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Testosterona Baixa (Hipogonadismo Masculino)

Testosterona Baixa (Hipogonadismo Masculino)

Testosterona baixa, também chamado de Hipogonadismo Masculino, está relacionado à redução nos níveis deste hormônio que acontece por motivos diversos.

Esse é um problema relativamente comum entre os idosos. Ele acomete cerca de 20% dos homens entre 50 e 60 anos, chegando a 50%, ou mais, dos homens com 80 anos (1).

Algumas pessoas usam o termo Andropausa para se referir à redução dos níveis de testosterona no homem, para diferenciar da Menopausa, que é a parada na produção dos hormônios sexuais femininos.

Entretanto, as sociedades de endocrinologia e de urologia não recomendam o uso desse termo, devido às marcantes diferenças em relação à menopausa:

  • A diminuição de produção hormonal masculina, diferentemente da Menopausa, não determina o fim da fertilidade para o homem, apenas uma diminuição dela.
  • Enquanto a redução na produção de hormônios femininos ocorre de forma abrúpta nas mulheres com a menopausa, a redução na produção de hormônios masculinos acontece de forma muito mais gradual.

Como a Testosterona é produzida?

A testosterona é o principal hormônio sexual masculino. Ele é produzido nos testículos, a partir do estímulo dos hormônios LH e FSH, produzidos na hipófise.

Quando os níveis de testosterona estão baixos, a hipófise produz mais LH e FSH, que estimulam a produção de testosterona pelos testículos.

Sua produção aumenta significativamente durante a puberdade. A partir dos 30 ou 40 anos, a produção diminui a uma taxa de aproximadamente 1% ao ano.

Os ovários das mulheres também produzem testosterona, embora em quantidades muito menores.

Quais os efeitos da Testosterona?

A testosterona desempenha diversas funções no organismo, incluindo:

  • Aumento do desejo sexual;
  • Produção de esperma;
  • Formação de massa óssea e massa muscular;
  • Armazenamento de gordura no corpo;
  • Produção de glóbulos vermelhos, responsável pelo transporte de oxigênio no sangue;
  • Regulação do humor.

Quais as Causas da Testosterona Baixa?

As causas para a testosterona baixo podem ser divididas em três grupos:

Causas testiculares

Envolve problemas primários dos testículos, incluido:

  • Varicocele
  • Síndromes genéticas, como a Síndrome de Klinefelter

Causas centrais (hipofisárias)

As causas centrais incluem as doenças da hipófise, como tumores ou nódulos, e também problemas funcionais, nos quais não se tem nenhuma lesão estrutural que comprometa a produção hormonal. Entre essas causas funcionais, incluem-se:

Causas Mistas

Envolve problemas relacionados tanto à produção hormonal pela hipófise quanto a produção testicular. Está geralmente relacionado ao uso prévio de testosterona ou outros esteroides anabolizantes.

Quais os sintomas do Hipogonadismo Masculino?

Os principais sintomas do hipogonadismo masculino são a diminuição da qualidade das ereções e a redução do libido. Sem esses sintomas, não dizemos que uma pessoa está com hipogonadismo.

Outros sinomas também costumam estar presentes, incluindo:

  • Diminuição da força e massa muscular;
  • Fadiga;
  • Irritabilidade;
  • Sonolência excessiva ou insônia
  • Aumento da gordura visceral.

Vale considerar no entanto que a deficiência de testosterona está em muitos casos associado a condições como o sono não reparador, alimentação ruim, sedentarismo, obesidade e o abuso de tabaco e álcool. Muitos dos sintomas acima estão presentes nesses pacientes independentemente do nível da testosterona.

Avaliação laboratorial da Testosterona Baixa

Atualmente, a testosterona tem sido em muitos casos solicitada como parte de exames de rotina, independentemente de qualquer sintoma. Isso não é recomendado pelas sociedades de endocrinologia ou pelas sociedades de urologia.

Na presença de sintomas, diferentes exames podem ser solicitados.

Para compreender os exames de testosterona, é preciso considerar que aproximadamente 50% dela encontra-se fortemente ligada a uma proteína chamada de SHBG (Sex hormone binding globulin / proteína ligadora dos hormônios sexuais).

Quando ligada à SHBG, a testosterona está em uma forma inativa, sendo incapaz de exercer sua ação sobre os tecidos.

Outros 50% está fracamente ligada à albumina, principal proteína do nosso corpo, sendo por isso considerada uma forma de testosterona biodisponível;

Apenas 2% do total de testosterona encontra-se livre no sangue e pronta para atuar nos tecidos.

Os sintomas do Hipogonadismo Masculino estão relacionados à falta de testosterona livre. Assim, em teoria, os níveis de testosterona livre seria a melhor referência para o diagnóstico do hipogonadismo.

O problema é que não existe uma forma direta de se mensurar a Testosterona Livre. Ela pode ser estimada a partir da mensuração da Testosterona Total, da Albumina e da SHBG. Essa acaba sendo uma medida de menor acurácia e maior chance de erros.

Assim, o primeiro exame a ser solicitado na suspeita de hipogonadismo masculino é a Testosterona toral.  O exame deve ser feito sempre pela manhã, que é quando a testosterona costuma estar mais elevada. Não existe um consenso de qual o valor limítrofe para o diagnóstico da deficiência de testosterona. Isso também pode variar de acordo com o método de análise, sendo importante avaliar qual o valor de referência do laboratório. Os valores de referência costumam variar entre 200 e 300 como medida de corte.

Em caso de uma medida de testosterona baixa, é fundamental que isso seja confirmado com uma segunda medida. A testosterona pode também ser solicitada em casos limítrofes.

Hormônios Hipofisários

Os hormônios hipofisários LH e FSH devem ser solicitados uma vez que os exames de testosterona indiquem o diagnóstico de hipogonadismo.

Eles servem para diferenciar os casos de hipogonadismo de origem central (hipofisária) dos casos de origem testicular.

Normalmente, a testosterona baixa faz com que a hipófise produza mais os hormônios. Assim, no caso de hipogonadismo de origem testicular, esses hormônios tendem a estar elevados.

Por outro lado, no caso de hipogonadismo central, a produção de LH e de FSH está prejudicada, levando secundariamente a uma baixa produção de testosterona por um testículo estruturalmente normal. Assim, tanto a testosterona quanto o LH e o FSH estão diminuidos.

Outros hormônios

No caso de hipogonadismo de origem central, a prodição de outros hormônios hipofisários pode também estar comprometida. Assim, todos eles devem ser mensurados, incluindo:

  • Hormônio do crescimento (GH)
  • Hormônio estimulador da tireoide (TSH)
  • Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH)
  • Hormônio folículo-estimulante (FSH)
  • Hormônio luteinizante (LH)
  • Prolactina

Exames de imagem

Exames de imagem pode ser solicitados de acordo com a suspeita diagnóstica:

  • No caso de hipogonadismo de origem testicular, o ultrassom dos testículos deve ser solicitado;
  • No caso de hipogonadismo de origem central, deve ser solicitado a Ressonância Magnética da Hipófise

Tratamento

O tratamento inicial  depende da causa da deficiência. Isso pode incluir:

  • Cirurgia, no caso de varicocele ou de um adenoma da hipófise;
  • Mudanças no estilo de vida, no caso de deficiência funcional associado a obesidade, tabagismo, sedentarismo ou outros;
  • Tratamento da obesidade, que pode envolver mudanças no estilo de vida, medicamentos para obesidade ou a cirurgia bariátrica .
  • No caso da deficiência de origem hipofisária, podem ser considerados também o uso de medicamentos que estimulam a produção de testostrna endógena, incluindo o clomifeno ou o hCG.

Na falha dos tratamentos acima, o uso de reposição da testosterona se justifica.

 

Reposição da Testosterona

A terapia de reposição da testosterona, quando indicada, deve buscar elevar a testosterona para níveis fisiológicos. Não estamos falando aqui do abuso da testosterona, elevando a testosterona em mais de 40 vezes os padrões de normalidade.

A reposição hormonal masculina não é recomendada quando o paciente não apresenta sintomas característicos, uma vez que seus benefícios são bastante questionáveis e os riscos elevados.

Também não se deve dar testosterona a homens com níveis normais do hormônio no sangue, especialmente para aqueles que o fazem por questões estéticas ou para aumentar a massa muscular em academias de ginástica.

O tratamento deve ser pensado sempre a partir dos potenciais benefícios e eventuais riscos. Apesar de muitas vezes ser vendido como algo “mágico”, é preciso considerar que a redução nos níveis de testosterona não é a única responsável pelos problemas de saúde relacionados ao envelhecimento.

A simples detecção dos níveis hormonais reduzidos não justifica a reposição hormonal. Muitas pessoas apresentam níveis reduzidos de testosterona e estão bem adaptadas a isso.

Mesmo no esporte de elite, um estudo realizado com 689 atletas de elite masculinos de diferentes modalidades mostrou que 25% deles apresentavam níveis de testosterona abaixo do que a Associação Internacional de Federações de Atletismo considera o limite inferior para homens (2). Ainda assim isso não parecia interferir no desempenho esportivo deles.

Quais os riscos da terapia de Reposição Hormonal Masculina?

Entre os graves efeitos colaterais associado à reposição hormonal masculina incluem-se:

  • Aumento do peito (Ginecomastia);
  • Atrofia dos testículos, redução na contagem de espermatozoides e infertilidade. A reposição de testosterona não é recomendada para pessoas que tenham a intenção de ter filhos. (3);
  • Piora da apnéia do sono existente;
  • Aumento dos níveis de colesterol, com consequente aumento no risco cardiovascular, incluindo a Doença Arterial Coronariana e o Infarto Agudo do Miocárdio;
  • Hipertrofia do músculo cardíaco, podendo levar a insuficiência cardíaca
  • Aumento do número de glóbulos vermelhos, o que pode estar associado a Hipertensão arterial, dor muscular e Trombose Venosa Profunda.
  • Aumento no risco de Hiperplasia Prostática Benigna ou de Câncer de Próstata
  • Doenças hepáticas, incluindo o câncer de Fígado
  • Problemas ortopédicos, especialmente as lesões musculares e de tendões;
  • Queda de cabelo;
  • Alterações no humor, podendo levar a violência física e atitudes suicidas.

Por outro lado, a reposição hormonal não é indicada para a maior parte das pessoas, que apresentam testosterona abaixo dos valores de referência, mas sem sintomas que possam ser atribuídos a ela.

Nenhuma das organizações médicas de referência referendam o uso nestas condições, incluindo a a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), a International Endocrinology Society, a Endocrine Society e o ACSM (American College of Sports Medicine).

Infelizmente, o abuso da testosterona com finalidades estéticas ou de melhora no desempenho esportivo continua sendo uma realidade e muitas vezes orientado por médicos que banalizam os riscos associados ao procedimento.

Vale ressaltar que o Conselho Federal de Medicina (CFM) não reconhece as especialidades médicas em “reposição hormonal” ou em “modulação hormonal” e que, portanto, não existem especialistas registrados nessas áreas de atuação no Brasil.

Profissionais das áreas de Endocrinologia ou em Urologia são aqueles devidamente habilitados para realizarem a reposição hormonal, uma vez que devidamente indicado.

Como é feita a Reposição Hormonal Masculina?

No Brasil, as vias mais utilizadas são a parenteral (injeção intramuscular) e a transdérmica. As injeções podem ser de curta ação, devendo ser injetadas a cada duas a quatro semanas (cipionato de testosterona e ésteres de testosterona) ou de longa ação, que devem ser injetadas a cada três meses (undecilato de testosterona).

As formulações orais (com exceção do undecilato de testosterona) não devem ser utilizadas devido à possível toxicidade hepática.

Implantes subdérmicos ou suas associações NÃO são autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e NÃO apresentam comprovação científica para sua indicação, por isso não devem ser utilizados.

Qual a dose segura da testosterona?

Uma alegação muito comum de quem advoga pelo uso da testosterona (a maioria formada por não especialistas) está relacionado à dose: “A diferença entre o remédio e o veneno está na dose”, dizem.

Ainda que o risco de complicações e efeitos colaterais aumente com o aumento da dose e do tempo de uso, não existe uma dose considerada totalmente segura e a prescrição deve sempre considerar os potenciais riscos e benefícios.

No hipogonadismo masculino, considera-se que para a maior parte dos pacientes os benefícios superam os riscos, de forma que a testostona é aprovada e recomendada pelas principais sociedades médicas.

Falar em dose segura para a testosterona em um público saudável não faz o menor sentido, uma vez que isso dependeria de estudos científicos desenhados para comprovar esta segurança.

Estes estudos simplesmente não existem, uma vez que o uso da testosterona por motivos estéticos ou esportivos é proibido na maior parte dos países e este tipo de pesquisa envolveria um sério problema ético. O que se sabe, todavia, é que mesmo em doses baixas existem sim o risco de efeitos adversos.