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Doença de Parkinson

O que é a Doença de Parkinson?

A Doença de Parkinson é um distúrbio neurológico progressivo que afeta o sistema nervoso central. Ela está relacionada à destruição dos neurônios responsáveis pela produção de dopamina, um neurotransmissor essencial para o controle dos movimentos e outras funções cerebrais.

Os sintomas geralmente surgem de forma gradual. O sinal mais comum é a lentidão dos movimentos (bradicinesia), muitas vezes acompanhada de tremores nas mãos e rigidez muscular.

A maioria dos casos é diagnosticada por volta dos 60 anos. No entanto, cerca de 5% a 10% das pessoas apresentam a forma precoce da doença, que começa antes dos 50 anos.

Embora não exista cura, os tratamentos disponíveis — principalmente os medicamentos que aumentam ou imitam a dopamina — podem melhorar significativamente os sintomas e proporcionar mais qualidade de vida aos pacientes.

Parkinsonismo e mal de Parkinson

Apesar de muitas vezes serem referidos como sinônimos, Doença de Parkinson e parkinsonismo não são a mesma coisa.

Parkinsonismo é um termo genérico que designa um grupo de doenças com causas diferentes, mas que apresentam sintomas semelhantes aos da Doença de Parkinson.

Embora a maioria dos casos de parkinsonismo seja causada pela Doença de Parkinson, ele também pode estar relacionado a outras condições, incluindo:

  • Parkinsonismo secundário: ocorre quando há causas específicas identificáveis para os sintomas, como encefalites virais, uso de medicamentos psiquiátricos, medicamentos contra náuseas e vertigens, doenças vasculares cerebrais, uso de drogas ou exposição a substâncias tóxicas.
  • Parkinsonismo atípico: refere-se a formas mais graves e incapacitantes, em que o processo degenerativo afeta outras áreas do cérebro além da substância negra. Nesses casos, a progressão é mais rápida e os medicamentos, como a Levodopa, costumam ter menor eficácia.

Uma forma de diferenciar a Doença de Parkinson de outras formas de parkinsonismo é por meio do teste terapêutico com Levodopa.

Pacientes com Doença de Parkinson geralmente respondem bem ao tratamento com Levodopa, enquanto a maioria das outras formas de parkinsonismo não apresenta essa resposta. No entanto, dois grandes desafios estão associados a esse teste:

  1. Alguns casos de parkinsonismo não relacionado à Doença de Parkinson podem apresentar uma resposta inicial satisfatória à Levodopa, mas perdem essa resposta com o tempo. Se o paciente continuar respondendo bem ao tratamento após cinco anos, o diagnóstico de Doença de Parkinson pode ser confirmado.
  2. Alguns pacientes com Parkinson só respondem adequadamente à Levodopa em doses mais altas. O tratamento geralmente se inicia com 150 mg da medicação, sendo a dose aumentada gradualmente conforme a resposta clínica e os efeitos colaterais. Considera-se ausência de resposta apenas quando se atinge uma dose de até 1000 mg por dia sem melhora significativa, o que pode levar seis meses ou mais.

Qual a Causa da Doença de Parkinson?

A maior parte dos casos de Doença de Parkinson não tem uma causa identificável. Em uma menor parte deles, há uma alteração genética por trás da doença.

Causa genética

Aproximadamente 15% dos pacientes com Parkinson apresentam alguma mutação genética associada ao desenvolvimento da doença. Essa forma costuma ocorrer com mais frequência em pessoas com histórico familiar ou em casos de início precoce, antes dos 50 anos de idade.

Nestes casos, o aconselhamento genético pode ser indicado, especialmente quando há outros membros da família com sintomas semelhantes.

Causa idiopática

Cerca de 85% dos casos são idiopáticos, ou seja, não têm uma causa conhecida. Quando a Doença de Parkinson se manifesta após os 50 anos, é mais provável que a origem seja idiopática e não genética.

Sinais e sintomas

A doença de Parkinson é definida clinicamente por sinais motores. Entretanto, sintomas não-motores são frequentes e, em alguns casos, mais incapacitantes do que o quadro motor.

Esses sintomas pioram a qualidade de vida e o prognóstico do paciente. No entanto, são pouco reconhecidos e inadequadamente tratados. Por fim, eles dificultam o próprio tratamento do quadro motor. Em alguns casos, podem ter início antes mesmo das manifestações motoras.

Sintomas motores

O principal sintoma motor da Doença de Parkinson — e o único que é obrigatório para o diagnóstico — é a lentidão  dos movimentos, conhecida como bradicinesia. Essa lentidão é assimétrica, ou seja, diferentes em ambos os lados do corpo.

A bradicinesia costuma vir acompanhada de tremores em repouso e/ou rigidez muscular, embora esses dois últimos sinais não sejam indispensáveis para confirmar o diagnóstico.

Tremor em repouso

Um dos sinais clássicos do Parkinson é o tremor que surge quando o corpo está em repouso. Ele está presente especialmente quando a pessoa está relaxada ou distraída.
Já os tremores que ocorrem durante o movimento voluntário normalmente indicam outras doenças neurológicas.

Rigidez e movimento em roda dentada

A rigidez muscular pode provocar uma resistência rítmica ao movimento passivo das articulações, conhecida como movimento em roda dentada

Outras alterações motoras

Além dos sinais mais clássicos, a Doença de Parkinson pode causar outras manifestações motoras, como:

  • Dores musculoesqueléticas: normalmente em apenas um lado do corpo;
  • Perda da expressão facial: a redução de movimentos automáticos como piscar, sorrir ou balançar os braços ao andar confere ao rosto uma expressão fixa, chamada de “face de jogador de pôquer”;
  • Micrografia: a letra fica cada vez menor e a escrita perde qualidade;
  • Alterações na marcha: o paciente passa a caminhar com passos curtos e arrastados;
  • Postura encurvada;
  • Alterações da fala: a fala pode sair baixa, acelerada ou com pausas frequentes para iniciar frases;
  • Disfagia: dificuldade para engolir, causada pelo enfraquecimento dos músculos envolvidos na deglutição e pela perda de coordenação dos movimentos necessários para esse processo.

Sintomas não motores

Entre os sinais e sintomas não motores mais comuns, incluem-se:

  • Anosmia: perda gradativa do olfato.
  • Alterações gastrointestinais: alternância de constipação e diarreia.
  • Gastroparesia: perda da motilidade estomacal, com a sensação de que o estômago fica cheio.
  • Distúrbios do sono: insônia, sonolência diurna, noctúria (acorda várias vezes à noite para urinar) ou a Síndrome das Pernas Inquietas.
  • Mudanças de humor: especialmente depressão ou transtornos de ansiedade.
  • Disfunção sexual: alguns pacientes notam uma redução no desejo ou desempenho sexual.
  • Hipotensão ortostática:  o paciente pode sentir tonturas ou vertigens quando se levanta devido a uma queda repentina da pressão arterial;
  • Fadiga: muitas pessoas com doença de Parkinson desenvolvem uma sensação de fadiga, especialmente no final do dia;

Tremor

O tremor é a causa mais comumente reconhecida pela população leiga na doença de Parkinson. No entanto, nem todo tremor é indicativo do Parkinson e até 1 a cada 3 pacientes com Parkinson não apresenta os tremores.

O tremor do Parkinson deve ser diferenciada de outras formas de tremor, especialmente do Tremor Essencial.

Iistamos na tabela abaixo as principais diferenças entre o Tremor Essencial e a Doença de Parkinson

TREMOR ESSENCIAL X PARKINSON
TREMOR ESSENCIAL PARKINSON
Tremor com movimento Tremor no repouso
Sem sintomas associados Outros sintomas como bradicinesia, rigidez e sintomas não motores
Tremores rápidos (alta frequência) Tremor lenot (baixa frequência)

Sintomas psiquiátricos

Pacientes com Doença de Parkinson apresentam uma alta incidência de transtornos psiquiátricos, que muitas vezes passam despercebidos ou são subvalorizados.

Estudos mostram que:

  • Ansiedade está presente em cerca de 50% dos pacientes;
  • Depressão maior afeta aproximadamente 30%;
  • Ideação suicida é comum, embora as tentativas de suicídio sejam raras;
  • Impulsividade também é um problema recorrente e pode se manifestar de diferentes formas, inclusive no comportamento.

Muitas famílias acreditam que esses sintomas emocionais são apenas uma reação natural ao diagnóstico ou às limitações físicas impostas pela doença. Por isso, ansiedade e depressão muitas vezes não são valorizadas ou tratadas como deveriam.

Na realidade, esses transtornos são comorbidades psiquiátricas associadas ao próprio processo neurodegenerativo do Parkinson. Eles resultam da diminuição de neurotransmissores importantes, como a dopamina, serotonina e noradrenalina, e podem surgir independentemente dos sintomas motores da doença.

Depressão

A depressão é um sintoma comum na Doença de Parkinson, podendo ser considerada, até certo ponto, parte da evolução da doença. Embora seja compreensível que as limitações físicas e funcionais impostas pela Doença possam desencadear a depressão, essa relação não explica completamente o quadro.

Uma mostra disso é que não há uma correlação clara entre a intensidade dos sintomas e o surgimento da depressão. Outro ponto é que muitos pacientes desenvolvem depressão antes mesmo do início dos sintomas motores, o que sugere uma origem neuroquímica relacionada à redução de neurotransmissores no cérebro.

Neurotransmissores e depressão

A dopamina, conhecida como “substância química do prazer”, tem um papel crucial no circuito de recompensa do cérebro. Pacientes com Parkinson apresentam uma diminuição na produção de dopamina, o que impacta diretamente a sensação de prazer e bem-estar. Além disso, serotonina e noradrenalina também têm sua produção reduzida, afetando o humor, a energia e a motivação.

Sintomas de depressão no Parkinson

A depressão associada ao Parkinson se manifesta de forma diferente da depressão comum, ou primária. Enquanto a depressão clássica envolve sentimentos de culpa, tristeza excessiva e baixa autoestima, na Doença de Parkinson, o paciente geralmente experimenta:

  • Falta de energia e motivação para realizar atividades cotidianas e de lazer;
  • Sensação de desânimo ou até mesmo apatia generalizada;
  • Vergonha, medo e a tendência a evitar interações sociais.

Tratamento da depressão no Parkinson

Embora o uso de Levodopa possa ajudar a aliviar os sintomas motores do Parkinson e, em alguns casos, melhorar os sintomas depressivos, o tratamento específico para a depressão pode exigir antidepressivos clássicos e psicoterapia.

Além disso, a prática de atividade física é uma estratégia eficaz no tratamento da depressão associada ao Parkinson, pois auxilia na liberação de neurotransmissores e melhora o bem-estar do paciente.

Transtorno de Ansiedade

A ansiedade é uma comorbidade muitas vezes presentes na Doença de Parkinson.

O paciente apresenta nervosismo, além de pensamentos recorrentes de preocupação e medo. Essas manifestações podem ser acompanhadas de sintomas físicos, como: sensação de “elevador” ou “borboletas” no estômago, náusea, dificuldade para engolir, dificuldade para respirar, taquicardia, sudorese e tremores.

Alguns dos sinais e sintomas relacionados ao transtorno de ansiedade incluem:

  • Medo e preocupação desproporcionais ao que seria esperado em determinadas situações;
  • Pensamentos incontroláveis, pesadelos e ataques de pânico;
  • Taqquicardia, mãos frias e suadas, tremores, náusea ou tontura.

Em alguns casos, o transtorno de ansiedade pode ser tratado por meio de psicoterapia. Em outros, medicações específicas podem ser necessárias.

Impulsividade

A doença de Parkinson aumenta o risco para diferentes formas de comportamento compulsivo. Vício em jogos de azar é observado em 5% dos pacientes, compra compulsiva em 5,7% dos pacientes, hipersexualidade (obsessão incontrolável por sexo) em 3% e a compulsão alimentar em 4,3%.

Também são comuns comportamentos repetitivos, como colecionar objetos.

O principal fator de risco para o transtorno do controle do impulso é o uso prolongado de medicações como levodopa. Em alguns casos, o ajuste na medicação dopaminérgica pode ajudar na melhora dos sintomas compulsivos.

 

Alterações do sono

Diferentes problemas podem comprometer o sono do paciente com Doença de Parkinson. Em alguns casos, os problemas com o sono podem inclusive ser a principal queixa do paciente.

Fragmentação do sono

O sono fragmentado é um problema comum em pacientes com Doença de Parkinson.

O principal motivo para isso é a rigidez noturna que impede ou dificulta que ela se movimente durante à noite. Como ocasionalmente há dificuldade em se virar na cama, a pessoa fica acordando incomodada.

Essa rigidez acontece por conta do fim do efeito dos medicamentos. Ou seja, o paciente entre em um período off (discutiremos isso mais à frente).

A fragmentação do sono pode melhorar com a otimização do tratamento medicamentoso.

Em casos mais avançados e de acordo com outros sintomas do paciente, a cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda pode ser considerada.

Noctúria

Noctúria é uma condição na qual a pessoa corda mais de duas vezes a cada noite para urinar. Ela pode acontecer em qualquer pessoa, mas é mais comum na doença de Parkinson.

Pacientes com Doença de Parkinson têm maior probabilidade de desenvolver uma Bexiga Hiperativa, condição em que o músculo da bexiga fica mais tensa e contraída. Com isso, o volume necessário para encher a bexiga fica reduzido e o paciente precisa urinar mais vezes.

Reduzir o consumo de líquidos e especialmente de café antes de dormir ajuda a reduzir a noctúria. Em alguns casos, o tratamento com medicamentos pode ser necessário.

Distúrbio Comportamental do sono REM

Habitualmente, as pessoas ficam paradas em quanto sonham. Alguns pacientes com Doença de Parkinson, no entanto, podem apresentar sonhos mais ativos, o que envolve gritar, mexer os braços e as pernas, dar socos e chutes. Chamamos isso chamamos de Distúrbio Comportamental do Sono REM.

O Sono REM é justamente a fase do nosso sono em que sonhamos. No Parkinson, esse momento está exacerbado.

A grande maioria das pessoas não se lembra dos eventos. Ela acorda sem se lembrar do que aconteceu, ao passo que o seu acompanhante acorda assustado.

Travamento Matinal

Alguns pacientes acordam muito rígidos. Isso acontece por conta do fim do efeito das medicações, o que se chama de “off matinal”. Sem a ação da dopamina, a rigidez típica da doença de Parkinson aumenta.

Sonolência Excessiva Diurna

O próprio Parkinson já aumenta a sonolência durante o dia por conta da redução na Dopamina. Além disso, as medicações usadas no tratamento da doença podem contribuir para isso.

Por fim, o sono noturno ruim pode aumentar a sonolência diurna. Como discutido acima , diversos fatores contribuem para uma maior incidência de problemas com o sono nos pacientes com Parkinson.

Tomar cafeína ou fazer uma  soneca diurna pode ser indicada. Em outros casos, medicações específicas podem ser consideradas para reduzir a sonolência

Insônia

A insônia é definida como qualquer dificuldade em iniciar ou manter o sono durante a noite.

Qualquer pessoa pode ter uma noite mal dormida de forma eventual. Mas ela precisa ser avaliada quando se torna um problema crônico ou recorrente, o que significa que ela está presente em por pelo menos três noites por semana durante três meses ou mais.

Esse é um problema bastante prevalente na população em geral e ainda mais comum no Parkinson.

A doença de Parkinson pode causar insônia porque altera a forma como o sistema nervoso regula o sono. Além disso, todos os outros problemas relacionados ao sono discutidos acima podem atrapalhar o início ou a manutenção do sono.

Períodos ON e OFF da Doença de Parkinson

Não existe atualmente nenhuma medicação no mercado capaz de manter níveis constantes de dopamina. Assim, à medida que a doença avança e a produção endógena de dopamina diminui, o tempo de ação da levodopa torna-se cada vez menor. Para minimizar essas oscilações, o intervalo entre as doses deve ser gradualmente reduzido.

Entre 2 e 5 anos após o início do tratamento, o paciente passa a desenvolver o fenômeno ON e OFF da doença:

  • Quando sob efeito da dopamina, diz-se que o paciente “está ON”. Os movimentos ficam exacerbados, e ele desenvolve a discinesia, caracterizada por movimentos involuntários ou “movimentos em excesso”.
  • Quando o efeito da dopamina diminui, os sintomas de bradicinesia e falta de movimento, característicos da doença, voltam a se manifestar. Diz-se então que o paciente “está OFF”.

Essas oscilações foram, no passado, associadas ao efeito do uso prolongado da levodopa, o que gerou uma certa “levodopofobia”, fazendo com que muitos pacientes fossem tratados de forma insuficiente. Atualmente, entende-se que o fenômeno ON-OFF está relacionado à evolução natural da doença, sem relação direta com a medicação em si.

Estágios da Doença de Parkinson

O Parkinson é uma doença silenciosa, em que os sintomas só aparecem quando 60% a 70% dos neurônios dopaminérgicos da substância negra já foram comprometidos. Assim, acredita-se que o tempo entre o início da doença e o aparecimento dos primeiros sintomas motores seja de aproximadamente 10 anos.

Estágio 1: Sintomas iniciais e leves

No primeiro estágio, os sintomas são leves e não interferem nas atividades diárias do paciente. Tremores e tiques geralmente ocorrem em um único lado do corpo, comumente nas mãos, pés ou rosto.

Alterações na postura, no equilíbrio e na marcha, assim como a perda de expressão facial, podem ser observadas, mas muitas vezes passam despercebidas por quem não conhece bem o paciente.

Estágio 2: Sintomas começam a afetar ambos os lados

No segundo estágio, os sintomas se tornam bilaterais, ou seja, afetam ambos os lados do corpo. A fala pode se tornar mais difícil de entender, com dificuldades para atingir tons mais altos.

A rigidez muscular aumenta, tornando atividades simples do dia a dia, como andar, levantar, deitar e sentar, progressivamente mais desafiadoras. Apesar disso, o paciente ainda pode manter uma vida relativamente independente.

Estágio 3: Maior lentidão e risco de quedas

No terceiro estágio, o paciente apresenta maior lentidão e perda de equilíbrio. Atividades cotidianas, como se alimentar ou se vestir, podem se tornar difíceis, embora ainda possam ser realizadas de forma independente.

Há perda de habilidade para caminhar em linha reta e manter a postura ereta, aumentando o risco de quedas.

Estágio 4: Assistência necessária nas atividades diárias

No quarto estágio, a mobilidade do paciente continua a diminuir, e as atividades diárias tornam-se impossíveis de serem realizadas sem assistência. Mudanças de humor, frequentemente associadas à perda de autonomia, são comuns nesta fase da doença.

Estágio 5: Dependência total

No último estágio da Doença de Parkinson, o paciente já não consegue andar ou ficar em pé sem auxílio. Ele pode precisar de cuidados contínuos, seja acamado ou dependente de uma cadeira de rodas para locomoção.

ara locomoção.

Qual a causa da Doença de Parkinson?

Na doença de Parkinson, há uma destruição / morte de neurônios específicos. 

Muitos dos sintomas são devidos a uma perda de neurônios que produzem a dopamina, que é um importante neurotransmissor.

Quando os níveis de dopamina diminuem, a atividade cerebral torna-se anormal, levando aos sintomas característicos da doença.

A causa desta destruição neuronal, entretanto, é desconhecida.

Complicações da Doença de Parkinson

A Doença de Parkinson pode evoluir com diversas complicações à medida que avança. Estas complicações afetam várias funções do corpo, impactando a qualidade de vida dos pacientes.

Demência

Uma das complicações mais graves da Doença de Parkinson é o desenvolvimento de demência, que geralmente ocorre nos estágios mais avançados. Os pacientes podem enfrentar problemas cognitivos, dificuldades de pensamento e perda de memória.

Problemas Emocionais

A depressão pode ser uma das primeiras manifestações da Doença de Parkinson. Além disso, problemas como medo, ansiedade e perda de motivação também são comuns em muitos pacientes.

Dificuldade para Engolir (Deglutição)

Com a progressão da doença, a dificuldade de deglutição torna-se frequente. A saliva pode se acumular na boca devido à deglutição lenta, levando à baba excessiva. Isso pode prejudicar a alimentação e a comunicação.

Problemas de Mastigação e Alimentação

Nos estágios mais avançados da Doença de Parkinson, os músculos da boca são afetados, dificultando a mastigação e a ingestão de alimentos. Como resultado, alguns pacientes podem desenvolver má nutrição, uma complicação importante.

Distúrbios do Sono

Pacientes com Doença de Parkinson frequentemente enfrentam problemas de sono, como acordar com frequência durante a noite, dormir em horários irregulares ou adormecer durante o dia. Esses distúrbios podem agravar os sintomas da doença.

Problemas Urinários

A Doença de Parkinson pode causar diversos problemas urinários, como a bexiga hiperativa e incontinência urinária. Esses problemas afetam o controle da bexiga, levando a desconforto e constrangimento.

Prisão de Ventre (Constipação)

A constipação é uma queixa comum entre os pacientes com Doença de Parkinson, resultante de um trato digestivo mais lento. A prisão de ventre pode ser dolorosa e impactar a qualidade de vida do paciente

Diagnóstico

Atualmente, não existe um teste específico para diagnosticar a Doença de Parkinson. O diagnóstico é realizado por um Médico Neurologista, com base na história clínica do paciente e no exame físico.

Exames de imagem, como ressonância magnética, ultrassonografia ou PET Scan, não são úteis para identificar a Doença de Parkinson. O mesmo é válido para os exames de sangue. No entanto, esses exames podem ser empregados para descartar outras condições que apresentem sintomas semelhantes.

Em alguns casos, o diagnóstico é confirmado com base em um teste terapêutico. O neurologista prescreve medicamentos específicos para a Doença de Parkinson, e uma melhora significativa nos sintomas com o uso desses medicamentos pode confirmar o diagnóstico.

Tratamento

Nenhuma forma de tratamento da Doença de Parkinson tem efeito neuroprotetor. Assim, a destruição dos neurônios dopaminérgicos da substância negra acontece independentemente de qualquer terapia instituida.

Por outro lado, diferentes tratamentos podem minimizar os sintomas e alterar de forma significativa a qualidade de vida do paciente.

Esses tratamentos podem ser divididos em quatro frentes:

  • Medidas de estilo de vida, que  envolvam especialmente a prática regular de atividade física, cuidados alimentares, melhora da qualidade do sono e redução do estresse.
  • Tratamento Medicamentoso
  • Cirurgia
  • Terapias, incluindo fisioterapia e a fonoaudiologia.

Outro ponto importante é a importância de uma abordagem holística no tratamento do Parkinson. Isso inclui não apenas o cuidado com a saúde física, mas também o apoio emocional e psicológico.

Atividade Física

A prática regular de atividade física pode ter um impacto significativo na evolução da doença, ajudando a minimizar a piora de sintomas motores e cognitivos. Exercícios aeróbicos são especialmente eficazes na melhora da função motora global, especialmente quando realizados em maior intensidade.

Além disso, exercícios de força, Tai Chi e dança são ótimos para melhorar o equilíbrio e a mobilidade.

Atividades do Dia a Dia

Além dos exercícios estruturados, as atividades cotidianas também desempenham um papel importante. Fazer compras, arrumar a casa, preparar as refeições e fazer jardinagem podem reduzir o declínio motor e cognitivo, ajudando o paciente a manter sua independência por mais tempo.

Benefícios Psicológicos da Atividade Física

Não podemos esquecer que a atividade física também oferece benefícios para a saúde mental dos pacientes com Parkinson. A escolha de atividades prazerosas é fundamental para manter a motivação. Quando o exercício se torna uma obrigação, a falta de interesse pode levar a uma menor liberação de dopamina, prejudicando a sensação de recompensa e a adesão ao tratamento.

Recomendações da OMS para Exercícios

Embora ainda não haja consenso sobre a melhor forma de prescrever exercícios para pacientes com Parkinson, as recomendações da Organização Mundial da Saúde para a população geral podem ser uma excelente diretriz:

  • Pelo menos 150 minutos semanais de atividade física aeróbica, distribuídos ao longo da semana.
  • Pelo menos dois treinos estruturados para fortalecimento muscular.
  • Pelo menos dois períodos de treino de equilíbrio.

Alimentação

Nos estágios iniciais da doença, a principal preocupação é a escolha dos alimentos. Estudos indicam que pacientes com Parkinson tendem a consumir uma quantidade maior de carboidratos, açúcares e gorduras trans, o que contribui para o ganho de peso e aumento da inflamação.

Além disso, muitos pacientes apresentam deficiências vitamínicas, como a falta de Vitamina B12, Vitamina B6 e Ácido Fólico, que são essenciais para o bom funcionamento do organismo.

Prisão de Ventre e Outros Problemas Digestivos

A prisão de ventre é um dos sintomas não motores comuns no início da doença e pode comprometer a absorção de medicamentos e nutrientes. A redução na motilidade gastrointestinal dificulta a aceitação dos alimentos e afeta diretamente a qualidade de vida.

Medicamentos utilizados no tratamento de Parkinson podem também interferir na absorção de nutrientes e provocar náusea e inapetência, prejudicando ainda mais a alimentação.

Problemas com a mastigação

Nos estágios mais avançados da Doença de Parkinson, o comprometimento da mastigação e da deglutição pode dificultar ainda mais a ingestão de alimentos. Nesse caso, pode ser necessária a alimentação assistida para garantir uma nutrição adequada e evitar complicações adicionais.

Impacto da Depressão na Alimentação

A depressão, uma comorbidade comum da Doença de Parkinson, também pode afetar negativamente os hábitos alimentares. A falta de motivação para se alimentar ou a perda de apetite pode agravar o quadro nutricional do paciente.

Estratégias Nutricionais para Pacientes com Parkinson

Uma avaliação nutricional é fundamental para identificar deficiências e ajustar a dieta conforme necessário. Quando possível, as deficiências nutricionais devem ser corrigidas por meio da dieta regular. Quando isso não é suficiente, a suplementação nutricional pode ser uma alternativa eficaz.

Em caso de prisão de ventre, o consumo de alimentos ricos em fibras alimentares e alimentos laxantes pode ajudar a aliviar o quadro. A modificação de medicamentos também pode ser uma estratégia para aliviar os sintomas digestivos.

Tratamento Medicamentoso

Nenhum medicamento disponível até o momento é capaz de frear a evolução da Doença de Parkinson. No entanto, os sintomas podem ser controlados, proporcionando uma melhora imensurável nos sintomas e na qualidade de vida do paciente.

Levodopa

A principal medicação para o tratamento da Doença de Parkinson é a Levodopa, um precursor metabólico da dopamina. Ela atravessa a barreira hematoencefálica quando então é descarboxilada para formar dopamina.

A levodopa deve ser usada em combinação com um inibidor periférico da Descarboxilase, como a Carbidopa ou a Benzerazida.

Essas substâncias previnem que a levodopa seja transformada em dopamina fora do cérebro. Com isso, elas minimizam os efeitos adversos decorrentes da dopamina na circulação periférica e reduzem as doses de levodopa necessárias para produzir níveis terapêuticos no cérebro.

No curto prazo, a levodopa provoca efeitos colaterais, como náuseas, vômito ou problemas posturais. Por conta disso, ela deve ser iniciada em doses baixas, geralmente de 150 mg, e aumentada gradativamente  de acordo com a resposta terapêutica e com os efeitos colaterais.

Se houver predomínio dos efeitos colaterais periféricos da levodopa (náuseas, vômito, e problemas posturais), o aumento na dose de carbidopa ou da Benzerazida pode ajudar.

No longo prazo, a Levodopa pode provocar problemas psiquiátricos (como confusão, psicose, paranoia ou compulsão) e disfunções motoras (discinesia e oscilações motoras).

Outros medicamentos

Ainda que o fenômeno ON-OFF do Parkinson não esteja mais sendo associado ao Parkinson, os eventuais efeitos colaterais da medicação ainda geram preocupação. Em alguns casos, outras medicações podem ser usadas com o objetivo de minimizar as doses da Levodopa. Outros medicamentos têm por objetivo prolongar o efeito da Levodopa e minimizar os efeitos ON e OFF da doença.

Agonistas dopaminérgicos

Os agonistas dopaminérgicos incluem incluindo e Pramipexol, Ropinirol, Rotigotine ou a Apomorfina.

Eles ativam diretamente os receptores da dopamina nos gânglios da base. No início, eles podem ser usados como monoterapia. No entanto, raramente preservam a eficácia como monoterapia por mais de alguns anos. Nos estágios posteriores podem ser úteis como terapia adjuntiva.

Inibidores seletivos de MAO

Inibidores seletivos de MAO incluem selegilina e rasagilina.

Esses medicamentos agem inibindo a ação das enzimas que degradam a dopamina no cérebro, de forma a prolongar a ação de cada dose de levodopa. São usados para minizar os efeitos ON e OFF.

Inibidores de catecol O-metiltransferase (COMT)

Inibidores COMT incluem a entacapona e a tolcapona.

Da mesma forma que os inibidores da MAO, esses medicamentos inibem a degradação da levodopa e da dopamina, aumentando o tempo de ação da Levodopa. São habitualmente indicados na presença do fenômeno ON e OFF da doença.

Medicamentos anticolinérgicos

Medicamentos anticolinérgicos já foram muito utilizados especialmente para o controle dos tremores. No entanto, estão deixando se ser usados devido ao risco de aumentar quadros demenciais e alterações cognitivas.

Tratamento cirúrgico

A cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda é uma alternativa bastante positiva no tratamento da Doença de Parkinson, desde que indicada corretamente e no momento oportuno.

O objetivo da cirurgia é gerar estímulos elétricos que atuam no cérebro de forma semelhante aos efeitos da dopamina, contribuindo para a melhora dos sintomas.

Técnica Cirúrgica

Primeiramente, são feitas duas pequenas incisões no crânio — uma no lado direito e outra no lado esquerdo — para que o neurocirurgião possa alcançar a região afetada com os eletrodos.

Durante essa etapa, o paciente deve estar acordado e com anestesia local, pois precisa responder aos estímulos enviados pelo neurocirurgião. Isso garante que o eletrodo esteja posicionado corretamente.

Em seguida, enquanto o paciente está sedado, o eletrodo é conectado a uma bateria implantada abaixo da clavícula. Essa bateria funciona como um gerador de sinais elétricos que serão enviados para os eletrodos no cérebro.

Normalmente, o paciente recebe alta hospitalar dois dias após o procedimento.

Indicações para a Cirurgia

A cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda deve ser considerada para pacientes que apresentem flutuações significativas nos sintomas devido aos efeitos dos medicamentos, com os períodos “ON/OFF” (em que o paciente experimenta melhora e piora nos sintomas, respectivamente).

Ela também pode ser indicada no caso de tremores refratários (que não respondem ao tratamento) ou em pacientes com intolerância à medicação.

No entanto, a cirurgia não oferece benefícios quando realizada muito precocemente, nem quando a doença está em fase muito avançada. Idealmente, ela não deve ser realizada antes de cinco anos após o início do tratamento, pois, nesse período, pode ser difícil diferenciar o Parkinson de outras formas de parkinsonismo.

Fonoaudiologia

Os problemas de comunicação e nutrição em pacientes com Doença de Parkinson podem ser atenuados por meio de tratamentos fonoaudiológicos, que auxiliam na superação das diversas dificuldades relacionadas à voz, fala, escrita, respiração e alimentação.

As alterações vocais são comuns e aparecem em um número significativo de casos. A terapia fonoaudiológica pode contribuir para uma voz mais “forte” e “clara”, uma fala mais compreensível e uma expressão facial que se alinha melhor com as emoções que o paciente deseja comunicar.

As dificuldades de deglutição (disfagia) ocorrem em menor número de pacientes, sendo geralmente associadas ao enfraquecimento dos músculos da língua, lábios, bochechas, faringe e laringe, além de prejuízos na execução rápida e coordenada dos movimentos necessários para engolir.

O objetivo do tratamento fonoaudiológico é melhorar essas dificuldades por meio de técnicas, exercícios e atividades que ajudam a revitalizar os músculos da região facial, da garganta e do pescoço.

Fisioterapia

A fisioterapia atua nos distúrbios motores, o que pode incluir:

  • Exercícios de alongamento e mobilidade, para a manutenção da mobilidade e redução da rigidez articular.
  • Exercícios de força e equilíbrio, para melhora das alterações posturais e da marcha e para a prevenção de quedas.

Em muitos casos, o fisioterapeuta poderá ajudar na prescrição de um dispositivo para auxílio da marcha (andadores, bengalas, outros), bem como no treinamento para o uso desses dispositivos.

Pacientes com problemas relacionados à deglutição estão mais susceptíveis a complicações pulmonares, especialmente as infecções. Nesses casos, a fisioterapia deve atuar com exercícios que otimizem a capacidade pulmonar.

Além do tratamento curativo, o fisioterapeuta deve atuar de forma preventiva. Para isso, é fundamental que se conheça a evolução da doença.

Prognóstico

A evolução da Doença de Parkinson varia de pessoa para pessoa, sendo difícil de se fazer uma previsão individualizada.

No momento do diagnóstico, rigidez ou bradicinesia são indicadores de evolução para perda de funcionalidade e independência mais precoce. Já os pacientes com predominância de tremores na apresentação têm melhor prognóstico.

Ainda assim, como regra geral, a doença costuma ficar bem controlada por aproximadamente 5 anos, quando se tem o aparecimento das flutuações motoras e dos movimentos involuntários, também chamados de movimentos discinéticos.

Considerando-se a idade com que é feita a maior parte dos diagnósticos e o tempo de evolução da doença, a maioria das pessoas com a doença vem a falecer antes da doença estar em estágio avançado, sem diferença significativa das causas de morte quando comparado com a população em geral.