medicina e exercicio
Pesquisar
Pesquisar

Tristeza pós-parto ou baby blues

Tristeza pós-parto ou baby blues

A tristeza pós-parto, também conhecida como “baby blues”, caracteriza-se como um quadro transitório e não patológico que acomete cerca de 80% das puérperas.

Embora seja mais “brando” que a depressão pós-parto, é importante manter um olhar atento para o caso, viabilizando mais qualidade de vida para a mulher e uma condição que permita um melhor vínculo entre mãe-bebê.

Pensando nisso, trouxemos algumas considerações que podem lhe ajudar a entender melhor essa temática. Confira!

O que é a tristeza pós parto ou baby blues?

A tristeza pós-parto pode ser descrita como um quadro no qual a puérpera vive sentimentos de tristeza, insegurança, insatisfação, fadiga e baixa autoestima, devido ao nascimento do bebê que traz consigo uma série de transformações para essa mulher.
Essa tristeza costuma durar cerca de duas semanas, e pode fazer com que a mulher se sinta mais sensível e “com medo” do que está por vir.
Trata-se de um quadro muito comum, que pode acometer cerca de 80% das puérperas. Sendo assim, não é considerada uma condição patológica, mas sim, uma condição comum que pode fazer parte da transição que a mulher faz para dar a entrada no papel que cumprirá dentro da maternidade.
Porém, é importante ficar atento e buscar oferecer um ambiente acolhedor e saudável para essa mulher, a fim de evitar que o quadro evolua para um diagnóstico de depressão pós-parto.

Quais os sintomas da tristeza pós-parto?

Os sintomas do baby blues incluem sentimentos de tristeza, insegurança, mal-estar, dificuldades para lidar com as mudanças na rotina, etc. Abaixo descrevemos com mais detalhes para que você possa compreender essa situação.

1. Alterações de humor
As alterações no humor podem ocorrer de forma repentina. Seja por conta das mudanças psicológicas e ambientais, quanto pelas próprias mudanças hormonais no organismo da mulher.
Sendo assim, o choro pode surgir de uma hora para outra, bem como a sensação de cansaço excessivo, que gera uma estafa mental, também pode surgir repentinamente, por exemplo.

2. Sensação de fragilidade
A mulher pode se sentir um pouco mais frágil e sensível durante a fase de tristeza pós-parto. Isso quer dizer que, em alguns casos, ela pode ter algumas reações não tão proporcionais à situação.
Veja um exemplo: a mulher está passeando com o bebê e deixa a chupeta do pequeno cair no chão da rua. Ela pode se sentir extremamente triste por ter cometido esse “erro”, pensando que não é uma boa mãe.
Perceba que a sensibilidade está acima da média, fazendo com que a mulher se sinta triste de uma forma um tanto desproporcional à situação.

3. Choro fácil
O choro fácil também é uma das características sintomáticas da tristeza pós-parto. Afinal, a mulher está “à flor da pele” com suas emoções, e as angústias dessa nova fase da vida podem ocasionar um sentimento de tristeza persistente nos primeiros dias, devido às mudanças vividas.

4. Falta de confiança em si mesma
A mulher com tristeza pós-parto também pode se sentir menos confiante com relação à própria experiência como mãe.
Ela pode sentir que não dará conta da rotina, não conseguirá manter a casa e o trabalho, tampouco conseguirá organizar as coisas do bebê.
A puérpera pode sentir que não está preparada para lidar com a “enxurrada” de atividades da maternidade, tendo uma sensação de desesperança com relação a isso, que impacta na autoestima.

5. Medo de não conseguir cuidar do bebê
Além de ter medo e falta de confiança com relação à própria organização e forma de lidar com as novas tarefas, a mulher também pode ter medo de não conseguir cuidar do seu bebê.
Isto é, ela pode acreditar que “não dará conta” de oferecer ao seu filho o suporte necessário para que ele se alimente, durma, brinque e se desenvolva de forma adequada. A sensação é de ser uma mãe ruim, o que gera sentimentos de tristeza e angústia.

6. Sentimento e emoções de tristeza que duram cerca de duas semanas
Os sentimentos e as emoções, que envolvem a tristeza, duram cerca de duas semanas. Isto é, o quadro não costuma se prolongar por mais de trinta dias, pois à medida que os dias passam e a mulher recebe o amparo necessário, ela passa a compreender melhor o seu papel de mãe, fazendo a transição com mais tranquilidade.

7. Indisposição geral
A indisposição geral também pode aparecer nesta fase da vida da mulher. Isso decorre do fato de que muitas coisas mudaram, e novas tarefas passaram a fazer parte da vida da mulher.
Diante dessa “carga” nova, ela pode se sentir sobrecarregada ou até mesmo incapaz de cumprir tudo, o que pode ocasionar a sensação de indisposição e fadiga mesmo após uma noite de descanso, por exemplo.

Quais as causas da tristeza pós-parto?

Até aqui, pudemos discutir sobre os sintomas da tristeza pós-parto. Agora, vamos refletir um pouco sobre as causas dessa condição, visando entender quais são as esferas da vida da mulher que contribuem para esse “desequilíbrio” no início da gestação. Veja:

1. Mudanças sociais
A mulher assume o papel de mãe e o seu círculo de amizades pode começar a sofrer impactos por conta disso. Algumas pessoas queridas podem se afastar, devido à falta de encaixe com ambas as agendas, por exemplo.
Além disso, a mulher pode sentir que deverá frequentar novos espaços, com mães e pais, e não mais ambientes que costumava frequentar quando ainda não tinha um filho, por exemplo.
Outro ponto que devemos levar em conta é que, às vezes, a mulher pode sofrer pressões ou julgamentos no meio social que ela está vivendo. É o caso de as pessoas à sua volta viverem dando palpites e acreditando que ela deva fazer X ou Y.
Isso se soma também às comparações que tanto a puérpera, quanto os outros, podem fazer, comparando a mulher com outras mulheres mães que emagreceram, criaram uma rotina incrível da noite para o dia, e assim por diante.

2. Mudanças psicológicas
A mulher passa a viver uma nova identidade. Antes, ela era trabalhadora, esposa, filha, irmã, prima… Hoje, além disso tudo, ela passa a ser mãe. E esse papel vem carregado de significados que essa mulher construiu ao longo de toda a sua vida.
Isto é, a mulher pode ter uma visão específica do que é ser mãe, ou seja, uma visão idealizada, o que pode ocasionar uma sobrecarga no seu dia a dia e na sua rotina de forma geral.
Além disso, caso a mulher não consiga cumprir o papel que ela imaginava que assumiria logo após o nascimento do bebê, ela poderá se sentir com baixa autoestima e incapaz de ser uma boa mãe.
Por isso, esse processo de “luto” vivido após o parto costuma ocasionar a tristeza pós-parto. A mulher precisa de um tempo para assimilar sua nova posição, conhecendo-se e reconhecendo-se a cada dia, de forma gradativa.

3. Mudanças corporais e hormonais
Sem dúvidas, as mudanças no organismo também têm um papel importante na tristeza pós-parto.
A mulher vive uma verdadeira montanha-russa de mudanças hormonais que impactam nas emoções e na sua forma de lidar com o que sente.
Em paralelo a isso, as mudanças no corpo e no que é visto em frente ao espelho também podem gerar baixa autoestima, dúvidas, angústias, medos, etc.
Por conta desses três pontos acima, reunidos, dizemos que a tristeza pós-parto é um quadro multifatorial. Dito de outro modo, não existe uma única causa e efeito para a situação. Trata-se de efeitos que vão sendo construídos na complexidade gerada pelas mudanças provocadas no pós-parto.

Como superar a tristeza pós-parto?

Apesar de ser uma condição comum da vida de muitas puérperas, a tristeza pós-parto pode gerar desconfortos que atrapalham a construção da rotina e do vínculo mãe-bebê.
Por isso, pensar em ferramentas e estratégias de enfrentamento para essa fase da vida é um caminho promissor a ser seguido. A seguir, apontamos algumas dessas recomendações:

1. Desenvolvimento de uma rede de apoio
A rede de apoio tem um papel muito importante na vida da mulher. Isso porque ela não precisa entrar em um papel de personagem “super-heroína” e que dá conta de tudo. Ter amigos e familiares para auxiliar nas tarefas diárias, ou simplesmente para ficar com o bebê enquanto a puérpera toma banho e cuida de si mesma é algo indispensável.
Essa rede pode ser construída aos poucos, à medida que a mulher conversa com quem está à sua volta sobre a possibilidade de receber o apoio das pessoas queridas.
Vale lembrar, ainda, que o parceiro não é rede de apoio, mas sim, ele possui as mesmas responsabilidades que a puérpera. Ou seja, é papel do pai alimentar, trocar, banhar, fazer dormir, cuidar para a mãe descansar, etc.
A mulher não precisa arcar com tudo sozinha. Especialmente em casos de tristeza pós-parto, é muito importante receber o apoio de pessoas confiáveis – inclusive de profissionais da saúde.

2. Psicoterapia perinatal
A psicoterapia perinatal, com foco no puerpério, neste caso, pode ser um caminho muito interessante. Na psicoterapia, a mulher poderá falar sobre o que sente, quais são seus medos, suas angústias e dúvidas, sem temer o julgamento que costuma ser feito pela sociedade.
Ela também poderá praticar o autoconhecimento, entender melhor os próprios limites e encontrar mecanismos internos para ir se adaptando, aos poucos, à nova vida.

3. Respeito às mudanças graduais
Entender que as mudanças podem ser graduais também é um caminho para superar a tristeza pós-parto. Isto é, a mulher não precisa entender todos os choros do bebê desde o primeiro dia em que ele chega ao mundo. Mas sim, ela pode ir criando esse vínculo aos poucos, reconhecendo os sinais, aprendendo a lidar com isso, etc.
E esse respeito às mudanças vale para todas as fases e acontecimentos que ocorrem depois do parto. A mulher não precisa entender e tampouco dar conta de tudo de uma hora para outra. Ela pode ir desenvolvendo habilidades aos poucos, na medida do possível.

4. Autoconhecimento
Conhecer os pontos fortes e também entender as próprias dificuldades ajuda na hora de lidar com as mudanças ocorridas na gestação e no pós-parto.
Afinal, a mulher precisa entender o que ela sabe fazer e o que deve ser desenvolvido, de forma gradativa, para manejar a maternidade de uma maneira mais leve e tranquila.
Também é preciso compreender que cada pessoa é única, reconhecendo os próprios traços pessoais e fugindo de qualquer comparação com outras mulheres, por exemplo.

5. Proximidade com o bebê
A proximidade com o bebê também pode ser trabalhada para auxiliar na superação da tristeza pós-parto. A mulher pode manter-se próxima do pequeno, conversando, interagindo, analisando suas feições.
Não é preciso decifrar o bebê de uma hora para outra. Mas é possível analisá-lo, brincar com ele, contar histórias, fazer carinho, mantê-lo por perto, no toque pele a pele – que auxilia na produção de oxitocina, ou seja, na produção do “hormônio do amor”, que ajuda no vínculo e fortalece a relação.
Esse fortalecimento e aumento da proximidade pode, aos poucos, trazer mais tranquilidade para a mulher na hora de lidar com o seu bebê, aumentando a autoconfiança e gerando um vínculo afetivo que torna a interação mais saudável para ambos.

6. Práticas de autocuidado
A mulher com tristeza pós-parto também deve priorizar a si mesma em vários momentos do dia. Infelizmente, vemos as mulheres mães serem tratadas como seres humanos divinos e que só focam no bem-estar de seus filhos, mas essa anulação da individuação da mulher é algo negativo para a saúde mental da puérpera.
Por isso, a mulher deve contar com a ajuda da rede de apoio para ter os seus momentos de autocuidado: praticando exercícios, praticando um hobby, relaxando, dormindo, tomando um banho, cuidando da aparência, etc.
Sabemos que esse tipo de atividade pode ser difícil para mulheres que têm a agenda sobrecarregada e uma rede de apoio pequena. Porém, talvez seja interessante contratar uma babá para momentos pontuais, como os de autocuidado da mãe, a fim de não se anular em prol do papel vivido na maternidade.

7. Viver e escutar as próprias emoções
Não negligenciar e tampouco “afogar” as emoções também é importante – e isso vale para a vida toda, não só para o momento de tristeza pós-parto.
A mulher precisa dar voz para o que sente, seja escrevendo ou falando com alguém sobre o assunto. Tentar entender as emoções, suas intensidades e suas relações com a realidade ou apenas com o imaginário, compreendendo o que realmente é real e o que é algo apenas aumentado em nossa própria mente, é de suma importância para criar uma atmosfera mais saudável para a própria saúde mental.
Conversar sobre o que se sente e não se culpar pelos próprios sentimentos é importante para aprender a elaborá-los e superá-los.

Cuide da sua saúde mental considerando esses pontos assinalados neste conteúdo, e lembre-se: a busca pelo apoio profissional de um psicólogo pode ser interessante em casos de tristeza pós-parto.

Referências
AMORIN, S. P. T. Tristeza pós-parto – importância do diagnóstico precoce. Monografia apresentada à Universidade Fernando Pessoa para obtenção do grau Licenciada em Enfermagem, 2010.