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Aspectos psicológicos do puerpério

Aspectos psicológicos do puerpério

Conhecer os aspectos psicológicos do puerpério e comum à maior parte das mulheres, é um passo rumo à conscientização e à busca pela saúde mental.

Afinal, à medida que a mulher cria uma consciência das mudanças vividas neste período, cria-se um alicerce para buscar ajuda quando necessário e compreender como lidar com essas questões de uma forma respeitosa para consigo mesma.

Por isso, convidamos você para conhecer um pouco mais sobre essa temática, tirando as suas dúvidas e mergulhando no universo vivido no puerpério.

Aspectos psicológicos do puerpério

Obviamente, os aspectos psicológicos do puerpério podem representar algo mais intenso ou mais brando para algumas mulheres. Isso porque, acima de tudo, cada gestação é única, e marcada pela singularidade da mulher que está vivendo-a naquele momento.
Por isso, os aspectos listados abaixo são um apanhado geral das questões psicológicas mais comuns nesta fase do ciclo gravídico puerperal. Entenda um pouco mais sobre elas:

1. Ambivalência frente à maternidade
O sentimento de ambivalência pode ser caracterizado como uma verdadeira contradição. No caso da maternidade, a mulher pode sentir uma extrema felicidade por ter o seu filho, ao mesmo tempo em que sente uma tristeza ou um medo extremo por ser mãe.
Perceba que as sensações tendem a ser contraditórias, o que, muitas vezes, dificulta a compreensão de quem está vivendo em torno da puérpera.
Porém, é válido ter consciência que esse tipo de sentimento é muito comum, devido às profundas transformações psicológicas, fisiológicas e sociais que a mulher está vivendo.
Ter esse conhecimento, portanto, pode ser um caminho para compreender um pouco mais sobre os sentimentos que vêm em forma de “montanha russa” na vida da mulher, buscando criar uma atmosfera mais saudável para lidar com essas novas questões que surgem após o nascimento do filho.
Se você é uma puérpera que tem vivido essa ambivalência, saiba que isso é muito comum, e falar sobre os sentimentos, angústias e medos pode ser relevante.

2. Luto pelo corpo antes da gravidez
Antes de engravidar, a mulher enxergava um corpo na frente do espelho. Possuía determinadas curvas, características e detalhes que a tornavam a mulher que costumava ser.
Porém, à medida que a gestação foi acontecendo, esse corpo começou a passar por modificações. E embora essas modificações possam ter sido gradativas, ainda assim são bastante intensas.
Por isso, um dos aspectos psicológicos do puerpério é viver um luto por não ter mais aquele corpo que tinha antes da gestação. Esse luto pode causar dúvidas, angústia, medo de não ser mais atraente, etc.
Todas essas questões são válidas, e a mulher merece falar e chorar sobre elas, visando elaborar o que sente e ultrapassar o luto do “corpo perdido”.

3. Luto pelo corpo da gravidez
Além de haver o luto do corpo que existia antes da gestação, agora, no puerpério, também pode haver o luto do corpo da gravidez.
Isto é, a mulher começa a ver a sua barriga de grávida diminuindo, semana após semana, até se tornar quase imperceptível.
Ao mesmo tempo, percebe que a sua posição de gestante, frente à sociedade, não existe mais, o que a faz viver novos papéis que, talvez, ainda não estava preparada para viver.
Por isso, é possível que a mulher viva um luto com relação ao corpo e à gestação que não existem mais.
E, novamente, falar sobre isso e receber uma escuta qualificada é primordial. Por isso, a busca pelo apoio psicológico e a construção de uma rede de apoio podem fazer a diferença na hora de lidar com esse tipo de luto.

4. A quebra da idealização do bebê e a inserção do bebê real
Durante a gestação, como vimos no conteúdo “aspectos psicológicos na gravidez”, a mulher começa a moldar a imagem do seu bebê em sua mente.
Isto é, ela passa a imaginar não apenas o físico do seu bebê, como também a personalidade que ele pode ter.
Ela imagina as interações que poderá viver, as histórias que poderão compartilhar, e assim por diante.
Em sua mente, pode imaginar um bebê perfeito, que dorme a noite inteira, mama sem problema algum e que quase nunca chora.
Porém, quando o bebê real chega ao mundo, uma nova história nasce ali. Isso quer dizer que a puérpera estará diante de um novo bebê, que ela deverá conhecer como novo e reconhecer como seu.
Este bebê dificilmente terá as características que ela imaginou durante a gestação. E isso pode gerar conflitos emocionais, como angústia, tristeza, sensação de impotência quando não consegue fazer o bebê parar de chorar, medo de não se conectar com o bebê real, etc.
Aqui, a mulher terá que quebrar a idealização que havia feito do seu bebê, dando caminho para conhecer e reconhecer este bebê real.

5. A nova identidade e o papel de mãe (autoestima e autoimagem)
Uma nova identidade também surge carregada de aspectos psicológicos no puerpério. Afinal, a mulher não recebe mais (apenas) o título de esposa, irmã, trabalhadora, dona de casa etc., agora ela também recebe o título de mãe.
Esse título pode ser difícil de ser assimilado de uma hora para outra. Afinal, o parto cria esse título em poucas horas: até antes, havia uma gestante. De uma hora para outra, há uma mãe.
Essa passagem “rápida” pode criar angústias na mulher que começa a acreditar que precisa saber tudo sobre a maternidade, assim que o seu bebê nasce.
Porém, assim como nasce um bebê no parto, também nasce uma mãe. E assim como o bebê vai aprendendo sobre a vida e o mundo com o passar dos meses e dos anos, a mãe também vive esse período para aprender sobre a maternidade.
No entanto, nem sempre as mulheres recebem o apoio e a compreensão para enxergar esta nova fase dessa maneira. Aqui, a autoestima e a autoimagem podem ficar prejudicadas.
É o caso da mulher que se sente inferior por não conseguir organizar a agenda; da mulher que não se sente mais bonita porque agora é mãe; da mulher que se sente insegura e incapaz todas as vezes que vê o seu bebê chorando; e assim por diante.
Infelizmente, a sociedade cria essa imagem de que a mulher tem um “instinto materno”. Mas, na prática, isso não existe. A mulher precisa ter o direito de aprender a ser mãe, à medida que vai convivendo com o seu bebê, sem buscar uma perfeição inexistente. Assim, é possível manter, com mais facilidade, a saúde mental dessa mulher.

6. Medo de não dar conta de tudo
O medo de não dar conta de tudo tende a tornar a maternidade ainda mais assustadora. E isso pode ser agravado à medida que essa mulher percebe que todos à sua volta, e ela mesma, romantizam os excessos da maternidade.
Afinal, muitas pessoas ainda associam a maternidade a um momento de plena felicidade e realização. Porém, não é exatamente assim que funciona.
Nem sempre a mulher estará feliz e muito menos conseguirá concluir com todas as suas tarefas de uma forma perfeita e ágil. Afinal, seguindo o que apontamos anteriormente, a mulher ainda está aprendendo a lidar com tudo o que é novo.
Portanto, o medo de não dar conta é muito comum e normal. Porém, a mulher tem que criar a consciência de que existe uma maternidade possível, e não uma maternidade perfeita.
Na maternidade “possível” a mulher faz o que pode e está ao seu alcance, sem se anular em prol de uma perfeição que os outros esperam. Na maternidade “perfeita” a mulher estará buscando a perfeição em tudo o que faz, para agradar aos olhos alheios, ao passo que estará se anulando e, quem sabe, abrindo caminho para o que chamamos de burnout materno.

7. Insegurança com relação ao seu lado esposa e sua sexualidade
A reativação da vida sexual da mulher também pode gerar conflitos psicológicos, dúvidas e medos.
A mulher que passa pelo parto necessita, obviamente, de um período de recuperação. Algumas dessas mulheres podem se sentir inseguras por conta da sua sexualidade ser afetada por um período julgado como longo.
Ao mesmo tempo, as questões relacionadas ao “novo corpo” também podem aparecer no campo da sexualidade e da autoimagem, como comentamos anteriormente.
Somado a tudo isso, há ainda o excesso de atividades que a maternidade exige, que pode resultar, em alguns casos, no afastamento entre o casal.
Porém, é importante ter em mente que esse processo de reajustamento precisa ser respeitado e precisa acontecer. O casal irá aprender, em conjunto, como conciliar a rotina da família com a sua vida sexual.
O marido ou a esposa precisa ser um alicerce nesse momento, apoiando a puérpera na sua recuperação pós-parto e no autoconhecimento diante do seu papel de mãe.
Também não podemos nos esquecer de que o pai/outra mãe também está aprendendo, assim como a mulher que pariu. E ambos precisam manter uma conversa franca, um diálogo aberto, para assim construir uma relação com base no respeito, na paciência e no reconhecimento de si mesmos, enquanto casal.

8. Adaptação psicológica e prática à nova rotina
Uma nova rotina nasce imediatamente após a alta do hospital. A mulher chega em casa, agora com o seu filho, e com uma lista de tarefas que não lhe competiam até então.
A casa, muitas vezes responsabilidade exclusiva da mulher, pode requerer um tempo de dedicação. Depois, há a alimentação da família, dos outros filhos (se existem) e da própria mulher. Há as necessidades do bebê, que costumam ocupar um grande espaço na agenda.
Somado a isso, há os cuidados necessários com a saúde da mãe, com o trabalho, estudos e vida social. A sexualidade também não pode ser excluída das atividades importantes, e tudo isso vai acumulando uma verdadeira lista de tarefas sem fim na agenda da mãe.
De um dia para o outro, ela pode se sentir em um beco sem saída, com medo, com sobrecarga.
Porém, todas essas sensações são naturais. A adaptação psicológica e prática à nova rotina pode resultar em momentos de dúvidas, medos, angústias… A mulher merece ter um espaço aberto para falar sobre tudo o que vem sentindo nesses momentos.
À medida que os sentimentos e emoções são respeitados e expressados pela mulher, ela pode elaborar o que vive, compreendendo melhor o que está acontecendo e buscando mecanismos internos para reorganizar tudo o que vem sendo feito.
O contato com a rede de apoio também é importante. A mulher precisa ter a chance de compreender que não há necessidade de fazer tudo sozinha. Familiares, amigos e até mesmo profissionais da saúde podem ajudar com as dúvidas, com a organização da rotina, e com a necessidade de se delegar algumas tarefas.
Respeitar o tempo de adaptação também é importante, não focando em “adaptar para ontem” a ponto de pular etapas desse novo autoconhecimento da mulher e da família.

9. Medo do mercado de trabalho
Embora a mulher possa, ainda, estar vivendo a sua licença, a verdade é que o retorno ao mercado de trabalho após a licença-maternidade pode ser bem assustador.
Por ser um tema muito profundo, desenvolvemos um conteúdo focado apenas neste assunto. Assim, você, mulher e puérpera, poderá compreender um pouco mais sobre essa temática, visando uma maior segurança para lidar com o retorno ao trabalho.

10. Medo de que algo aconteça com o bebê
O medo de que algo aconteça com o bebê também pode surgir dentre os aspectos psicológicos do puerpério. Desse modo, é imprescindível que a mulher converse com os profissionais da saúde que a acompanham, tirando as suas dúvidas e adquirindo conhecimentos que vão trazer mais segurança para o dia a dia.

A psicoterapia com foco na perinatalidade pode ajudar nas questões do puerpério

O psicólogo perinatal pode ser um agente capaz de promover mais saúde mental para as puérperas, especialmente no que tange aos aspectos psicológicos do puerpério.
Afinal, assim a mulher poderá falar sobre o que sente, tirar dúvidas, esvaziar-se de suas angústias e se autoconhecer nesta nova jornada – cheia de novidades que podem impactar as emoções e sentimentos.
Considere essa possibilidade e invista na sua saúde mental.

Referências
SILVA, I. A. Reações emocionais da mulher no puerpério. Rev. Esc. Enf. USP, São Paulo,
22(2):237-246, ago. 1988.

GIARETTA, D. G.; FAGUNDEZ, F. Aspectos psicológicos do puerpério: uma revisão. Psicologia.Pt – O portal dos psicólogos. 2015.