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Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O que é o Transtorno do Espectro Autista?

O Transtorno do Espectro Autista (TEA), muitas vezes chamado simplesmente de autismo, é uma condição do neurodesenvolvimento marcada por padrões comportamentais atípicos, dificuldades na comunicação e desafios na interação social.

O autismo é considerado um espectro justamente por abranger diferentes graus de comprometimento e uma grande variedade de manifestações. Por isso, cada pessoa com TEA pode apresentar características bastante distintas.

Em casos mais severos, a criança pode não falar, evitar contato visual e demonstrar pouco ou nenhum interesse por outras pessoas. Já em quadros mais leves, é possível que o indivíduo acompanhe normalmente as atividades escolares, desenvolva-se profissionalmente e estabeleça vínculos sociais. Em algumas situações, podem até mesmo ser observadas habilidades cognitivas superiores à média da população.

Os primeiros sinais de autismo em crianças costumam surgir nos primeiros meses de vida, sendo possível identificar alterações no neurodesenvolvimento antes dos 2 anos. O diagnóstico do TEA geralmente é feito entre os 2 e 3 anos de idade, com base na observação clínica e avaliação multidisciplinar.

Autismo ou Transtorno do Espectro Autista (TEA)?

O termo autismo foi cunhado em 1908 pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler, ao descrever um comportamento observado em pacientes esquizofrênicos: uma espécie de “fuga da realidade para um mundo interior”.

Décadas depois, em 1952, a Associação Americana de Psiquiatria publicou a primeira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais (DSM-I). Nessa época, os sintomas hoje associados ao autismo eram classificados como parte de um subgrupo da esquizofrenia infantil, sem reconhecimento como uma condição clínica autônoma.

Foi apenas em 1980, com o lançamento do DSM-III, que o autismo passou a ser oficialmente reconhecido como um diagnóstico distinto. Ele foi incluído na nova categoria dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID).

No ano seguinte, em 1981, a psiquiatra Lorna Wing introduziu o conceito de autismo como um espectro, enfatizando a diversidade de manifestações da condição.

Mais recentemente, em 2013, o DSM-5 consolidou todas as subcategorias anteriormente usadas — como autismo clássico, Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação, Transtorno Desintegrativo da Infância e Síndrome de Asperger — sob um único diagnóstico: o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Essa mudança visou facilitar a identificação e o tratamento das diferentes apresentações do espectro, ampliando a compreensão da condição e promovendo um diagnóstico mais inclusivo e preciso.

Diagnóstico: como Identificar o TEA?

O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é considerado desafiador, uma vez que ele ele não apresenta características físicas visíveis. Em outras palavras, não existe um “rosto do autismo”.

Além disso, não há exames laboratoriais ou de imagem que confirmem o diagnóstico de forma objetiva. O diagnóstico é exclusivamente clínico, baseado na observação do comportamento e na coleta de informações com familiares, cuidadores e profissionais que acompanham a criança.

Mesmo na ausência de queixas específicas, o acompanhamento do desenvolvimento neuropsicomotor deve ser feito desde os primeiros meses de vida por pediatras, neurologistas ou psiquiatras infantis.

Esse acompanhamento permite identificar possíveis atrasos ou desvios em marcos importantes do desenvolvimento, como fala, coordenação motora e interação social.

O diagnóstico envolve a avaliação cuidadosa do histórico de desenvolvimento da criança e da forma como ela se comporta e interage socialmente.

Profissionais experientes utilizam questionários padronizados e validados, além de entrevistas e escalas de triagem, para apoiar a análise.

Quando o diagnóstico do autismo pode ser feito?

Em muitos casos, o diagnóstico pode ser feito com segurança antes dos 2 anos de idade. No entanto, há situações em que os sinais são sutis ou confundidos com variações do desenvolvimento típico, sendo identificados apenas na adolescência ou até mesmo na vida adulta.

O diagnóstico precoce do autismo é essencial para garantir acesso a terapias e intervenções que favoreçam o desenvolvimento da criança e ampliem suas chances de alcançar autonomia e qualidade de vida.

Critérios diagnósticos

Segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o diagnóstico do TEA requer a presença de dois critérios principais, além de três condições adicionais obrigatórias.

🔹 Critério 1: Déficits persistentes na comunicação social e na interação

Para este critério, os três itens abaixo devem estar presentes:

  • Dificuldade em compartilhar emoções, interesses ou iniciar interações sociais (déficit na reciprocidade socioemocional);
  • Prejuízo na comunicação verbal, não verbal ou na integração entre ambas;
  • Dificuldade para desenvolver, manter e compreender relacionamentos.

🔹 Critério 2: Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades

É necessário apresentar pelo menos dois dos quatro comportamentos abaixo:

  • Comportamentos estereotipados (como balançar o corpo, bater as mãos ou repetir palavras — ecolalia);
  • Insistência em rotinas ou padrões rígidos, com resistência a mudanças (ex.: estresse ao mudar o caminho para a escola);
  • Interesses fixos e intensos, muitas vezes incomuns (ex.: obsessão por temas como dinossauros, horários ou objetos específicos);
  • Alterações sensoriais, como hipersensibilidade a sons, texturas, cheiros ou estímulos visuais.

🔹 Condições adicionais para o diagnóstico de TEA

Além dos dois critérios centrais, três condições precisam ser atendidas:

  1. Os sintomas devem estar presentes desde a primeira infância, mesmo que sejam identificados apenas posteriormente;
  2. O prejuízo causado pelos sintomas deve ser clinicamente significativo, impactando a vida social, escolar ou profissional;
  3. Os sintomas não devem ser melhor explicados por deficiência intelectual isolada ou por atraso global do desenvolvimento.

Interação Social no autismo

Pessoas autistas socializam de maneira diferente, e essa forma de se relacionar precisa ser compreendida e acolhida, em vez de corrigida ou julgada.

O que muitas vezes chamamos de “habilidades sociais” são, na verdade, normas impostas por uma perspectiva neurotípica. Isso inclui comportamentos como manter contato visual, sorrir em determinadas situações ou engajar-se em conversas informais.

No caso de pessoas autistas, o contato visual pode ser desconfortável ou excessivamente estimulante, levando à sua evitação. Essa característica, por vezes mal interpretada como falta de interesse ou empatia, na verdade reflete uma maneira diferente de processar estímulos sociais. É importante lembrar que, a parte do autismo, em algumas culturas o contato visual direto não é esperado e deve inclusive ser evitado.

Como os autistas percebem e interagem com o mundo de forma única, a comunicação entre indivíduos neurodivergentes e neurotípicos pode apresentar obstáculos.

As dificuldades não estão apenas de um lado: uma pessoa neurodivergente pode ter dificuldade de entender os códigos sociais implícitos de uma pessoa neurotípica, assim como o contrário também acontece. Essa falta de alinhamento na comunicação cria barreiras relacionais que precisam ser compreendidas com empatia e paciência.

Empatia no autismo: um conceito bidirecional

Existe um equívoco comum de que pessoas autistas não sentem empatia. No entanto, a empatia envolve mais do que emoções — ela depende da capacidade de compreender a experiência do outro, e essa compreensão pode ser desafiadora para ambos os lados.

Tanto indivíduos autistas quanto neurotípicos podem ter dificuldade para se colocar no lugar do outro, justamente por enxergarem o mundo de maneiras diferentes. Por isso, a ideia de que pessoas autistas não têm empatia é incompleta e, muitas vezes, injusta. A empatia, nesses casos, precisa ser entendida como um processo bidirecional, que requer esforço mútuo.

Comunicação no TEA

O autismo pode afetar a fala, o desenvolvimento da linguagem e a comunicação de várias maneiras.

Cerca de uma em cada três pessoas com autismo têm dificuldade em produzir os sons da fala de forma eficaz. Quando a linguagem verbal está presente, ela pode ser difícil de compreender.

Uma pessoa com TEA pode não desenvolver a linguagem verbal, emitindo apenas grunhidos, gritos, sons guturais, balbuciando ou utilizando palavras incomuns. Também é possível que apresente uma fala monótona ou robótica.

Essas crianças podem, ainda, repetir palavras ou frases que ouviram, o que é chamado de ecolalia, e podem usar um tom de voz sem entonação ou expressão emocional.

Outros indivíduos com TEA, no entanto, desenvolvem um bom padrão de linguagem, precisando apenas de trabalho de articulação para melhorar a clareza de sua fala.

Além da fala, a comunicação do autista pode ser comprometida de outras maneiras, incluindo:

  • Dificuldade em manter contato visual;
  • Dificuldade em acompanhar uma conversa em andamento ou participar de conversas casuais;
  • Não perceber que os outros estão desinteressados no que estão falando;
  • Problemas para compreender indirectas, piadas, ironia, sarcasmo e outros aspectos não literais da linguagem.

Além do atraso na linguagem, deve chamar a atenção para o TEA a criança com regressão da linguagem. Isso acontece quando a criança da “um passo atrás” nodesenvolvimento da linguagem, perdendo alguma habilidade previamente adquirida.

Cerca de 30% das crianças diagnosticadas com autismo sofrem de regressão da linguagem em algum momento ao redor dos dois ou três anos de idade,

Desenvolvimento da linguagem no TEA

Nas crianças neurotípicas, o desenvolvimento da linguagem ocorre de forma natural e gradual. Inicialmente, elas imitam gestos e movimentos, depois começam a repetir sons, que se tornam progressivamente mais complexos até as primeiras palavras, tudo isso por meio da imitação.

Para essa imitação ser bem-sucedida, é necessário que a criança tenha interações sociais, como seguir o olhar de outras pessoas e participar de trocas de atenção. Essas habilidades nem sempre se desenvolvem naturalmente em crianças com TEA. Sem essa base de interação social, o desenvolvimento da fala e da comunicação fica comprometido.

Além disso, para que a criança desenvolva a fala, é fundamental que sua audição esteja funcionando adequadamente. O som é captado pelo ouvido e transmitido ao cérebro por meio do nervo auditivo, onde é interpretado. No entanto, no caso de crianças autistas, o processo de interpretação auditiva (ou “processamento auditivo”) pode ser afetado, dificultando a percepção dos sons — o que faz com que elas pareçam não estar escutando.

Comunicação funcional X ecolalia

Enquanto crianças neurotípicas utilizam a fala de forma funcional desde cedo, como para pedir algo ou expressar sentimentos, no autismo, a fala pode estar presente, mas sem função comunicativa. Isso significa que uma criança com TEA pode imitar a fala de outra pessoa ou até cantar uma música, mas não consegue usar a fala para se comunicar de maneira prática, como para pedir para ir ao banheiro ou informar que está com fome.

Esse fenômeno, conhecido como ecolalia, é uma característica comum do TEA.

Comunicação não verbal e interação social

Além da fala, a comunicação não verbal também pode ser afetada. Crianças autistas geralmente têm dificuldades para interpretar gestos, expressões faciais e diferentes tonalidades de voz. Muitas vezes, elas tomam as falas ao pé da letra, o que pode gerar confusão diante de piadas, sarcasmo, ironias ou outros aspectos implícitos na linguagem.

Além disso, é importante considerar as dificuldades de interação social. A criança autista pode ter dificuldade em entender a dinâmica de uma conversa, que envolve tanto falar quanto escutar. Ela pode não saber como responder de forma apropriada ao que os outros estão dizendo, o que também dificulta sua comunicação social.

Rigidez Comportamental

A rigidez comportamental é uma característica comum em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Ela se caracteriza pela dificuldade em adaptar pensamentos e comportamentos.

Algumas das características que podem ser observadas nesses indivíduos incluem:

  • Brincar sempre com os mesmos brinquedos e objetos;
  • Se alimentar apenas com alimentos específicos preparados da mesma forma (seletividade alimentar);
  • Não aceita mudar as sequências de atividades;
  • Não aceita mudar o caminho para a escola ou outros locais;
  • Mantém o quarto arrumado sempre da mesma forma
  • Não aceita mudanças em geral.

Processamento Sensorial

A síndrome sensorial se refere às dificuldades, bastante comuns em pessoas com TEA, de lidar com excesso de informações e estímulos. Isso cria dificuldades em processar, por exemplo, fome, frio, sono, luzes, sons, etc.

Essas dificuldades se dividem em dois grupos:

  • Hipersensibilidade: é quando a pessoa sente demais os estímulos. Por isso, os sons podem ser, por exemplo, mais altos e estímulos visuais muito fortes;
  • Hipossensibilidade: o indivíduo precisa de muito esforço para sentir qualquer tipo de estimulação. Por isso é comum que pessoas com hipossensibilidade estejam sempre agitadas e em movimento. Assim, ela pode se cortar e não sentir a mesma for que pessoas sem a condição sentiriam.

A síndrome Sensorial é uma condição separada do autismo. Isso significa que nem todas as pessoas autistas têm essas dificuldades sensoriais, assim como nem todos que são diagnosticados com odistúrbios sensoriais estão no espectro do autismo.

Algumas queixas comuns em crianças com Síndrome Sensorial incluem::

  • Se incomodar com sons comuns, como escapamento de motos e fogos de artifício;
  • Dificuldade de processar e expressar sensações de frio, calor, fome, cansaço, entre outras;
  • Cobrir olhos e ouvidos com frequência;
  • Seletividade ou dificuldade alimentar, evitando algumas comidas de determinada textura, sabor ou consitência;
  • Se incomodar com texturas de tecidos ou etiquetas de roupas;
  • Resistir a abraços e toques repentinos;
  • Agitação e necessidade de estar sempre em movimento (por exemplo, a criança não fica sentada por muito tempo e, quando senta, demonstra inquietação);
  • Linguagem imatura e/ou dificuldade na fala;
  • Não sentir ou reclamar de dores quando se machuca.

Diagnóstico do TEA na primeira infância

O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) na primeira infância é desafiador. As crianças ainda estão desenvolvendo habilidades fundamentais de comunicação e interação social que podem acontecer de forma mais rápida ou mais lenta em diferentes pessoas.

Atrasos no desenvolvimento podem, em alguns casos, ser corrigidos com intervenção precoce, sem que isso indique a presença do TEA.

Algumas crianças apresentam características que permitem um diagnóstico  confiável por profissionais experientes antes mesmo dos dois anos de idade, mas esse nem sempre é o caso.

Algumas dessas crianças são inicialmente classificadas como suspeita de autismo, sendo o TEA confirmado ou descartado mais tarde, na infância ou até na adolescência.

Diagnosticar crianças com autismo o mais cedo possível é essencial para garantir que recebam os serviços e apoio necessário para alcançar seu pleno potencial.

Nos casos suspeitos, essas crianças devem receber intervenção precoce da mesma forma que as crianças com diagnóstico já confirmado, para que desenvolvam o máximo de suas capacidades.

Diagnóstico diferencial

O Transtorno do Espectro Autista compartilha de muitos sinais que são comuns a outras condições, o que faz com que o diagnóstico por vezes não seja fácil de ser feito.

Da mesma forma, não é incomum que crianças recebam um diagnóstico errado – atribuindo sintomas do autismo a outras condições ou atribuindo sintomas de outros tipos de problemas a um diagnóstico errado de autismo.

Por esse motivo, a avaliação com um neuropediatra se faz fundamental.

Entre os principais diagnósticos diferenciais do autismo, é preciso considerar:

Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem (TDL)

Transtorno no qual a criança apresenta uma dificuldade persistente para adquirir e desenvolver a fala e a linguagem, em decorrência de uma capacidade limitada de processamento da linguagem.

Deficiência Intelectual sem TEA

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a Deficiência Intelectual (DI) são transtornos do neurodesenvolvimento confundidos com muita facilidade, já que alguns dos sinais característicos do autismo pode também estar presente em pacientes com deficiência intelectual.

Essas são condições diferentes que podem estar presentes de forma isolada ou combinada.

Deficiência Auditiva

Quando há suspeita de TEA, uma das primeiras condições que precisam ser descartadas é a Deficiência Auditiva. A deficiência auditiva poderia justificar a falta de resposta aos estímulos sonoros e também as dificuldades de interação social atribuídas ao autismo .

Depressão

o humor deprimido pode ser caracterizada pela passividade ou falta de expressões faciais, características comuns a muitas crianças autistas.

Esquizofrenia

A Esquizofrenia é um transtorno mental crônico caracterizado pela presença de alucinações, delírio, desorganização do pensamento e isolamento social. O prejuízo social causado por esta patologia, durante muitos anos, foi confundido com o TEA.

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

entendido como um transtorno neurobiológico de origem genética, que inclui três características específicas: o déficit de atenção,

A hiperatividade e a impulsividade característicos do TDAH pode também se fazer presente na criança com TEA. Nesses casos, o TDAH é considerado como uma comorbidade associado ao TEA.

Síndrome de Rett

A Síndrome de Rett é uma síndrome genética que se manifesta exclusivamente no sexo feminino.

Nessas crianças, observa-se o rompimento da interação social, desaceleração do crescimento craniano, perda da coordenação motora ao andar e dos movimentos do tronco, além do desenvolvimento da linguagem se mostrar severamente comprometido.

Comobirdades no Autismo

Comorbidades se referem a outras condições que podem ou não estar presente no indivíduo autista, mas que não fazem parte dos critérios diagnósticos do Transtorno do Espectro Autista.

Ainda que essas comorbidades não faça parte necessariamente do autismo, elas podem impactar diretamente no diagnóstico, tratamento e cuidados com o autista.

Em alguns casos, a identificação da comorbidade em pessoas autistas pode ser desafiadora, uma vez que os sintomas de ambas frequentemente se assemelham ou se confundem entre si. Como exemplo, uma criança com Síndrome de Down pode também ter autismo. Ainda assim os sinais do autismo podem ser atribuídos à Síndrome de Down, de forma que o autismo pode ficar bastante tempo sem o diagnóstico.

As principais comerbidades observadas nos autistas incluem:

  • Epilepsia (25% – 40%)
  • Deficiência Intelectual (40%)
  • Transtornos gastrointestinais
  • Transtornos alimentares, incluindo a seletividade alimentar
  • Distúrios do sono
  • Comorbidades psiquiátricas, incluindo Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH (28%), Transtorno de ansiedade (29%) e Depressão.

TEA e Deficiência Intelectual

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a Deficiência Intelectual (DI) são transtornos do neurodesenvolvimento confundidos com muita facilidade.

Essas são condições diferentes que podem estar presentes de forma isolada ou combinada.

A deficiência intelectual acomete aproximadamente 1% da população, sendo que 10% das pessoas com deficiência intelectual apresentam também o transtorno do espectro autista. Por outro lado, a deficiência intelectual está presente em aproximadamente 30% dos autistas.

Pessoas autistas podem tanto apresentar deficiência intelectual como podem ter inteligência preservada ou mesmo altas habilidades / superdotação (presente em 3% dos autistas).

TEA e Altas Habilidades / superdotação

As altas habilidades podem ser encontradas com frequência em crianças que estão no espectro autista.

Apesar das dificuldades de comunicação e interação social que essa condição pode apresentar, aproximadamente 3% dos altistas possuem um QI compatível com altas habilidades / superdotação.

Vale aqui considerar que uma das características do autismo é o hiperfoco em determinadas atividades ou determinados temas. Essas crianças tendem a adquirir conhecimentos acima da média para essa habilidade, o que não deve ser confundido com Altas Habilidades / Superdotação.

TEA e Epilepsia

A epilepsia é um distúrbio neurológico caracterizado por descargas elétricas anormais e excessivas, levando a movimentos involuntários no corpo. Ela pode envolver breves desligamentos, contrações restritas de grupos musculares e formigamentos.

Muitas vezes, a epilepsia, é associada às crises convulvivas. No entanto, é preciso considerar que a convulsão é apenas um tipo, geralmente mais intenso, de ataque epilético.

Estudos mostram que aproximadamente 30% dos autistas apresentam epilepsia como comorbidade. Os ataques epiléticos acontecem principalmente em momentos de crise e desregulação emocional.

Não existe uma posição clara quanto à causa dessa combinação. No entanto, a visão científica atual indica que existem mecanismos neurológicos compartilhados que contribuem tanto para o TEA quanto para a epilepsia.

TEA e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

Ainda que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) apresentem muitas características em comum, estas são condições diferentes e que precisam ser avaliadas e conduzidas de forma diferente.

Enquanto pacientes com TDAH apresentam maior dificuldade com o controle inibitório, indivíduos com Autismo apresentam maior dificuldade na flexibilidade cognitiva e planejamento.

Ainda assim, a coexistência dos dois diagnósticos não é incomum. Estudos mostram que 14% dos pacientes diagnosticados com TDAH tamém estão no espectro autista. Entre aqueles com diagnóstico de Autismo, até 70% deles também apresentam os critérios diagnósticos do TDAH.

Muitas crianças pequenas apresentam inicialmente o diagnóstico de TDAH, sem que seja feito o diagnóstico de Autismo. Isso pode impactar nas escolhas terapêuticas e também na resposta aos tratamentos.

TEA e Distúrbios do Sono

Distúrbios do sono afetam até 85% dos indivíduos com TEA, sendo esse risco especialmente elevado entre aqueles que apresentam deficiência intelectual e sintomas graves de autismo.

Entre os problemas mais comuns relacionados ao sono no autismo, incluem-se insônia, apneia do sono, sonambulismo e bruxismo.

Diversos fatores podem contribuir para esses distúrbios do sono:

  1. Dificuldade em perceber pistas sociais: As crianças neurotípicas geralmente sabem que, após o jantar, banho e leitura de uma história, chega a hora de ir para a cama. Já os indivíduos com TEA podem ter maior dificuldade em perceber esses sinais, dificultando a transição para o momento de dormir.
  2. Desequilíbrio no ritmo circadiano: Outra explicação possível para a dificuldade de sono é o desequilíbrio no ritmo circadiano. Esse ritmo regula o relógio biológico do corpo, preparando a mente e o corpo para períodos de vigília ou sono. Nos indivíduos com TEA, um dos principais reguladores desse ritmo, a melatonina, tende a ser liberada de maneira irregular, o que afeta o ciclo de sono.

Os problemas de sono podem agravar ainda mais os desafios comportamentais em crianças e adolescentes com TEA. Noites mal dormidas podem intensificar sintomas do autismo, prejudicando o equilíbrio emocional, comportamental, de humor e até função cognitiva.

TEA e Transtornos Alimentares

O Transtorno do Espectro Autista está relacionado a uma incidência elevada de diferentes formas de transtornos alimentares, incluindo a seletividade alimentar, a anorexia e a compulsão alimentar.

Entre os fatores que contribuem para essa alta incidência devemos considerar:

  • Rigidez comportamental, levando a uma rotina alimentar igualmente restrita e rígida
  • sensibilidade sensorial, que faz com que evitem alterações na textura, gosto e temperatura dos alimentos.
  • Maior dificuldade em identificar que está saciado;
  • Utilizar a comida como estratégia de fuga;

Seletividade alimentar

A seletividade alimentar é um problema comum a muitas crianças, mas ainda mais comum entre os autistas.

Essas crianças buscam comer apenas alimentos que são vistos como seguros ou aceitáveis, ou seja, não há rotatividade alimentar. Elas desenvolvem o hábito de comer sempre o mesmo alimento, textura e tempero, o que leva a uma certa monotonia alimentar.

Alguns dos sinais que indicam a seletividade alimentar incluem-se:

  • Alegar que não gostam de determinados alimentos, antes mesmo de experimentá-los;
  • Escolha sempre pelos mesmos alimentos, mesmas marcas ou modo de preparo dos alimentos;
  • Sentir aversão a grupos alimentares inteiros, como frutas, vegetais ou leguminosas;
  • Ficar angustiado quando é encorajado a experimentar alimentos diferentes, seja por causa de uma fobia ou medo de engasgar ou vomitar;
  • Apresentar náusea e vômito ao se deparar com a necessidade de comer novos alimentos.

Anorexia nervosa

Pacientes com TEA apresentam maior risco para anorexia.

Semelhanças foram observadas entre perfis cognitivos de anorexia nervosa (AN) e transtornos do espectro do autismo (TEA) (1).

Tanto o TEA quanto a anorexia nervosa são caracterizados pela presença de padrões obsessivos, limitados e repetitivos de comportamentos e interesses. Além disso, há uma predisposição para rotinas estritas e dificuldades com interações sociais.

Compulsão alimentar

Ao mesmo tempo em que alguns indivíduos autistas desenvolvem anorexia nervosa, outros apresentam o problema oposto, que é a compulsão alimentar.

O autista pode ter uma maior dificuldade em identificar que está saciado, de forma que seguem comendo por mais tempo quando a comida está disponível. Além disso, alguns deles podem utilizar a comida como estratégia de fuga em momentos de dificuldade.

Classificação do Autismo

O Transtorno do espectro autista é classificado de forma diferente pelo CID11 e pelo DSM5.

A CID 11 é um termo que se refere a “Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde”.

Ele se refere a uma padronização desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para identificação de doenças e condições médicas.

A classificação envolve uma lista de códigos, sendo esse o padrão adotado oficialmente no Brasil.

Já o DSM5 é a sigla para “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders”, que em português significa “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais”.

É um manual escrito pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) que serve para padronizar os critérios de diagnóstico de doenças mentais.

Classificação do autismo – CID11

Na CID-11, o Transtorno do Espectro do Autismo é identificado pelo código 6A02 em substituição ao F84.0, e as subdivisões passam a estar relacionadas com a presença ou não de Deficiência Intelectual e/ou comprometimento da linguagem funcional:

6A02.0 – Transtorno do Espectro do Autismo sem Transtorno do Desenvolvimento Intelectual e com leve ou nenhum comprometimento da linguagem funcional.

6A02.1 – Transtorno do Espectro do Autismo com Transtorno do Desenvolvimento Intelectual e com leve ou nenhum comprometimento da linguagem funcional.

6A02.2 – Transtorno do Espectro do Autismo sem Transtorno do Desenvolvimento Intelectual e com linguagem funcional prejudicada.
6A02.3
 – Transtorno do Espectro do Autismo com Transtorno do Desenvolvimento Intelectual e linguagem funcional prejudicada.

6A02.5 – Transtorno do Espectro do Autismo com Transtorno do Desenvolvimento Intelectual e ausência de linguagem funcional.

Classificação do Autismo – DSM5

O DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, fifth edition) classifica o autismo em três níveis, de acordo com o nível de suporte necessário:

  • Nível 1: necessita de suporte pontual
  • Nível 2: necessita de suporte frequente
  • Nível 3 necessita de suporte extensivo

Essa classificação passou a ser usada em substituição à classificação em níveis leve / moderado / grave.

Uma das justificativas para isso é a designação de um autismo como leve pode muitas vezes ser mal interpretada.

A própria deficição do autismo diz que “O prejuízo precisa ser clinicamente significativo”, o que vai na contamão de um comprometimento “Leve”.

Nível 1

O nível 1 é a forma mais leve do TEA. Ele é caracterizado por dificuldades na interação social e comunicação, bem como pelos comportamentos repetitivos e interesses restritos.

As pessoas com TEA no nível 1 podem ter dificuldade em iniciar ou manter conversas, interpretar expressões faciais e entender as nuances da linguagem. Porém, por se apresentarem de forma mais suave, normalmente essas dificuldades não são limitantes para a interação social.

Indivíduos com TEA no nível 1 geralmente têm habilidades de linguagem e comunicação relativamente intactas e podem se adaptar bem a mudanças na rotina.

Nível 2

O TEA nível 2 se caracteriza por dificuldades significativas na comunicação e na interação social.

Pessoas neste nível podem enfrentar maiores desafios para iniciar ou manter conversas, interpretar expressões faciais e compreender nuances da linguagem.

Indivíduos com TEA no nível 2 apresentam maior dificuldade para se adaptar a mudanças na rotina e podem necessitar de apoio extra para lidar com situações sociais mais complexas.

Nível 3

O nível 3 é a mais grave do TEA. Além de apresentarem as características já descritas nos níveis 1 e 2, este também é caracterizado por dificuldades significativas de comportamentos repetitivos.

Normalmente, possuem uma deficiência mais severa nas habilidades de comunicação, tanto verbal quanto não verbal, e, consequentemente, dependem de maior apoio para se comunicar. Isso pode resultar em dificuldades nas interações sociais e uma redução na cognição.

Além disso, eles tendem a apresentar um perfil comportamental inflexível e podem ter dificuldades em se adaptar a mudanças, o que pode levá-los a se isolar socialmente se não forem incentivados.

Crises Disruptivas

O que são as crises Disruptivas?

Crises disruptivas em pessoas com autismo se referem a momentos em que ela perde o controle emocional e apresenta comportamentos extremos.

Qual a causa das crises disruptivas no autismo?

Diferentes motivos podem desencadear uma crise disruptiva em pessoas autistas, incluindo:

Sobrecarga sensorial

O autista tem habitualmente uma maior dificuldade para lidar com excesso de informações e estímulos. Assim, ambientes barulhentos, luminosos ou caóticos podem ser mal assimilados e podem desencadear uma crise disruptiva.

Mudanças na rotina

A rigidez na rotina é uma característica comum do autismo. Alterações inesperadas em suas rotinas podem dessa forma provocar sobrecarga e estresse. Isso pode acontecer por exemplo ao mudar o caminho para a escola ou quando uma pessoa diferente do habitual vai busca-la na escola.

Barreiras na comunicação

Dificuldades na comunicação podem levar a frustrações, especialmente quando a pessoa autista não consegue expressar suas vontades e suas necessidades de forma adequada.

Estresse social

interações sociais podem ser desafiadoras para indivíduos autistas. Eles podem ter dificuldade em acompanhar conversas ou em compreender o que outras pessoas querem expressar por meio de expressões faciais ou por meio da intonação da voz, por exemplo. Essa dificuldade pode gerar estresse e desencadear uma crise disruptiva.

Como são as crises disruptivas?

Indivíduos autistas podem reagir de diferentes formas durante uma crise disruptiva. Podemos divivir essas crises em dois tipos:

Meltdown

É uma crise mais explosiva, com perda de controle emocional e comportamentos agressivos e repetitivos.

Ela pode envolver gritos, choros, enjoos, tremores, mal-estar, automutilação ou agressividade contra terceiros.

O termo Meltdown poderia ser traduzido como “derretimento”. Ele busca expressar as sensações vividas durante essa crise.

Shutdown

É uma crise mais interna e silenciosa, em que a pessoa se desliga ou se dissocia do ambiente. O indivíduo pode apresentar falta de comunicação, olhar vago e respiração atípica.

Essas crises, ainda que imponham sofrimento ao indivíduo, tendem a ser mais discretas, podendo passar despercebidas por quem não sabe o que está acontecendo.

A tradução do termo Shutdown seria “desligamento do sistema”

Como agir durante uma crise disruptiva?

Para ajudar uma pessoa com autismo em crise, é importante manter uma voz calma e acolhedora e leva-la para um local silencioso e calmo, onde ele terá menos estímulos para gerenciar.

Deve-se evitar durante a crise fazer perguntas ou comentários em excesso sobre o que está acontecendo no momento, já que isso pode gerar ainda mais estresse e potencializar as crises.

De outra forma, mudar o foco para outras coisas que sejam do interesse da pessoa podem ajuda-la a tirar a atenção do problema e com isso, ajuda-la a sair da crise.

Uma vez que a crise disruptiva esteja controlada, é importante que os cuidadores busquem compreender o que aconteceu antes da crise. A partir disso, é possível criar estratégias para evitar situações semelhantes e também estratégias que ajudem o indivíduo a assimilar uma situação parecida no futuro.

Por fim, é importante também que se avalie o que funcionou e o que não funcionou para tirá-la da crise, de forma a criar um “plano de ação” no caso de crises futuras.

Tratamento do Autismo

O autismo pode se manifestar de maneiras bastante diferentes de paciente para paciente, de forma que o tratamento deve ser sempre individualizado de acordo com as necessidades específicas de cada paciente.

Não existem medicamentos para tratar os principais sintomas do TEA. Entretanto, a medicação pode ajudar no controle de algumas condições associadas, como ansiedade, depressão, convulsões, problemas de sono ou problemas gastrointestinais.

Como regra geral, o tratamento deve incluir:

Terapias Comportamentais

Diferentes formas de abordagens comportamentais visam incentivar comportamentos desejados, enquanto desestimulam os comportamentos indesejados.

Abordagens psicológicas também podem ajudar o paciente a lidar com ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental.

As terapias comportamentais com maiores evidências no tratamento do autismo são aquelas baseadas nos princípios da Análise do Complortamento Aplicato, também chamadas de Terapias ABA.

Fonoaudiologia

A fonoaudiologia se concentra na melhoria das habilidades de linguagem.

Algumas pessoas se comunicam verbalmente, enquanto outros podem se comunicar por meio de sinais, gestos ou imagens.

Terapia Ocupacional

A Terapia Ocupacional ensina habilidades que ajudam a pessoa a viver da forma mais independente possível. Isso pode incluir técnicas para se vestir, comer, tomar banho e se relacionar com as pessoas.

Outra abordagem fundamental da Terapia Ocupacional no Autismo está relacionada ao desenvolvimento da capacidade de processamento sensorial. As maiores evidências nesse sentido estão relacionadas às técnicas desenvolvidas por Jean Ayres, chamdas também de “Processamento Sensorial de Ayres”.

Fisioterapia

A Fisioterapia pode ajudar com a melhora de habilidades físicas, incluindo movimentos finos dos dedos ou movimentos envolvendo as grandes articulações.

Abordagens Educacionais

Tratamentos educacionais envolvem diferentes abordagens a serem feitas em sala de aula.

O paciente autista tende a responder melhor, por exemplo, para instruções visuais/ físicas, quando comparado com instruções verbais.

 

Terapia ABA

O que é a Análise do Comportamento Aplicada (ABA)?

A Análise do Comportamento Aplicada (ABA, do inglês Applied Behavior Analysis) é uma ciência que busca analisar e explicar a interação entre o ambiente, o comportamento e a aprendizagem.

A terapia ABA envolve um conjunto de intervenções baseadas nos princípios da ciência ABA. Entre as principais formas de intervenção, destacam-se o Discrete Trial Training (DTT) e o Denver Model, entre outras.

Embora a terapia ABA possa ser aplicada a diversos transtornos do neurodesenvolvimento, ela se consolidou como a principal abordagem para o tratamento de pessoas no espectro autista, tanto crianças quanto adultos.

Essa ciência é, inclusive, a abordagem recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para pessoas com desenvolvimento atípico, especialmente no caso do autismo.

Por ser um método científico, tudo o que é proposto dentro das intervenções ABA foi submetido a testes empíricos e é fruto de pesquisa científica com rigor metodológico.

Como é feita a Terapia ABA?

As intervenções baseadas em ABA são divididas em algumas etapas. São elas:

  1. Anamnese;
  2. Avaliação comportamental
  3. Definição de objetivos
  4. Plano de intervenção
  5. Implementação
  6. Revisão contínuada
Anamnese

A anamnese é uma entrevista que o profissional faz com a criança e a família, buscando entender a condição da criança. Ela é que irá direcionar as avaliações subsequentes.

Avaliação comportamental

A Terapia baseada em ABA começa com uma avaliação completa do comportamento da criança.

Essa avaliação pode incluir habilidades sociais, linguagem, brincadeiras, autocuidado e habilidades acadêmicas.

Durante a avaliação, busca-se identificar dois aspectos principais:

  1. Comportamentos em excesso: tudo o que prejudica o indivíduo, incluindo comportamentos de crise e aqueles que colocam em risco a integridade física, como agressões e autoagressões.
  2. Comportamentos em déficit: comportamentos que deveriam estar presentes, mas não estão.

O terapeuta deve investigar o que acontece antes e depois do comportamento para identificar os eventos antecedentes e consequentes, o que ajuda a desenvolver estratégias eficazes para reduzir comportamentos desafiadores.

Com base nas respostas obtidas e interpretadas conforme a realidade da criança, o terapeuta identifica as áreas que precisam ser estimuladas ou coibidas.

Definição de objetivos

Após a avaliação da criança, é necessário definir os objetivos da intervenção.

Geralmente, uma série de comportamentos em excesso ou comportamentos em déficit são identificados. No entanto, tentar trabalhar todas essas necessidades de uma só vez é infrutífero e pode levar à frustração da criança, da família e do terapeuta.

Portanto, é fundamental que as prioridades sejam estabelecidas. A prioridade será sempre a abordagem dos comportamentos em excesso ou em déficit que causem os maiores prejuízos ao indivíduo.

Os objetivos devem ser claros e mensuráveis. Segue um exemplo disso:

  • Objetivo claro e mensurável: “Sustentar o olhar por dois segundos ao ser chamado por pelo menos três pessoas diferentes em um mesmo dia”.
  • Objetivo vago: “Desenvolver as habilidades sociais”, Esse não é um objetivo mensurável, não sendo possível determinar se ele foi atingido ou não de forma objetiva.

Plano de Intervenção

A partir da definição dos objetivos, é feito um plano de intervenção. Esse plano, da mesma forma, precisa ser claro e objetivo.

A ABA utiliza técnicas de reforço positivo para o desenvolvimento de comportamentos desejados. Quando uma criança realiza uma ação desejada, ela é recompensada com algo que valoriza, como elogios, brinquedos ou atividades favoritas.

Faz parte também do plano de intervenção a criação de uma folha de registros.

Toda tentativa de intervenção deve ser anotada em uma folha de registro. Nessa folha, deve ser anotado se o objetivo foi atingido, bem como se a criança precisou de ajuda para atingir o objetivo.

Implementação

A intervenção comportamental é feita um-a-um, ou seja, um terapeuta para uma criança.

Após a definição de um plano terapêutico, o terapeuta especializado em ABA e que está responsável pelo tratamento treina outras pessoas envolvidas para que possam implementar o plano que foi desenvolvido. Essa pessoa pode ser pai, mãe, outros familiares, o acompanhante terapêutico na escola ou mesmo um terapeuta menos capacitado.

Revisão contínua

De tempos em tempos (habitualmente uma vez por semana) é feita uma avaliação da folha de registro pelo terapeuta especializado em ABA.

A partir disso, o plano terapêutico será revisado. Eventualmente, novas intervenções podem ser incluídas e outras podem ser colocadas em uma etapa de “manutenção”.

Quem pode aplicar a ABA?

No Brasil, o analista ABA não é considerado uma profissão regulamentada, e não existe uma certificação oficial em Análise do Comportamento Aplicada (ABA).

Isso é diferente do que acontece nos Estados Unidos, onde há uma certificação obrigatória para quem deseja trabalhar com ABA: o Board Certified Behavior Analyst (BCBA).

Até 2023, brasileiros podiam obter a certificação BCBA. Mas, desde então, ela foi restrita a moradores dos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Austrália.

A falta de certificação no Brasil faz com que muitos profissionais se autodenominem “terapeutas ABA”, mesmo sem a formação adequada para tal.

Como resultado, muitas pessoas acabam sendo mal assistidas por profissionais que não possuem a devida capacitação.

Embora a certificação para analistas do comportamento não seja obrigatória no Brasil, a Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC) desenvolveu uma acreditação própria, que atesta que o profissional passou por uma capacitação mínima para atuar como analista ABA.

Níveis de prestadores de serviço ABA

A operacionalização da intervenção ABA requer diferentes prestadores de serviços com diferentes níveis de formação.

A Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental divide os profissionais em três níveis:

Supervisor ABA

Profissionais com título de Mestre ou Doutor em Análise do Comportamento, Psicologia Experimental ou áreas associadas ao desenvolvimento atípico (ex., Psicologia, Educação, Educação Especial, Distúrbios do Desenvolvimento, Psiquiatria)

As principais funções do supervisor ABA são:

  • Orientar e treinar terapeutas;
  • Desenvolver planos individualizados de tratamento;
  • Monitorar o progresso dos pacientes;
  • Garantir a qualidade do tratamento;
  • Gerir relações humanas e administrativas;
  • Planejar intervenções;
  • Supervisionar profissionais e familiares envolvidos.
Coordenador ABA

Profissionais com pós-Graduação Lato Sensu em Análise do Comportamento Aplicada (ex., Clínica Analítico Comportamental, Terapia Comportamental).

São atribuições do Coordenador ABA:

  • Avaliar o repertório comportamental do paciente
  • Supervisionar o trabalho do aplicador ABA
  • Intervenir no planejamento do caso
  • Garantir um tratamento eficaz, respeitoso e focado no bem-estar do paciente
  • Facilitar a terapia
Aplicador ABA

O aplicador ABA deve ter realizado no mínimo 40h de Cursos Livres para se preparar para o trabalho com ABA.

Ele é o responsável pelo dia a dia do paciente com TEA ou outras neurodivergências. Pode atuar em casa, na escola ou em outros ambientes.

Suas principais atribuições incluem:

  • Acompanhar o paciente diariamente, aplicando o plano de tratamento;
  • Desenvolver habilidades de autonomia e independência;
  • Prevenir e reduzir problemas de comportamento;
  • Ajudar a família a adaptar-se e a desenvolver independência;
  • Intervir em situações de risco;
  • Comunicar-se com a equipe técnica e com os familiares;
  • Preencher relatórios sobre a evolução do paciente.

 

Modelo Denver de Intervenção Precoce

O que é o Modelo Denver de Intervenção Precoce?

O Modelo Denver é uma terapia comportamental desenvolvida para crianças entre 12 e 48 meses de idade, com diagnóstico ou suspeita de Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Baseado nos princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), o Modelo Denver segue uma abordagem respaldada por evidências científicas, com diversos estudos comprovando a eficácia das intervenções que ele propõe.

Nesse modelo, a criança é incentivada a aprimorar habilidades linguísticas, sociais e cognitivas por meio de brincadeiras naturais e atividades cotidianas.

O Modelo Denver pode beneficiar tanto crianças com desafios de aprendizagem significativos quanto aquelas com dificuldades de aprendizagem menores.

Essa terapia pode ser aplicada em diversos ambientes, como em casa, em clínicas ou na escola. Nas clínicas, a intervenção pode ser realizada em ambientes de grupo ou de forma individualizada.

O envolvimento dos pais é uma parte fundamental do programa Denver. Os terapeutas devem explicar e modelar as estratégias utilizadas para que as famílias possam praticá-las também em casa.

Quais profissionais atuam com o Modelo Denver?

O Early start Denver Model é uma marca registrada e que exige certificação específica do profissional para que possa aplicá-lo.

Profissionais de diferentes áreas podem ser treinados e registrados para aplicar o Denver, incluindo:

  • Psicólogo;
  • Terapeuta ocupacional;
  • Fonoaudiólogo;
  • Pdediatras / neuropediatras / Pediatras do desenvolvimento.

Como é feita a Terapia Denver?

O Método Denver envolve um conjunto de abordagens com o objetivo de estimular a interação social e promover o desenvolvimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Ele busca explorar os interesses naturais da criança para potencializar sua aprendizagem, moldando as atividades cotidianas entre a criança e seus cuidadores.

Assim, as intervenções ocorrem de acordo com a motivação da criança, adolescente ou adulto no espectro. A equipe busca o aprendizado por meio de atividades que são reforçadoras para esses indivíduos.

O passo a passo das intervenções em Denver inclui:

  1. Observação: a intervenção começa com a observação do indivíduo em seu próprio contexto, sem que se imponha uma atividade. O terapeuta acompanha a rotina e atividades recorrentes para entender onde existem dificuldades, quais habilidades já foram adquiridas e quais precisam ser reforçadas.
  2. Registro: enquanto observa, o terapeuta identifica diferentes possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento para o indivíduo.
  3. Planejamento e início da intervenção: a partir dos registros, é feito o planejamento, e o indivíduo começa a aprender novas habilidades a partir de suas atividades cotidianas.

Os principais objetivos das intervenções no Modelo Denver incluem:

  • Foco no envolvimento interpessoal.
  • Desenvolvimento da imitação fluente, recíproca e espontânea de gestos, movimentos, expressões faciais e uso de objetos.
  • Ênfase no desenvolvimento da comunicação verbal e não verbal.
  • Foco nos aspectos cognitivos da brincadeira, realizadas em rotinas de brincadeira diádica.
  • Parceria com os pais.

Abordagem da Fonoaudiologia

O primeiro passo na abordagem fonoaudiológica de uma criança autista com dificuldades de comunicação é identificar os pontos de bloqueio para o desenvolvimento da linguagem.

Por exemplo, não adianta tentar estimular a fala se a criança não consegue manter o contato visual ou interagir e imitar ações de outras pessoas.

Alguns indivíduos apresentam dificuldades mais específicas, que podem ser trabalhadas durante as sessões de fonoaudiologia. Em outros casos, as limitações podem ser mais profundas, tornando necessária a utilização de recursos de comunicação alternativa.

Comunicação Alternativa: Quando e Como Utilizar

A comunicação alternativa envolve um conjunto de estratégias e recursos que auxiliam crianças que não conseguem falar a se comunicar de maneira eficaz.

Esses recursos podem ser divididos em dois tipos: com apoio e sem apoio.

  • Sem apoio: A comunicação é realizada por meio de recursos próprios da pessoa, como gestos, expressões faciais, linguagem de sinais, movimentos corporais, piscar de olhos, entre outros.
  • Com apoio: Utiliza materiais e dispositivos especiais, como imagens, livros ilustrados, tablets, placas com símbolos, vocalizadores, entre outros.

Integração Sensorial de Ayres

A Terapia de Integração Sensorial é uma abordagem terapêutica utilizada para tratar disfunções sensoriais, auxiliando os pacientes na modulação da informação sensorial e organizando o processamento das respostas mais adequadas aos diferentes estímulos.

A Integração Sensorial de Ayres, baseada em evidências científicas, foi descrita e registrada por A. Jean Ayres, sendo considerada a abordagem com mais respaldo para o tratamento de disfunções sensoriais, especialmente em pessoas com autismo.

Por ser uma metodologia registrada, somente profissionais que passaram por treinamento especializado e receberam a certificação específica podem se denominar terapeutas de Integração Sensorial de Ayres.

A teoria de Ayres foca em três sistemas sensoriais essenciais: o tátil, o vestibular e o proprioceptivo.

Sistema Vestibular

O sistema vestibular está localizado no ouvido interno, ao lado dos receptores da audição. Ele nos permite perceber nossa posição no espaço, como, por exemplo, se estamos de cabeça para baixo, girando ou caindo.

Pessoas com autismo podem ter uma sensibilidade diferente em relação ao sistema vestibular:

  • Hipersensibilidade Vestibular: Indivíduos com essa condição sentem-se como se estivessem constantemente em movimento, como se estivessem dentro de um barco. Isso pode fazer com que evitem atividades como carrosséis, balanços e até mesmo o simples ato de ficar de cabeça para baixo. Elevadores podem causar medo, devido à sensação de movimento.
  • Hipossensibilidade Vestibular: Já indivíduos com o sistema vestibular hipossensível têm dificuldades em permanecer parados e frequentemente buscam movimento, especialmente atividades rotatórias, como girar, balançar-se ou se colocar de cabeça para baixo.

No caso da hipersensibilidade vestibular, a terapia pode envolver brincadeiras que estimulem movimentos controlados, como rodar, balançar, pular ou correr, sempre observando a reação da criança para evitar superexcitação.

Para aqueles com hipossensibilidade, brincadeiras como “Estátua”, que envolvem pausas repentinas, podem ser úteis para ajudá-los a regular o movimento.

Propriocepção

A propriocepção é a habilidade do corpo de perceber sua posição no espaço e ajustar-se para manter o equilíbrio durante o movimento ou em repouso. Ela permite, por exemplo, que possamos caminhar sem olhar para os pés o tempo todo.

Crianças com dificuldades proprioceptivas podem parecer descoordenadas ou “atrapalhadas”. Elas buscam desafios que estimulem essas sensações corporais e, frequentemente, podem ficar agitadas em ambientes com pouca estimulação sensorial. Em contrapartida, algumas crianças podem se mostrar menos ativas, evitando desafios motores.

Sensibilidade Tátil

A sensibilidade tátil está relacionada à percepção de estímulos através do toque. Ela envolve a capacidade de identificar e interpretar texturas, temperaturas, pressões e até mesmo dor.

Pessoas autistas com hipersensibilidade tátil podem ter reações exageradas ou aversivas a estímulos comuns, como o toque de roupas, superfícies ou até mesmo abraços. Essa sensibilidade pode causar desconforto, ansiedade e até evitar situações com contato físico, como interações sociais ou até mesmo a simples necessidade de usar roupas ou objetos com texturas específicas.

Inclusão Escolar no TEA

O primeiro passo para a inclusão escolar de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é garantir o acesso à educação, preferencialmente na rede regular de ensino, seja ela pública ou privada.

No entanto, estar matriculado na escola não é suficiente. Quando um aluno com TEA — ou com qualquer outro tipo de deficiência — é admitido, é dever da instituição de ensino desenvolver um projeto pedagógico individualizado, com atendimento educacional especializado e adaptações razoáveis. O objetivo é garantir que esses estudantes tenham pleno acesso ao currículo escolar em condições de igualdade com os demais alunos.

Ou seja, é a escola que deve se adaptar às necessidades da criança com deficiência, e não o contrário.

Além do conteúdo acadêmico, esses alunos também têm o direito de participar, em igualdade de condições, de atividades recreativas, esportivas e de lazer, promovidas pela instituição.

Cobrança Adicional em Escolas Particulares é Ilegal!

É importante destacar que escolas particulares não podem cobrar valores extras ou estabelecer mensalidades diferenciadas para alunos com TEA, mesmo que ofereçam serviços de apoio especializado. Essa prática é expressamente proibida por lei e configura discriminação.

Plano Educacional Individualizado (PEI)

O Plano Educacional Individualizado (PEI) é um instrumento de planejamento e acompanhamento do processo de aprendizagem e desenvolvimento de estudantes com deficiência, Transtorno do Espectro Autista (TEA) e altas habilidades/superdotação.

Como o próprio nome diz, ele deve ser elaborado de forma individualizada, considerando-se a trajetória e a necessidade de cada criança.

O PEI é desenvolvido por uma equipe multidisciplinar de atendimento especializado, devidamente habilitada e qualificada, com base em protocolos cientificamente validados. Essa elaboração deve também contar com a participação do aluno (sempre que possível) e de seus pais ou responsáveis.

Outras fontes poderão ser utilizadas para a elaboração do PEI, como laudos, pareceres técnicos e avaliações pedagógicas, emitidos, inclusive, por equipes externas à escola que acompanham o estudante.

O PEI não poderá ser posto em execução sem a anuência dos pais ou responsáveis e do próprio educando, sempre que possível.

Fazem parte do PEI:

  1. a avaliação do estudante: realizada por meio de protocolo de avaliação cientificamente validado, que contemple o exame dos domínios das habilidades da criança;
  2. Objetivos mensuráveis de ensino, em termos de habilidades-alvo a serem desenvolvidas, acompanhadas das metas mínimas aceitáveis como critério de aprendizagem;
  3. Programas de ensino aplicáveis para cada objetivo estabelecido. Esse programa deve incluir:
  4. Descrição dos procedimentos de ensino aplicáveis a cada habilidade-alvo;
  5. Frequência e prazo de aplicação para cada procedimento;
  6. Formulários de registro de execução de cada procedimento e dos resultados objetivamente alcançados;
  7. Meios de monitoramento e de avaliação dos resultados dos programas.
  8. Recursos de acessibilidade utilizados para a execução dos programas;
  9. Protocolo de conduta individualizado, contemplando as orientações a serem seguidas tanto pelos profissionais como pelos demais estudantes na interação com a criança em questão, incluindo a forma e aspectos de comunicação;
  10. Diretrizes para adaptação de atividades e de avaliações.

Relação das Crianças com Autismo e os Colegas na Escola

Sem a devida intervenção e suporte, é comum que as dificuldades de comunicação e interação social — características do Transtorno do Espectro Autista (TEA) — levem ao isolamento social dessas crianças no ambiente escolar.

Esse afastamento não afeta apenas os estudantes com autismo. Os colegas perdem a oportunidade de vivenciar uma escola verdadeiramente inclusiva, plural e democrática, baseada em valores como empatia, criatividade, colaboração e diversidade.

A ideia preconceituosa de que a presença de alunos com deficiência “atrapalha” o aprendizado coletivo não se sustenta diante das evidências científicas. Diversos estudos apontam que o ambiente inclusivo beneficia a todos os alunos, promovendo um ambiente mais colaborativo, respeitoso e humano.

Mais do que um espaço para a transmissão de conteúdo acadêmico, a escola é um lugar essencial para o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais. Aprender a conviver com as diferenças é uma lição que vai muito além da moral: é uma preparação para a vida em sociedade.

Se até pouco tempo atrás crianças com deficiência eram mantidas em casa ou em instituições especializadas, hoje felizmente vemos um movimento crescente de inclusão não apenas nas escolas, mas também em outros contextos sociais e no mercado de trabalho.

Podemos afirmar, portanto, que essa interação entre alunos com e sem deficiência é fundamental para o desenvolvimento de ambos os grupos — e indispensável para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Habilidades Educacionais em Crianças com Autismo (TEA)

O Plano Educacional Individualizado (PEI) para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) deve ir além do ensino de conteúdos acadêmicos tradicionais. É essencial considerar também o desenvolvimento de suas habilidades de aprendizagem — ou seja, aquelas competências que permitem que a criança participe de forma funcional e produtiva no ambiente escolar.

Entre essas habilidades estão:

  • Permanecer sentado durante as atividades;
  • Manter contato visual durante interações;
  • Esperar a sua vez para falar;
  • Compreender e seguir instruções (participar da rotina escolar, realizar tarefas);
  • Solicitar ajuda ou expressar necessidades básicas, como pedir para ir ao banheiro.

Embora todas as crianças passem por esse processo de aprendizagem, os estudantes com TEA costumam enfrentar maiores desafios nessas áreas. Por isso, a intervenção precisa ser planejada com base em suas necessidades específicas.

A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) tem se mostrado uma abordagem eficaz para o desenvolvimento dessas habilidades. Estratégias baseadas em ABA permitem a estruturação de rotinas, o reforço positivo de comportamentos desejados e a redução de comportamentos que interferem negativamente na aprendizagem.

Em alguns casos, pode ser necessário contar com a presença de um mediador escolar, que atua como apoio direto da criança em sala de aula, ajudando na comunicação, socialização e adaptação das atividades ao seu nível de desenvolvimento.

Mediador Escolar

O mediador escolar, também conhecido como tutor escolar, é a pessoa responsável por promover a inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outras necessidades educacionais especiais no ambiente escolar.

Seu principal papel é facilitar a interação entre a criança, os colegas, os professores e a família, promovendo a comunicação, o convívio social e a mediação de conflitos.

Apesar da importância do mediador, é fundamental compreender que ele não substitui o professor regente, nem atua diretamente no ensino de habilidades pedagógicas. Essa responsabilidade continua sendo do professor da sala de aula.

Nem todo aluno com TEA precisa de mediador

A presença de um mediador escolar não é necessária ou benéfica para todas as crianças com autismo. Quando mal aplicada, a mediação pode ser prejudicial ao desenvolvimento da independência da criança, um aspecto essencial para sua qualidade de vida atual e futura. Por isso, a decisão sobre a necessidade de um mediador deve ser embasada em uma avaliação criteriosa.

Um dos instrumentos recomendados para essa avaliação é o VB-MAPP (Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Program), traduzido e validado para o português. Essa ferramenta permite a análise do repertório da criança em 13 domínios diferentes, além de identificar barreiras de aprendizagem, como agressividade ou dificuldades de socialização. O protocolo pode ser aplicado por professores de Educação Especial capacitados.

Aspectos legais

De acordo com a Lei Federal nº 12.764, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, “em casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do espectro autista terá direito a acompanhante especializado”. Isso significa que o diagnóstico de autismo, por si só, não garante o direito automático ao mediador — é preciso comprovar a real necessidade desse suporte.

Contudo, a falta de critérios objetivos na legislação gera interpretações variadas. Na prática, muitos sistemas educacionais negam o direito ao mediador por razões orçamentárias. Como resultado, famílias costumam recorrer à via administrativa (com baixa taxa de sucesso) e, posteriormente, à justiça, onde as decisões costumam ser mais favoráveis à concessão do apoio.

Desafios alimentares no TEA

A seletividade alimentar é um problema bastante comum entre crianças em geral e ainda mais prevalente naquelas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Diversas características do TEA contribuem para esse quadro, principalmente:

  • Rigidez comportamental e a necessidade de rotina, que se estendem aos hábitos alimentares;
  • Hipersensibilidade sensorial, gerando aversão a determinadas texturas, sabores ou cheiros.

O primeiro passo na avaliação da seletividade alimentar em crianças com autismo é identificar, de forma individualizada, quais fatores estão contribuindo para a recusa alimentar.

É essencial também descartar possíveis condições médicas associadas que possam estar agravando o problema, como a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), alergias alimentares ou intolerâncias.

A avaliação com o pediatra deve incluir uma análise do estado nutricional da criança e a identificação de possíveis deficiências nutricionais decorrentes da alimentação restrita. Em alguns casos, a suplementação nutricional pode ser indicada.

Além da avaliação médica, é necessário considerar aspectos próprios do TEA que podem tornar o tratamento mais desafiador.

As mudanças alimentares em crianças com seletividade devem ser feitas de forma gradual e com a participação ativa da criança. No entanto, isso pode ser mais difícil no autismo, devido a limitações na comunicação e interação social. Em muitos casos, até mesmo manter a criança sentada à mesa durante as refeições pode representar um grande desafio difícil de ser transposto.

Prognóstico

Algumas crianças com autismo leve podem apresentar alguma melhora entre os 4 e os 6 anos de idade, especialmente aquelas que receberam tratamento precocemente.

Algumas destas crianças passam a ter um melhor convívio social com outras crianças da mesma idade e eventualmente podem ter uma vida independente quando adultas.

Por outro lado, a maior parte dos pacientes apresenta limitações importantes ao longo de toda a vida.

Diferentes estudos mostram que:

  • Entre 25% e 70% dos autistas podem ter graus variados de atraso mental;
  • 49% dos adultos com autismo ainda vivem com os pais e apenas cerca de 12% têm empregos em tempo integral;
  • 12% dos adultos autistas alcançam um alto nível de independência quando adultos;
  • 12% necessitam de cuidados hospitalares de alta complexidade.