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Aspectos psicológicos na infertilidade

Aspectos psicológicos na infertilidade

Os aspectos psicológicos na infertilidade podem impactar a vida de mulheres, homens e casais que tentam, a mais de 12 meses, conceber um bebê e assim dar início à parentalidade.

Afinal, querendo ou não, a perpetuação da espécie é um desejo que pode acometer uma grande parcela das pessoas. Porém, quando esse desejo é impedido, seja por questões psicossomáticas ou fisiológicas (como em casos de doenças como a endometriose), os impactos emocionais podem ser intensos.

Por isso, reunimos informações importantes sobre a temática para que possamos discutir esse assunto e refletir sobre caminhos que aumentem a qualidade de vida de pessoas que enfrentam a infertilidade. Acompanhe para saber mais.

Aspectos psicológicos na infertilidade

São inúmeros os aspectos psicológicos que estão envolvidos com casos de infertilidade. Além disso, é importante estar ciente de que a lista abaixo não se caracteriza como um “checklist”. Isto é, pode ser que alguns casais vivam problemas conjugais decorrentes da infertilidade, como também é possível que esses problemas não aconteçam.

Por isso, tenha em mente que apresentamos um panorama, com dados levantados em pesquisas, que apontam quais são os principais aspectos, ou os aspectos mais recorrentes, em casais e famílias que lidam com a infertilidade.

Desse modo, poderemos pensar em formas de lidar com essas questões de uma maneira mais sadia.
Vamos adiante!

1. Medo de não conseguir engravidar
Sem dúvidas, o medo de nunca conseguir engravidar pode acarretar em prejuízos emocionais, tanto para a mulher, quanto para o casal em si.
Esse sentimento costuma impactar as relações e o dia a dia do indivíduo, que vive altos índices de sentimentos nocivos por conta de tantas tentativas frustradas.

2. Baixa autoestima
A mulher infértil pode se sentir diminuída e, em casos extremos, “inútil” enquanto corpo femino. Afinal, devido às sobrecargas sociais, espera-se que, em determinada idade, a mulher venha a engravidar e gerar um bebê sadio e forte.
Quando isso não acontece, as comparações começam a ser feitas, ou seja, conhecidos podem dizer que “fulana já tem dois filhos e você não”, ou algum discurso parecido.
Além disso, muitas vezes a mulher não comunica as pessoas à sua volta de que ela está tentando engravidar e não consegue. Isso pode resultar em perguntas inconvenientes, como no caso de conhecidos que sempre perguntam “quando vem o bebê”, por exemplo.
Tudo isso pode impactar a autoimagem e a autoestima da mulher, que se sente inferiorizada, enquanto um ser humano com útero, por não conseguir dar continuidade à espécie.

3. Pressão social que gera vergonha
Acima pudemos ter uma visão geral do quanto as pessoas em volta da mulher infértil podem provocar efeitos intensos na autoestima dela.
Agora, podemos pensar na pressão social como um todo, não relacionado apenas ao círculo social no qual a mulher está inserida.
Por exemplo, constantemente vemos novelas, filmes, séries, histórias e afins que mostram a mulher gestando, parindo e vivendo a plenitude da maternidade. Há, ainda, a romantização excessiva do papel de mãe, como se este fosse o único ponto alto na vida de uma mulher.
Essa sobrecarga de “endeusamento” da maternidade pode, pouco a pouco, minar a saúde mental da mulher infértil ou com dificuldades para engravidar, que se vê como incompleta e incapaz de ser o que as outras mulheres são.
Consequentemente, toda essa pressão social pode ser o estopim para fortes sentimentos de vergonha que, em alguns casos, levam a mulher ao isolamento social, à esquiva de situações que tragam à tona o assunto, etc.
Portanto, é preciso compreender que a maternidade não é o único papel importante na vida de uma mulher. Existem muitos papéis que podem ser vividos e que são capazes de proporcionar sentido e satisfação para a vida dessa mulher.
É necessário reconhecer isso, e a psicoterapia pode ajudar nesse sentido, a fim de elevar a autoconfiança e a qualidade de vida.

4. Insegurança frente ao seu papel de mãe/pai
A infertilidade também pode trazer sentimentos de insegurança e incapacidade com relação ao papel de pai e mãe.
Isto é, à medida que as tentativas frustradas de engravidar vão acontecendo, o indivíduo pode acreditar que não é bom o bastante para ser mãe ou pai. Assim, quando a gestação finalmente acontece, as questões podem estar enraizadas na mente da pessoa, fazendo-a acreditar que não dará conta.
Isso sem contar as situações de superstição, onde o indivíduo acredita que as tentativas frustradas são um “sinal do universo” e, simplesmente, acaba escondendo o próprio desejo de ser mãe ou pai, vivendo uma frustração silenciosa.
Outro cenário que merece atenção é o caso da pessoa se sentir insegura para tentar a adoção, por exemplo, pois acredita que não é “boa o bastante”.
Em todas essas situações a busca pela psicoterapia é algo relevante e que visa restabelecer um equilíbrio na vida do indivíduo.

5. Frustração
Sem dúvidas, a frustração de tentar engravidar e não conseguir pode ser bastante dolorosa. Tanto para a mulher, quanto para o parceiro ou parceira.
As tentativas vão tornando a frustração cada vez mais intensa, como se a dor se somasse a cada nova “rodada”.
Por isso, falar sobre o assunto, receber apoio de amigos e familiares e procurar suporte psicológico são medidas que podem amenizar a intensidade dessas sensações.
Assim, embora a frustração exista, a pessoa poderá encontrar ferramentas para elaborá-la e lidar melhor com ela.

6. Estresse
As incansáveis tentativas, testes feitos, tratamentos seguidos e etc. podem resultar em quadros de estresse cada vez mais elevados.
A pessoa se vê diante de um limite, que a sobrecarrega e torna o dia a dia cada vez mais difícil.
As tentativas passam a ser pensadas e refletidas em todos os âmbitos da vida do indivíduo, que se vê sobrecarregado, especialmente quando tenta diversas alternativas diferentes, como com o investimento em tratamentos diversos ao longo dos meses e até anos.
Esse estresse precisa ser trabalhado na psicoterapia e no dia a dia, para que o indivíduo consiga encontrar formas de verbalizá-lo para não sobrecarregar a própria mente e o próprio corpo.
E assim, a qualidade de vida tende a ser mantida, à medida que a pessoa elabora o luto e as frustrações das tentativas, evitando ao máximo que tudo isso vire uma “bola de neve” de estresse.

7. Desestabilização do relacionamento conjugal
Infelizmente, muitos casais podem começar a sofrer, dentro do relacionamento, devido aos aspectos psicológicos presentes na infertilidade.
Afinal, pode ser que o filho seja uma parte muito importante no plano de vida de ambos, o que dificulta a compreensão da situação.
Em meio às frustrações, pode ser que o casal tente encontrar culpados, apontando um para o outro, e resultando em brigas que geram ainda mais angústia.
A dificuldade para lidar com o impedimento da gravidez pode resultar em um afastamento e esfriamento do relacionamento, que merece atenção psicológica para restabelecer a rotina do casal.
É importante quebrar a ideia de culpa, visando oferecer um ambiente mais saudável para ambos os lados. O diálogo, a compreensão, a comunicação não-violenta e a paciência precisam ser trabalhadas.
Nesses casos, a psicoterapia de casal também pode ajudar a quebrar alguns paradigmas, visando restabelecer a harmonia em meio às frustrações e ao “caos” da infertilidade.
Ao mesmo tempo, a psicoterapia pode ajudar o casal a encontrar novos desafios, objetivos e caminhos para seguir, como por exemplo, casos de adoção ou, simplesmente, a superação da situação de infertilidade.

8. Desenvolvimento de depressão
Muitos indivíduos que atravessam os “baques” gerados pela infertilidade podem desenvolver depressão.
O humor deprimido começa a fazer parte da vida da pessoa, que se sente incompleta ao não conseguir gerar um bebê, e que pode ter a sensação de que não há sentido para seguir adiante.
Somado a isso, há as pressões sociais, as brigas dentro do relacionamento, as dores vividas por conta do diagnóstico de doenças que causam infertilidade, a dificuldade para estabelecer um novo plano de vida, e assim por diante.
Novamente, trata-se de uma situação que exige acompanhamento profissional, inclusive de médicos psiquiatras.

9. Dificuldade para criar sentidos à própria história
Muitas vezes, tanto o indivíduo (seja ele a mulher ou o homem), quanto o casal, projetam grande parte do sentido de suas vidas na possibilidade de criar uma família grande por meio da gravidez, por exemplo.
Porém, quando a infertilidade aparece, o casal ou o indivíduo pode sentir que esse plano é roubado de si, provocando sentimentos de frustração e tristeza intensos.
A pessoa pode, pelo menos durante um período, não encontrar caminhos promissores que façam com que a sua vida pareça valer a pena. Podemos dizer, obviamente, que essa dificuldade para criar sentidos para a própria história pode, mais tarde, resultar em quadros de depressão.
Por isso, investir na psicoterapia para elaborar novos objetivos de vida, quebrando paradigmas internos e elaborando o luto provocado pela infertilidade, são caminhos que podem ser interessantes e saudáveis.

A psicossomática na infertilidade - quando a mente projeta no corpo a infertilidade

Outro ponto que devemos discutir e pensar é com relação aos quadros psicossomáticos que envolvem situações de infertilidade. Para que se torne mais fácil a sua compreensão, vamos primeiro pensar no que é uma questão psicossomática:

  • Podemos dizer que a psicossomatização consiste no aparecimento de dores ou questões de saúde física em decorrência de fatores emocionais ou psíquicos.

No caso da infertilidade, poderíamos dizer que é o caso de um casal não conseguir engravidar por conta de questões de saúde mental, e não necessariamente doenças relacionadas ao aparelho reprodutor.
Essa é, sem dúvidas, a realidade de muitas pessoas. Por isso, é tão importante procurar o acompanhamento psicológico em casos de dificuldade para engravidar. Assim, o casal poderá compreender melhor as próprias emoções, enfrentar traumas e lutos e, quem sabe, encontrar medidas que auxiliem na cura psíquica, resultando em uma gravidez.
Obviamente, a psicossomatização pode ser uma das causas da infertilidade do casal, mas ela não exclui a existência de outras enfermidades. Por conta desse fato, além de procurar o psicólogo, o casal deve procurar um médico qualificado.

Como lidar com as dificuldades trazidas pela infertilidade?

Infelizmente, a infertilidade pode ocasionar dificuldades e dores profundas para os indivíduos, enquanto sujeitos únicos, e para os casais. Por conta disso, trouxemos algumas recomendações pertinentes sobre esse caso:

1. Investigação da dificuldade em engravidar
Um primeiro ponto que deve ser levado em conta é a investigação da dificuldade para engravidar. Para isso, é necessário analisar o tempo de tentativas. Normalmente, considera-se dificuldade para engravidar aquelas situações nas quais o casal tenta, por 12 meses consecutivos, conquistar a concepção, sem estar usando nenhum tipo de método contraceptivo.
Caso essa seja a sua situação, considere buscar ajuda psicológica e médica para investigar as potenciais causas do problema, visando saná-las o máximo possível.

2. Busca pelo tratamento ideal
Depois de reconhecer as possíveis causas da infertilidade, é necessário buscar o tratamento ideal.
Hoje, é possível encontrar muitas clínicas especializadas em infertilidade, que visam prescrever tratamentos alinhados às singularidades de cada casal.
Além disso, lembre-se de que os hábitos pessoais também podem impactar na saúde do organismo. Por isso, investir em exercícios, boas noites de sono, cuidados com a saúde mental e demais ações positivas também contribui para o tratamento ideal surtir efeito.

3. Psicoterapia para reequilibrar as emoções
A psicoterapia também tem um papel importante. Como vimos, alguns casos de infertilidade podem ser caracterizados como uma manifestação psicossomática, que exige o acompanhamento profissional para compreender as potenciais causas por trás da situação.
Além disso, a psicoterapia tem um papel importante no enfrentamento das dores vividas, da frustração sentida, dos sentimentos negativos relacionados à infertilidade, e assim por diante.
Tanto o casal, quanto cada indivíduo, pode embarcar na psicoterapia para encontrar novos objetivos e sentidos para as próprias vidas, ao mesmo tempo em que lida com as questões conjugais que podem surgir em decorrência da dificuldade de engravidar, por exemplo.
O foco, nesses casos, é justamente elevar a qualidade de vida e reduzir os índices de sofrimento dos indivíduos.

4. Luto e aceitação da situação
Receber a notícia de que a gravidez é impossível, ou quase impossível, resulta em uma perda gigantesca para casais que vinham tentando engravidar.
Sendo assim, como acontece em todas as perdas significativas de nossas vidas, o processo de luto começa a ser iniciado.
Em um primeiro momento, há a descrença de que a impossibilidade seja real, bem como pode haver as crises de raiva, frustração, choro, humor deprimido, etc.
Porém, à medida que o tempo passa e o casal tem a oportunidade de falar sobre suas angústias e emoções, o luto começa a ser elaborado. Consequentemente, há o início da fase de aceitação. Nesta fase, novas perspectivas são reconhecidas para a vida.
Entretanto, o casal precisa estar ciente de que existe um luto, ou seja, que ele pode chorar e viver o processo de luto dentro do tempo que lhes caber.

5. Reflexão sobre alternativas
Pensar em alternativas diversas para cumprir o papel da parentalidade também é um caminho. Essa reflexão pode acontecer quando o processo de luto foi vivido, e o acompanhamento psicológico já vem acontecendo.
Neste caso, podemos citar a adoção como uma alternativa pertinente para dar continuidade ao objetivo do casal, caso este não queria “interromper” a ideia de ter filhos.
Além disso, as “alternativas” podem estar associadas aos novos planos de vida do casal, que não necessariamente incluem a ideia de ter filhos. É o caso de criar novos projetos, encontrar novos sentidos, refletir sobre novos caminhos, etc.

6. Diálogo franco e compreensivo dentro do casamento/relação
O relacionamento pode ser fortalecido por meio de conversas francas e muita compreensão dentro do casamento/relação. O casal precisa compreender que ninguém tem culpa pelas condições que se instauraram, e por meio da psicoterapia podem encontrar novos objetivos que agreguem ao plano de vida dos dois.
O respeito deve ser mantido, e as emoções podem ser desabafadas, um para o outro, sem ofensas ou acusações. Nessas situações, a paciência precisa ser explorada.
Caso isso se torne dificultoso, a psicoterapia para casais é relevante e pertinente.

7. Conversar sobre o assunto e buscar apoio social
Por fim, construir uma rede de apoio, dentro da família e do círculo social, para conversar sobre o assunto, desabafar e receber o suporte necessário, também pode ser um caminho.
Obviamente, nem todos os casais se sentirão à vontade para tratar desse assunto com amigos e familiares. Porém, caso se sintam, o suporte da rede de apoio poderá ser interessante e enriquecedor na hora de atravessar as dores da impossibilidade.

Nunca se esqueça de que a psicoterapia e o acompanhamento psiquiátrico podem ajudar. Você, ou vocês, não precisam enfrentar tudo sozinho. Existem profissionais preparados para auxiliar em casos de infertilidade.

Referências
LOPES, V.; LEAL, I. Ajustamento emocional na infertilidade. 1ª ed. Lisboa : Placebo, Editora LDA, 2012.

FARINATI, D. B.; RIGONI, M. S.; MÜLLER, M. C. Infertilidade: um novo campo da Psicologia da saúde. Estud. psicol. (Campinas) 23 (4). Dez. 2006.