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Atraso na linguagem- abordagem fonoaudiológica

Atraso na linguagem

Vimos nos artigos sobre Desenvolvimento da Linguagem e Fala que estas habilidades são especificamente humanas e que nascemos com todo o aparato físico e emocional para que estas se desenvolvam. Temos um cérebro com áreas próprias e preparadas, temos um aparato mental-cognitivo e emocional de suporte. No caso da linguagem, é imprescindível considerar que os estímulos vêm do ambiente (variáveis comportamentais/do ambiente).
Pais que superprotegem as crianças e acham lindo a fala “tatibitati” (fala em evolução, na fase de 2 a 4 anos), por exemplo, podem ser os responsáveis por mantê-la por um período maior que o esperado, se não oferecerem aos filhos modelos da fala do adulto. Por outro lado, altos graus de exigência e controle também podem acarretar problemas.
Vimos também o porquê da detecção de desvios de linguagem e reabilitação “precoce” destes, que seria nos primeiros anos de vida. É preciso respeitar a melhor e maior fase de desenvolvimento cerebral da criança, a neuroplasticidade cerebral, a capacidade que as células nervosas têm de se adaptar ao meio em que se encontram, e que se dá nos primeiros anos de vida, destes, o primeiro ano sendo o mais importante.
Resumindo, é necessário que o cérebro esteja em condições anatômicas e neurofisiológicas normais, que o bebê receba do ambiente experiências que promovam o seu crescimento e relacionamentos emocionais favoráveis para que a linguagem se desenvolva fluentemente e consistentemente.

Escala de desenvolvimento normal da linguagem

Durante o primeiro ano de vida, o bebê adquire muitos comportamentos e desenvolve habilidades complexas. Para isso, eles devem ser estimulados a brincar, dar tchau e andar, por exemplo.
Desde o início do segundo trimestre de gravidez, o feto já tem o sistema auditivo em desenvolvimento e consegue ouvir ruídos corporais e a voz materna. Nesse período, os aspectos de melodia (entonação), timbre (frequência) já começam a ser distinguidos pelo bebê. Experiência com recém-nascidos demonstram que, nas primeiras horas de vida após o nascimento, ele já reconhece e muda seus comportamentos de choro e sucção ao ouvir a voz da própria mãe! Em outras palavras, o desenvolvimento da linguagem receptiva acontece ainda na gestação!

Escala normal do desenvolvimento da fala

Para que os pais possam procurar ajuda na melhor fase de maturidade da criança e aproveitarem a plasticidade cerebral dos primeiros anos de vida para iniciar um tratamento, se for o caso, nos primeiros anos de vida, abaixo apresentamos a escala normal de desenvolvimento, após o nascimento.

DO NASCIMENTO AO PRIMEIRO ANO DE VIDA
Aos 03 ou 04 meses de vida o bebê vocaliza sons sem significado e apenas para se divertir, sem a intenção de se comunicar
Entre 06-09 meses: As vocalizações dão lugar aos balbucios – “papa”, “mama”, “au au” – E sons que as crianças produzem com intenção comunicativa. Ou seja, toda vez que quer a mãe ele tende a falar “mama”
Seu nível de compreensão cresce rapidamente, possibilitando, próximo dos 12 meses, a emissão da primeira palavra com significado

DE 1 ANO AOS 2 ANOS
As primeiras palavrinhas “de verdade”, ou seja, com significado e intenção surgem e a criança vira um “papagaio”, repetindo e contando tudo o que ouve
Aponta para algumas partes do corpo quando você fala o nome delas
Obedece comandos simples (“chuta a bola”) e entende perguntas simples (“cadê seu sapato?”)
Se diverte com histórias, músicas e rimas simples
Aponta para figuras em livros quando você fala os nomes
Aprende novas palavras regularmente
Fala perguntas simples com uma ou duas palavras
Junta duas palavras como “mais água”
Usa os sons das consoantes no início das palavras
A criança possui um vocabulário básico de palavras para se comunicar com efetividade.

DE 2 a 3 ANOS
Usa frases com duas ou três palavras para se expressar ou perguntar
Pronúncia os sons de k, g, f, t d e n.
Fala de um jeito que pessoas da família e amigos entendem
Refere-se aos objetos pelos nomes corretos para mostrá-los ou pedi-los
Consegue nomear quase todas as coisas
Se houver um atraso de linguagem nesta fase, procure seu pediatra ou um fonoaudiólogo para detectar-se precocemente e trabalhar na reabilitação ainda cedo e prevenir maiores perdas como problemas de linguagem, fala e distúrbios na aprendizagem.

DE 3 a 4 ANOS
Ouve quando você chama de outro cômodo
Ouve a TV no mesmo volume que as demais pessoas da casa
responder perguntas simples como “quem”, “O quê?”. “Onde?”, “Por quê?”
Pode falar sobre suas atividades, na escola ou fora dela
Usa frases com quatro ou mais palavras
Fala com facilidade sem repetir sílabas ou palavras

DE 4 a 5 ANOS
Presta atenção às pequenas histórias e responde perguntas simples sobre elas
Ouve e entende a maioria das coisas ditas em casa e na escola
Usa frases com riqueza de detalhes
Conta histórias até o fim
Comunica-se facilmente com outras crianças e adultos
Pronuncia corretamente a maioria dos sons, com exceção de alguns poucos (l, s, r, v, z, ch)
Faz rimas
Reconhece algumas letras e números
Usa a gramática dos adultos

Tratamento dos desvios da linguagem na criança

A avaliação inicial e o diagnóstico da criança com atraso de linguagem deve ser feita pelo médico pediatra ou pelo otorrinolaringologista, especialmente aqueles com especialização em foniatria.
Condições como perdas auditivas, déficits cognitivos, entre outras devem sempre ser pesquisados.
Já o fonoaudiólogo especializado em linguagem é o profissional capacitado para a orientação e reabilitação dos transtornos de linguagem.

O fonoaudiólogo, por sua vez, fará o diagnóstico do desvio considerando a causa, pois outras alterações podem estar associadas como perdas auditivas, déficits cognitivos, entre outras.
Em caso de surdez, será considerado o uso de aparelhos auditivos (aparelhos de amplificação sonora) e indicação de um fonoaudiólogo especializado em audiologia para a prescrição destes. Em caso de problemas neurológicos, o neurologista deverá orientar em relação à prescrição de medicamentos. Se o fator emocional for a variável mais importante, deverá ser considerado o tratamento com psicólogo.
Quanto antes for iniciado o tratamento, melhores as chances de aquisição de uma linguagem funcional verbal.

O fonoaudiólogo fará também a avaliação do nível de linguagem e fala e criará um plano de ação para tratamento. Este plano inclui sessões de acompanhamento semanais (uma a 3 vezes por semana, dependendo do grau de dificuldade e prognóstico de aquisição da linguagem) que poderão ser individuais e algumas vezes, em grupo.
Além de um bom planejamento, a terapia fonoaudiológica inclui a decisão, junto dos pais, das perspectivas positivas ou negativas para a aquisição da linguagem verbal, assim como a sugestão do uso da linguagem não-verbal como apoio, uso de ferramentas alternativas de apoio (equipamentos eletrônicos que substituem ou apoiam a linguagem verbal), indicação de escolas regulares ou especiais, dentre outras importantes decisões a serem tomadas.
Este profissional fará também orientações e ensinará os pais para proverem aos filhos, no ambiente familiar, as melhores condições possíveis, para o estímulo de linguagem.

Como os pais pode estimular a linguagem dos filhos em casa?

Lembrem-se que a linguagem só é adquirida e evolui se eles receberem padrões consistentes em casa. Ou seja, converse com seu bebê! Converse com ele desde a gestação, já que ele ouve e pode reconhecer sua voz. O bebê aprende com vocês: com o que falam, com a entonação que usam, com seus exemplos. Todas as experiências que tiverem com ele precisam ser verbalizadas. P.ex, a troca de fralda pode ser acompanhada da seguinte fala:

  • – Vamos trocar a fralda (nome bebê)?;
    • – Nossa, que cocô fedido a… fez!;
      • – Mamãe vai pegar o algodão e a água e deixar tudo limpinho, está bem?;

      E assim por diante.

      É importante que os pais nomeiem os objetos e descrevam coisas que a criança está fazendo (durante a alimentação, banho, todas as atividades diárias). A música é um bom recurso pedagógico, até mesmo no carro, quando ela está no berço ou cadeirinha, ela pode ser cantada para acalmar o bebê ou estimulá-la a cantar. Eles amam livros infantis e sobre este quesito, as livrarias possuem centenas de opções para as várias faixas etárias. Enfim, brinque com ela e verbalize tudo o que está acontecendo. É claro que tudo feito com amor, funciona mais!