medicina e exercicio
Pesquisar
Pesquisar

Aspectos psicológicos da mãe solo

Aspectos psicológicos da mãe solo

Os aspectos psicológicos da mãe solo podem sofrer impactos provocados pela sociedade e pelos paradigmas existentes no contexto no qual a mulher se insere. Isso porque, embora nos dias atuais a visão sobre a maternidade solo seja diferente do que o que víamos há alguns anos, ainda estamos diante de preconceitos e julgamentos desnecessários e machistas.
Pensando em todos esses pontos, trouxemos, neste texto, uma junção de informações importantíssimas sobre a temática. Acompanhe a seguir!

Aspectos psicológicos da mãe solo

Ser mãe solo, em uma sociedade com muitos aspectos machistas enraizados, é algo intensamente desafiador.

A mulher pode ser julgada, discriminada e deixada de lado, como se o fato de ser mãe, sem o título de “casada”, você motivo para vergonha ou punição.

Infelizmente, a maior parte do julgamento recai sobre a mulher, e não no parceiro que abandona a criança. Esses aspectos, somados, podem acarretar em efeitos na saúde mental da mulher.

Abaixo trouxemos alguns dos aspectos psicológicos da mãe, segundo pesquisas e revisões bibliográficas:

1. Sentimentos de tristeza presentes em algumas famílias monoparentais
As famílias monoparentais, formadas por mulheres e seus respectivos filhos, podem sofrer grandes impactos emocionais devido aos preconceitos enraizados na sociedade.
Além disso, o fato de se sentir, muitas vezes, “abandonada” pelo pai da criança pode resultar em sentimentos de tristeza e humor deprimido, especialmente no ciclo gravídico puerperal, ou seja, durante a gestação e no puerpério.
Afinal, as questões emocionais da mulher, durante todo esse período, sofrem alterações psicológicas, fisiológicas e sociais, por si só, e em se tratando de mães solos, essas alterações podem ser ainda mais expressivas.
A mulher pode se sentir sozinha diante de um novo papel que surge, teoricamente, da noite para o dia: afinal, o parto acontece da noite para o dia e dá, a essa mulher, o título de mãe. E embora esse título estivesse sendo esperado, afinal, ela estava grávida, ainda assim impacta profundamente no autoconceito e na identidade dessa mulher.
Ao se deparar com os julgamentos sociais, todas as questões, dúvidas, medos e ansiedades da maternidade podem se intensificar ainda mais.
Por isso, o papel da rede de apoio, como familiares e amigos, é tão importante. A mulher precisa ser acolhida e deve compreender que não precisa enfrentar tudo sozinha, como uma super-heroína.

2. Sentimentos de solidão
Os sentimentos de solidão também podem aparecer, especialmente se a mulher vive sozinha. Isto é, não mora com nenhuma outra pessoa.
Afinal, nesses casos, ela pode se sentir sobrecarregada e repleta de atividades que também nascem depois do parto, ou seja, “de uma hora para outra”.
Além disso, a sua condição de mãe solo pode criar um impeditivo na hora de pedir auxílio a alguém, devido aos julgamentos sociais que vemos enraizados nas mais diversas esferas.
Assim, diante de um bebê indefeso e que precisa do seu suporte, a mãe pode se sentir cansada, assustada e sozinha.
Nessas situações, o acompanhamento de um profissional psicólogo pode ser essencial para auxiliar essa mulher no enfrentamento de medos, na desmistificação dos seus papéis enquanto mãe e mulher, dentre outros pontos.

3. Impactos na autoestima devido aos julgamentos sociais
Não é de hoje que vemos as pessoas julgando as mães solo, como se elas estivessem cometendo algo ilícito, simplesmente por não seguirem os padrões de família impostos pela sociedade.
Portanto, este é mais um dos aspectos psicológicos que devemos levar em conta: a autoestima dessa mulher.
A gestação e o puerpério, por si só, provocam impactos na autoestima da mulher. O corpo muda, o papel social muda, os hormônios bagunçam as emoções, o autoconceito se transforma, e assim por diante.
Agora, no caso de uma mãe solo, tudo isso pode ser amplificado a partir do momento em que ela se sente julgada e, em casos extremos, culpada por não estar casada e não seguir as “regras” sociais impostas.
A baixa autoestima pode surgir, fazendo com que essa mulher se isole e corra riscos de desenvolver uma depressão pós-parto, por exemplo.
Nessas situações, é necessário quebrar a ideia de que os padrões sociais são “perfeitos” e devem ser seguidos. Hoje, vemos muitos conceitos para família, ou seja, vemos muitas configurações familiares. Não existe melhor ou pior. O que opera em uma família “boa” é o afeto, o amor, a confiança, a proximidade, o cuidado, etc., não a quantidade de membros ou a configuração.

4. Processo de aceitação da gestação
Se porventura a gravidez aconteceu de forma impensada, a mulher pode passar por uma fase de aceitação que, em alguns casos, pode ser mais ou menos complexa.
É possível que essa mulher sinta culpa por engravidar, medo por ter que encarar a situação “sozinha”, angústia por ter confiado no parceiro, etc.
Inclusive, há muitos casos em que a mulher pode cogitar a interrupção da gestação, ainda no começo, bem como também no fim do processo gestacional.
Além disso, há casos de mulheres que desejam entregar a criança para a adoção, uma vez que se sentem angustiadas e despreparadas para o papel da maternidade.
De todos os modos, o psicólogo será o profissional adequado para acolher essa dor da mulher, ajudando-a a entender o que sente, o que pode fazer com o que sente e quais perspectivas pode ter com relação ao futuro.
O processo de aceitação pode ser doloroso e a mulher pode ter medo do julgamento, afinal, acredita-se, no senso comum, que toda gestação é mágica e carregada de felicidade, mas sabemos que, na prática, não é assim que acontece.
Por isso, ter um espaço para falar livremente sobre as frustrações e a dificuldade de aceitação é algo que pode mudar a vida da mulher.

5. Sobrecargas de tarefas que impactam na saúde mental
Outros aspectos psicológicos da mãe solo, que devemos considerar, é o que diz respeito à sobrecarga de atividades.
Especialmente no caso de mulheres que vivem sozinhas, ou seja, que não compartilham a habitação com outras pessoas, o excesso de atividades pode resultar no que chamamos de burnout materno.
Afinal, é necessário cuidar da casa, do filho, das atividades do trabalho, dos estudos, de si mesma, e ainda arcar com todos os julgamentos e imposições de “boa mãe” que a sociedade pode fomentar.
Todo esse excesso, somado ao cansaço físico, às dores do pós-parto e às dificuldades para se adaptar à nova vida, ou seja, à vida de mãe, podem acarretar em efeitos intensos na saúde mental da mulher.
Por isso, profissionais da saúde fortalecem tanto a ideia da importância de criar uma rede de apoio segura e sólida, visando oferecer a essa mulher uma oportunidade de receber suporte para as mais diversas atividades diárias, com o intuito de diminuir a carga de demandas e preservar a saúde mental da mãe e, consequentemente, do bebê.

A ausência do pai não fada a relação mãe-bebê ao fracasso

Um levantamento relevante, feito por Marin e Piccinini (2009), é o de que o fato de uma família ser formada por uma mãe solo e seus filhos não a caracteriza como fadada ao fracasso.
Isto é, embora muitas pessoas associem a ausência do pai como uma confirmação de que a criança ou a mulher terão problemas emocionais e psicológicos, bem como o bebê possa passar por problemas de desenvolvimento, estudos apontam que isso não é algo generalista.
Dito de outro modo, é possível que a ausência do pai acarrete em prejuízos para a criança e para a mulher, mas isso não é uma regra. Existem muitas famílias estruturadas e bem desenvolvidas que possuem a configuração monoparental regida por uma mulher.
Quebrar esse paradigma de que ser mãe solo é fadar ao fracasso o papel da parentalidade é fundamental para fortalecer a autoestima e a autoconfiança da mulher que vive a maternidade sozinha.

Como lidar com a maternidade no contexto de ser mãe solo?

1. Encontrar uma rede de apoio
A rede de apoio tem um papel muito importante na vida da mulher que é mãe solo. Essa rede de apoio pode ser formada por amigos, familiares, parentes e até mesmo profissionais da saúde. Babás e cuidadores também podem ser considerados um apoio diante dos cuidados com o bebê e com a criança.
Essa rede de apoio auxilia na hora de eliminar a sobrecarga na rotina e nas tarefas da mulher, dando a ela a chance de encontrar momentos de descanso, autocuidado e que oferecem a chance de se auto priorizar.
No começo, pode ser difícil encontrar uma rede, mas é preciso persistir e investigar, dentre as relações sociais que possui, quais pessoas ou profissionais poderiam dar esse suporte a mais.

2. Não se comparar ou se inferiorizar por ser mãe solo
Outro aspecto que uma mãe solo deve ter em mente é que não há nada de errado em ser mãe solo. Portanto, as comparações feitas com relação às mulheres casadas, por exemplo, são descabidas, pois uma situação não tem nada a ver com a outra.
A maternidade não precisa estar ancorada no estado civil. Mas sim, deve estar ancorada na relação mãe-filho, no dia a dia da família, no amor, no carinho, no cuidado, etc.
Ao mesmo tempo, é importante ter em mente que cada ser humano é único e possui uma trajetória incomparável. Isso significa que nunca, em hipótese alguma, as comparações serão passíveis de serem aceitas. Afinal, acima de tudo, as comparações são verdadeiras injustiças com ambos os lados.

3. Compreender as limitações de tempo
Nós ainda não inventamos uma máquina do tempo ou um relógio que prolongasse as horas do dia. Isso quer dizer que existem limitações, e tudo bem.
Entender essas limitações e parar de se culpar por, aparentemente, “não dar conta de tudo”, é um passo importante para manter a saúde mental.
Nós não temos superpoderes para lidar com tantas atividades em um só dia. Devemos dividi-las, de acordo com o que é coerente com a nossa agenda, sem negligenciar o descanso e o autocuidado, por exemplo.
Hoje você foca na atividade 1, amanhã na 2, e assim por diante. Mas, tentar focar em tudo de uma só vez, esquecendo-se dos limites impostos pelo tempo, é permitir que tudo seja feito pela metade e, ainda, permitir que a saúde se sobrecarregue. Cuidado.

4. Fazer psicoterapia
A psicoterapia, especialmente feita em um psicólogo perinatal e da parentalidade, pode auxiliar essa mulher que atravessa tantas questões vividas pelo contexto da maternidade solo.
Na psicoterapia, a mulher poderá falar dos seus medos, dores, angústias e frustrações, sem medo de ser julgada. Ela pode se autoconhecer, remodelar aspectos da rotina, se priorizar e estabelecer uma relação saudável entre si mesma e as próprias emoções.
Tudo isso contribui para o mantimento da saúde mental e do vínculo saudável entre mãe-filho.

5. Encontrar uma rotina possível – não perfeita
Por fim, como mencionamos no tópico “compreender as limitações do tempo”, a mãe solo precisa compreender que existe a possibilidade de criarmos uma rotina possível, e não perfeita.
Embora possamos ter nossas listas de tarefas na ponta do lápis, ainda assim temos que estar prontas para os contratempos e limitações que acontecem.
Ter essa visão de que uma rotina possível é aquela que fazemos o que está ao nosso alcance e no nosso controle e colocar essa visão em prática é essencial para manter a saúde mental e, também, física.
Considere essa premissa e sempre que se sentir sobrecarregada ou preocupada por “não cumprir tudo”, lembre-se que ninguém, nunca, conseguirá manter absolutamente todas as coisas em dia. Nós sempre teremos que priorizar algo hoje, algo amanhã… E isso vale para qualquer esfera da vida.
Respeite os seus limites e em casos de problemas emocionais e psicológicos, não hesite em buscar ajuda profissional!

Referências
​​MARIN, A.; PICCININI, C. A. Famílias uniparentais: a mãe solteira na literatura. Psico, v. 40, n. 4, 7 jan. 2010.

PICCININI, C. A.; MARIN, A. H.; GOMES, A. G.; SOBREIRA LOPES, R. C. A constituição da maternidade em gestantes solteiras. Psico, v. 42, n. 2, 25 maio 2011.