Transtorno do Espectro Autista (TEA)
O que é o Transtorno do Espectro Autista?
O Transtorno do Espectro Autista, muitas vezes descrito apenas como Autismo, refere-se a um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por manifestações comportamentais atípicas, comunicação deficiente e problemas relacionados à interação social.
Dentro do espectro autista, existem diferentes formas de comprometimento e diferentes manifestações, de forma que os pacientes podem ser muito diferentes uns dos outros.
Em alguns casos, a pessoa não fala, não olha, não mostra interesse algum no outro.
Em outros, elas podem ser capazes de acompanhar normalmente as atividades escolares, desenvolver-se em uma profissão e criar vínculos com outras pessoas. Eventualmente, podem até mesmo apresentar habilidades superiores aos da média populacional.
Sinais de alerta no neurodesenvolvimento da criança podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 a 3 anos de idade.
Sinais e sintomas do autismo
Os sinais e sintomas do autismo estão relacionados a problemas de comunicação e interação social, além de comportamentos e interesses restritos ou repetitivos.
Vale considerar, no entanto, que as manifestações podem ser muito diferentes entre os pacientes e nem todos os sintomas costumam estar presentes.
Habilidades de comunicação
O comprometimento da comunicação varia bastante entre diferentes indivíduos com o Transtorno do Espectro Autista. Eles podem não falar ou ter padrões de fala atípicos, ter dificuldade em compreender a comunicação não-verbal, dificuldade em fazer e manter amigos, dificuldade em manter um diálogo.
interação social
Algumas das características de comunicação e interação social relacionadas ao autismo podem incluir:
- Falta de contato visual com outras pessoas;
- Não responder ao próprio nome até os 9 meses de idade;
- Não realiza gestos de comprimento ou despedida antes de um ano de idade completo;
- Ausência de expressões faciais para demonstrar sentimentos de tristeza, felicidade, surpresa e outros;
- Não aponta para coisas de seu interesse antes dos 18 meses de idade;
- Não mostra interesse em brincar com outras crianças antes dos três anos de idade.
Comportamentos ou interesses restritos ou repetitivos
O paciente com Transtorno do Espectro Autista geralmente busca a realização de movimentos repetitivos, tem preferência pela mesmice, tem dificuldade com transição ou rotina. Os interesses são rígidos ou altamente restritos. Ele pode responder de forma desproporcional a estímulos sensoriais, bem como pode não responder a esses estímulos.
Alguns exemplos disso incluem:
- Organiza brinquedos de uma determinada maneira, ficando incomodados quando esta organização é alterada por outra pessoa;
- Realiza brincadeiras sempre da mesma forma;
- Fica focado em partes específicas de um brinquedo, como na rodinha de um carro;
- Necessidade de seguir certas rotinas.
Outros sinais e sintomas
Outros sinais e sintomas comuns entre pacientes autistas incluem:
- Ansiedade, estresse ou preocupação excessiva;
- Falta de medo ou medo excessivo;
- Competências linguísticas atrasadas;
- Habilidades de movimento atrasadas;
- Habilidades cognitivas ou de aprendizagem atrasados;
- Comportamento hiperativo, impulsivo e/ ou desatento;
- Epilepsia ou transtorno convulsivo;
- Problemas gastrointestinais, como constipação ou diarreia.
Diagnóstico
O diagnóstico do TEA é um tanto complexo, já que o transtorno que essas crianças não tem uma “cara” definida.
Não existe um sinal ou característica física, por exemplo, que seja característico do autismo. Além disso, não existem, exames laboratoriais ou de imagem que confirmem o diagnóstico.
O diagnóstico do espectro autista é apenas clínico. Isso significa que, para certificar se uma pessoa é autista, é preciso observar o comportamento do paciente e analisar informações coletadas com as pessoas que convivem com ela. Além disso, é fundamental o auxílio de questionários estabelecidos e validados para esse fim.
Toda criança deve ter seu desenvolvimento neuropsicomotor monitorado por um profissional experiente, independente de eventuais queixas.
Este profissional avalia diversos marcos de desenvolvimento ou habilidades, comparando a criança com o que se observa na maioria das pessoas da mesma idade.
Nem todo atraso do desenvolvimento indica um transtorno, incluindo o autismo. Entretanto, eles deverão ser monitorados mais de perto pelo pediatra ou pelo neurologista, que fará uma investigação mais aprofundada.
O diagnóstico do autismo deve ser baseado no histórico de desenvolvimento e o comportamento da criança.
Algumas pessoas são diagnosticadas de forma confiável por profissionais experientes ainda antes dos dois anos de idade. Entretanto, muitos casos são caracterizados apenas como suspeitos e muitos são confirmados apenas mais tarde na vida, no paciente adolescente ou até mesmo adulto.
Diagnosticar crianças com autismo o mais cedo possível é importante para garantir que elas recebam os serviços e apoio de que precisam para atingir todo o seu potencial.
O diagnóstico do Autismo é baseado nos dois critérios abaixo, sendo que ambos precisam estar presentes:
- Prejuízo persistente na comunicação social e na interação (A, B e C precisam estar presentes)
- Déficit na reciprocidade socioemocional: dificuldade para compartilhar interesses e emoções
- Prejuizo na linguagem verbal, não verbal ou na integração entre elas
- Dificuldades para iniciar e manter relações
- Padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades (precisa de 2 dos 4 abaixos).
- Estereotipias: pode envolver movimentos repetitivos aparentemente disfuncionais ou sons repetitivos (ecolalia)
- Insistência na rotina e padrões inflexíveis: como exemplo, o estresse gerado ao mudar um caminho habitual
- Adesão inflexível a temas, objetos ou alguma outra coisa: foco excessivo em um mesmo tema (dinossauros, insetos) ou comportamento (rasgar papel, por exemplo).
- Alterações sensoriais significativas (aversão a algum som, por exemplo).
Além disso, existem 3 condições que precisam estar presentes:
- As características acima precisam aparecer na primeira infância. Ainda que eventualmente essas característica possam ser percebidas apenas mais tardiamente, é preciso olhar para trás e perceber que isso já estava presente na primeira infância.
- O prejuízo precisa ser clinicamente significativo.
- As características identificadas não podem ser melhor explicadas por uma deficiência global do desenvolvimento ou deficiência intelectual.
Diagnóstico diferencial
O Transtorno do Espectro Autista compartilha de muitos sinais que são comuns a outras condições, o que faz com que o diagnóstico por vezes não seja fácil de ser feito.
Da mesma forma, não é incomum que crianças recebam um diagnóstico errado – atribuindo sintomas do autismo a outras condições ou atribuindo sintomas de outros tipos de problemas a um diagnóstico errado de autismo.
Por esse motivo, a avaliação com um neuropediatra se faz fundamental.
Entre os principais diagnósticos diferenciais do autismo, é preciso considerar:
Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem (TDL)
Transtorno no qual a criança apresenta uma dificuldade persistente para adquirir e desenvolver a fala e a linguagem, em decorrência de uma capacidade limitada de processamento da linguagem.
Deficiência Intelectual sem TEA
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a Deficiência Intelectual (DI) são transtornos do neurodesenvolvimento confundidos com muita facilidade, já que alguns dos sinais característicos do autismo pode também estar presente em pacientes com deficiência intelectual.
Essas são condições diferentes que podem estar presentes de forma isolada ou combinada.
Deficiência Auditiva
Quando há suspeita de TEA, uma das primeiras condições que precisam ser descartadas é a Deficiência Auditiva. A deficiência auditiva poderia justificar a falta de resposta aos estímulos sonoros e também as dificuldades de interação social atribuídas ao autismo .
Depressão
o humor deprimido pode ser caracterizada pela passividade ou falta de expressões faciais, características comuns a muitas crianças autistas.
Esquizofrenia
A Esquizofrenia é um transtorno mental crônico caracterizado pela presença de alucinações, delírio, desorganização do pensamento e isolamento social. O prejuízo social causado por esta patologia, durante muitos anos, foi confundido com o TEA.
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
entendido como um transtorno neurobiológico de origem genética, que inclui três características específicas: o déficit de atenção,
A hiperatividade e a impulsividade característicos do TDAH pode também se fazer presente na criança com TEA. Nesses casos, o TDAH é considerado como uma comorbidade associado ao TEA.
Síndrome de Rett
A Síndrome de Rett é uma síndrome genética que se manifesta exclusivamente no sexo feminino.
Nessas crianças, observa-se o rompimento da interação social, desaceleração do crescimento craniano, perda da coordenação motora ao andar e dos movimentos do tronco, além do desenvolvimento da linguagem se mostrar severamente comprometido.
Deficiência Intelectual
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a Deficiência Intelectual (DI) são transtornos do neurodesenvolvimento confundidos com muita facilidade.
Essas são condições diferentes que podem estar presentes de forma isolada ou combinada.
A deficiência intelectual acomete aproximadamente 1% da população, sendo que 10% das pessoas com deficiência intelectual apresentam também o transtorno do espectro autista. Por outro lado, a deficiência intelectual está presente em aproximadamente 30% dos autistas.
Pessoas autistas podem tanto apresentar deficiência intelectual como podem ter inteligência preservada ou mesmo altas habilidades / superdotação (presente em 3% dos autistas).
Altas Habilidades / superdotação
As altas habilidades podem ser encontradas com frequência em crianças que estão no espectro autista.
Apesar das dificuldades de comunicação e interação social que essa condição pode apresentar, aproximadamente 3% dos altistas possuem um QI compatível com altas habilidades / superdotação.
Vale aqui considerar que uma das características do autismo é o hiperfoco em determinadas atividades ou determinados temas. Essas crianças tendem a adquirir conhecimentos acima da média para essa habilidade, o que não deve ser confundido com Altas Habilidades / Superdotação.
Tratamento do Autismo
O autismo pode se manifestar de maneiras bastante diferentes de paciente para paciente, de forma que o tratamento deve ser sempre individualizado de acordo com as necessidades específicas de cada paciente.
Não existem medicamentos para tratar os principais sintomas do TEA. Entretanto, a medicação pode ajudar no controle de algumas condições associadas, como ansiedade, depressão, convulsões, problemas de sono ou problemas gastrointestinais.
Como regra geral, o tratamento deve incluir:
Terapias Comportamentais
Diferentes formas de abordagens comportamentais visam incentivar comportamentos desejados, enquanto desestimulam os comportamentos indesejados.
Diferentes abordagens podem ser consideradas buscando-se melhorar o comportamento social do paciente.
Abordagens psicológicas também podem ajudar o paciente a lidar com ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental.
Fonoaudiologia
A fonoaudiologia se concentra na melhoria das habilidades de linguagem.
Algumas pessoas se comunicam verbalmente, enquanto outros podem se comunicar por meio de sinais, gestos ou imagens.
Terapia Ocupacional
A Terapia Ocupacional ensina habilidades que ajudam a pessoa a viver da forma mais independente possível. Isso pode incluir técnicas para se vestir, comer, tomar banho e se relacionar com as pessoas.
Fisioterapia
A Fisioterapia pode ajudar com a melhora de habilidades físicas, incluindo movimentos finos dos dedos ou movimentos envolvendo as grandes articulações.
Abordagens Educacionais
Tratamentos educacionais envolvem diferentes abordagens a serem feitas em sala de aula.
O paciente autista tende a responder melhor, por exemplo, para instruções visuais/ físicas, quando comparado com instruções verbais.
Prognóstico
Algumas crianças com autismo leve podem apresentar alguma melhora entre os 4 e os 6 anos de idade, especialmente aquelas que receberam tratamento precocemente.
Algumas destas crianças passam a ter um melhor convívio social com outras crianças da mesma idade e eventualmente podem ter uma vida independente quando adultas.
Por outro lado, a maior parte dos pacientes apresenta limitações importantes ao longo de toda a vida.
Diferentes estudos mostram que:
- Entre 25% e 70% dos autistas podem ter graus variados de atraso mental;
- 49% dos adultos com autismo ainda vivem com os pais e apenas cerca de 12% têm empregos em tempo integral;
- 12% dos adultos autistas alcançam um alto nível de independência quando adultos;
- 12% necessitam de cuidados hospitalares de alta complexidade.