podem gerar conflitos emocionais e psicológicos nos pais e até mesmo nas crianças adotadas, devido ao preconceito enraizado em nossa sociedade.
Em contrapartida a isso, a boa notícia é que ainda existem pessoas preocupadas e que buscam oferecer um suporte a esses indivíduos que desejam adotar e transformar, positivamente, a vida das crianças.

Pensando nessas situações, desenvolvemos este conteúdo com uma série de considerações importantes sobre a adoção homoafetiva, para que pensemos nos desafios emocionais e psicológicos, além de aprendermos algumas orientações para atravessar essas questões. Confira lendo este texto até o fim.

Inicialmente, elencamos abaixo os desafios da adoção homoafetiva com relação aos aspectos psicológicos dos pais. Afinal, sabemos que essa decisão pode resultar em conflitos emocionais quando consideramos a sociedade homofóbica na qual estamos inseridos.

Por isso, pensar sobre esses aspectos pode ser um primeiro passo para reconhecê-los e aprendermos a lidar com essas questões. Vamos adiante:

1. Ansiedade pela espera
A ansiedade pela espera da oportunidade de adotar pode ser bastante desgastante. Inclusive, é muito comum que casais que desejam adotar vivam momentos de grande frustração.
Em se tratando de casais homoafetivos, as dificuldades para encontrar informações válidas, devido ao descaso ocasionado por situações de preconceito, também podem aumentar o tempo de espera.
Embora o casal tenha direitos garantidos, sabemos que nem todas as pessoas dão atenção a isso, o que pode resultar em maiores dificuldades no momento da adoção.
Porém, é válido destacar que tanto a ansiedade pela espera, quanto a frustração pelo tempo investido no processo, são comuns em casos de adoção hetero ou homoafetiva.

2. Preconceito sofrido nos ambientes em que se insere o casal
Quando um casal homoafetivo comunica a sua ideia de adotar uma criança, infelizmente ainda se depara com uma enxurrada de preconceitos.
Precisa lidar com comentários negativos e discursos que dizem que isso irá “confundir a cabeça da criança”, bem como “impactar negativamente o desenvolvimento dela”.
Porém, é muito importante ter em mente que esses comentários são apenas tabus e preconceitos enraizados na sociedade, e que os casais homoafetivos não são um risco para o desenvolvimento infantil.
Pelo contrário! Muitos casais que adotam crianças podem oferecer a elas um lar cheio de amor, compreensão, carinho e cuidado, sendo que essas questões são valiosas para um desenvolvimento humano mais saudável.
No entanto, os aspectos psicológicos, como medo, frustração, angústia e tristeza, vividos por conta dos preconceitos, é algo real na vida de casais homoafetivos que enfrentam um “turbilhão” de tabus sociais na hora de investir na adoção.
Nesses casos, a busca por psicoterapia pode ser essencial para oferecer mais saúde mental a esses indivíduos.

3. Medo do julgamento social
Além de sofrer o preconceito na pele, todos os dias, um dos outros desafios da adoção homoafetiva é temer o julgamento social que pode acontecer.
O casal pode temer por si e pelo filho, acreditando que este possa sofrer preconceito e discriminação na escola ou em demais ambientes que venha a ser inserido.
O medo é válido, e jamais devemos diminuí-lo ou anulá-lo. No entanto, é muito importante buscar criar mecanismos emocionais de enfrentamento que auxiliem na quebra dessas angústias, ao menos em partes.
Afinal, o julgamento social existe em todas as circunstâncias da vida, e em diferentes situações, com diferentes pessoas. Sendo assim, fortalecer a autoestima, o autocuidado e a saúde mental é essencial para atravessar esse medo.
Infelizmente o preconceito existe, mas existem formas de lidar com ele de uma maneira que diminua a dor causada pelo problema. Além disso, a busca por suporte judicial e policial, quando pertinente, também é importante.
Tudo isso sem nos esquecermos da psicoterapia e do acompanhamento feito com profissionais da saúde mental.

4. O filho idealizado e a realidade
O filho idealizado e o real também está presente nos desafios da adoção homoafetiva. Afinal, essas questões não ocorrem apenas em relações heteroafetivas.
Elas também aparecem no dia a dia do casal homoafetivo que se depara com a idealização de uma criança, imaginando como será a interação com o pequeno, quais serão as situações vividas em conjunto, e assim por diante.
Contudo, a realidade pode ser mais dura, ou ao menos bem diferente do que foi imaginado. Nesse caso, será preciso passar pelo luto da “perda” do filho imaginado e do “ganho” do filho imperfeito, porém, real e repleto de traços que podem resultar em uma interação incrível entre pais e filhos.

5. Questões socioemocionais dos pais
Sem dúvidas, vivemos em uma sociedade na qual o preconceito com homossexuais é, ainda, muito forte, infelizmente.
Esse preconceito pode deixar marcas dolorosas nos pais da criança, que resultam em questionamentos internos que envolvem a autoestima, a autoconfiança e até mesmo a personalidade desses adultos.
Sendo assim, essas questões também podem aparecer no momento em que a adoção ocorre.
O medo do preconceito, a angústia de não oferecer um lar acolhedor (caso os pais não tenham tido esse tipo de acolhimento na infância e adolescência), são alguns dos fatores que podem impactar a saúde mental desses adultos.
Nessas situações, o autoconhecimento e a busca pela psicoterapia podem ser aliados no desenvolvimento de uma força interna que viabilize que essas questões sejam elaboradas de uma forma mais saudável.
Assim, os pais, tendencialmente, poderão se sentir mais confiantes diante do processo de adoção.

Pontos de reflexão para superar os desafios da adoção homoafetiva

Até aqui pudemos ter uma visão mais clara de alguns dos desafios da adoção homoafetiva. Agora, vamos juntos refletir sobre medidas que podem auxiliar na superação dessas questões, visando uma adoção mais bem-sucedida para todos os envolvidos. Acompanhe:

1. A função materna e paterna podem ser exercidas por qualquer pessoa
É muito importante quebrarmos o tabu de que é preciso de um homem e uma mulher para exercer a parentalidade. Isso porque diversos estudos já comprovaram que tanto a função materna, quanto a função paterna, podem ser desempenhadas por qualquer pessoa, de qualquer gênero.
Inclusive, há pais que executam a função materna, enquanto suas esposas mães executam a função paterna.
O nome “materno e paterno” não está vinculado ao gênero. Mas sim, apenas a função que ocorre dentro do relacionamento familiar.
Portanto, não se culpe por serem “dois pais” ou “duas mães” dentro de um relacionamento homoafetivo com um filho. Lembre-se de que ambos podem desempenhar a parentalidade com muito sucesso, promovendo um desenvolvimento saudável aos pequenos.

2. O afeto é mais importante que o gênero dos pais
O afeto tem um papel muito mais importante na vida das crianças do que o gênero biológico dos pais. Isto é, pouco importa se temos dois pais, duas mães ou um pai e uma mãe. O que importa é o afeto, o carinho e a atenção que a criança recebe.
Lembre-se de que somos seres sociais e, como tais, precisamos de outros indivíduos para nos inserirmos no mundo, nos sentirmos parte de algo e desenvolvermos a nossa autoestima e saúde mental.
Portanto, quando a insegurança aparecer, considere a premissa de que as crianças precisam de um lar seguro, acolhedor, afetivo e cheio de amor para crescerem fortes e felizes – e não de um lar com homem e mulher.
Afinal, se fôssemos pensar em aspectos que ocasionam o “desajustamento” de alguns indivíduos, poderíamos pensar que, em grande parte, podemos estar diante de indivíduos filhos de pais héteros, e não de pais homoafetivos. Portanto, a premissa de que a homossexualidade é um problema, não passa de uma afirmação falsa.
O afeto vencerá qualquer tabu.

3. A escola precisa atuar ativamente na quebra de tabus
Os pais precisam atuar ativamente na escola de seu filho, comunicando sobre ações que podem ser tomadas para oferecer ao pequeno um ambiente mais acolhedor e justo.
A escola precisa atuar frente aos casos de preconceito, bem como deve apresentar todas as composições familiares como válidas, aceitas, saudáveis e ideais.
Em momento algum o assunto deve ser “escondido” dos alunos. Inclusive, os pais não precisam desencorajar a criança de falar que é filha de dois homens ou de duas mulheres. Mas sim, deve encorajar que ela aja naturalmente, sem se privar de ser quem é por conta das ideias alheias.
Outro ponto importante é o dos pais conversarem com a coordenação e com o psicólogo escolar, visando fortalecer a ideia de que essa temática deve ser tratada na escola.
Além disso, manter-se ativo na vida escolar do filho, participando de festas, eventos e reuniões escolares, também fortalece a ideia de que um casal homoafetivo, junto com os seus filhos, também formam uma família saudável e feliz.

4. A psicoterapia pode fortalecer a saúde mental do casal
São diversos os desafios da adoção homoafetiva, e isso é inegável. Sendo assim, muitas vezes os pais podem se ver diante de conflitos emocionais psicológicos e intensos, tanto antes, quanto depois de concretizar a adoção.
Nesses casos, a nossa sugestão é que você procure um psicólogo e inicie o processo de psicoterapia. Dessa maneira, torna-se possível desenvolver o autoconhecimento, fortalecer a autoestima, compreender os medos e os gatilhos por trás deles, aprender a lidar com as adversidades da vida, e assim por diante.
A inteligência emocional também poderá ser desenvolvida, o que permite que os pais se sintam mais confiantes e felizes na sua posição parental. Tudo isso impacta na forma como é lidado com o mundo, com os preconceitos, dúvidas e etc.
Portanto, buscar ajuda profissional pode ser algo relevante e reconstrutor.

5. Orientar a criança ajuda a lidar com pensamentos preconceituosos
A criança, eventualmente, depara-se-á com preconceitos no ambiente estudantil, e isso é quase que inevitável.
Porém, os pais podem prepará-la para esse tipo de situação. Para isso, esclarecer as dúvidas, manter claro o que é um casal homoafetivo e dar a ela confiança para que compreenda que tem uma família “normal”, são ações muito importantes.
Embora o preconceito possa existir, se a criança estiver ciente da realidade, for bem esclarecida e bem resolvida, os impactos dos comentários serão mínimos e até mesmo nulos.
Oriente-a, portanto, para que entenda o que está acontecendo. Fale sobre a existência do preconceito, e ajude-a a encontrar apoio nos professores e na coordenação, caso viva um episódio nesse sentido.

6. Esclarecer que a orientação dos pais não irá influenciar na orientação sexual de seus filhos
Esclareça, às pessoas à sua volta, aos agentes escolares e a quem mais for necessário, que a orientação dos pais não impactam na orientação sexual dos filhos.
Isto é, o fato de os pais serem homossexuais não tem relação com a sexualidade dos filhos. Diversos estudos já corroboram isso.
Inclusive, caso insistam nesse discurso, questione sobre o fato de muitos filhos homossexuais serem advindos de famílias “tradicionais” e normativas, ou seja, serem filhos de pais héteros.
Esse questionamento pode ajudar os outros a refletirem sobre o assunto e pensarem que, na prática, a relação dos pais com a própria sexualidade não induzem os seus filhos.

7. A família é formada por afeto, amor, cuidado e carinho
Os desafios da adoção homoafetiva são diversos, e um deles é ter de lidar com os comentários alheios, que são invasivos e recheados de preconceitos.
Porém, se porventura alguém desafiar a sua família, dizendo que a relação homoafetiva afeta a saúde mental da criança, questione: Qual o lar ideal para uma criança?
Não seria um lar educado, formado por afeto, amor, cuidado e carinho? Um lar que se preocupa, acolhe, ensina valores, auxilia nas dificuldades? Um lar que protege, que ajuda, que apoia e oferece o que há de melhor (e que está ao alcance) dos pais? Ou ainda, um lar que protege as crianças de pessoas mal intencionadas, oferecendo a elas uma atmosfera mentalmente sadia? Pois é!
O lar homoafetivo pode oferecer tudo isso que citamos e, inclusive, um lar heteronormativo pode falhar fatalmente em todos esses pontos. Portanto, o gênero e a sexualidade dos pais não têm relação direta com um lar ser ideal ou não ser.
Esse tipo de questionamento e reflexão, quando trazida para o dia a dia, pode auxiliar na quebra de tabus e imposições sociais que vemos com tanta frequência.

Devemos ser resistência frente aos desafios da adoção homoafetiva provocados pelo preconceito. Assim, pouco a pouco vamos construindo um espaço mais justo, com base em pessoas com boas intenções e bom discernimento sobre o assunto.
Espalhe conhecimento sobre a temática e vamos, juntos, construir um mundo mais inclusivo!

Referências
ALMEIDA, L.S. OS DESAFIOS DA ADOÇÃO HOMOAFETIVA. Trabalho de Conclusão de Curso – Centro Universitário São Judas Tadeu. Santos, 2022.

EMERICK, E. F.; BARCELOS, L. A. ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS E A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO: Perspectivas e desafios na promoção de direitos. Trabalho de Conclusão de Curso – Faculdades Doctum de Serra. ES, 2021.

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