Lesão maciça do Manguito Rotador

As rupturas maciças do Manguito Rotador são aquelas que se estendem por mais de 5 cm e envolvem pelo menos os tendões supraespinal e infraespinal. Em alguns casos, podem se estender para o subescapular e redondo menor.

São lesões incomuns em pacientes jovens, com menos de 60 anos de idade e estão geralmente associadas à degeneração significativa do tendão e do músculo.

Em um ombro normal, o músculo deltóide puxa o úmero para cima, enquanto o manguito rotador equilibra as forças tracionando o úmero para baixo. O manguito também inicia o movimento de elevação e abdução (abertura dos braços para os lados) antes que o deltóide assuma e complete o movimento.

Na lesão maciça do Manguito Rotador, este equilíbrio é perdido e o úmero passa a ser puxado apenas para cima, levando a uma ascensão da cabeça do úmero em relação à glenóide. Este desequilíbrio de forças leva a uma rápida progressão da Artrose no ombro, dando origem ao que denominamos de Artropatia do Manguito Rotador.

A Artropatia do Manguito Rotador é um padrão específico de doença degenerativa da articulação do ombro que resulta de uma Ruptura do manguito rotador levando ao desgaste glenoumeral anormal e subsequente migração superior da cabeça do úmero.

O paciente com lesão maciça do manguito rotador apresenta dor e limitação funcional significativa, com mobilidade bastante restrita da articulação. Esta limitação é também conhecida como uma pseudoparalisia do ombro.

À medida em que se desenvolve a Artropatia do Manguito Rotador, os sintomas acima passam a ser acompanhados de dor de intensidade progressiva.

O reparo cirúrgico da lesão maciça do manguito rotador não é tão bem-sucedido quanto as pequenas ou moderadas (menores do que 5 cm), sendo que o prognóstico é pior quanto pior a qualidade da musculatura e do tendão e quanto maior a retração do tendão.

No caso de pacientes ativos e com boa função do ombro antes da lesão, é recomendável que o reparo seja feito o mais rápido possível, antes que ocorram alterações irreversíveis no músculo.

Em muitos casos, as lesões são consideradas irreparáveis. Mesmo naqueles em que o tendão possa ser tecnicamente reparado pelo cirurgião, ele pode não cicatrizar e a função do ombro pode não melhorar.

Nos casos em que o tendão for considerado irreparável, devemos levar em conta as seguintes opções de tratamento:

• Transferências tendíneas: transfere-se um tendão bom no lugar do tendão que foi rompido, buscando substituir a função do tendão rompido;
• Prótese reversa: prótese de ombro destinada a pacientes sem uma boa função do manguito rotador.

A transferência de tendão é um procedimento cirúrgico no qual um tendão e seu músculo são movidos de um local para outro para substituir a função perdida de outro tendão – no caso, do Manguito Rotador.

Este é um ‘procedimento de resgate’, indicado quando os reparos diretos falharam ou são impossíveis de se realizar devido ao tamanho da ruptura ou à má qualidade do músculo e do tendão.

O paciente submetido à transferência de tendão deve esperar uma melhora, mas não necessariamente uma recuperação completa da força e da função, o que é bastante incomum. Ainda assim, o índice de satisfação costuma ser alto, devido à significativa limitação pré-cirúrgica.

A indicação para a transferência de tendão na lesão do manguito rotador é bastante limitada. Entre os pré-requisitos para a cirurgia, devemos considerar:

• Pacientes ativos e dispostos a passar por um período extenso e prolongado de reabilitação;
• Presença de dor, perda de força e deficiência funcional relacionadas a uma lesão irreparável do manguito rotador;
• Boa mobilidade da articulação e ausência de artrose;
• Boa qualidade do tendão a ser transferido;
• Boa qualidade do osso onde será feita a fixação do tendão.

A prótese reversa do ombro foi uma solução desenvolvida para prover a estabilidade necessária para o ombro realizar os movimentos em um paciente com Lesão Maciça do Manguito Rotador.

O tradicional formato em “bola e soquete” da articulação é invertido, com a “bola” no componente da glenóide e o “soquete” posicionado no úmero. Ainda que seja uma solução não anatômica e que não deixa o ombro normal, a melhora funcional pode ser bastante significativa nestes pacientes.

Discutimos mais a respeito da indicação, técnica cirúrgica e resultado da Prótese reversa do ombro em um artigo específico sobre Prótese de Ombro.