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Gravidez psicológica

Gravidez psicológica

A gravidez psicológica é um quadro emocional que pode desencadear sérios impactos na saúde mental da mulher. Afinal, ela acredita que está grávida e pode, inclusive, começar a se preparar para o nascimento do seu sonhado bebê. No entanto, a realidade é outra: não existe feto se desenvolvendo em seu útero.

Embora os exames laboratoriais denunciem a ausência de um feto, os sintomas de gravidez podem ser sentidos, e a mulher pode acreditar, firmemente, que está grávida.

Esse tipo de situação exige tratamento psiquiátrico, psicológico e ginecológico, a fim de restabelecer o equilíbrio emocional da mulher e resgatar a sua qualidade de vida.

Para saber mais sobre essa temática, acompanhe este texto até o fim.

O que é a gravidez psicológica?

A gravidez psicológica pode ser caracterizada como um transtorno psicossomático no qual a mulher começa a apresentar sintomas de gravidez, embora não haja um embrião/feto se desenvolvendo em seu útero.

Isto é, a mulher começa a acreditar que está gerando um filho, sentindo diversos sintomas da gestação, quando na verdade, não existe um feto sendo desenvolvido.

Vale ressaltar que as alterações sentidas pela mulher são reais no campo físico. Dito de outro modo, a mulher pode, realmente, produzir leite, sentir a barriga crescer, ter atraso na menstruação, entre outros sintomas.

Isso porque os desequilíbrios hormonais, provocados pela gravidez psicológica, podem, de fato, desencadear essas alterações fisiológicas na mulher.

A gravidez psicológica é um transtorno mental?

Segundo o DSM-V, a gravidez psicológica, chamada de pseudociese, pode ser caracterizada como um transtorno de sintomas somáticos. Isto é, a gravidez psicológica está dentro de uma classificação maior, que considera outras condições de psicossomática como transtorno.

Entende-se por somática ou psicossomática as questões de saúde mental que aparecem no corpo. Por exemplo, casos de enxaqueca recorrente e extrema causada por estresse, e não por questões fisiológicas e físicas.

No caso da pseudociese, há o desenvolvimento de sintomas de gravidez por conta das questões psicológicas, e não fisiológicas e biológicas como acontece em uma gravidez concreta.

Portanto, a pseudociese é considerada uma das possibilidades de manifestações do transtorno de sintomas somáticos.

Quais as causas da gravidez psicológica?

As causas da gravidez psicológica podem ser multifatoriais. Isso porque quando pensamos em questões de saúde mental, não podemos apontar uma única causa como sendo a mola propulsora do problema, afinal, nem sempre estamos diante de algo que caracteriza-se como uma situação de “causa e efeito”.

Dito de outro modo, a subjetividade, história de vida e questões emocionais da mulher podem provocar o aparecimento de uma gravidez psicológica.

Para refletirmos sobre algumas dessas possibilidades, elencamos alguns pontos que podem servir de gatilho para o desenvolvimento da pseudociese:

1. Dificuldade para engravidar
A dificuldade para engravidar pode provocar efeitos intensos na saúde mental e emocional da mulher. Se as tentativas frustradas acontecem há um tempo considerável, pode ser que a mulher comece a reconhecer sintomas de gravidez em seu corpo, mesmo que isso não seja uma verdade.
Afinal, o desejo de ser mãe é tão intenso e as tentativas tão desgastantes, que a situação pode evoluir para um quadro psicossomático.

2. Infertilidade
Quando um casal que deseja ter filhos se depara com um diagnóstico de infertilidade, a saúde mental pode ficar abalada. Há sentimentos de revolta, angústia, tristeza, etc.
Essas questões emocionais podem, aos poucos, evoluir para um caso de gravidez psicológica.
A mulher, diante da impossibilidade de engravidar, tenta não acreditar na realidade. A partir disso, internaliza a crença de que, de fato, está grávida, e começa a sentir os sintomas causados pelas alterações hormonais.
Porém, infelizmente não é algo concreto – está apenas no campo psicológico.

3. Problemas emocionais no relacionamento
Relacionamentos conturbados também podem servir de estopim para esse tipo de transtorno psicossomático.
Isso porque, muitas vezes, a mulher pode ter a crença de que uma gestação é capaz de “consertar” os problemas entre o casal.
Por conta disso, acaba desenvolvendo os sintomas de uma gravidez, mesmo que ela não seja real.
O desejo de consertar o relacionamento é tão grande, que esses sintomas podem ser bastante intensos. No entanto, a frustração do diagnóstico de gravidez psicológica pode vir a ser muito doloroso e merece atenção profissional.

4. Medo de engravidar
Em contrapartida aos casos de grande desejo de ser mãe, a mulher também pode desenvolver a gravidez psicológica no caminho inverso: quando tem medo de engravidar e não quer assumir o papel oferecido pela maternidade.
O medo e a angústia de haver uma concepção é tão grande, que o emocional da mulher pode ficar abalado caso a menstruação atrase um pouco. A partir disso, a crença de que está grávida é tão forte que os sintomas começam a surgir, desencadeando impactos fisiológicos no corpo.

5. Desejo intenso de ser mãe
Ao mesmo tempo em que mulheres que repelem a ideia de ser mãe podem desenvolver a gravidez psicológica, as mulheres com um desejo ardente pela maternidade também podem sofrer com esse transtorno psicossomático.
Afinal, a busca pela gestação é tão intensa que a qualquer sinal do corpo a mulher internaliza a certeza de que agora está grávida.
No entanto, os exames laboratoriais negam essa ideia, provando que não se trata de uma gravidez, de fato.

6. Pressão social
Infelizmente, a sociedade ainda fortalece a ideia de que a mulher só será plenamente feliz e completa caso viva uma gestação. Inclusive, mulheres que não desejam ser mães são “recriminadas” pela sociedade.
Toda essa pressão pode resultar em uma grande angústia, a ponto de a mulher passar a acreditar que está grávida para suprir essa demanda alheia. Porém, não passa de algo psicossomático, resultante dos conflitos emocionais vividos na interação com as demais pessoas.

7. Imposições do parceiro
Ainda vivemos em uma sociedade marcada pelo machismo, no qual o corpo da mulher é violado de diversas formas.
Dentro de um casamento desestruturado e machista, isso também pode acontecer.
Em se tratando da gravidez psicológica, mulheres podem sofrer em relacionamentos nos quais os parceiros a obrigam a não consumir anticoncepcional, bem como não usam preservativos nas relações sexuais e forçam a esposa a tentar uma gravidez.
Essa violência pode resultar em sintomas de gravidez psicológica, devido a toda a pressão sofrida e vivenciada.

Sintomas da gravidez psicológica

Os sintomas são bastante parecidos com o de uma gravidez real. A mulher realmente percebe alterações no seu organismo, ficando crente de que está grávida.
Veja alguns dos principais sintomas desse quadro psicossomático:

  • Ausência da menstruação.
  • Náuseas e vômitos, semelhante ao que acontece durante a gravidez.
  • Alterações hormonais significativas, que provocam, por exemplo, a distensão do intestino e a sensação de que a barriga está crescendo.
  • Crescimento das mamas e, em alguns casos, início da produção de leite materno.
  • Ganho de peso e aumento no apetite.
  • Desejo por alimentos específicos, como ocorre em gestantes.
  • Sensações que dão a entender que há a presença de um feto no útero da mulher.
  • Sonolência e fadiga características de uma gestação comum.

Com relação aos comportamentos, a mulher pode demonstrar a propensão de começar a preparar o quartinho e o enxoval do bebê, mesmo quando os médicos a dizem que não se trata de uma gravidez real.

A família precisa ter muita paciência e consideração na hora de lidar com a mulher, pois o fato de ela não estar realmente grávida pode ser difícil de assimilar, sendo emocionalmente doloroso.

Como é feito o diagnóstico da gravidez psicológica?

O diagnóstico pode ser feito por um obstetra que irá avaliar o caso por meio de exames.

A princípio, é feito o exame de farmácia que detecta a presença do hormônio da gravidez na urina. É importante ressaltar que esse hormônio já pode ser detectado no início da gravidez.

Além disso, o exame de sangue também pode ser solicitado. E caso dê negativo, o médico poderá, ainda, averiguar, por meio de um exame de ultrassom, a presença ou ausência da placenta e do saco gestacional.

Se todos esses exames derem negativos, e os sintomas da gestação forem detectados, o diagnóstico de gravidez psicológica poderá ser dado pelo médico.

A partir de então, será necessário avaliar os sintomas psicológicos para compreender os motivos pelos quais a mulher pode estar vivendo esse quadro, bem como de que maneira ela poderá atravessar a situação e se recuperar.

Outro ponto relevante, que devemos considerar, são os critérios diagnósticos apresentados pelo DSM-V:

  • Um ou mais sintomas somáticos (no caso, de gravidez) que causam perturbação na vida diária – afinal, a mulher começa a se preparar para a chegada de um bebê que não existe.
  • Pensamentos, comportamentos ou sentimentos excessivos com relação aos sintomas – pois como a mulher acredita na gestação, ela pensa, age e reflete frequentemente sobre as sensações vividas.
  • A condição somática é persistente – ou seja, não dura apenas um dia, mas sim, perdura por semanas e, no caso da gravidez psicológica, pode durar anos.
    Entre outros fatores.

Tratamento para gravidez psicológica

O tratamento para gravidez psicológica tende a ser multidisciplinar. Isso significa que diversos profissionais da saúde mental estarão agindo nessa situação.
Além disso, o próprio ginecologista poderá atuar. Abaixo damos mais detalhes.

Acompanhamento psicológico

O acompanhamento psicológico, feito por meio da psicoterapia, é muito importante nesses casos. É nesse acompanhamento que será possível detectar potenciais gatilhos para a gravidez psicológica, bem como avaliar as condições emocionais envolvidas com o quadro.

A mulher também terá a chance de viver a sua frustração diante de um resultado negativo, bem como poderá aprender a lidar melhor com o medo de engravidar, caso essa seja a sua situação estopim.

O psicólogo irá avaliar cada caso, analisando as potenciais causas para intervir na “raiz” do problema, permitindo a fala da paciente, acolhendo as demandas sem julgá-la, e ajudando-a a lidar melhor com as emoções que aparecem diante desse quadro.

Tudo isso visando mais qualidade de vida, bem-estar e equilíbrio psicológico.

Acompanhamento psiquiátrico

O acompanhamento psiquiátrico também é relevante nessas situações. Isso porque, muitas vezes, mulheres com gravidez psicológica tendem a viver altos níveis de ansiedade e estresse, além de estarem diante de quadros como o da depressão.
Nesses casos, o médico poderá prescrever medicamentos e auxiliar no equilíbrio emocional da paciente.

Acompanhamento ginecológico

Devido às alterações hormonais provocadas pelas questões de saúde mental, o ginecologista também poderá atuar nesse caso.
Além disso, ele poderá investigar outras situações de saúde reprodutiva que podem estar associadas, por exemplo, com a produção de leite materno e/ou com o atraso da menstruação.

Tratamento para dificuldade de engravidar

Se a mulher possui problemas para engravidar e esse foi um dos estopins da gravidez psicológica, o tratamento médico pode ser relevante.
Assim, a mulher poderá iniciar um acompanhamento mais adequado, visando detectar as causas da dificuldade para engravidar e as possibilidades de conquistar uma gestação no futuro.

Como auxiliar uma mulher com gravidez psicológica?

O diagnóstico da gravidez psicológica pode ser muito doloroso para a mulher e, inclusive, ela pode comparar à dor emocional vivida em casos de aborto espontâneo e morte fetal (natimorto).
Afinal, para ela, um filho estava sendo gerado, mesmo que apenas psicologicamente. Por isso, agir de forma empática e paciente é fundamental para criar um ambiente mais saudável para a mulher.
Veja algumas considerações:

1. Escuta ativa
Escutar o que a mulher tem a dizer pode fazer toda a diferença. Para ela, é possível que a situação se assemelhe com um luto. Portanto, tenha a empatia de ouvi-la e de acolher as emoções que ela está anunciando.
Esse gesto pode criar uma atmosfera mais acolhedora para ela, resultando em um ambiente mais propício para a recuperação emocional.

2. Não anule o que a mulher sente
Não fique anulando as sensações que a mulher descreve sentir. Caso ela diga que está com os seios doloridos e acredite realmente que está grávida, não fique proferindo frases como “isso é coisa da sua cabeça”.
Mas sim, diga que entende que ela realmente sente, mas que é necessário investigar um pouco mais a situação, para avaliar o quadro.
Jamais negue o que ela está sentindo e nunca compare essas sensações com loucura. Aja sempre com empatia e respeito às emoções alheias.

3. Incentive a busca de apoio médico e psicológico
Sempre que possível, incentive a busca pelo apoio médico e psicológico. Diga para que a mulher faça os exames necessários para comprovar a gravidez, pois essa postura pode evitar frustrações mais tarde.
Não encare a busca da psicoterapia como algo de “louco”, e deixe claro que se trata de um tratamento comum como qualquer outro, que visa saúde e bem-estar.

4. Oferecer fontes de psicoeducação
A psicoeducação tem um papel muito importante nos casos de gravidez psicológica. Isto é, educar a paciente, dizendo a ela os motivos pelos quais ela sente os sintomas, o que eles significam e como lidar com eles de uma forma emocionalmente saudável, é algo importante.
Essa psicoeducação pode ocorrer na psicoterapia, bem como pode acontecer por meio de conteúdos, palestras, leituras e materiais confiáveis que podem ser apresentados à mulher.
Pode ser que no começo ela se negue a saber mais sobre isso, relutando contra o fato de estar com uma gravidez psicológica. Porém, com paciência, dedicação e empatia, é possível apresentar materiais de psicoeducação aos poucos, oferecendo a ela mais conhecimentos sobre a própria situação.

Acolher, demonstrar apoio e oferecer ajuda é muito importante. Lembre-se de que a mulher está passando por questões emocionais que impactam profundamente a sua vida. Por isso, respeite-a e busque apoio profissional.

Referências
American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

SANTOS, E. C. S.; BARBOSA, E. R. L.; SILVA, G. P.; FONSECA, E. J. F.; LOURENÇO, A. K. L.; MELO, I. F.; BARROS, E. N. L.; BITTENCOURT, H. S. Atuação do enfermeiro frente a uma gravidez fictícia. Brazilian Journals. Vol. 4 No. 1 (2021).