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Burnout Materno

Burnout Materno

Diante de uma sociedade que ainda insiste em romantizar a maternidade, o burnout materno tem se feito presente nos mais diversos contextos familiares.

Muitas vezes confundido com cansaço físico ou outro tipo de quadro (como depressão), o burnout exige uma atenção especial, a fim de restabelecer a saúde mental e a qualidade de vida da mulher. A seguir, destacamos fatores relevantes sobre o tema. Acompanhe.

O que é o burnout materno?

O burnout materno, também chamado de burnout parental, caracteriza-se como um esgotamento emocional com sintomas físicos, desencadeado pelo excesso de cobranças e atividades que a atuação materna exige.

Afinal, vivemos grandes mudanças em nossa sociedade nos últimos tempos. Especialmente o papel da mulher tem mudado. Com isso, as mães estão diante de rotinas desgastantes, nas quais precisam cuidar de seus filhos, ao mesmo tempo em que mantêm os estudos e o trabalho. Os cuidados com a casa, inevitavelmente, ainda pairam, em grande maioria, sobre as mulheres.

Todo esse conjunto de obrigações, quando não bem elaboradas e equilibradas dentro de uma rotina, podem ocasionar sensações de esgotamento emocional, como por exemplo:

  • Irritabilidade e alterações repentinas de humor.
  • Sentimento de insegurança.
  • Sensação de culpa por crer “não ser uma boa mãe”.
  • Exaustão mental

Mais tarde, à medida que os sintomas vão se agravando e a situação não recebe a atenção merecida, os sinais do burnout materno podem “escorregar” para o corpo, ou seja, podem resultar em sintomas psicossomáticos, como:

  • Dores de cabeça constantes.
  • Problemas gastrointestinais.
  • Distúrbios do sono.
  • Tensão e dor muscular.
  • Lapsos de memória.
  • Problemas para se concentrar e manter o foco.
  • Fadiga constante, mesmo após uma boa noite de sono.

Casos constatados de burnout materno exigem atenção psicoterapêutica, para que a mulher possa lidar com o que vive, quebrar paradigmas internos e aprender formas de manejar as emoções ao longo da sua rotina corrida.
A seguir, discutimos um ponto de atenção muito importante: a romantização da maternidade.

A visão romantizada da maternidade afeta o papel da mãe

A maternidade não é construída apenas no momento em que um bebê nasce. Ela é construída todos os dias, e desde a infância das meninas que recebem uma boneca como um presente.

Essa construção, muitas vezes, carrega uma visão romantizada da maternidade. Entende-se que a mulher é um “ser de luz” por gerar uma vida. Embora, realmente, um nascimento seja algo valioso, não podemos nos deixar levar pela idealização da maternidade.

A visão romantizada, muitas vezes, caracteriza a maternidade como a situação mais importante da vida de uma mulher. No sentido de que não há nada mais importante do que a decisão de ser mãe.

Assim, mulheres que não desejam a maternidade podem acabar recebendo uma pressão da sociedade, para que engravidem e criem os seus filhos, mesmo com a ausência do desejo.

E ainda: essas mulheres são “obrigadas” a enxergar a maternidade como algo perfeito e a melhor coisa que poderia acontecer com elas – mesmo que elas não queiram.

Ao mesmo tempo, a romantização da maternidade mostra a mulher como sempre feliz e realizada por ser mãe, o que não é verdade. É impossível ser feliz o tempo todo, e na maternidade não é diferente.

Há complicações, dificuldades, dúvidas, medos, arrependimentos, frustrações, etc. Não existe uma maternidade perfeita. E como não existe, não há como estarmos livres dos sentimentos de angústia que essa fase pode gerar para uma mulher.

Quebrar esse paradigma é um passo ideal para apagar a imagem de mulheres santas e perfeitas por serem mães. A maternidade pode ser difícil, e aceitar esse ponto de vista nos permite expandir nossa forma de lidar com a atuação materna.

Como lidar com o burnout materno?

Até aqui pudemos visualizar o conceito, os sintomas e reflexões importantes sobre o burnout materno. Neste momento, discutiremos alguns fatores que podem ajudar a lidar com essa situação. Continue lendo.

1. A quebra com a idealização do papel de mãe
Como dito anteriormente, a romantização da maternidade pode criar uma imagem irreal na mente de muitas mulheres. Por enxergarem a maternidade como algo grandioso e impecável, acabam se expondo a situações excessivas e desgastantes, na tentativa de ser “a mãe realizada” o tempo todo.
Portanto, para ultrapassar o burnout materno é preciso criar essa consciência de que não existe mãe perfeita.
A idealização da maternidade também não é algo real. Ou seja, o que as pessoas falam sobre a maternidade não precisa, de fato, ser o que você vive enquanto mãe. Não acredite em todas as romantizações que vemos por aí.
Cada maternidade é única, com suas limitações, dores e angústias – sem perfeição!

2. Procure encontrar a sua rede de apoio e não se culpe por delegar
Encontrar uma rede de apoio também é uma forma de lidar com a situação de burnout materno.
Muitas vezes, devido à romantização do excesso de trabalho na maternidade, muitas mulheres podem se ver obrigadas a arcar com tudo sozinhas, sem solicitar ajuda, mesmo cansadas.
Esse comportamento sobrecarrega a rotina e a mente, resultando em questões de saúde mental.
Por isso, não tenha culpa ou vergonha de delegar determinadas atividades. Você é uma mãe, mas não uma super heroína cheia de poderes. Isto é, você ainda é um ser humano. E como tal, pode contar com a ajuda do(a) parceiro(a), familiares, amigos e até mesmo de uma babá, para lidar com a sobrecarga na maternidade.
Encontre a sua rede de apoio, converse francamente com as pessoas que você confia e restabeleça um ritmo de atividades na sua rotina.

3. Aceitação dos limites
Não podemos ser impecáveis o tempo todo. Há certas situações que nos colocam diante de limites pessoais, sejam eles físicos ou emocionais.
Infelizmente, muitas mulheres que passam pelo burnout materno não se dão conta do quanto têm negligenciado os próprios limites.
Obviamente, não estamos dizendo que a culpa é puramente da mulher. Sabemos como a sociedade “desenha” a maternidade perfeita e a mulher exemplar.
Porém, para manter a saúde mental nós devemos fazer exercícios de autoconhecimento. Por meio deles nós temos maiores chances de conhecer nossos limites, impondo-os quando não nos sentimos confortáveis e bem.
Avalie, por exemplo:

  • O que lhe deixa exausta?
  • Quais atividades estão sugando a sua energia, e que podem ser feitas por outras pessoas da família?
  • Em quais momentos do dia você tem negligenciado a sua saúde em prol da maternidade?
  • Você tem solicitado apoio de quem convive com você?
  • Você se culpa por não atingir determinados resultados, mesmo que para atingi-los você tivesse que colocar sua saúde em risco?

Pensar sobre esses e outros pontos pode ajudar na hora de entender que você tem limites e que, nesses momentos, o apoio externo pode ser bem-vindo – sem culpa!

4. A quebra da perfeição e da comparação
Infelizmente, muitas mulheres ainda cometem o equívoco de comparar a sua atuação como mãe com a de outras mulheres mães.
Porém, nunca poderemos saber qual é a realidade plena da outra pessoa. Podemos até ter alguns recortes de sua rotina, mas compreender a história real, do início ao fim, é impossível.
Por isso, comparar-se com outras mulheres é, acima de tudo, ser injusta consigo mesma. Ninguém caminhou sobre as suas pernas, viveu as suas dores e possui as mesmíssimas questões pessoais que você.
Suas amigas podem até ter passado por algumas situações semelhantes, mas nunca iguais.
Compreender esse fator é uma forma de focar na própria jornada de crescimento e desenvolvimento, sem negligenciar quem você é, sua aprendizagem e os seus limites.
Ninguém é como você. Não seja injusta com a sua história e sua vivência.
Atente-se para o que você quer na sua vida, e busque as suas melhorias dentro do seu tempo e respeitando a sua saúde.

5. Encare uma rotina possível – nem sempre tudo será como almejamos
Dentro do que apontamos acima, considere, ainda, encarar uma rotina que seja possível.
Às vezes, almejamos um café da manhã em família, seguido de um dia de trabalho incrível e com a finalização das tarefas feita com maestria.
Porém, a vida é dinâmica, e nem sempre damos conta de tudo. Na realidade, é bem difícil, em algum momento, conseguirmos dar conta de tudo!
Hoje, podemos dar atenção aos estudos dos filhos. Amanhã, ao trabalho. Depois de amanhã, à nossa casa. E assim por diante.
Isso significa que não há ser humano que consiga ser pleno em tudo o que faz, o tempo todo e ininterruptamente. Haverá momentos em que falharemos. Haverá situações que escaparão do nosso controle. E tudo bem!
Estar dentro de uma rotina possível, na qual lidamos com as nossas tarefas dentro dos nossos limites e sem se culpar por não sermos perfeitos, é um dos caminhos para lidar com o burnout materno.
Pense: o que pode ser feito hoje? O que pode ser organizado amanhã? O que pode ser trabalhado ao longo do mês? Como fazer tudo isso, sem sobrecarregar o dia?
Essas reflexões podem ajudar.

Busque o apoio profissional

A busca pelo apoio profissional também não deve ser descartada. As ações acima podem servir de ponto de partida e complemento para o tratamento psicológico. Afinal, casos de burnout materno merecem atenção para que as questões de saúde mental e emocional sejam estabilizadas.
Por meio da psicoterapia torna-se possível:

  • Compreender os seus limites.
  • Conhecer sua rede de apoio.
  • Aprender a delegar atividades.
  • Saber equilibrar demandas no dia a dia.
  • Compreender que não existe perfeição.
  • Identificar emoções e lidar melhor com elas.
  • Entre outros resultados

Busque um profissional qualificado e invista na sua saúde mental.

Referências
SILVA, Marcela Samara Lira da. Um olhar para além da beleza da maternidade: burnout materno – exaustão e sobrecarga de mães. / Marcela Samara Lira da Silva. – Cuité, 2021.
36 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Enfermagem) – Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Educação e Saúde, 2021.