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Medicações Anti-inflamatórias no Esporte

Abuso das Medicações Anti-Inflamatórias no esporte

Os anti-inflamatórios estão entre as medicações mais utilizadas no mundo, sendo comprados sem receita médica na maior parte dos países. 

O abuso destas medicações é comum, tanto na população em geral como no meio esportivo. 

De acordo com um estudo realizado durante o Ironman de Florianópolis em 2008, foi observado que mais da metade dos atletas fizeram uso dos anti-inflamatórios para competir. 15% fizeram isso no dia anterior à prova, 11% imediatamente antes e 28% durante a competição (1).

Este abuso se justifica pela compreensão popular de que a inflamação é algo ruim e não desejável. Tentaremos mostrar aqui que este conceito, na maior parte das ocasiões, está errado. A inflamação tem um papel fundamental para o atleta.

Quais os problemas decorrentes do Abuso de Anti-Inflamatórios no Esporte?

O abuso dos anti-inflamatórios provoca diversos efeitos colaterais amplamente conhecidos, incluindo problemas gastrointestinais, renais e cardiovasculares.

Entretanto, no atleta, é preciso compreender que elas levarão a uma pior Recuperação pós-treino e, em última análise, a piora no desempenho e maior risco de lesões.

Qual a importância da inflamação para o atleta?

Sempre que uma pessoa se exercita, é esperado que ocorram microlesões na musculatura.

Estas lesões desencadeiam uma resposta inflamatória local, fundamental para que a musculatura se recupere.

É justamente este processo de lesão e recuperação é que faz com que o músculo fique gradativamente maior e mais forte.

Podemos dizer assim que a inflamação é fundamental tanto para que ocorram as adaptações positivas esperadas com a atividade física como para a recuperação pós treino.

Quando o uso de anti-inflamatórios por atletas deve ser considerado?

Se, por um lado, a ausência do processo inflamatório impede que a musculatura se recupere adequadamente após um treino, quando em excesso ela pode provocar um dano secundário às células, em função da produção de radicais livres.

São sinais de uma resposta inflamatória excessiva:

  • Dor que impede a pessoa de realizar as atividades do dia a dia ou do trabalho.
  • Desconforto persistente por mais de 7 dias.

Como regra geral, treinar além da capacidade física (gerando maior nível de inflamação) e depois tomar os anti-inflamatórios levará, por um lado, a uma maior destruição celular e, por outro, a um retardo na recuperação.

O ideal, desta forma, é que os treinamentos sejam ajustados de forma a evitar esta resposta inflamatória excessiva.

Em algumas situações, porém, o uso de anti-inflamatórios deve ser considerado.

Um exemplo disso é em uma convocação para treinamentos com uma seleção. O tempo para trabalho tende a ser curto e o treinador precisa aproveitar ao máximo o período do ponto de vista técnico. 

A equipe técnica sabe que os atletas serão sobrecarregados e que terão um preço a pagar. Em alguns casos, porém, pode ser considerado que este “custo” compensa os benefícios. Esta é uma condição passageira, que pode ser mantida para um período de uma semana a 10 dias de convocação.

Outra situação é em algumas provas de ultra-endirance, como as ultramaratonas, ironman, maratonas aquáticas ou voltas ciclísticas. A própria competição exige uma carga de esforço supra-fisiológico.

Por fim, os anti-inflamatórios podem ser considerados após um trauma com capacidade para gerar inflamação significativa. 

O tempo de uso, porém, deve se limitar aos dois ou três primeiros dias após o trauma, de forma a minimizar o dano secundário. Depois disso, o uso deve ser interrompido, potencializando a recuperação da lesão. 

No caso de dor, eles podem ser substituídos pelos analgésicos comuns.

Qual o mecanismo de ação dos anti-inflamatórios?

Os anti-inflamatórios são medicações indicadas para o controle da dor, da inflamação e, em alguns casos, da febre.

Eles agem no organismo inibindo a ação de uma enzima chamada ciclooxigenase (COX), enzima esta que atua aumentando a produção de prostaglandina, responsável pelo surgimento da inflamação.

Existem três formas de ciclooxigenase:

  • COX-1: enzima sempre presente no corpo e responsável por funções fisiológicas importantes.
  • COX-2: enzima que surge apenas como parte de uma resposta inflamatória.
  • COX-3: presente no Sistema Nervoso Central.

Quais os diferentes tipos de Anti-inflamatórios?

Os anti-inflamatórios são classificados em três categorias de acordo com a ação que exercem sobre as enzimas COX-1, COX-2 e COX-3:

  • Anti-inflamatórios não seletivos (Ibuprofeno, Naproxeno): inibem tanto a COX-1 como a COX-2.
  • Anti-inflamatórios seletivos da cox-2 (coxibes): atuam exclusivamente sobre a COX 2.
  • Parcialmente seletivos (meloxican, diclofenaco).

Como escolher o melhor anti-inflamatório para o atleta?

Não existe um único anti-inflamatório que seja ideal para todos os pacientes, devendo a escolha ser feita caso a caso. 

O principal fator que deve mover a escolha do anti-inflamatório está relacionado a seus efeitos colaterais:

Efeitos gastrointestinais

Ao inibirem a COX-1, os AINEs inibem a produção do muco que protege o estômago. Isso pode levar à erosão (gastrite medicamentosa), formação de úlcera gástrica, perfuração e hemorragia. 

Quanto mais seletivo para a cox-2 for o anti-inflamatório, portanto, menor o risco para complicações gastrointestinais.

Efeitos cardiovasculares

Embora menos propensos a causar sintomas gastrointestinais, os anti-inflamatórios inibidores seletivos da COX-2 estão associados a um maior risco para complicações cardiovasculares, incluindo Infarto Agudo do Miocárdio, Acidente Vascular Cerebral e Insuficiência Cardíaca

Isso acontece porque estas medicações atuam sobre a cascata de coagulação do sangue, levando a um estado pró-trombótico relativo.

O risco desses efeitos adversos é maior em pacientes com história prévia de doença cardiovascular ou com fatores de risco para desenvolvê-la. 

Nesses pacientes, o uso de inibidores seletivos da COX-2 deve ser limitado àqueles para os quais não exista alternativa apropriada e, mesmo assim, somente em doses baixas e pelo menor tempo necessário.

Efeitos renais

Os anti-inflamatórios podem induzir a uma variedade de alterações deletérias na função renal. Isso acontece especialmente em pessoas que já têm a perfusão sanguínea renal diminuída, ou nos que fazem uso prolongado dessas drogas.

O dano está relacionado principalmente à sua ação inibitória sobre a síntese de prostaglandinas.

O comprometimento renal constitui um dos principais responsáveis pelo alto índice de morbimortalidade associada ao abuso dos Anti-inflamatórios. 

A prescrição dessa classe de drogas, desta forma, deve ser criteriosa, especialmente para os pacientes considerados de alto risco para desenvolverem lesão renal.

Entre eles, incluem-se:

  • Idosos;
  • Hipertensos;
  • Diabéticos;
  • Pacientes hipovolêmicos;
  • Pacientes em uso de diuréticos. 

A toxicidade renal ocorre tanto com os inibidores seletivos quanto com os não-seletivos das cicloxigenases.