Teste Ergométrico
O que é o Teste Ergométrico?
O Teste Ergométrico é um tipo de teste de esforço, que pode ser feito para avaliar a capacidade cardiovascular. Existe também o teste de esforço que avalia ao mesmo tempo a capacidade cardiovascular e respiratória, conhecido como Teste Cardiopulmonar ou Ergoespirométrico.
Mesmo com características um pouco diferentes, estes são exames realizados para avaliar como o coração e o pulmão reagem ao esforço. O teste é feito geralmente em esteira ergométrica ou em bicicleta ergométrica (cicloergômetro de membro inferior).
O teste de esforço busca comparar como o coração funciona durante o estado de repouso e como funciona durante o esforço. Ele se inicia com a avaliação cardiológica em repouso, quando o médico realiza a ausculta cardíaca, o eletrocardiograma e a verificação da pressão arterial. Em seguida, o paciente é colocado em atividade, com aumento gradativo do esforço até a exaustão.
O aumento do esforço pode ser feito, basicamente, de duas formas:
- Aumento em etapas. Por exemplo, com estágios, quando cada velocidade e cada inclinação são mantidas por 3 minutos e, após este tempo, um novo estágio se inicia com outra velocidade e outra inclinação também por mais 3 minutos;
- Aumento linear, onde para cada momento do teste existe uma carga nova, não sendo percebido qualquer degrau entre as cargas.
O principal diferencial de um bom teste é chegar ao máximo que uma pessoa consegue realizá-lo voluntariamente, sendo que uma duração entre 08 e 12 minutos é considerada como melhor resultado que uma pessoa seja capaz de atingir, além de um período de aquecimento e um período de resfriamento. Assim, quando duas pessoas com capacidades físicas diferentes realizam o teste, não é o tempo que varia, mas sim a intensidade do exercício realizado.
Outro ponto importante é que algumas das alterações observadas no teste só são vistas após o fim do esforço, quando o coração está voltando para o repouso. Assim, o médico continuará medindo as variáveis e analisando o comportamento do coração por mais alguns minutos mesmo após o fim do esforço.
Quais as indicações para o teste ergométrico?
O Teste Ergométrico pode ser usado para diagnóstico, para indicação de determinados tratamentos, para avaliar a resposta a um tratamento e para a prescrição de exercícios.
- Diagnóstico: O teste ergométrico pode ajudar no diagnóstico da Doença Arterial Coronariana, que é a principal causa de morte em países desenvolvidos. Quando o paciente apresenta sinais de alteração no coração, como isquemia ou arritmias desencadeadas pelo esforço, o médico poderá no momento do exame fechar o diagnóstico ou poderá solicitar outros exames que podem ser desde um ecocardiograma, passando por uma ressonância cardíaca, chegando a uma arteriografia cardíaca;
Guidelines recentes (ref. DOI: 10.5935/abc.20190048) consideram o Teste Ergométrico para qualquer paciente acima de 35 anos com atividade física ou esportiva intensa, especialmente para aqueles com fatores de risco para a doença arterial coronariana, incluindo obesidade, tabagismo, sedentarismo, colesterol alto, pressão alta e diabetes;
- Estratificação de risco: A forma mais simples de entender o exame se traduz em “não houve nenhuma alteração ou houve o aparecimento de alguma alteração”. Quanto menor o nível de esforço no momento em que forem identificados os sinais de isquemia, maior o risco para o paciente. A capacidade física medida durante o teste também é um excelente fator prognóstico. Isso é importante para avaliar o grau de supervisão necessário, sendo que pacientes com maior risco podem ser autorizados a se exercitarem apenas sob supervisão em um centro de reabilitação cardíaca
- Avaliar a resposta ao tratamento: Considerando que os achados eletrofisiológicos têm relação direta com doenças coronarianas, podemos entender que o aparecimento destes achados indica que naquele nível de esforço o coração apresenta irrigação insuficiente.
Quanto mais comprometido o miocárdio menor a carga necessária para o aparecimento destas alterações. Assim, quando uma pessoa faz um teste antes e depois de um tratamento, poderemos avaliar a melhora do quadro de acordo com o nível de esforço no qual os sinais de isquemia apareceram.
Digamos que, em um primeiro teste, um paciente apresente isquemia com uma frequência cardíaca de 115 batimentos por minuto e a uma velocidade na esteira de 7 quilômetros por hora. Após um período de tratamento e treinamento, ele poderá ainda apresentar a isquemia, todavia será considerada uma melhora de seu quadro se esta acontecer quando sua frequência estiver mais elevada, por exemplo 140bpm e/ou se ele conseguir atingir uma velocidade de corrida maior, por exemplo 12 km/h, o que indica uma melhora no condicionamento cardiovascular;
- Prescrição de exercício: A prescrição pode ser feita de várias formas, para diferentes doenças. Para pacientes com isquemia induzida por exercício, o limite superior da frequência cardíaca durante a atividade deve ficar 10 ou mais batimentos abaixo da frequência cardíaca em que a isquemia foi notada pela primeira vez. Isso significa que, se uma pessoa apresentou sinais de isquemia quanto estava com 130 batimentos por minuto, o treinamento deverá ser mantido com uma frequência cardíaca máxima de 120 batimentos por minuto. Da mesma forma, podemos utilizar o teste para prescrição de faixas de treinamento para o indivíduo que não apresenta doença. Aqui existe uma diferença grande entre a sensibilidade do exame de ergoespirometria, muito mais sensível e específico para a prescrição do que o Teste Ergométrico clássico.
Quais alterações podem ser vistas em um Teste Ergométrico?
Capacidade física
Ainda que cada uma das variáveis avaliadas no teste de esforço seja de suma importância, nenhuma, isoladamente, é mais preditiva de risco de óbito do que a capacidade física. Muitos fatores influenciam tal afirmativa, visto que é de se esperar que qualquer pessoa com qualquer doença tenha uma capacidade física baixa e que pessoas saudáveis tenham tempo de treinamento e, por conseguinte, uma capacidade física melhor.
A capacidade física pode ser medida de várias formas, mas é usual a utilização da sigla MET que quer dizer equivalente metabólico. 1 MET equivale a 3,5 ml de O² por quilo de peso consumido em 1 minuto. Desta forma, é praticamente a mesma coisa receber o laudo de um teste ergométrico com os valores de consumo de O² por Kg por minuto ou em METs. Mais uma vez destaca-se a diferença da medição do consumo de O² que é realizado na ergoespirometria sendo um exame mais preciso do que a ergometria simples quando o objetivo é a avaliação desta variável.
Frequência cardíaca
Durante a atividade física, a demanda por oxigênio aumenta e, para suprir essa maior demanda, o coração precisa bater mais forte. A falha em se atingir a frequência cardíaca máxima esperada para o indivíduo, na ausência de medicações beta-adrenérgicas, é chamada de incompetência cronotrópica e será limitante para o aumento no esforço que uma pessoa pode fazer.
Ao terminar o exercício, a demanda por oxigênio diminui e é esperado que a frequência cardíaca retorne gradativamente ao normal. Quando isso não acontece, a demanda sobre as artérias coronárias aumenta e, consequentemente, o risco cardíaco também será maior. A recuperação é considerada anormal quando houver uma redução de menos de 12 batimentos por minuto um minuto após o fim do exercício ou de menos do que 22 batimentos por minuto 2 minutos após o fim do exercício.
Pressão arterial
A aferição da pressão arterial inclui duas medidas, correspondente à pressão máxima e mínima que o sangue exerce sobre a parede dos vasos sanguíneos. Elas são chamadas respectivamente de pressão sistólica e diastólica. Quando dizemos que uma pessoa tem pressão de 130 X 90 mmHg significa que sua pressão sistólica é de 130 mmHg e a pressão diastólica de 90 mmHg.
Durante o exercício, é esperado que a pressão arterial sistólica eleve-se com o aumento da carga, enquanto a pressão diastólica permanece relativamente constante, sendo aceito algum nível de alteração. Com essa resposta fisiológica, entendemos uma parte importante da avaliação que é o aumento da diferença entre as pressões e o comportamento logo após o término da atividade física, no qual pode haver a queda abrupta tanto para pressão sistólica como da diastólica.
A resposta inadequada da pressão arterial pode estar correlacionada tanto a um aumento excessivo da pressão sistólica (hipertensão exercional) como à incapacidade de aumento (hipotensão exercional).
A hipertensão durante um teste de esforço é definida como uma pressão arterial sistólica de mais de 250 mmHg ou um aumento na pressão diastólica maior que 10 mmHg. Já a hipotensão exercional fica caracterizada quando a pressão diminui mais do que 10 mmHg durante o teste de esforço. Ambas as situações são indicações para interromper o teste.
Débito cardíaco
Débito cardíaco é a quantidade de sangue que o coração ejeta na circulação ao longo de um minuto. Ele depende da frequência cardíaca e também da capacidade de contração do músculo cardíaco. Pacientes com doença coronariana apresentam uma redução do débito cardíaco, tanto pela incapacidade em aumentar a frequência cardíaca (incompetência cronotrópica) quanto pela menor capacidade de ejeção do sangue a cada batimento. Uma forma de avaliar a capacidade de trabalho do miocárdio é pelo duplo produto (DP) que é obtido pela multiplicação da frequência cardíaca pela pressão sistólica. O DP é um importante marcador de saúde e da função miocárdica durante o teste de esforço e o comportamento de sua curva é utilizado para diagnosticar disfunções do coração durante o exercício.
Atividade elétrica do coração
Durante o teste ergométrico, a função elétrica do coração (que é avaliada em um eletrocardiograma) é monitorada de forma contínua. Arritmias e isquemia são duas alterações que podem ser identificadas por meio do monitoramento da atividade elétrica do coração.
Para que as células do coração possam contrair e relaxar, elas precisam consumir oxigênio, o qual será transportado até elas por meio das artérias coronárias. A demanda por oxigênio será menor no repouso e maior em uma condição de esforço físico.
Nos pacientes com doença arterial coronariana, a capacidade de transporte de sangue, e, por conseguinte, de oxigênio pelas coronárias fica reduzida. Assim, em uma condição de repouso, a irrigação e a oxigenação podem até ser suficientes, mas em uma situação de esforço a doença coronariana não permitirá que a irrigação se faça de forma adequada, causando uma diminuição relativa de oxigênio para as células de uma determinada região, evento conhecido como isquemia.
A isquemia pode evoluir para a morte do tecido, conhecido como infarto. As células do coração, quando se apresentam em um quadro isquêmico, perdem algumas características relacionadas tanto à sua capacidade de contração como à condução do estímulo elétrico, as quais podem ser observadas por meio do monitoramento cardíaco.
Outra variável observada pelo eletrocardiograma é a frequência cardíaca. Como existem possibilidades de doenças que causam arritmias induzidas pelo exercício, é possível que a observação do ritmo do coração durante o exercício e até após, consiga identificar padrões de arritmia específicos com a utilização do teste de esforço como ferramenta adicional à avaliação eletrocardiográfica de repouso.
Aqui é importante ressaltar que a avaliação eletrocardiográfica de esforço é sempre baseada na comparação com o estado de repouso. Assim, alguns achados podem estar presentes desde o eletrocardiograma de repouso e outros podem somente surgir no esforço. Existem ainda os estados que são inespecíficos no repouso, mas se demonstram normais quando o coração é submetido ao esforço. Mais uma vez, destacando que quanto maior é o esforço obtido no teste mais sensível e específico será o teste ergométrico.
Preparo para o Teste Ergométrico
Entender claramente qual o objetivo do teste com o seu médico:
- Entender claramente qual o objetivo do teste com o seu médico:
- é possível que ele queira suspender alguma medicação ou, pelo contrário, não queira suspendê-la, para ver o efeito de seu uso;
- Manter os hábitos normais antes da realização do teste:
- todavia, é importante lembrar que substâncias podem alterar o resultado do teste, como cafeína, remédios para asma, entre outros. (avise ao médico que vai realizar o exame todos os remédios ou suplementos que está em uso);
- Não é recomendado o consumo de bebida alcoólica ou fumo antes da realização do teste:
- caso tenha realizado é fundamental falar com o médico que realizará o exame;
- Não usar cremes dermatológicos ou outros tipos de cremes no tórax ou abdômen:
- os eletrodos são colados na pele e caso soltem durante o teste podem prejudicar a avaliação do eletrocardiograma;
- Não realizar exercícios de alta intensidade nas últimas 24 horas que antecedem o teste:
- entenda o teste como um teste máximo e caso chegue cansado seu resultado poderá ser subótimo;
- Usar roupas e calçados adequados para a prática de exercícios;
- É possível que haja a necessidade de retirada de pêlos nos locais onde os eletrodos serão colados.
Quais os riscos do Teste Ergométrico?
O Teste Ergométrico é geralmente seguro. As complicações são raras e a frequência de eventos cardíacos adversos graves, incluindo infarto do miocárdio, arritmia ventricular sustentada e parada cardíaca, existe. Todo local que realiza o teste de esforço deve obrigatoriamente contar com equipe treinada para reanimação e carrinho de parada cardíaca.
Como muitos dos eventos apresentam sinais e sintomas progressivos, o médico bem treinado tem a capacidade de perceber sinais que antecipam estes eventos graves e interromper o teste assim que isso acontecer. Estes sinais podem estar presentes já no exame físico, passando pelo Eletrocardiograma (ECG) de repouso e em cada momento do teste.
O risco de um evento fatal durante o teste de esforço, ainda que não seja nulo, na maior parte das vezes, é infinitamente menor do que o risco de um indivíduo não realizar o teste e se submeter ao mesmo nível de estresse no ambiente comunitário, longe da atenção médica.