Suplemento Alimentar no Esporte

O uso de suplemento alimentar no esporte é bastante disseminado. Entretanto, os tipos de suplementos, as motivações e a forma de utilização variam de acordo com o país, esporte, idade e sexo do atleta.

Apesar dos fortes apelos da indústria de suplementos, a ideia de que o alto rendimento é incompatível com uma alimentação baseada apenas em alimentos reais não se mostra verdadeira na prática.

Muitos esportistas competindo até mesmo em nível olímpico e nas mais variadas modalidades, são capazes de fazer isso sem que tenham qualquer deficiência nutricional.

Infelizmente, o consumo de suplementos de forma abusiva, sem uma avaliação médica e nutricional prévia, é uma prática comum tanto para atletas recreativos como profissionais.

O uso é muitas vezes guiado apenas pela orientação de outros atletas, treinadores sem formação especializada ou vendedores.

Eventualmente, a decisão por um ou outro suplemento é baseada apenas em pesquisas feitas na internet.

Tudo isso pode colocar em risco a saúde, o desempenho esportivo e a reputação do atleta.

O consumo apenas de alimentos reais, por outro lado, pode em alguns casos ser pouco prático para atender às necessidades do atleta.

Isso pode estar associado a dificuldades com a preparação ou armazenamento, horários de treinamento, desconforto intestinal ou pelo alto gasto calórico total ao longo do dia.

A suplementação pontual pode e deve ser considerada nestas situações.

Isso deve ser feito sempre após uma avaliação especializada.

O abuso dos suplementos alimentares pode ser prejudicial tanto para a saúde como para o desempenho do atleta:

• O consumo excessivo de proteína pode levar a ganho de peso;
• A suplementação de ferro em pessoas com reservas de ferro já adequadas pode ser a causa de vômitos, diarreia e dor abdominal;
• O bicarbonato pode causar desconforto gastrointestinal, quando ingerido em quantidades suficientes para melhorar o desempenho;
• O excesso de cafeína pode causar náusea, ansiedade, aceleração frequência cardíaca e insônia.

Na maior parte das vezes, os efeitos colaterais descritos acima superam os eventuais benefícios para  o desempenho esportivo.

Estudo realizado em Portugal com atletas de diferentes seleções nacionais mostrou que 64% deles usavam alguma forma de suplementação alimentar (1).

Os principais suplementos relatados foram:

• Polivitamínicos (71%),
• Bebidas esportivas (59%);
• Magnésio (58%);
• Proteínas (47%);
• Glutamina (28%);
• Vitamina C (28%);
• Ferro (24%);
• Géis esportivos (21%).

Em um estudo semelhante realizado na espanha (2), foi observado os mesmos índices de 64% de uso de suplementos, mas com distribuição diferente: o suplemento mais usado foi a proteína (41%) seguido pelos aminoácidos / BCAA (37%), sendo que 6% dos atletas consumiam 8 ou mais suplementos.

No esporte recreativo, estudo realizado com todos os frequentadores de academia em uma cidade de Minas Gerais mostrou que 51% dos praticantes usavam suplementos nutricionais (3).

Entre os homens, os mais utilizados foram aqueles ricos em proteínas (59,62%) e creatina (35,68%).

Já entre as mulheres, foram as proteínas (25,81%) e os fitoterápicos naturais (13,36%).

70% dos praticantes relataram consumir suplementos sem orientação de um profissional especializado.

Como regra geral, quanto maior o nível competitivo e quanto mais velho o atleta, maior o uso de suplementos. Além disso, atletas masculinos usam mais suplementos quando comparado com mulheres no mesmo nível de competição.

O fornecimento de energia para o atleta deve considerar não apenas o valor energético total dos alimentos consumidos ao longo do dia, mas também o momento em que cada nutriente é consumido.

Isso é válido especialmente em relação a alimentação pré-treino, e, dependendo da modalidade, da alimentação durante a atividade física.

Em algumas situações, pode ser pouco prático para o atleta usar alimentos reais para atender às suas metas de nutrição.

Isso se justifica pelas dificuldades com a preparação ou armazenamento, horários de treinamento, desconforto intestinal ou pelo alto gasto calórico total ao longo do dia.

Estes atletas poderão considerar o uso de suplementos de carboidratos (incluindo bebidas esportivas e gels de carboidrato) e suplementos de proteína (Whey Protein) e aminoácidos (BCAA).

Alguns poucos suplementos possuem evidências limitadas de que podem ajudar o atleta com ganhos marginais no desempenho esportivo.

Ainda assim, estes pequenos ganhos podem fazer a diferença nos esportes profissionais altamente competitivos, onde a margem de ganho já é habitualmente baixa.

Esses suplementos incluem a cafeína, creatina, nitrato, bicarbonato de sódio e a Beta-alanina.

Substâncias termogênicas é um termo que se refere a produtos capazes de aumentar o gasto energético basal em até 5%.

O café e outros produtos ricos em cafeina, incluindo o chá verde e o Guaraná, são os principais representantes deste grupo.

Outras substâncis termogênicas incluem:

• Capsaicina, presente na pimenta;
• Gengibre;
• Pimentão.

O principal objetivo com o uso das substâncias termogênicas é a perda de peso.

Os atletas apresentam risco aumentado para deficiências nutricionais, devido ao aumento no processo de perda e reposição de muitos nutrientes.

Estas deficiências podem comprometer a saúde geral, aumentar o risco para doenças e comprometer o rendimento esportivo.

Entre as deficiências nutricionais mais comuns nos atletas, incluem-se a deficiência de ferro e a deficiência de cálcio e vitamina D. Algumas destas deficiências podem se desenvolver de forma assintomática.

É discutível também se os valores de referência usados para a população em geral também devem ser válidos para os atletas.

A atividade física intensa pode levar a um comprometimento do sistema imunológico do atleta, deixando-o mais vulnerável para infecções.

Além disso, viagens frequentes, alimentação em locais onde a qualidade do alimento é questionável e convívio próximo com as delegações são outros fatores que aumentam o risco para infecções.

Entre os suplementos que prometem a melhora da imunidade, devemos considerar os probióticos, vitamina C, Vitamina D e Zinco.

Por mais contraditório que possa parecer, não é incomum que atletas desenvolvam deficiências nutricionais justamente em decorrência do excesso do uso de suplementos alimentares.

Os alimentos reais, especialmente aqueles pouco manipulados e processados, apresentam diversos nutrientes que ajudarão a compor as necessidades individuais de cada pessoa.

Os suplementos alimentares, por outro lado, habitualmente repõem apenas parte destes nutrientes. O atleta deixa de comer os alimentos reais e passa a desenvolver deficiência daqueles nutrientes que não são suplementados.

Estudos feitos em diversos países, inclusive no Brasil, Estados Unidos e Europa, apontam que entre 15% e 20% dos suplementos alimentares comercializados possuem algum elemento proibido pela Agência Mundial Antidopagem (WADA) na composição e que não estão descritos nos rótulos dos produtos.

Apesar de o problema ser muitas vezes referido como contaminação de suplementos alimentares, o que se observa é que estas substâncias são geralmente adicionadas de forma proposital, com a finalidade de prover os efeitos anunciados pelo fabricante.

Isso porque é sabido que o efeito real sugerido dificilmente será obtido com a maior parte destes suplementos.

Entre os suplementos com maior risco de contaminação, estão justamente aqueles que prometem a perda de peso e aqueles que prometem o ganho de massa muscular. Entre os contaminantes comuns dos suplementos alimentares, devemos considerar:

• Efedrina ou Dimetilamilamina (DMAA): estimulantes muito usados no passado em fórmulas emagrecedoras por agirem como no sistema nervoso central de forma a acelerar o metabolismo e reduzir o apetite, mas que foram banidas devido ao risco de graves efeitos colaterais.
• Diuréticos: substâncias que fazem a pessoa urinar mais, muito usadas no tratamento da hipertensão arterial, insuficiência cardíaca ou insuficiência renal, entre outras doenças. Quando presentes nos suplementos, eles de fato promovem uma perda de peso, mas isso acontece em decorrência da desidratação e não da perda de gordura. Pessoas que passam a urinar muito depois de começar a usar suplementos termogênicos devem ficar alertas para o risco de contaminação do suplemento.
• Esteroides anabolizantes: pequenas doses de esteroides anabolizantes são muitas vezes encontrados nos suplementos que prometem o ganho de massa muscular. O aparecimento de acne pode ser um indício da contaminação por esteroides anabolizantes.