Problemas de socialização na infância

Os problemas de socialização na infância merecem atenção e intervenção, tanto dos pais, quanto dos profissionais da saúde que acompanham a criança.

Isso porque a sociabilidade tem um papel importante no desenvolvimento cognitivo e emocional do ser humano. Afinal, em essência, somos seres sociais, que precisam uns dos outros para se desenvolver e crescer.

Sendo assim, convidamos você para compreender alguns pontos importantes dessa temática. Acompanhe o texto e saiba mais!

A socialização na infância ajuda o indivíduo a se portar na sociedade por toda a sua vida. Ele poderá desenvolver a inteligência emocional, aprender a lidar com ideias discordantes das suas, bem como poderá desenvolver habilidades como empatia, escuta ativa, paciência, etc.

Quando a sociabilidade é negligenciada, a criança pode desenvolver comportamentos agressivos, irritáveis, assim como pode ter problemas de aprendizagem, foco, concentração e outras questões cognitivas.

Por isso, incentivar as interações sociais de forma saudável é essencial para a qualidade de vida do pequeno e sua inserção no mundo como um todo.

Antes de destrincharmos o tema “problemas de socialização na infância”, é importante considerarmos alguns dos sinais de que essas questões estão presentes no dia a dia dos pequenos.

Desse modo, poderemos tomar medidas que auxiliem no desenvolvimento social da criança. Veja quais são os indícios desse problema:

1. Dificuldade para aceitar outro ponto de vista
Uma criança com problemas de socialização na infância pode apresentar uma certa dificuldade em lidar com outros pontos de vista.
Obviamente, devemos ter um olhar sensível com relação a isso. Afinal, uma criança contrariada, normalmente, se sentirá frustrada e irritada.
Porém, quando há indícios de grandes explosões emocionais e desproporcionais muito frequentes, pode ser interessante investigar a situação com mais atenção.
Ao mesmo tempo, cuidado para não rotular a criança como um indivíduo com problemas, ok? Pois lembre-se de que ela ainda está desenvolvendo a sua própria sociabilidade e, por isso, muitas vezes pode sim ter comportamentos mais explosivos e impulsivos.

2. Esquiva às idas à escola ou outros âmbitos sociais
A criança com problemas de socialização na infância, tendencialmente, apresentará problemas para lidar com as idas à escola ou a outros âmbitos sociais.
É o caso da criança que sente dor de barriga ou de cabeça antes de ir para a escola, com o propósito de faltar à aula; da criança que sente um temor muito grande com relação às idas aos eventos, mesmo com a família por perto; da criança que teme ficar longe das suas figuras de vinculação, chorando excessivamente por isso; entre outros sinais.
Quando a criança demonstra essa ansiedade para sair de casa, para ficar longe dos pais e para ter contato com indivíduos e espaços diferentes, é muito importante investigar a situação.

3. Isolamento social
Obviamente, crianças com problemas de socialização na infância apresentarão, em sua maioria, um comportamento de isolamento social.
Nas festinhas infantis, ela pode preferir brincar sozinha ou perto dos pais. Na escola, costuma ficar isolada no recreio e nos momentos de diversão e brincadeiras.
Em casa, prefere ficar brincando sozinha do que ir visitar o vizinho ou recebê-lo em seu quarto, por exemplo.
Em alguns casos, a criança pode até se isolar por outras questões, como um dia de desânimo proveniente de algum problema familiar, o que é normal. Porém, quando o isolamento é frequente, o ideal é que os pais se atentem a esse sinal importante.

4. Humor deprimido e irritável
As crianças que têm dificuldade para se socializar também podem apresentar sinais de humor deprimido, devido à baixa autoestima e a falta de autoconfiança que podem se instalar em sua vida.
Além disso, o humor irritável também pode estar presente em diversos momentos. A criança pode demonstrar uma grande dificuldade em lidar com as outras pessoas, irritando-se facilmente durante as suas interações.

Esses são alguns dos sinais de problemas de socialização na infância. Porém, as mudanças de comportamento e as dificuldades para lidar com as outras pessoas também devem servir de alicerce na hora de investigar o caso.
Se houver dúvidas, não hesite em conversar com um psicólogo, pois esse profissional poderá avaliar a situação com mais cuidado.

As causas dos problemas de socialização na infância podem ser multifatoriais e, ainda, dependem do contexto no qual a criança está inserida.

Por isso, não podemos descrever uma única causa para o problema. O ideal é investigar a situação para analisar se a criança está desenvolvendo algum transtorno mental, se há questões neurobiológicas ou se é necessário investir em medidas de sociabilidade que a incentivem a ir adiante nas suas relações sociais.

A seguir, apresentamos alguns quadros que podem contribuir para o desenvolvimento de dificuldades de relacionamento social na infância:

1. Transtorno de ansiedade generalizada
Uma criança com transtorno de ansiedade generalizada pode demonstrar um comportamento ansioso e desproporcional em diversos eventos de sua vida.
É o caso de ter um temor desproporcional às idas à escola, bem como temer, profundamente, qualquer evento diferente e novo.
A criança com TAG apresenta um grau ansioso muito elevado, que a impede de socializar com os seus colegas de turma e até mesmo com pessoas ainda mais próximas, como parentes, primos, tios, etc.
A ansiedade, nessa situação, incapacita o desenvolvimento de laços sociais e a criação de uma rotina saudável para a criança.

2. Transtorno de ansiedade de separação
O transtorno de ansiedade de separação também pode ser um dos estopins dos problemas de socialização na infância. Isso porque a criança pode temer afastar-se dos seus pais ou outras figuras de vinculação, como tios, avós, irmãos, etc.
Desse modo, ela busca se esquivar de qualquer evento que a “tire” de dentro de casa e de perto das suas figuras de vinculação.
Consequentemente, o seu laço com a família é o único que passa a ser excessivamente nutrido, enquanto outras relações sociais são, praticamente, inviáveis.
Vale ressaltar que a ansiedade de separação é comum na infância, e no caso de crianças até 2,5 anos essa ansiedade tende a ser mais intensa, o que é normal.
Porém, quando essa ansiedade impede a criança de se desenvolver em ambientes longe dos pais, a partir de 2,5 anos, como na escola, é interessante ficar atento. Se a criança passa o dia chorando na escola ou chamando pelos pais, por exemplo, o ideal é investigar o caso.

3. Transtorno de ansiedade social
O transtorno de ansiedade social diz respeito a uma ansiedade sentida pela criança nos momentos em que ela tem contato com qualquer pessoa estranha.
Isso pode valer tanto para adultos, quanto para crianças desconhecidas.
O indivíduo com TAS busca se esquivar de qualquer relação social nova, o que pode resultar em um isolamento na escola e, consequentemente, problemas de socialização na infância.

4. Variações neurobiológicas
Algumas variações neurobiológicas, como no caso de crianças autistas, também podem ser o estopim para os problemas de socialização na infância.
Por isso, se você perceber que o seu filho não faz muito contato visual, possui comportamentos estereotipados, tem apresentado problemas de aprendizagem e possui uma sociabilidade pobre, considere conversar com um neurologista e um psicólogo.
Além disso, casos de depressão também podem resultar em um isolamento social. Fique atento aos sinais comportamentais do seu filho.

5. Bullying na escola
Os casos de bullying também podem desencadear dificuldades na socialização. Afinal, a criança que é vítima de bullying pode sofrer agressões constantemente, o que a impede de se sentir confiante nos âmbitos sociais.
A partir dessas agressões, a criança pode temer ir à escola, querendo ficar em casa e chorando excessivamente todas as vezes em que precisa estudar.
Tudo isso pode minar a saúde mental do indivíduo, bem como a sua autoconfiança, isolando-o das relações sociais saudáveis.

6. Problemas de autoestima
As questões relacionadas à autoestima na infância também podem desencadear problemas de socialização na infância.
Muitas vezes, devido ao ambiente no qual está inserida, a criança pode desenvolver uma baixa autoestima, cobrando-se de uma forma desproporcional.
Na ausência de elogios e afeto dentro da família, a criança pode se sentir excluída e não pertencente àquele espaço, resultando em uma visão deturpada de si mesma.
Da mesma maneira, os casos de bullying, que citamos acima, também podem minar a autoestima, resultando em dificuldades para se aproximar das outras pessoas, por medo de ser julgada e diminuída.

Acima trouxemos alguns dos motivos pelos quais a criança pode desenvolver problemas de socialização na infância. A seguir, apresentamos alguns pontos que os pais podem colocar em prática para contribuir com o bom desenvolvimento do pequeno. Veja

1. Mantenha a proximidade e entender os sinais de problemas de socialização na infância
Procure se manter próximo do seu filho e fique atento aos sinais de que algo não vai bem.
Inclua o seu filho nas decisões da família, aprenda a escutá-lo, apoiá-lo e incentivá-lo nas suas mais diversas tarefas cotidianas.
Considere manter uma proximidade com a vida escolar do seu filho, para que ele se sinta acolhido nesse universo importante de sua vida.
E em caso de sinais de problemas de socialização, procure ajuda profissional, seja na direção da escola ou na conversa com um psicólogo infantil.

2. Participação da família em eventos socioculturais
Considere participar de eventos socioculturais do seu bairro, rua ou cidade. Afinal, à medida que a própria família socializa com outras pessoas, a criança absorve esse comportamento dos pais e pode circular em ambientes diferentes, desenvolvendo a sua sociabilidade.
Porém, caso a criança tenha algum transtorno que atrapalhe a socialização, invista nesses eventos de forma gradativa, ok?

3. Considere frequentar locais apropriados para as crianças e incentive as atividades coletivas
Invista em atividades que foquem nas crianças, como idas aos parques, passeios em zoológicos, festas infantis, entre outras.
Assim, a criança poderá visualizar as ações de outros pequenos, entendendo fatores essenciais da convivência em sociedade, desenvolvendo amizades, etc.
Considere, ainda, incentivar as atividades coletivas, como as práticas esportivas, permitindo que a criança escolha a modalidade e inicie essa atividade.

4. Medie os conflitos com paciência e comunicação não-violenta
Quando o seu filho estiver brigando e discutindo com outra criança, medie o conflito com paciência.
Não grite e tampouco diminua o seu filho diante das outras pessoas. Mas sim, considere escutar o que está acontecendo, acolhendo a explosão de emoções e auxiliando o seu filho, com calma, a entender o que está se sucedendo.

5. Fortaleça a autoestima do seu filho
Procure ser uma mola propulsora para o desenvolvimento da autoestima do seu filho. Elogie-o, reconheça os seus esforços, apoie, escute, dê um abraço e ofereça carinho quando algo não estiver bem, e também quando tudo estiver funcionando.
As crianças precisam se sentir amadas e pertencentes à família para desenvolverem a autoconfiança e a autoestima.

6. Cuidado com a superproteção
Não exagere na superproteção. Demonstrar uma falta de confiança excessiva, bem como impedir que o seu filho participe de todo e qualquer evento que você não está presente para “protegê-lo” pode, na verdade, impulsioná-lo para os problemas de socialização na infância. Cuidado!

7. Busque a psicoterapia infantil
Por fim, não desconsidere o suporte da psicoterapia infantil na hora de lidar com os problemas de socialização na infância. O profissional da saúde mental poderá auxiliar o seu filho na hora de ele entender as próprias emoções e medos, bem como poderá apoiar e direcionar os pais rumo ao desenvolvimento social saudável dos pequenos.
Considere essa possibilidade para criar uma atmosfera ainda mais positiva para o seu filho.

Referências
Gomes, L., & Leão de Aquino, L. (2019). Crianças e infância na interface da socialização. Questões para a educação infantil. EccoS – Revista Científica, 0(50), e14092. doi:https://doi.org/10.5585/eccos.n50.14092

KELLER, K. Diferentes Caminhos de Socialização até a Adolescência. Rev. Bras. Cresc.Desenv. Hum., SãoPaulo, 8(1/2), 1998.