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Retorno ao trabalho após licença-maternidade

O retorno ao trabalho após a licença-maternidade pode ser um grande desafio, uma vez que o nascimento de um filho acarreta no acréscimo de mais uma função na vida das mulheres.

Por isso, para compreender quais medidas podem auxiliar nesse momento, visando a qualidade de vida e a saúde mental da mãe e do bebê, desenvolvemos este guia com diversas considerações importantes. Acompanhe para saber mais.

Aspectos emocionais relacionados ao retorno ao trabalho após a licença-maternidade

Alguns aspectos emocionais costumam fazer parte da vida das mulheres que vivem o retorno ao trabalho após a licença-maternidade. Obviamente, não se trata de algo generalista.

Isto é, pode ser que você não viva todos os sentimentos e emoções abaixo, bem como pode se deparar com uma série de critérios que listamos a seguir.

É sempre bom termos em mente que a saúde mental é subjetiva e o intuito desse conteúdo é orientar, e não diagnosticar, ok?

Dito isso, conheça um pouco mais das características comuns dessa fase na vida da mulher:

Sentimento de culpa por deixar o filho com alguém, seja na creche ou com algum familiar. Esse sentimento pode ser vivido como uma sensação de estar “abandonando” a criança.
Insegurança por não ter conhecimento de como acontecerá o retorno.
Sentimento de tristeza por se apartar do filho e medo de confiar em um estranho cuidando da criança.
Problemas relacionados ao medo de não retornar ao perfil de corpo que tinha antes da gestação.
Preocupação com a nova rotina, seja por medo de não dar conta ou por receio de se sentir cansada/irritada com o filho, entre outras circunstâncias.
Cansaço excessivo ao assumir novos papéis, somado à angústia de delegar ou não.
Mudanças relacionadas à autoestima e à autoimagem, uma vez que a mulher, além de mulher, passa a se ver como mãe, o que acarreta em autoconceitos diferentes dos vividos até então.
Medo do julgamento alheio e, por conta disso, muitas mães buscam ser “perfeitas” aos olhos da sociedade, sobrecarregando-se e vivendo o chamado burnout materno mais tarde.

Além desses fatores emocionais, existem questões práticas que podem provocar angústia nas mulheres mães, como por exemplo:

Dificuldade para organizar a agenda, com relação ao trabalho, cuidados com a casa, autocuidado e criação do filho.
Problemas para encontrar alguém de confiança que possa cuidar da criança.
Ausência de uma rede de apoio sólida.
Dificuldade para estabelecer uma rotina saudável e menos cansativa, devido aos momentos em que é despertada durante a noite pelo bebê.
Problemas e impasses para oferecer a livre demanda ao filho, por conta do trabalho e da falta de condições adequadas para a coleta do leite no ambiente corporativo.

Considerações que podem auxiliar no retorno ao trabalho após a licença-maternidade

Como vimos acima, existem muitas questões emocionais e psicológicas que podem impactar a saúde mental da mulher que se torna mãe.
Para lidar com essa situação, além de buscar a psicoterapia, existem outras ações que podem auxiliar de alguma forma. Entenda:

1. Traçar uma rede de apoio sólida
Esta etapa pode ser bastante difícil para algumas mulheres, especialmente no caso daquelas que moram longe da família e/ou são mães solteiras.
Porém, investigar as possibilidades que contribuem para a construção de uma rede de apoio é algo relevante.
Por exemplo:

  • Uma amiga que visite para tomar conta do bebê por alguns minutos, enquanto a mãe se banha.
  • Familiares que possam auxiliar nos cuidados com a casa.
  • Parceiro(a) que auxilie nas demandas domésticas e também nos cuidados com a higiene e alimentação do bebê.
  • Familiares que auxiliem nos momentos de dúvidas e questionamentos sobre como atuar com o bebê.
  • Profissionais da saúde, que podem ser do SUS, que servem de base na hora de lidar com questões relacionadas à alimentação, sono e saúde do bebê.
  • Entre outras situações.

No início, devido à insegurança e à falta de experiência, a mulher pode criar a crença de que não existe ninguém na sua rede de apoio. Aqui, o ideal é exercitar a reflexão um pouco mais, buscando nas amizades e na família, por exemplo, aquelas pessoas que possam auxiliar nessa nova fase da vida.

2. Desmistificar a visão da maternidade ideal
Outro ponto que deve ser levado em conta no retorno ao trabalho após a licença-maternidade é a quebra da maternidade ideal.

Isto é, ao longo de nossas vidas somos “bombardeados” por uma visão romantizada da maternidade. Cremos que a maternidade é algo plenamente maravilhoso, como se não houvesse “fatores negativos” nessa trajetória.

Além disso, ao longo de toda a sua vida a mulher idealiza a sua própria maternidade. Ela pode imaginar como seria quando fosse mãe, de que forma agiria, o que deixaria de fazer, etc.

Porém, chegado o momento de ser mãe de fato, algumas dessas idealizações podem ser difíceis de cumprir, uma vez que a realidade é diferente do ideal.

Sendo assim, criar a consciência de que haverá momentos difíceis na maternidade, e momentos nos quais a mulher poderá ser falha, diminui a pressão pela busca da perfeição e quebra-se a ideia de romantizar tanto a maternidade.

Embora as pessoas apenas dêem “parabéns” à gestante e à mãe, como se gestar, parir e criar fosse 100% incrível e livre de problemas, a verdade é que a maternidade, muitas vezes, pode ser bem difícil para algumas mulheres. Admitir essa dificuldade não é um problema, mas tentar criar uma máscara de perfeição pode resultar em impactos profundos na saúde mental.

Por isso, devemos quebrar esses paradigmas impostos pela sociedade!

3. Não abrir mão dos hobbies e do autocuidado
Sem dúvidas, este ponto pode fazer com que algumas mulheres se sintam até mesmo irritadas, afinal, é “fácil falar” para não deixar de lado os hobbies e o autocuidado.

Porém, essa é uma consideração que precisa ser reforçada.

A mulher não deixa de ser um indivíduo para ser uma mãe. Mas sim, ela é uma mulher que também é mãe. Portanto, precisa de momentos de relaxamento, prazer e autocuidado para manter a integridade da sua saúde física e mental.

No caso do retorno ao trabalho após a licença-maternidade, esse tipo de situação deve ser ainda mais reforçado, de certo modo.Afinal, a mulher terá uma agenda cheia de afazeres e demandas que tomam tempo. No entanto, é necessário “bloquear” na agenda aqueles momentos para aproveitar a própria companhia.

Nesse caso, é possível contar com a rede de apoio que mencionamos no tópico 1. Além disso, a mulher não precisa se culpar por sair para jantar enquanto deixa o bebê com uma babá, por exemplo.

Conversar com quem está à volta da mulher também é importante. As pessoas precisam compreender que a mulher não precisa estar disponível 24 horas por dia apenas para o filho.

Outros familiares, como o próprio pai ou a outra mãe da criança, devem cuidar do pequeno enquanto a mulher, que retorna ao trabalho e a vida ainda mais ativa, cuida de si, descansa, passeia e pratica os seus próprios hobbies.

Anular-se em prol do filho por acarretar situações de esgotamento emocional.

4. Organizar o escopo de trabalho e aprender a dizer “não”
Possivelmente, a mulher pode se ver obrigada a reorganizar o seu escopo de trabalho. Antes do retorno ao trabalho após a licença-maternidade e antes mesmo do filho, pode ser que a mulher tinha uma agenda de trabalho bastante intensa, com diversas atividades que ultrapassavam o seu expediente diário.

Porém, com o nascimento do filho muitas coisas podem mudar. Além de contar com a rede de apoio para os dias nos quais precisa trabalhar um pouco mais, é importante que a mulher aprenda a dizer “não”.

Quando uma demanda de trabalho escapa do seu escopo e sobrecarrega a agenda, é possível negar e ser sincera. Não tenha medo de posicionar os seus limites. Todas as pessoas têm limites, e isso deve ser respeitado para que não coloquemos nossa saúde em risco, especialmente nessa fase cheia de “novidades” e “medos”.

5. Aprender a delegar tarefas que podem ser feitas por outras pessoas
Um ponto que devemos considerar ao acontecer o retorno ao trabalho após a licença-maternidade é com relação à atitude de delegar tarefas.

Muitas vezes, a sociedade julga a mulher que delega os cuidados com a casa, contrata uma babá para descansar ou paga alguém para fazer determinadas tarefas que, no senso comum, “são da mãe”.

Porém, não existe nada de errado em delegar aquilo que pode ser feito por outra pessoa. No campo da maternidade, apenas a gestação e o momento de parir não podem ser delegados.
Ademais, outras atividades podem sim contar com o apoio de outras pessoas.

Obviamente, não estamos dizendo para a mãe se afastar do filho e deixar tudo “nas mãos dos outros”. O que queremos dizer é que a mulher não precisa enfrentar tudo sozinha.

Certificar-se de quais são as atividades que podem ser feitas por outras pessoas e delegá-las é um caminho para eliminar a sobrecarga e proporcionar mais qualidade de vida a essa mulher que tem passado por um turbilhão de mudanças.

Vale contratar alguém para limpar a casa ou para, simplesmente, ficar com a criança enquanto a mãe descansa, cuida de si, lê um livro, etc.

6. Buscar apoio psicológico com um psicólogo perinatal
O retorno ao trabalho após a licença-maternidade é carregado de incertezas e mudanças. Algumas mulheres se adaptam rapidamente a esta fase. Outras podem viver muitos sofrimentos decorrentes dessa situação.

No segundo caso, o ideal é que a mulher considere a possibilidade de buscar apoio psicológico, por meio do atendimento de um psicólogo perinatal.

Dessa forma, por meio da psicoterapia, torna-se viável construir mecanismos sólidos, dentro de si, para lidar com as adversidades da nova fase, entendendo as dúvidas, aprendendo a lidar com as emoções, buscando fortalezas em si e na rede de apoio, etc.

7. Entenda que temos que negociar nossa “separação” do filho diversas vezes na vida
Outro ponto relevante que devemos discutir é com relação à culpa que a mulher sente ao se separar do filho para trabalhar.

Porém, aqui vale destacarmos um ponto importante: em algum momento (e em vários, na verdade), a mulher terá que se separar do seu filho. Seja no período escolar, na adolescência, quando o filho vai à casa dos amigos ou na vida adulta, quando vai morar longe.

Sendo assim, separar-se do bebê faz parte do desenvolvimento saudável da relação entre ambos. Claro que isso não quer dizer que a mulher deixará de ver o bebê, mas sim, que as idas ao trabalho e os momentos de autocuidado não são um abandono, são uma separação negociada com a criança, que cedo ou tarde vai acontecer.

Quanto antes detectamos a necessidade dessa separação e percebemos que ela não é maléfica e, pelo contrário, contribui para a construção de um laço saudável, mais fácil pode ser a jornada de atravessar a “culpa” de trabalhar fora.

Além disso, lembre-se de que a mulher tem total direito de trabalhar e isso jamais será motivo para diminuí-la ou vê-la como uma mãe ruim. Como destacado acima, as separações da vida acontecem, e essa é apenas mais uma delas que, na prática, não prejudica a saúde do bebê e jamais deve ser vista como um abandono.

8. Permita-se viver as suas emoções
Por fim, lembre-se de que o retorno ao trabalho após a licença-maternidade pode acarretar no aparecimento de diversas emoções, tanto positivas (como a satisfação com o trabalho), quanto negativas (como o medo de se separar do filho).

Permitir-se viver essas emoções, conversando sobre elas, escutando-as, entendendo-as e buscando equilibrá-las na medida do possível, é uma atitude de respeito para consigo mesma.

Não se esqueça de que somos seres emocionais. Por isso, sentir nem sempre é patológico. Escute-se, permita-se, aprenda! Viva a sua nova fase respeitando os seus limites e, em casos de dificuldades maiores, busque ajuda psicológica.

Referências
RODRIGUES, L. N. et al. Acolhimento e desafios no retorno ao trabalho, após a licença-maternidade em uma instituição de ensino. Artigo publicado por Revista de Enfermagem da UFSM sob uma licença CC BY-NC-SA 4.0, 2022.

GARCIA, C. F.; VIECILI, J. Implicações do retorno ao trabalho após licença-maternidade na rotina e no trabalho da mulher. Artigos – Fractal, Rev. Psicol. 30 (2) Ago., 2018.

JOST, D. Ser mãe, ser trabalhadora: significações do trabalho após
a licença-maternidade. (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul, 2018.