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Dieta para o Hepatopata

Qual a importância da Dieta para o Hepatopata?

Os cuidados com a alimentação é uma parte fundamental do tratamento para o paciente Hepatopata.

Primeiramente, em decorrência da alta incidência de desnutrição entre estes pacientes.

Depois, porque a melhora dos padrões nutricionais se mostra um importante fator prognóstico.

O manejo da dieta para o hepatopata, por outro lado, é bastante desafiador.

O uso de instrumentos tradicionais de avaliação, como medidas antropométricas e biométricas, é difícil devido a complicações como ascite e inflamação.

Além disso, como o fígado está envolvido a muitos processos metabólicos e de absorção e armazenamento de nutrientes, as medidas dietéticas habitualmente recomendadas para indivíduos saudáveis muitas vezes não servem ao paciente hepatopata.

Desnutrição em pacientes com doença hepática

Embora não exista uma definição universalmente aceita para a desnutrição, ela é geralmente definida como sendo a perda de massa e força muscular esquelética, além da diminuição da massa de gordura subcutânea e visceral, que ocorre devido à redução do consumo de proteína e energia[1].

A desnutrição está presente em até 20% dos pacientes com cirrose compensada e 50% dos pacientes com cirrose descompensada (2).

Além disso, de acordo com um estudo realizado com 300 pacientes, mais de 75% daqueles com doença hepática avançada apresentavam algum grau de desnutrição e quase 40% apresentavam desnutrição moderada ou grave (3). Esta incidência foi maior quanto mais grave a doença hepática.

Além da desnutrição geral, os pacientes com cirrose geralmente apresentam deficiências de micronutrientes, incluindo:

  • Deficiências de vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K), especialmente em pacientes com doença hepática colestática. Isso ocorre devido à má absorção, ingestão diminuída e produção reduzida de proteínas transportadoras (4);
  • Deficiência de Vitamina D (5);

Deficiência de vitaminas hidrossolúveis, incluindo tiamina (B1) e, menos comumente, piridoxina (B6), folato (B9) e cobalamina (B12), devido à menor capacidade de armazenamento hepático destas vitaminas (6).

Qual a causa da desnutrição no Hepatopata?

Diversas condições contribuem para a desnutrição, incluindo:

  • Aumento no metabolismo;
  • Alterações no metabolismo;
  • Má absorção;
  • Anorexia.

Aumento no metabolismo

Enquanto a maioria dos pacientes com cirrose Hepática apresentam gasto metabólico no repouso semelhante aos valores previstos. 

Entretanto, 15% a 30% dos pacientes são hipermetabólicos.

Isso significa que o gasto energético destes pacientes no repouso é ao menos 20% superior ao previsto para sexo, altura e peso (7).

A causa para este aumento no metabolismo ainda não foi bem esclarecida. 

Má absorção

Existem vários mecanismos que podem levar à má absorção de nutrientes no paciente hepatopata, especialmente em relação à gordura.

Muitos pacientes com problemas hepáticos apresentam também Pancreatite Crônica. A Pancreatite Crônica piora ainda mais a absorção de gordura, em decorrência da produção deficiente de suco biliar;

Metabolismo alterado de macronutrientes

Pacientes com doença hepática apresentam catabolismo proteico aumentado. Isso leva a uma depleção significativa nas reservas de proteínas e gorduras, relatadas em cerca de 50% dos pacientes cirróticos (8).

Uma das justificativas para o aumento no catabolismo das proteínas é que a capacidade de armazenamento de carboidrato pelo fígado fica limitada. Sem uma reserva adequada, o corpo passa a usar gordura e proteína para a geração de energia.

Após um curto jejum noturno, a taxa de catabolismo de gorduras e proteínas em pacientes com cirrose é semelhante à de indivíduos saudáveis ​​que foram submetidos a 2 a 3 dias de jejum inanição (9).

Além disso, a doença hepática também está associada a uma maior resistência à insulina (10). Isso leva a uma menor utilização periférica de glicose e a uma redução ainda maior na produção hepática de glicose.

Anorexia

A anorexia pode estar associada a diferentes fatores no paciente hepatopata:

  • Sintomas relacionados à alimentação, incluindo náusea, inchaço, fadiga e vômito;
  • Pacientes com ascite geralmente experimentam saciedade precoce, em razão dos efeitos mecânicos do líquido ascítico, que comprime o estômago;
  • Alterações nos níveis de mediadores relacionados ao apetite, como a Leptina e a Grelina;
  • Muitos dos casos de doença hepática estão relacionados ao Álcool. A alimentação deficiente e irregular é comum entre pacientes com história de alcoolismo.

Avaliação nutricional do paciente hepatopata

A avaliação nutricional do paciente hepatopata é bastante desafiadora, devido às alterações metabólicas e presença de ascite e edema. 

Testes antropométricos (altura, peso, circunferência do braço, espessura da dobra cutânea do tríceps e espessura da dobra cutânea do bíceps) e índice de massa corporal (IMC) são importantes para avaliar a massa muscular esquelética e os níveis de depósito adiposo.

Entretanto, é preciso considerar que como regra geral estas medidas podem ser imprecisas no paciente com edema periférico e ascite.

Por outro lado, o teste funcional usando a força de preensão manual como ferramenta para avaliar a força muscular demonstrou ter a mais alta precisão para detectar comprometimento nutricional na doença hepática crônica (11).

A diretriz de 2006 da Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo recomenda o uso da avaliação subjetiva global (ASG), análise antropométrica ou teste de força de preensão manual para identificar pacientes com cirrose que estão em risco de desnutrição (12).

A ASG é uma ferramenta de avaliação à beira do leito usada para coletar informações sobre ingestão alimentar, alteração de peso e sintomas gastrointestinais; inclui um exame para perda de gordura subcutânea, perda de massa muscular, edema e ascite.

Como melhorar a Dieta para o Hepatopata?

A desnutrição é um fator de grande importância para o prognóstico do paciente com doença hepática. 

Como referência, em um estudo com pacientes com doença hepática em estado inicial, aqueles que estavam desnutridos tiveram uma taxa de mortalidade em 1 ano de cerca de 20%, enquanto nenhum dos pacientes avaliados como bem nutridos morreu neste mesmo período (13).

Entre os fatores que influenciam a evolução da doença hepática, a Dieta para o Hepatopata é onde o paciente tem maior espaço para mudanças e ganhos, tanto em relação à qualidade de vida como em relação à sobrevida.

Entre os principais cuidados nutricionais, incluem-se:

  • Correção das deficiências nutricionais
  • Restrição no consumo de sódio, especialmente no paciente com ascite e edema de membros inferiores;
  • Substituição da proteína da carne pela proteína láctea ou proteína vegetal, no paciente com Encefalopatia Hepática;
  • Evitar jejum prolongado

Correção das deficiências nutricionais na Dieta para o Hepatopata

Pacientes com cirrose desnutridos devem consumir entre 35 e 40 kcal/kg/dia (usando o peso corporal corrigido para ascite) para promover o anabolismo.

Isso deve incluir 1.2 a 1.5 g/kg/dia de proteína, 50-70 % do total de calorias provenientes de carboidratos e entre 10 e 20% de calorias provenientes da gordura (14).

Por outro lado, no paciente com cirrose e obesidade, pode ser considerado uma dieta hipocalórica (entre 500-800 kcal abaixo da necessidade diária), porém rica em proteínas, com aproximadamente 1.5 g/kg/dia (15). 

Esta abordagem otimiza a perda de peso enquanto previne a perda muscular.

Além disso, a inclusão de um multivitamínico diário na Dieta para o Hepatopata pode resolver a maioria das deficiências de micronutrientes (vitaminas e minerais).

Restrição de Sódio

A restrição de sódio também é uma parte importante das diretrizes dietéticas em pacientes com ascite e edema nos membros inferiores, já que ela diminui a sobrecarga hídrica (16).

Isso significa que alimentos processados ​​com alto teor de sódio, especificamente carnes frias, sopas enlatadas, refeições congeladas e lanches embalados, devem ser evitados.

Por outro lado, frutas, vegetais, legumes, nozes cruas e grãos integrais são naturalmente pobres em sódio e devem ser incentivados.

Cuidados para o paciente com Encefalopatia Hepática

Pacientes com Encefalopatia Hepática se beneficiam quando a proteína da carne é substituída por proteína vegetal ou pela proteína láctea (17). 

Diferentes justificativas foram usadas para isso, incluindo:

  • Menor teor de aminoácidos contendo enxofre
  • Maior teor de arginina, as quais facilitam a eliminação de amônia por meio do ciclo da ureia (18).
  • Alto teor de Fibras Alimentares de uma dieta baseada em vegetais, o que também pode ajudar a eliminar os resíduos de nitrogênio do trato gastrointestinal.

Evitar jejum prolongado

Reduzir o jejum prolongado na cirrose é fundamental para reduzir a sarcopenia e a desnutrição. 

Isso se justifica porque o paciente hepatopata apresenta uma capacidade limitada de armazenamento de carboidrato no fígado.

Sem uma reserva adequada, o corpo passa a usar gordura e proteína de forma mais precoce para a geração de energia.

Após um curto jejum noturno, a taxa de catabolismo de gorduras e proteínas em pacientes com cirrose é semelhante à de indivíduos saudáveis ​​que foram submetidos a 2 a 3 dias de jejum inanição (19).