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Impacto Femoroacetabular

O que é o Impacto Femoroacetabular?


O Impacto Femoroacetabular é uma condição que ocorre quando há um contato anormal entre a cabeça do fêmur e a parte anterior do acetábulo, que é a estrutura da pelve onde o fêmur fica apoiado.

Em geral, o problema gera limitação da mobilidade e dor no quadril.

O impacto pode ser acompanhado de desgaste da articulação. Acredita-se, inclusive, que o Impacto Femoroacetabular seja uma das principais causas de Artrose do quadril em adultos jovens (1).

Qual a causa do Impacto Femoroacetabular?

Em condições normais, o fêmur e o acetábulo não sofrem contato agressivo durante os movimentos do dia a dia. Isso passa a acontecer na presença de alterações no formato normal do osso, característica do impacto femoroacetabular.

Atletas e praticantes de atividades físicas que envolvem grandes amplitudes de movimento do quadril, como ballet, artes marciais, tênis, futebol e corrida, não apenas são mais suscetíveis ao Impacto Femoroacetabular como têm maior probabilidade de se tornarem sintomáticos.

Quais são os tipos de Impacto?


Existem três tipos de Impacto Femoroacetabular. São eles:

1. Impacto Femoroacetabular do tipo CAM

O impacto tipo CAM é mais comum em homens e atletas. Caracteriza-se pela presença de um contorno ósseo mais abaulado na transição entre a cabeça e o colo do fêmur.

O impacto ocorre quando o paciente flexiona ou rotaciona o quadril. Isso pode desencadear dor, além de ser esperada uma limitação na mobilidade. o impacto pode também dar origem às lesões labrais do quadril.

2. Impacto Femoroacetabular do tipo Pincer

No Impacto Femoroacetabular do tipo Pincer, a deformidade apresenta-se não mais no fêmur, mas sim no acetábulo, que é a porção da pelve onde o fêmur fica apoiado.

O Pincer é mais comum em mulheres e provoca um aumento da cobertura da cabeça femoral pelo acetábulo. Ele pode causar limitação dos movimentos do quadril (flexão, adução e rotação interna da coxa).

3. Tipo Misto

No Impacto Femoroacetabular do tipo Misto, que representa mais de 80% dos casos, as características dos tipos CAM e Pincer apresentam-se simultaneamente (2).

Quais são os sintomas do Impacto Femoroacetabular (IFA)?

A presença de dor é o principal sintoma da Impacto femoroacetabular. Ela pode ocorrer na virilha (mais comum) e também na lateral e parte posterior do quadril.

Frequentemente, a dor surge durante movimentos como agachar, calçar sapatos, entrar e sair do carro, andar de bicicleta ou moto, correr ou sentar em locais baixos por tempo prolongado.

Em alguns casos, a dor pode se irradiar para o púbis (pubalgia), articulações sacro-ilíacas (sacroileíte) e coluna lombar (lombalgia ou lombociatalgia).

A dor também pode ser desencadeada pela prática de atividades esportivas que exigem grande mobilidade do quadril. Isso inclui modalidades como o ballet, ginástica e esportes de luta.

Entretanto, é comum que se observe exames compatíveis com o impacto em pessoas sem sintomas que possam ser atribuidos a ele, mesmo em atletas de alto rendimento (3).

Com a evolução da doença, o paciente também pode apresentar outros sintomas, tais como:

  • Fisgadas, estalos ou travamento do quadril;
  • Limitação da mobilidade de rotação interna da coxa (rodar o joelho para dentro);
  • Alteração do padrão de marcha, com passos mais curtos, andar mais lento e mancando);
  • Limitação funcional gradativa, em que o paciente sente dificuldade ao realizar certas atividades do dia a dia, como sair do carro ou passar muito tempo em pé.

Eventualmente, as alterações na biomecânica do quadril podem comprometer estruturas extra-articulares, como tendões (principalmente o psoas) e músculos do quadril. Estas estruturas podem se tornar dolorosas e comprometer ainda mais a mobilidade da região.

Como é feito o diagnóstico

O diagnóstico do Impacto Femoroacetabular envolve testes clínicos que podem reproduzir os sintomas do paciente e que podem também evidenciar limitações na mobilidade do quadril.

Os exames de imagem podem detectar alterações ósseas no colo do fêmur e no acetábulo, além de eventuais lesões do labrum.

  • Radiografia: devem ser feitas em diferentes posições, de forma a detectar as alterações anatômicas características do impacto tipo CAM ou Pincer e também para identificar sinais da Artrose no quadril, que é um diagnóstico diferencial para a dor do Impacto Femoroacetabular;
  • Tomografia Computadorizada: permite uma observação mais detalhada das estruturas ósseas;
  • Ressonância Nuclear Magnética: permite analisar eventuais lesões de tecidos moles (labrum, tendões e músculos).

A imagem (A) mostra um impacto do tipo CAM na radiografia; A imagem (B) mostra uma Lesão do Labrum acetabular, frequentemente acompanhada do Impacto femoroacetabular.

Em alguns casos, diferentes condições podem estar presentes. Eventualmente, o Ortopedista Especialista em Quadril pode permanecer com dúvidas sobre qual a real causa para a dor que o paciente sente.

Nestes casos, uma possibilidade é a realização de uma Infiltração no quadril. Ela pode ser feito com objetivo tanto diagnóstico como terapêutico. Duas respostas podem ser vistas nestes casos:

  • Caso o medicamento alivie a dor, mesmo que temporariamente, é um indicativo de que a dor de fato tem uma origem intra articular. Isso se justifica pelo Impacto Femoroacetabular, por eventual lesão labral ou lesão da cartilagem associada.
  • Nos casos em que o anestésico não altere o quadro da dor, é preciso pensar em outras causas extra articulares para a dor, relacionada especialmente aos músculos ou tendões.

Como é o tratamento do Impacto Femoroacetabular (IFA)?

O tratamento do Impacto Femoroacetabular pode ser com ou sem cirurgia e deve ser avaliado de forma individualizada de acordo com uma série de fatores:

  • Localização das lesões;
  • Gravidade dos sintomas e das lesões;
  • Comprometimento da articulação;
  • Nível de atividade do paciente;
  • Presença ou não de lesões de cartilagem;
  • Idade e estado geral de saúde do paciente.

Tratamento sem cirurgia

É indicado nos casos de deformidades leves, estágios iniciais da dor e da limitação funcional e quando há lesões mínimas de labrum e cartilagem.

É indicado também quando a infiltração de anestésicos dentro da articulação não levar a uma melhora ao menos temporária da dor, indicando que a origem da dor está fora da articulação.

O tratamento pode envolver:

  • Medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios;
  • Mudanças substanciais de hábitos cotidianos e gestos esportivos;
  • Afastamento de esportes que envolvem sobrecarga e impactos nas estruturas do quadril;
  • Fisioterapia para alívio da dor, ganho de mobilidade do quadril; ganho de força e reequilíbrio a musculatura responsável pela estabilização da articulação do quadril.

O tratamento não cirúrgico pode aliviar os sintomas, apesar de não resolver diretamente o problema.

Como discutido previamente, muitos pacientes com exames de imagem compatíveis com o Impacto Femoroacetabular apresentam-se completamente sem dor. Assim, este é o objetivo do tratamento não cirúrgico: transformar uma pessoa com impacto e dor em uma pessoa com impacto, porém sem a dor.

Tratamento cirúrgico

Quando a reabilitação não for capaz de aliviar a dor e a limitação funcional, o médico poderá indicar a cirurgia.

Os riscos e benefícios de uma cirurgia devem ser avaliados pelo médico e esclarecidos ao paciente, antes da tomada de decisão final.

A cirurgia terá como meta tratar, conforme o caso:

  • A lesão do labrum acetabular, com ressecções parciais, suturas ou reconstrução;
  • A lesão da cartilagem da cabeça do fêmur e/ou do acetábulo;
  • A deformidade óssea que causou o Impacto Femoroacetabular (CAM, Pincer ou ambos).

De modo geral,  a cirurgia é feita por artroscopia. Este é um procedimento realizado por video. Pequenas incisões de cerca de 1 cm são feitas ao redor do quadril para a introdução de cânulas. Através destas cânulas, são introduzidas uma microcâmera de vídeo e os instrumentos cirúrgicos.

Em alguns casos mais graves, a artroscopia do quadril pode apresentar limitações, sendo necessária uma cirurgia aberta, com uma incisão maior e tempo de recuperação mais prolongado.

Após a cirurgia, o paciente precisará usar muletas por 4 a 8 semanas, dependendo do tipo de cirurgia e dos procedimentos realizados. O objetivo é aliviar a carga sobre o membro inferior operado.

Durante este período, o paciente deverá ser acompanhado em um processo de reabilitação. A fisioterapia será fundamental para o resultado. Ela deverá ser iniciada o quanto antes, com os seguintes objetivos:

  • Reduzir a dor e o processo inflamatório causado pela cirurgia;
  • Ganho de mobilidade e fortalecimento da musculatura estabilizadora do quadril, joelho e tornozelo.

Enquanto o paciente estiver usando muletas, os exercícios de fortalecimento da musculatura deverão ser realizados sem que ele suporte o próprio peso.

Com o tempo, o trabalho de resistência será intensificado. A fisioterapia passa a incluir o controle do movimento dos membros inferiores e também o treino do gesto esportivo.

O processo de reabilitação dura, em média, de 2 a 4 meses. Segundo as estatísticas mais recentes, até 80% dos pacientes conseguem retornar aos esportes após a cirurgia (4).