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Obesidade

O que é a obesidade?

Obesidade é uma doença crônica que se caracteriza pelo acúmulo de gordura no corpo, resultando em prejuízos à saúde.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a obesidade com base no  Índice de Massa Corporal (IMC) (4).

O IMC é uma médida que leva em consideração a altura e o peso do paciente. Embora seja uma boa referência para avaliar a obesidade, ele tem suas limitações, de forma que não deve ser interpretado de forma isolada.

A principal crítica ao IMC é que ele não diferencia o peso proveniente de gordura do peso proveniente da massa muscular.

Para esse objetivo, devemos considerar as diferentes formas de mensuração da compoosição corporal..

Por fim, a medida da circunferência abdominal ajuda a diferenciar o acúmulo de gordura na região abdominal / viceral do acúmulo de gordura subcutânea, o que tem importante relação com o risco de complicações cardiovasculares, diabetes, Hipertensão Arterial e outros problemas relacionados à obesidade.

Índice de Massa Corporal (IMC)

Índice de Massa Corporal (IMC) é obtido dividindo-se o peso pela altura ao quadrado.

A classificação atual da obesidade com base no IMC é a seguinte:

  • Sobrepeso: IMC entre 25,0 e 29,9 kg/m2;
  • Obesidade Grau I: IMC entre 30,0 e 34,9 kg/m2;
  • Obesidade Grau II: IMC entre 35,0 e 39,9 kg/m2;
  • Obesidade Grau III: IMC maior do que 40,0 kg/m2.

O IMC é uma medida fácil de ser feita, o que torna ela uma ferramente interessante como método de triagem. Entretanto, ele tem limitações importantes:

  • Não é capaz de diferenciar os tipos de tecidos, o que faz com que uma pessoa excessivamente forte possa eventualmente ser caracterizada como obesa;
  • Não é capaz de diferenciar se as variações no peso decorrem do ganho ou perda de gordura ou de massa muscular. Este é um aspecto fundamental para avaliar o sucesso de uma dieta ou treinamento esportivo.

Como exemplo, uma pessoa que perdeu 4kg em uma dieta pode ter perdido 2kg de gordura e 2kg de massa muscular. Por outro lado, ela pode ter perdido 6kg de gordura e ganhado 2kg de massa muscular, uma condição bastante diferente. 

Avaliação da composição corporal

A avaliação da Composição Corporal engloba um conjunto de técnicas que tem por objetivo caracterizar qual a proporção do peso corporal total de uma pessoa que é composta por gordura, por tecido livre de gordura ou por água livre.

Entre as técnicas mais utilizas, incluem-se a medida de dobras cutâneas e a Bioimpedância.

Embora não existam parâmetros claros sobre qual a composição corporal usada para definir a obesidade, um parâmetro muito utilizado é aquela definida pela American Council on Exercise (ACE), conforme abaixo (1):

  Mulheres (%) Homens (%)
Gordura essencial 10 – 13 2 – 5
Atletas 14 – 20 6 – 13
Saúde 21 – 24 14 – 17
Acitável 25 – 31 18 – 24
Obesidade > 32 > 25

 

Tipos de Obesidade

O acumulo de gordura tende a acontecer de forma diferente em homens ou mulheres.

Os homens tendem a acumular a gordura ao redor das vísceras do abdômen, o que é denominado de gordura visceral, central ou andrógena.

Ela é considerada a mais perigosa, pois fica próxima aos órgãos vitais e do sistema circulatório.

Além disso, esta é uma gordura muito ativa metabolicamente. Ela libera ácidos graxos, agentes inflamatórios e hormônios que, em última análise, aumentam a pressão arterial, o colesterol LDL, triglicerídeos e glicose no sangue.

Já as mulheres tendem a acumular a gordura logo abaixo da pele, no tecido subcutâneo, especialmente ao redor do quadril e coxas. Essa é também chamada de Obesidade Ginecoide.

Ainda que o risco cardiovascular seja superior ao de pessoas com Índice de Massa Corporal dentro da normalidade, o risco é muito menor quando comparado com pessoas que apresentam acúmulo de gordura viceral.

Uma forma de diferenciar o acúmulo de gordura visceral do acúmulo de gordura subcutânea é pela medida da Circunferência Abdominal.

Quanto maior a circunferência abdominal, maior o acúmulo de gordura visceral e maior o risco cardiovascular (5).

A medida deve ser feita a partir do ponto situado na metade da distância que separa as últimas costelas da parte superior do osso ilíaco

A recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) é de que a cintura não ultrapasse 102cm nos homens e 88cm nas mulheres. A relação entre a circunferência abdominal e a circunferência do quadril não pode ser maior que 1,0 nos homens e 0,85 nas mulheres.

Estudo de revisão realizado na Mayo Clinic, nos Estados Unidos, incluindo 650 mil pessoas, observou que a mortalidade em homens com circunferência abdominal maior do que 110cm for 52% maior do que aqueles com circunferência menor do que 90 cm (2). Entre as mulheres, aquelas com circunferência abdominal maior do que 95cm tiveram mortalidade 80% mais alta do que aquelas com circunferência abaixo de 70 cm.

Para cada 5 cm de aumento na circunferência abdominal, houve aumento de 7% na mortalidade masculina e de 9% na feminina, dados que se repetiram em todas as faixas do IMC.

Quais as principais causas da obesidade?

A obesidade é mutas vezes associada a pessoas preguiçosas e sem auto-cuidado. Na maior parte das vezes, essa não é a realidade.

O ganho de peso está diretamente relacionado a dois fatores: quantas calorias são consumidas e quantas calorias são gastas ao longo de um dia.

Hábitos alimentares e sedentarismo, sem dúvidas, exercem uma forte influência no desenvolvimento da obesidade.

No entanto, reduzir o ganho ou a perda de peso exclusivamente a uma combinação destes dois fatores é uma atitude bastante simplista e que não necessariamente condiz com a realidade, podendo levar a decisões frustrantes e inefetivas. 

Fatores eventualmente implicados no desenvolvimento da obesidade incluem:

A genética também contribui para o desenvolvimento da obesidade. Diversos processos associados à obesidade são influenciados por fatores genéticos, incluindo:

  • Controle do apetite;
  • Controle da sensação de saciedade,
  • Regulação do metabolismo;
  • Tendência à compulsão alimentar;
  • Distribuição de gordura corporal;

A influência genética é superestimada por alguns, que insistem em colocar a culpa da obesidade na herança familiar, apesar de adotarem uma dieta inadequada e estilo de vida sedentário e pouco saudável. Vale considerar que esses hábitos também têm forme influência do ambiente familiar.

No entanto, pessoas com forte predisposição genética muitas vezes são taxados de preguiçosos, como se sua obesidade fosse simplesmente o resultado de falta de vontade e autocuidado.

Nada podemos fazer para mudarmos a genética. No entanto, pessoas com predisposição genética para a obesidade devem ter cuidado redobrado com a adoção de um estilo de vida mais saudável.

Discutimos mais sobre todos esses aspectos em um artigo específico sobre as Causas da obesidade.

Quais as consequências da obesidade?

A obesidade é vista por muitos como uma questão meramente estética.

Embora as características do “corpo perfeito” se modifiquem ao longo do tempo ou mesmo de lugar para lugar, o que a maioria das pessoas buscam no Brasil é um padrão com cintura fina e coxas grossas.

Por outro lado, o sedentarismo e os hábitos alimentares inadequados vêm provocando uma epidemia de obesidade, acometendo 42% da população dos Estados Unidos e 20% da população brasileira (1, 2). Entre 2006 e 2019, o aumento da obesidade no Brasil foi de 70% (3).

A busca por um “corpo perfeito” tem sido cada vez mais questionada. Modelos obesos e influenciadores digitais se vêm em uma luta crescente pelo respeito ao obeso contra a gordofobia. Está é uma luta fundamental, mas que não deve mascarar os diversos problemas de saúde relacionados à obesidade.

A obesidade é considerada uma “doença silenciosa”, já que a maior parte dos prejuízos que ela causa à saúde se desenvolvem sem que o paciente se dê conta disso. Entre eles, devemos considerar: 

Discutimos cada uma delas em um artigo específico sobre as Consequências da obesidade.

Tratamento da Obesidade

A maior parte das pessoas obesas passam boa parte da vida lutando para perder peso, com períodos de recaída na qual recuperam tudo aquilo que havia sido perdido anteriormente. Popularmente, isso é conhecido como “efeito sanfona”.

Isso acontece especialmente frente a adoção de dietas e rotinas de exercícios pouco ortodoxos e muito difíceis de serem mantidas no longo prazo.

Mudanças comportamentais e de estilo de vida de longo prazo são fundamentais para o sucesso prolongado no tratamento da obesidade. Qualquer tratamento que seja visto como um “sofrimento necessário” tende a falhar.

A melhora do padrão alimentar é o ponto central no tratamento da obesidade. Ninguém vai perder peso mantendo uma dieta rica em produtos industrializados de alto valo calórico.

No entanto, a relação do indivíduo com a comida deve ser repensada. A pessoa precisa se sentir bem e feliz com o novo padrão alimentar. Para isso, é importante também que as mudanças sejam feitas de forma gradual.

Grande parte das pessoas obesas vêm a alimentação como um dos maiores prazeres da vida, especialmente com alimentos industrializados e de alto valor calórico. Retirar esse prazer sem substituí-lo não é algo sustentável.

A atividade física ajuda na perda de peso e melhora da qualidade de vida, mas seu papel vai além disso. Ela ajuda também  a ocupar o vazio deixado pelo prazer alimentar, ajudando a tornar os hábitos alimentares mais permanentes.

Redução no nível de estresse, melhora da higiene de sono e tratamento de problemas psicossociais também podem ser necessários a depender do caso. Ainda que muitas vezes vistas como medidas secundárias no tratamento da obesidade, em algumas pessoas estas abordagens podem ser a diferença entre o sucesso e o fracasso.

O acompanhamento psicológico, muitas vezes relevado a um segundo plano, é de fato uma das partes mais importantes no tratamento da obesidade.

Novos medicamentos para obesidade têm sido um importante aliado para o combate a obesidade. No entanto, nem todos têm indicação para isso. Os medicamentos podem parecer uma forma fácil de se perder peso. No entanto, seu efeito será insatisfatório, caso não venha acompanhado de outras mudanças discutidas acima.

Em alguns casos, mesmo uma pessoa disciplinada e que tenha adotado todas as medidas discutidas acima podem falhar na perda de peso. Em outros casos, a presença de comorbidades ou a necessidade de perda excessiva podem ser difíceis de se conseguir apenas com as mudanças no estilo de vida. Nesses casos,  a cirurgia bariátrica pode ser considerada.

Alimentação

Poucos assuntos na saúde geram opiniões tão divergentes quanto as “Dietas para emagrecer.”.

Esse é, de fato, o alicerce do tratamento da obesidade. Ninguém irá perder peso sem uma alimentação equilibrada.

Existem várias dietas, com nomes e sobrenomes, que também se “misturam” com o conceito de dietas para emagrecer.

Dietas “low Carb” (incluindo as dietas cetogênicas), jejum intermitente ou dieta dos pontos são apenas algumas delas.

Todas essas dietas são eficazes em prover a perda de peso, uma vez que são habitualmente adotadas em substituição a uma alimentação desequilibrada e rica em açúcar e produtos ultraprocessados.

No entanto, a maioria falha no longo prazo, já que costumam ser adotadas com a ideia de um “sofrimento necessário”, até que se consiga voltar aos velhos hábitos.

O mais importante ao se pensar na alimentação para a perda de peso é buscar mudanças que possam ser sustentadas no longo prazo sem sofrimento, mas sim como parte de uma mudança no estilo de vida.

Atividade física

A atividade física leva a um aumento no gasto energético, um benefício óbvio para aquelas pessoas que querem perder peso. No entanto, a importância da atividade física vai muito além disso:

  • O músculo é o tecido que mais gasta energia no corpo. Assim, um corpo mais musculoso ajuda a aumentar o gasto energético.
  • Os alimentos de alto valor calórico são muitas vezes usados por pessoas obesas como válvula de escape para lhe dar com o estresse da vida diária. Com as necessárias mudanças nos hábitos alimentares, o exercício pode assumir o vazio deixado pela ausência desses alimentos;
  • O objetivo final da perda de peso deve ir muito além da estética. Ela deve ser parte de uma melhora na qualidade de vida. O exercício pode ajudar nesse processo.

Quais as melhores atividades físicas para pessoas obesas?

A prática regular e permanente de atividades físicas é mais importante do que a escolha de uma ou outra atividade. Assim, é fundamental que o indivíduo se sinta bem e feliz com o exercício, seja ele qual for.

Os exercícios devem ser feitos na maior parte dos dias da semana. No entanto, as mudanças devem ocorrer de forma gradual.

Mudanças repentinas na prática de exercícios não apenas tendem a ser abandonadas, como aumentam o risco de lesões.

Exercícios aeróbicos e exercícios resistidos (treino de força) devem fazer parte da rotina, bem como os exercícios para ganho de mobilidade articular e ganho de equilíbrio.

Exercícios aeróbicos

Exercícios aeróbicos envolvem atividades prolongadas e cíclicas, como caminhada, corrida, natação, elíptico e outros. São os exercícios que mais geram gasto energético, de forma que têm um papel direto na perda de peso.

O volume dos exercícios é mais importante do que a intensidade. Mas isso depende de fatores como a experiência prévia com atividades físicas e a capacidade física do indivíduo.

Os exercícios aeróbicos podem ser grosseiramente classificados da seguinte forma:

  • Atividades leves: permitem uma conversa regular
  • Atividades moderadas: permitem frases completas, mas não uma conversa regular;
  • Atividades leves: permite falar palavras isoladas, mas não frases completas.

O mais indicado para a perda de peso são as atividades de intensidade moderada.

Para pessoas mais limitadas fisicamente, a caminhada é uma excelente atividade. Para aqueles com maior capacidade física, deve-se dar preferência para exercícios com maior esforço cardiovascular.

Exercícios de força

O gasto energético imediato provido pelos exercícios de força é menor quando comparado com os exercícios aeróbicos, uma vez que eles promovem uma elevação mais limitada na frequência cardíaca. No entanto eles são fundamentais para quem quer perder peso, por diferentes motivos:

O músculo é o tecido que mais gasta energia no corpo. Assim, ter um corpo mais musculoso ajuda a aumentar o gasto energético. Pessoas com menos massa muscular não são capazes de desenvolver um gasto energético significativo durante a atividade física.

Desenvolver força ajuda também a dar um melhor suporte físico para o corpo, aumentando assim a capacidade funcional do indivíduo, seja no dia a dia ou durante outras atividades físicas.

Medicamentos para a Obesidade

O tratamento medicamentoso para a obesidade deve ser considerado para aquelas pessoas que não conseguem perder peso apresar de uma dieta adequada, da prática regular de exercícios e outras mudanças de estilo de vida considerados caso a caso.

Uma intervenção terapêutica para perda de peso é eficaz quando há redução maior ou igual a 1% do peso corporal por mês, atingindo pelo menos 5% em 3 a 6 meses.

No Brasil, atualmente, há cinco medicamentos registrados para o tratamento da obesidade:

  • Anfepramona (dietilpropiona);
  • Femproporex;
  • Mazindol;
  • Sibutramina;
  • Orlistate.

Estas medicações contribuem para a perda de peso por dois mecanismos diferentes:

  • Atuando sobre o Sistema Nervoso Central, inibindo a fome e aumentando a sensação de saciedade;
  • Atuando sobre o intestino, inibindo a absorção dos macronutrientes.

As medicações não devem ser adotadas como medida inicial no tratamento da obesidade. Primeiro, pelo risco de efeitos indesejados. E, depois, porque quando o medicamento se torna o alicerce do tratamento da obesidade, a tendência é que o paciente recupere todo o peso perdido rapidamente após o fim do tratamento.

Cirurgia Bariátrica

Cirurgia bariátrica é um termo usado para se referir a um conjunto de procedimentos diferentes que têm como objetivo final a perda de peso.

Alguns procedimentos limitam a quantidade que você pode comer. Outros procedimentos funcionam reduzindo a capacidade do corpo de absorver nutrientes. Alguns procedimentos fazem as duas coisas.

Ela é indicada nas seguintes situações:

  • Índice de massa corporal (IMC) de 35 a 39,9 na presença de um sério problema de saúde relacionado ao peso, como diabetes tipo 2, Hipertensão arterial ou apnéia do sono grave.
  • IMC de 40 ou superior, em pacientes que não tenham obtido sucesso na perda de peso após dois anos de tratamento clínico, incluindo o uso de medicamentos

Apesar dos imensos benefícios para aqueles com indicação para a cirurgia bariátrica, esse não é um procedimento inócuo, envolvendo riscos consideráveis de efeitos colaterais.

Além disso, não terão o efeito desejado caso o paciente não adote um estilo de vida mais saudável após a cirurgia. Assim, a expectativa de uma rápida perda de peso não deve fazer o paciente pular etapas na luta contra a balança.