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Transtorno de Ansiedade na Infância

Transtorno de ansiedade na infância

Existem alguns tipos de transtorno de ansiedade que merecem a atenção dos pais, educadores e da sociedade em geral.

Afinal, quando negligenciados e não tratados, os transtornos podem agravar os sintomas vividos pela criança, acarretando em prejuízos de longo prazo.

A seguir, apresentamos algumas considerações que podem lhe ajudar a compreender melhor esse assunto, conhecendo os principais transtornos de ansiedade na infância e quais caminhos podem ser seguidos como tratamento.

Diferença entre ansiedade normal e patológica

Antes de compreendermos as principais características dos transtornos de ansiedade na infância, devemos ter em mente que nem toda ansiedade é patológica.

Afinal, a ansiedade tem um papel importante na vida do ser humano. Graças a ela, conseguimos “chegar aonde chegamos”, no sentido de espécie. Isso porque a ansiedade nos ajuda a nos prepararmos para momentos difíceis e adversidades, aumentando as chances de sermos bem-sucedidos naquilo que nos propomos a fazer.

Se não tivéssemos ansiedade, poderíamos agir de forma impensada em casos que requerem um preparo maior, e poderíamos colocar a nossa vida e nossa integridade moral em risco.

Por isso, reconhecer essa diferenciação é uma peça-chave para abordarmos, com as nossas crianças, os sintomas de ansiedade e auxiliarmos na busca pelo equilíbrio emocional.

Sendo assim, no caso de uma ansiedade tida como “normal”, a sua duração é relativamente curta e a intensidade costuma ser proporcional ao estímulo ansioso. Por exemplo, se a criança se sente ansiosa ao ficar sozinha em um novo ambiente, como uma nova escola, mas sem ter comportamentos desproporcionais, como chorar por horas, gritar ou perder o controle, estamos diante de uma ansiedade normal.

Porém, quando essa ansiedade é irredutível, sem limites e relacionada não apenas ao estímulo do momento, mas sim a qualquer tipo de separação ou medo que a criança possa ter, o ideal é investigar o caso.

Compreender esses primeiros pontos é fundamental para criarmos uma atmosfera mais saudável para os pequenos.

Tipos de transtorno de ansiedade na infância

Agora, trataremos dos principais tipos de transtorno de ansiedade na infância, a fim de conscientizar os pais e as pessoas em geral sobre esse assunto. Veja a seguir:

Transtorno de ansiedade de separação
O transtorno de ansiedade de separação pode ser caracterizado como uma ansiedade desproporcional e excessiva quando a criança precisa se afastar de casa e/ou das suas figuras de vinculação, que podem ser os pais, irmãos, tios, avós, etc.
No caso de crianças muito pequenas, essa ansiedade costuma ser caracterizada como normal, porém, à medida que a criança cresce e adquire certa autonomia em algumas circunstâncias, a ansiedade de separação pode ser desproporcional ao seu grau de discernimento, resultando em um sofrimento para o pequeno e os pais.

Transtorno de ansiedade generalizada
Por se tratar de uma ansiedade “generalizada”, a criança com TAG costuma demonstrar um sentimento ansioso excessivo para diferentes eventos de sua vida.
Ela pode se sentir ansiosa para ir à escola, caminhar com os pais em um local estranho, entrar em contato com uma pessoa nova, mudar algo na casa ou na rotina, etc.
Costuma apresentar um grau ansioso muito intenso, que tende a ser prolongado e repetitivo em diversos eventos cotidianos. Essa ansiedade é sempre desproporcional ao estímulo real e causa prejuízos funcionais na vida da criança e até mesmo dos pais, que tentam lidar com a situação.

Transtorno de ansiedade social
Crianças com até 2,5 anos costumam apresentar comportamentos que demonstram um desagrado por estar próximas de pessoas desconhecidas.
Porém, passada essa fase do desenvolvimento humano, se a criança ainda apresenta muito medo e comportamentos ansiosos ao ter contato com qualquer estranho, pode ser um caso de transtorno de ansiedade social.
Nesse quadro clínico, a criança pode ter uma ansiedade exagerada, repetitiva e persistente, relacionada ao contato com pessoas estranhas e desconhecidas.

Quais as consequências dos transtornos de ansiedade na infância?

Infelizmente, quando o transtorno de ansiedade na infância não recebe a atenção exigida por essa condição, e a criança sofre uma certa negligência nesse sentido, as consequências podem ser intensas na saúde e no bem-estar desse indivíduo.
Abaixo destacamos algumas dessas consequências para que você possa compreender melhor esse assunto.

1. Desenvolvimento de estratégias compensatórias que criam um comportamento de esquiva
Devido ao desconforto gerado pelo transtorno de ansiedade na infância, a criança começa a adotar estratégias compensatórias para “se livrar” da situação que causa desconforto, medo e ansiedade.
Por exemplo, a criança pode fingir ou realmente ter sintomas psicossomáticos, como dor de cabeça, vômitos e dor de estômago para poder faltar à escola.
Assim, pouco a pouco começa a criar um comportamento de esquiva, tentando usar mecanismos e ferramentas que a ajudem a “fugir” dos seus “problemas”.

2. Diminuição da autoestima
O fato de não conseguir colocar em prática algumas ações tidas como simples, como por exemplo, ir à escola e ficar com os seus colegas sem sofrer por isso, pode resultar em um impacto na autoestima da criança.
Ela pode se sentir incapaz de lidar com os medos, vendo-se como fraca e até mesmo excluída.

3. Aumento da insatisfação geral com a vida
A constante angústia vivida por conta das situações que servem de gatilho para a ansiedade, podem aumentar a insatisfação geral com a vida.
A criança pode começar a desenvolver um humor mais deprimido, devido ao fato de se excluir cada vez mais de determinadas situações, por medo do que pode vir a acontecer – mesmo o medo sendo irracional.
Vale ressaltar que as crianças não têm o discernimento de entender que os seus medos são desproporcionais e irracionais. Apenas os adultos podem enxergar o medo por essa perspectiva. A criança realmente acredita que o seu medo pode se tornar uma realidade, esquivando-se das situações e tornando-se cada vez mais insatisfeita com a própria rotina.

4. Progressivo agravamento do quadro ao longo da vida
À medida que o tempo passa, as crises de ansiedade e os gatilhos que podem causar essas crises tendem a se tornar mais recorrentes e “graves”.
Isto é, caso o transtorno de ansiedade na infância não seja detectado e devidamente tratado, a criança pode crescer e, durante o seu desenvolvimento, perceber que a situação está cada vez mais difícil, devido ao agravamento dos sintomas e do sentimento de ansiedade diante de determinadas situações – que variam de acordo com o tipo de transtorno.
Isso pode resultar em danos na vida pessoal, profissional e acadêmica do indivíduo, tornando as suas relações consigo mesmo, com a vida e com o mundo muito complicadas e de difícil manejo.

Conduta dos pais e da escola frente aos transtornos de ansiedade na infância

Infelizmente, o transtorno de ansiedade na infância é uma realidade que não pode ser calada e negligenciada.
Os educadores e familiares precisam ficar atentos aos sinais de que algo não está indo muito bem no desenvolvimento dos pequenos.
Além disso, outras medidas podem entrar em cena nessas situações. Descrevemos algumas delas a seguir:

1. Acolhimento e escuta
Muitas vezes os adultos podem cometer o equívoco de invalidar a dor, o medo e as emoções, de maneira geral, de uma criança, crendo que “crianças não sofrem”.
Porém, isso é uma inverdade. As crianças sofrem e merecem receber acolhimento, escuta, orientação e ajuda.
Portanto, para além dos casos de transtorno de ansiedade na infância, o acolhimento e a escuta ativa dos pais e educadores podem fazer toda a diferença.
Converse sobre as emoções e quando a criança estiver ansiosa, ajude-a a colocar essa ansiedade em palavras, tentando descrever o que sente, por que sente, quais medos estão envolvidos com a situação, etc.
Assim, a criança terá mais chances de elaborar os seus pensamentos e compreender a realidade por trás do que está vivendo, ao mesmo tempo em que “desabafa” as suas angústias e dores.

2. Incentivo ao enfrentamento gradual do problema
Os adultos que convivem com a criança diagnosticada com transtorno de ansiedade na infância podem auxiliar no enfrentamento gradual do problema.
Nesse caso, é muito importante ter paciência e atuar com carinho e tranquilidade. Afinal, expor a criança, de uma hora para outra, para aquilo que provoca a ansiedade nela, pode apenas agravar o caso.
Sendo assim, o enfrentamento gradual é um caminho menos doloroso para o pequeno.
Por exemplo: em casos de transtorno de ansiedade de separação, os pais podem combinar com o filho de ele ficar 5 minutos sozinho em um cômodo da casa, enquanto o pai ou a mãe vai fazer algo na cozinha (lembre-se de apenas deixar o ambiente seguro).
Depois, essa exposição à “solidão” pode acontecer com o filho indo brincar no vizinho. Depois, dormir na casa de um amigo, ir a uma viagem com a escola, etc.
Perceba que o processo é gradual, sempre respeitando os limites e angústias dos pequenos, enquanto os escutamos e acolhemos suas dores e medos.

3. Sintonia entre as ações da escola e dos pais
A escola precisa estar a par da situação para que as medidas de acolhimento, escuta e enfrentamento gradual também aconteçam nesse ambiente.
Por isso, os pais e o terapeuta da criança precisam manter um vínculo relativamente próximo, a fim de combinarem estratégias que auxiliem a criança a lidar com suas angústias, medos e ansiedades.

4. Busca pela psicoterapia infantil
A psicoterapia infantil, sem dúvidas, é um dos principais mecanismos de enfrentamento do transtorno de ansiedade na infância.
Por meio da psicoterapia, a criança terá a possibilidade de expressar o que sente, entender o que sente e encontrar caminhos que possam ajudá-la a enfrentar as suas angústias, ansiedades e dores.
Ao mesmo tempo, o terapeuta pode auxiliar a criança a aprender um pouco mais sobre estratégias de relaxamento (via respiração), e formas de nomear o que sente, para poder solicitar a ajuda de um adulto.
Além disso, o método de exposição gradual também poderá acontecer na terapia, quando o terapeuta cria situações hipotéticas, com histórias contadas dentro do consultório, que “expõem” a criança aos cenários dos quais ela teme.

5. Busca pelo tratamento psicoterápico quando necessário
Em alguns casos, a busca pelo tratamento psicoterápico também é relevante. Porém, vale ressaltar que os medicamentos só serão prescritos pelo médico psiquiatra e em situações incapacitantes e extremas.
Ademais, a psicoterapia e a atuação positiva dos pais, em conjunto com a escola, podem ser medidas relevantes no tratamento do transtorno de ansiedade na infância.

Referências
VIANNA, Renata Ribeiro Alves Barboza; CAMPOS, Angela Alfano; LANDEIRA-FERNANDEZ, Jesus. Transtornos de ansiedade na infância e adolescência: uma revisão. Rev. bras.ter. cogn. v.5 n.1 Rio de Janeiro jun. 2009.

CASTILLO, Ana Regina GL [et al.]. Transtornos de ansiedade. Braz. J. Psychiatry 22 (suppl 2) dez. 2000.