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Doping – Lista de Substâncias Proibidas

Quais as classes de medicamentos proibidos no esporte?

A maior parte das federações e modalidades esportivas seguem as regras da Agência Mundial Antidopagem (WADA – World Antidoping Agency). A WADA atualiza a lista de substâncias proibidas anualmente e estas atualizações passam a valer a partir de 1º de janeiro de cada ano.

A lista é dividida em três partes:

  • Substâncias e métodos permanentemente proibidos (S0 a S5, M1 a M3);
  • Substâncias proibidas apenas no período de competição (S6 a S9);
  • Substâncias proibidas em esportes específicos (P1 e P2).

Vale aqui a consideração de que no caso das substâncias proibidas apenas em competições é preciso que a urina esteja completamente livre da substância e seus metabólitos no momento do teste, o que significa que eles precisam ser interrompidos com uma certa antecedência. 

Classes de substâncias e métodos proibidos

Substâncias e métodos permanentemente proibidos (S0 a S5, M1 a M3);

classe
S0 Substâncias não aprovadas
S1 Esteróides anabolizantes
S2 Hormônios peptídicos, fatores de crescimento e substâncias correlatas
S3 Beta 2 agonistas
S4 Hormônios e moduladores metabólicos
S5 Diuréticos e agentes mascarantes
M1 Manipulação sanguínea ou de componentes sanguíneos
M2 Manipulação física ou química
M3 Doping genético ou celular

 

Substâncias proibidas apenas no período de competição (S6 a S9)

Classe
S6 Estimulantes
S7 Narcóticos
S8 Canabinóides
S9 Glucocorticoides

 

Substâncias proibidas em esportes específicos (P1)

Classe
P1 Betabloqueadores

S0 – Substâncias não aprovadas

A indústria do doping e as agências anti-doping estão em uma constante corrida de gato e rato, uma aprimorando as técnicas e substâncias dopantes para dificultar sua identificação nos testes, outra desenvolvendo novas técnicas de detecção.

Uma das formas usadas para escapar do doping envolve a “criação” de substâncias com efeito parecido com a daquelas presentes na lista de substâncias proibidas, mas que por ainda não terem sido descritas e não serem de conhecimento das agências antidoping não estão incluídas na lista de substâncias proibidas.

Isso justifica a criação da categoria S0 -Substâncias não aprovadas: ela envolve qualquer substância que não tenha aprovação por qualquer autoridade reguladora de saúde para uso terapêutico humano.

Para identificar estas substâncias, a WADA determinou que as agências anti-doping preservem as amostras por um período de ao menos 10 anos. Assim, quando a qualquer momento uma nova substância tiver sido identificada, a análise da amostra pode ser refeita.

S1 -Agentes anabolizantes

Agentes anabolizantes são a causa mais comum de doping. São substâncias que ajudam no ganho de massa muscular, ganho de resistência e melhora na recuperação pós treino, além de outros fatores com impacto direto na performance esportiva. 

Poucas são as condições que justificam o uso terapêutico no atleta. Uma das principais justificativas para isso seria a deficiência androgênica decorrente do uso prévio de esteroides anabolizantes. Mas, neste ponto, é preciso considerar que, para que a Autorização para uso Terapêutico seja concedida, a condição que justificaria o seu uso (deficiência de testosterona, no caso) não pode ser resultado do uso prévio de uma substância proibida. 

Além do uso explícito para fins de ganho de desempenho esportivo, é preciso considerar que algumas pomadas dermatológicas contêm esteroides anabolizantes proibidos em sua composição e que estas substâncias estão entre as mais encontradas na forma de contaminação de suplementos alimentares (discutimos mais sobre este problema no artigo sobre Doping).

Os estroides anabolizantes são divididos em dois grupos: 

  • Anabolizantes endógenos: são substâncias produzidas naturalmente pelo corpo. O principal deles é a testosterona, responsável pelos efeitos androgênicos e anabólicos observados no corpo masculino. Pró-hormônios ou metabólitos da testosterona, incluindo a desidroepiandrosterona (DHEA), androstenediona, androstenediol e dihidrotestosterona (DHT) também estão incluídos na classe S1 da lista de substâncias proibidas. A diferenciação entre substâncias produzidas naturalmente pelo corpo e aquelas resultantes da administração exógena é necessária para caracterizar o doping nestes casos.
  • Anabolizantes exógenos: são compostos sintéticos que não são produzidos naturalmente pelo corpo humano, incluindo a metandienona, estanozolol e o clostebol, entre muitos outros.

Segundo o relatório da WADA, em 2019 ocorreram 1825 resultados analíticos adversos em decorrência do uso de agentes anabolizantes (Categoria S1), o que representa 44% de todos os casos de doping naquele ano. A tabela abaixo mostra os casos para cada tipo de anabolizante.

Substância classe Eventos Analíticos Adversos
Estanozolol S1 267
clembuterol S1 199
Drostanolona S1 163
19-norandrosterona S1 162
Testosterona compatível com origem exógena S1 147
Boldenona S1 120
Metandienona S1 113
Oxandrolona S1 92
Dihidroclorometiltestosterona S1 90
Metenolona S1 80
enobosarmo (ostarina) S1 74
Trembolona S1 69
LGD-4033 (ligandrol) S1 62
Mesterolona S1 38
Metasterona S1 31
Clostebol S1 28
metiltestosterona S1 14
Oximetolona S1 12
Tibolona  S1 12

S2 – Hormônios peptídicos, fatores de crescimento e substâncias correlatas

(Eritropoietina, Gonadotrofina Coriônica Humana, Hormônio do Crescimento)

Segundo a WADA, 138 atletas apresentaram resultado analítico adverso na categoria S2, o que representa 3% do total de casos. As drogas mais comumente identificadas estão descritas na tabela abaixo.

Classe S2 – Hormônios peptídicos, fator de crescimento e substâncias correlatas

Substância classe Eventos analíticos adversos
Eritropeietina (EPO) S2 83
Gonadotrofina Coriônica Humana S2 14
Ibutamoren S2 13
GHRP-6 S2 10
Hormônio de crescimento (GH) S2 6

 

S2 – eritropoetina

A eritropoetina é um hormônio peptídeo produzido 90% pelos rins e 10% polo fígado. Ela estimula a produção das células vermelhas do sangue, responsáveis pelo transporte de oxigênio.

A eritropoetina recombinante humana é um análogo sintético da eritropoetina com uso clínico em pacientes com anemia decorrente de insuficiência renal, mas que tem sido há longa data utilizada por atletas de ultra resistência, especialmente ciclistas, com o objetivo de aumentar a capacidade de transporte de oxigênio.

Como efeito colateral, o abuso da EPO leva a um aumento da coagulabilidade do sangue, aumentando o risco para trombose venosa e embolia pulmonar. Isso pode ser ainda mais grave em decorrência da desidratação que é esperada com a prática esportiva, já que a desidratação aumenta ainda mais a viscosidade do sangue.

O principal método de dopagem com eritropoetina é através da aplicação repetitiva de microdoses, de forma a manter os parâmetros sanguíneos dentro dos limites aceitos. Soma-se a isso que o período de detecção do uso da EPO é bastante curto, ainda que os benefícios ergogênicos perdurem por mais tempo.

As técnicas de detecção do doping por EPO evoluíram bastante recentemente, dificultando seu uso por atletas. Um dos métodos usados para isso é o passaporte biológico do atleta, que busca identificar o doping não por meio da detecção da substância proibida, mas sim de forma indireta por meio das variações inexplicadas dos parâmetros sanguíneos.

S-2 Hormônio do crescimento (GH)

O hormônio do crescimento (GH), também chamado de hormônio somatotrópico ou somatotropina, é uma proteína produzida principalmente pela hipófise. Ele promove efeitos anabólicos importantes, sendo responsável pelo crescimento de quase todos os tecidos do corpo, através do aumento do tamanho das células e da multiplicação celular.

O GH também atua sobre o metabolismo, provendo o aumento da síntese proteica em todas as células do corpo, utilizando as reservas de gordura e conservando carboidratos.

Clinicamente, o GH é aprovado para uso na deficiência pituitária (principalmente no caso de tumor da hipófise), para tratar a perda muscular em adultos com AIDS e a deficiência de crescimento na infância.

Quando usado sob orientação médica e em baixas doses, o tratamento com GH é geralmente bem tolerado e tem poucos efeitos colaterais. Por outro lado, altas doses de GH, geralmente usados com o objetivo de ganho esportivo, podem estar associados a aumento da resistência à insulina e diabetes, ginecomastia, retenção de fluidos, dor muscular e aumento da pressão arterial. Cogita-se também que possa aumentar o risco para certos tipos de câncer.

Já no início da década de 1980, foi identificado o abuso no uso de GH por atletas na busca por seus efeitos anabólicos. O caso mais famoso foi descrito em 1988, quando Ben Johnson venceu a final dos 100 metros rasos dos jogos olímpicos de Seul e depois foi flagrado no exame anti-doping por uso de GH. A popularização do GH entre atletas deveu-se ao fato de que o mesmo é eficiente, difícil de ser detectado em exames antidoping e causador de poucos efeitos colaterais.

A reputação de GH para ganho de desempenho esportivo tem sido questionada recentemente. Verificou-se que, ao se combinar o uso de GH e treinamento com pesos, ocorreram aumentos de massa muscular, mas sem o ganho concomitante de força ou melhora no rendimento esportivo.

Estes estudos sugerem que o aumento de peso corporal e da massa muscular advindo do uso do GH seja proveniente de proteínas não-contráteis e da retenção de líquidos. Fisiculturistas são os atletas que mais fazem uso de GH, uma vez que a modalidade exige altos níveis de massa muscular (não necessariamente força) e baixíssimos de gordura.

S2 - Gonadotrofina coriônica humana

A Gonadotrofina Coriônica Humana (HCG) está presente no corpo da mãe durante a gestação e pode ser isolada da urina de mulheres grávidas. Sua estrutura e efeitos se assemelham ao hormônio luteinizante (LH) que é secretado pela glândula pituitária. O HCG mantém a gravidez estimulando a secreção de progesterona e também quantidades mínimas de estradiol.

O HCG é a base de muitos dos tratamentos para infertilidade masculina, uma vez que estimula a produção de testosterona nos testículos. No esporte, é utilizado para estimular o retorno da produção de testosterona em atletas que fizeram uso de esteroides anabolizantes.

S3 - Beta-2-agonistas

Beta-2-agonistas são substâncias broncodilatadoras muito utilizadas na prática clínica para o tratamento da asma e da bronquite. Eles podem ser divididos em dois grupos: os de ação rápida e os de ação lenta. 

Os Beta-2-agonistas de ação rápida são também chamados de drogas de alívio, sendo indicados durante as crises de asma, uma vez que começam a agir quase que de imediato após o uso. Já os de longa duração são também chamados de drogas preventivas, usadas para o tratamento a longo prazo da asma como forma de evitar as crises.

Os principais efeitos colaterais decorrentes da utilização destes medicamentos são: arritmias cardíacas e palpitações, agitação, tremores, náusea, aumento da sudorese, cãibras musculares, distúrbios de sono e insónias e aumento da frequência cardíaca.

Beta-2-agonistas estão na lista de substâncias proibidas porque, em altas doses, eles possuem efeitos anabólicos, ajudando no ganho de massa muscular. Nos últimos anos, algumas das regras sobre os beta-2-agonistas foram gradualmente relaxadas. Isso aconteceu a partir da percepção de que, em doses terapêuticas, eles não estão associados a ganho de força, capacidade aeróbica ou desempenho esportivo.

Atualmente, todos os beta-s-agonistas são proibidos, exceto:

  • Salbutamol: máximo de 1600 microgramas durante 24 horas em doses divididas, não excedendo 600 microgramas a cada 8 horas;
  • Formoterol: dose máxima de 54 microgramas em 24 horas;
  • Salmeterol: máximo de 200 microgramas em 24 horas.
  • Vilanterol: máximo de 25 microgramas em 24 horas

A presença de salbutamol na urina acima de 1000 ng / mL ou formoterol acima de 40 ng / mL não é consistente com uso terapêutico e será considerado como um Resultado Analítico Adverso, a menos que o atleta comprove, por meio de um estudo farmacocinético controlado, que o resultado anormal foi consequência de uma dose terapêutica até a dose máxima indicada acima.

Segundo o relatório da WADA, em 2019, 153 atletas testaram positivo para beta-2-agonistas, o que representa 4% do total de casos de doping. As substâncias mais encontradas nos testes estão descritas na tabela abaixo.

Substância classe Eventos analíticos adversos
Terbutalina S3 79
higenamina S3 46
Salbutamol S3 11

S4 -Moduladores hormonais e metabólicos

Os inibidores da aromatase são substâncias usadas na clínica médica para o tratamento do câncer de mama. Elas bloqueiam uma enzima no tecido adiposo (denominada aromatase), que é responsável pela conversão de andrógenos (por exemplo, testosterona) em estrogênios.

Os moduladores seletivos do receptor de estrogênio (SERMs) são compostos químicos capazes de se ligarem aos receptores de estrogênio, em alguns casos inibindo e em outros estimulando a ação estrogênica. Eles são usados na clínica médica no tratamento do câncer de mama, osteoporose e infertilidade masculina.

No esporte, tanto os Inibidores da Aromatase como Os SERMs podem ser usados com o objetivo de reduzir ou prevenir os efeitos indesejados e feminizantes associados ao uso de esteróides anabolizantes, incluindo o desenvolvimento da mama masculina (ginecomastia), retenção de água e acúmulo de gordura abdominal.

Isso se justifica pelo fato de que a testosterona e alguns dos esteróides anabólicos androgênicos se transformam naturalmente em estrogênio e homens que usam grandes quantidades de esteróides anabolizantes androgênicos podem ter quantidades de estrogênio na corrente sanguínea equivalentes às quantidades encontradas em mulheres em idade reprodutiva, levando a estes efeitos colaterais indesejados.

Como os mecanismos de produção de testosterona feminina são diferentes daqueles observados nos homens, os SERMs não induzem qualquer aumento nos níveis de testosterona nas mulheres.

A insulina é um hormônio anabólico naturalmente produzido pelo pâncreas e que tem diversos efeitos anabólicos. A produção da insulina é comprometida no paciente com diabetes tipo I. No caso da diabetes tipo II, há um aumento na resistência periférica à insulina, o que significa que ela deixa de fazer o seu efeito. O uso da Insulina em doses terapêuticas é permitido por meio de uma TUE para os atletas com Diabetes tipo 1.

O Meldônio é uma substância usada como coadjuvante do tratamento de algumas doenças, como isquemia do coração, doenças neurodegenerativas, pulmonares e doenças do sistema imunológico.

Outros efeitos associados ao Meldônio incluem a maior capacidade de produzir energia a partir da queima de carboidratos, melhora da recuperação após o exercício e melhora da “memória e aprendizado” motores, benefício este muito interessante para o desempenho esportivo.
O Meldônio ganhou destaque após a tenista Maria Sharapova ter sido flagrada com o uso da substância, uma semana após ela entrar para a lista de substâncias proibidas em 2016.

S5 - Diuréticos

Diuréticos são medicamentos que atuam no funcionamento dos rins, interferindo no processo de filtração e reabsorção de água e sais minerais e aumentando a quantidade de urina produzida pelo organismo. Ao intensificar o fluxo urinário, os diuréticos favorecem a eliminação do sódio. São por isso utilizados no tratamento da Hipertensão Arterial, da Insuficiência Renal e da Insuficiência Cardíaca.

Os diuréticos não possuem atividade farmacológica capaz de beneficiar o desempenho do atleta. A justificativa para estar na lista de substâncias proibidas decorre do fato de que eles ajudam na eliminação dos metabólitos provenientes de outras substâncias proibidas, dificultando assim a identificação do uso ilegal destas outras substâncias. Além disso, os diuréticos podem ser utilizados para impedir um dos efeitos adversos mais frequentes dos esteroides anabolizantes, que é a retenção de água no organismo.

Diuréticos são muitas vezes encontrados como contaminantes em suplementos alimentares que prometem a perda de peso, sendo responsáveis por muitos casos de doping involuntário.

Segundo o relatório da WADA, em 2019 677 atletas testaram positivo para diuréticos, o que representa 16% do total de casos de doping no ano. Foram menos frequentes apenas do que os agentes anabolizantes. As substâncias mais observadas nos testes estão descritas na tabela abaixo.

 

Substância classe Eventos analíticos adversos
Furosemida S5 199
Hidroclorotiazida S5 141
Canrenona S5 69
Dorzolamida S5 50
clorotiazida S5 48
Probenecida S5 27
Trianterene S5 25
Espironolactona S5 18
Torasemida S5 16

S6 - Estimulantes

Os estimulantes são drogas que afetam diretamente o sistema nervoso central. Eles atuam para acelerar partes do cérebro e do corpo, aumentando a frequência cardíaca, a pressão arterial, o metabolismo e a temperatura corporal do usuário. 

Estas substâncias são usadas ​​por atletas com o objetivo de reduzir o cansaço e a fadiga e para aumentar o estado de alerta, competitividade e agressividade. Os estimulantes mais comuns detectados em testes antidoping incluem anfetaminas, cocaína, ecstasy e metilfenidato (Ritalina).

A Cafeína também é muito usada como estimulante, mas não é proibida no esporte. No entanto, ela está atualmente no Programa de Monitoramento da WADA, a fim de detectar padrões potenciais de uso indevido no esporte, podendo voltar a ser incluída na lista de substâncias proibidas caso se tenha esta percepção.

A pseudoefedrina é um estimulante utilizado no tratamento sintomático da congestão nasal e dos seios perinasais, em casos de gripe ou alergias. Faz parte da composição de diversos medicamentos vendidos sem receita médica nas farmácias, incluindo o Allegra-D, Claritin-D, Tylenol Synus. 

A pseudoefedrina é proibida em competição com um limiar urinário de 150µg / mL, o que em alguns casos pode ser atingido mesmo com o uso de doses terapêuticas. Assim, a WADA recomenda interromper estas medicações ao menos 24 horas antes da competição, ou solicitar uma Autorização para Uso Terapêutico, caso isso se justifique.

Os riscos do uso de estimulantes variam para cada medicamento, mas em geral são altos. O uso de cocaína além de poder levar ao vício pode causar ataques de pânico e paranóia, levar à perda do olfato, problemas para engolir e, em casos raros, causar Infarto do Miocárdio. As anfetaminas podem causar danos ao fígado, rins e sistema cardiovascular, e causar alucinações e comportamento violento.

Segundo relatório da WADA, em 2019 611 atletas testaram positivo para os glicocorticoides, o que representa 15% do total de casos de doping. Foi a terceira causa mais comum de doping, após os agentes anabolizantes e os diuréticos. As substâncias mais comumente observadas nesta classe estão listadas na tabela abaixo.

Substância classe Eventos analíticos adversos
Metilfenidrato S6 133
Anfetamina  S6 93
Cocaina S6 77
Metilhexaneamina S6 35
Dimetilpentilamina S6 33
Mepentermina S6 30
Heptaminol S6 26

S7 - Narcóticos

Narcóticos são potentes analgésicos da classe dos opioides que atuam sobre o sistema nervoso central. Entre as drogas proibidas mais populares desta classe incluem-se a morfina, a metadona e a oxicodona. O tramadol, antes permitido, passou a fazer parte da lista de substâncias proibidas desde 2024. O uso de codeína é permitido.

 Seu uso no esporte é feito para o controle da sensação de dor, fazendo com que o atleta se sinta capaz de “ir um pouco mais”. Esportes de luta são especialmente sensíveis ao uso de narcóticos, para que o atleta sinta menos os golpes dos adversários. Por outro lado, o abuso de narcóticos está associado a um alto risco de dependência e leva a uma severa dependência física e psicológica.

São medicações pouco usadas no esporte de alto rendimento nos dias de hoje, uma vez que são facilmente identificados nos exames anti-doping.

Segundo o relatório da WADA, em 2019 30 atletas testaram positivo para narcóticos, o que representa 1% do total de casos de doping. As substâncias mais observadas nos testes estão descritas na tabela abaixo.

Substância classe Eventos analíticos adversos
Metadona S7 8
Oxicodona S7 7
Morfina S7 6

S8 - Canabinóides

Canabinóides se referem a todos os compostos produzido pela planta da cannabis (maconha) ou sintetizado em laboratório (canabinóide sintético), sendo que existem mais de 100 substâncias classificadas como canabinóides. Todos os canabinóides naturais e sintéticos são proibidos pela agência de controle de dopagem (WADA), exceto o canabidiol.

  • O THC é o principal composto psicoativo, responsável pelos efeitos recreativos da maconha;
  • O canabidiol é o principal responsável pelos efeitos médicos da maconha em doenças como esclerose múltipla, esquizofrenia, mal de Parkinson, epilepsia ou ansiedade.

Assim, o uso de cannabis, haxixe e maconha continuam proibidos, pois estes terão outros canabinóides além do canabidiol. Produtos, como alimentos e bebidas, contendo THC também são proibidos.

O uso tanto recreativo como medicinal da maconha é repleto de controversas, com ferrenhos defensores tanto contra como a favor. Independentemente da opinião individual de cada pessoa, fato é que ela está na lista de substâncias proibidas.

Os canabinóides são proibidos apenas durante a competição. Ainda assim, o uso próximo das competições também não é recomendado, uma vez que a quantidade das substâncias poderia continuar acima do permitido nos testes em competição.

Para ser incluída na lista de substâncias proibidas, uma substância precisa cumprir ao menos duas das três características abaixo:

  • melhorar o desempenho competitivo
  • violar o espírito esportivo
  • representar um risco para a saúde dos atletas.

A WADA justifica a inclusão dos canabinóides na lista pelo fato de ela violar o espírito esportivo e de representar um risco para a saúde do atleta. Em relação ao desempenho esportivo, a maconha pode ter efeitos tanto positivos como negativos, a depender da dose, de quando ela foi usada e da resposta individual de cada atleta.

Potenciais benefícios esportivos estariam relacionados aos seus possíveis efeitos analgésico, anti-inflamatório e broncodilatador, além de ajudar no relaxamento e diminuir a tensão pré-competitiva. Por outro lado, a redução na capacidade de concentração pode comprometer negativamente o desempenho esportivo.

Segundo relatório da WADA, em 2019 130 atletas testaram positivo por uso de canabióides, o que representa 3% do total de casos de doping. Todos os casos foram em decorrência do THC.

S9 - Glicocorticóides

Os glicocorticoides, também conhecidos como corticosteroides ou cortisona, são remédios sintéticos produzidos em laboratório e que possuem uma potente ação anti-inflamatória. São muito usados no tratamento de problemas inflamatórios crônicos como asma, alergias, artrite reumatoide, artrose e problemas dermatológicos. 

A depender do problema que está sendo tratado, pode ser usado na forma de pomada, comprimidos, injeção intra-muscular, injeção intra-articular, por inalação, spray nasais, colírios e solução para ouvido.

No meio esportivo, foi por muito tempo utilizado de forma abusiva com o intuito de aliviar dores provenientes de problemas nas articulações, especialmente nos joelhos, devido à sua capacidade de alívio rápido dos sintomas, colocando o atleta em condições de competir. Hoje são muito mais conhecidos os efeitos colaterais deste uso quase que contínuo. Eles ainda são usados, mas de forma mais pontual em momentos de agudização das queixas.

Insuficiência adrenal, imunodeficiência, osteoporose, perda de massa muscular, rompimento de tendões, necrose avascular da cabeça femoral, desequilíbrios metabólicos, glaucoma e catarata são alguns dos possíveis efeitos colaterais associados ao uso crônico de corticoides.

Os efeitos ergogênicos dos glicocorticoides são limitados. Algum benefício pode estar associado aos seus efeitos sobre o metabolismo e sua ação anti-inflamatória, mas o principal motivo par o abuso destas substâncias é a melhora sintomática de dores musculoesqueléticas.

Os corticoides foram os principais responsáveis pelas mudanças na lista de substâncias proibidas em 2022. Até 31 de Dezembro de 2021, eles eram proibidos quando administrados por via oral, retal, intramuscular ou intravenosa. A partir de 01 de Janeiro de 2022, passaram a ser proibidas também qualquer via de administração injetável, incluindo intravenosa, intramuscular, periarticular, intra-articular, peritendínea, intratendínea, epidural, intratecal, intrabursal, intralesional, intradérmica e subcutânea. 

Outras vias de administração, incluindo inalação, spray intranasal, gotas oftalmológicas, perianal, dérmica ou dental continuam permitidas.

O uso de corticoides fora de competição é permitido, mas é preciso que se respeite o tem´po necessário para que ele seja eliminado antes da competição. A wada publicou recentemente uma diretriz com o tempo mínimo recomendado para diferentes tipos de corticoides (1):

VIA DE ADMINISTRAÇÃO CORTICOIDE TEMPO DE ELIMINAÇÃO
oral Triancinolona 10 dias
outros 3 dias
Intramuscular Betametasona; dexametasona;

metilprednisolona

5 dias
Prednisolona; prednisona 10 dias
Triancinolona 60 dias
Injeções periarticulares, intra-articulares, peritendínea e intratendínea) prednisolona; prednisona;

Triancinolona

10 dias
Outros corticoides 3 dias

 

Segundo relatório da WADA, em 2019 230 atletas testaram positivo para glicocorticoides, o que representa 6% do total de casos de doping. As substâncias mais comumente observadas estão listadas na tabela abaixo.

Substância classe Eventos analíticos adversos
Predinisolona S9 60
Prednisona S9 57
Triancinolona S9 44
Betametasona S9 23
Metilprednisolona S9 20
Dexametasona S9 11

M1. Manipulação do sangue e de seus componentes

A administração ou reintrodução de qualquer quantidade de sangue do próprio paciente ou de doadores, bem como substitutos do sangue baseados em hemoglobina são proibidos.

Uma prática muito usada no passado para ganho de performance era a retirada de uma determinada quantidade de sangue em um momento longe da competição com reinfusão do sangue próximo da competição, com o objetivo de aumentar a capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue.

Este tipo de doping pode ser detectado principalmente através do Passaporte biológico do atleta, comparando-se diferentes amostras do mesmo paciente.

M2. Manipulação física e química

Adulterar ou tentar adulterar amostras coletadas durante o Controle de Doping para alterar a integridade ou validade das mesmas, por meio de mecanismos como a substituição da amostra ou a adição de substâncias como proteases à amostra são passíveis de punição.

Infusões intravenosas e/ou injeções que totalizem mais de 100 mL num período de 12 horas, exceto para as infusões recebidas no curso de tratamentos hospitalares legítimos, procedimentos cirúrgicos ou em investigações clínicas diagnósticas são todas proibidas.

M3. Doping genético e celular

Ainda que não se tenha conhecimento do uso ou da tentativa de uso de doping genético até o momento, a WADA já incluiu o procedimento na lista de métodos proibidos. Estes métodos visam alterar a expressão dos genes, por diferentes mecanismos e o uso de células normais ou geneticamente modificadas.