Toxoplasmose congênita
O que é a Toxoplasmose?
A toxoplasmose é uma infecção causada por um protozoário chamado “Toxoplasma Gondii”, sendo uma das zoonoses (doenças transmitidas por animais) mais comuns em todo o mundo.
Ela é transmitida por meio do consumo de água ou hortalícias contaminados pelas fezes de gato ou outros felinos, bem como pelo consumo de carne contaminada mal passada.
Entre os animais que podem transmitir a toxoplasmose por meio do consumo da carne incluem-se pássaros, roedores, animais silvestres e um número grande de mamíferos, como bovinos, suínos e caprinos.
Discutimos mais sobre a toxoplasmose em um artigo específico.
Toxoplasmose congênita
A toxoplasmose congênita é uma das formas mais comuns de infecção congênita, acometendo aproximadamente 1 a cada 3.000 nascidos no Brasil. Ela acontece quando a mãe contrai a toxoplasmose primária durante a gestação.
Mulheres que foram infectadas no período anterior à gestação como regra geral não transmitem o parasita para o bebê.
No entanto, isso pode vir a acontecer caso elas desenvolvam alguma forma de comprometimento do sistema imunológico durante a gestação, levando à reativação de uma infecção latente.
Risco de transmissão e sequelas
O risco de transmissão da toxoplasmose durante a gestação é diretamente proporcional ao período gestacional, aumentando com o avanço da gestação.
Estima-se que o risco seja de 15% quando a infecção ocorre no primeiro trimestre, 25% no segundo trimestre e até 65% no terceiro trimestre.
O risco de sequelas, por sua vez, é inversamente proporcional ao período gestacional. Quanto mais precoce ela acontece, piores são as consequências para o bebê.
Sinais e sintomas da toxoplasmose congênita
Bebês com toxoplasmose congênita apresentam altos índices de prematuridade, retardo do crescimento intrauterino, anormalidades liquóricas e cicatrizes oculares.
No entanto, 70% destes bebês não apresentam qualquer sinal da doença ao nascimento, sendo desta forma definidos como uma infecção sub-clínica.
Mesmo que assintomáticas, estas crianças precisam de um acompanhamento rigoroso. Isso é válido especialmente nos seis primeiros anos de vida, quando as manifestações tardias da doença são mais comuns.
Com o crescimento, cerca de 85% dos recém-nascidos assintomáticos vêm a apresentar manifestações tardias da doença, especialmente quando não tratados.
Quando presentes, as manifestações mais comuns da toxoplasmose congênita incluem alterações viscerais, neurológicas ou oftalmológicas.
Manifestações viscerais
- Febre;
- Hipotermia;
- Vômitos;
- Diarreia;
- Pneumonite;
- Apneia ou taquipneia;
- Rash cutâneo;
- Hepatoesplenomegalia;
- Aumento dos linfonodos;
- Anemia;
- Icterícia;
- Distúrbios endócrinos (hipotireoidismo, diabetes insipidus, deficiência de GH, puberdade precoce).
Manifestações neurológicas
- calcificações intracranianas difusas;
- hidrocefalia;
- macrocefalia ou microcefalia;
- retardo mental;
- crises convulsivas;
- alterações motoras;
- surdez neurosensorial.
Manifestações oftalmológicas
- Coriorretinite (principal manifestação da toxoplasmose congênita); catarata;
- Glaucoma;
- Nistagmo;
- Estrabismo;
- Microftalmia.
Diagnóstico da Toxoplasmose congênita
Diagnóstico pré natal
Embora não exista consenso sobre o real benefício do rastreamento universal para toxoplasmose na gravidez, o Ministério da Saúde do Brasil recomenda a realização da
triagem sorológica, principalmente em lugares onde a prevalência é elevada.
A triagem é feita por meio de testes sorológicos, ralizados na primeira consulta de pré-natal e no 3º trimestre da gestação.
Em caso de suspeita ou confirmação de toxoplasmose gestacional pela mãe, a ultrassonografia fetal permite realizar a pesquisa de sinais que possam sugerir doença fetal, como alargamento de ventrículos cerebrais, calcificações intracranianas, aumento da espessura da placenta e hepatoesplenomegalia.
A ultrassonografia deve ser realizada mensalmente nos fetos cujas mães foram diagnosticadas com infecção aguda.
Diagnóstico pós natal
Após o nascimento, todo recém-nascido com suspeita de toxoplasmose congênita precisa ser submetido a uma investigação completa, incluindo:
- Exames clínicos;
- Exames sorológicos, hematológicos e de função hepática;
- Avaliação neurológica, incluindo radiografia de crânio, Ultrassoonografia transfontanela e tomografia computadorizada de crânio;
- Exame ftalmológico completo, incluindo a fundoscopia;
- Avaliação auditiva,
- Exame anatomopatológico da placenta;
- Punção do líquor.
Tratamento
Quando comprovada a infecção aguda na gestante, o tratamento com espiramicina pode reduzir o risco de transmissão vertical em até 60%.
Além disso, uma vez confirmada a transmissão para o feto, é indicado a administração de sulfadiazina e pirimetamina que atuam reduzindo o risco comprometimento grave do Recém-nascido.
Apóis o nascimento, é feito o tratamento com sulfadiazina e pirimetamina durante os 12 primeiros meses de vida, com o intuito de impedir que os trofozoítos circulantes formem os cistos. Junto com estas medicações, é feito o uso de ácido folínico, para evitar a neutropenia e a anemia que costumam acontecer com o uso da pirimetamina.
Todos os recém-nascidos com toxoplasmose congênita confirmada ou cujas mães tiveram infecção aguda comprovada ou suspeita de toxoplasmose gestacional devem realizar o tratamento por 12 meses, independentemente da presença de quaisquer sinais ou sintomas/ sinais da doença.
Vale considerar que as medicações mais usadas no tratamento dessa doença são eficientes contra os trofozoítos circulantes, mas não são tão efetivas contra os cistos que ficam nos tecidos, que pode sair da fase de latência em qualquer situação de imunodepressão.