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Gota

O que é a gota?

A gota é uma doença caracterizada pelo acúmulo de ácido úrico nas articulações, na forma de cristais de urato.

Ela provoca episódios intensos de inchaço e dor na articulação acometida, sendo mais frequente no dedão do pé.

Além das articulações, os cristais podem se acumular e formar tofos sob a pele, geralmente sobre uma articulação. Esses tofos indicam uma doença em estado avançado.

Eles podem também se acumular, no trato urinário, levando à formação de cálculos renais.

A crise de gota acomete uma única articulação de cada vez.

Além do inchaço, a articulação acometida fica avermelhada e quente.

Qual a causa da gota?

A gota está associada ao aumento nos níveis de ácido úrico no sangue, condição denominada de hiperuricemia.

A hiperuricemia, no entanto, não é sinônimo de gota. A maioria das pessoas com hiperuricemia é assintomática e não desenvolve a doença.

Por outro lado, quanto maior o nível de ácido úrico e quanto maior o tempo em que ele permanece elevado, maior a probabilidade de o indivíduo desenvolver a gota.

A hiperuricemia pode ser decorrente do aumento na produção endógena do ácido úrico, o que é mais raro, ou por uma menor eliminação renal (mais comum) ou uma combinação desses dois processos.

Alguns fatores que aumentam a produção de ácido úrico incluem:

  • Dietas ricas em carne vermelho ou bebidas açucaradas;
  • Abuso do Álcool;
  • Triglicerides aumentados;
  • Síndrome metabólica;
  • Dieta rica em purina;
  • Uso de certos medicamentos;
  • Anemias hemolíticas.

Já os fatores que diminuem a eliminação renal do ácido úrico incluem:

  • Uso de diuréticos;
  • Uso de Ácido Acetil Salicílico;
  • Insuficiência Renal Crônica;
  • Hipotireoidismo ou hiperparatireoidismo;
  • Sarcoidose.

Apresentação clínica

A manifestação clínica mais comum é a artrite, ou seja, a inflamação da articulação, provocando dor intensa de início repentino.

A artrite acomete uma única articulação em 80% dos casos, enquanto os restantes 20% podem abrir o quadro com acometimento de mais de uma articulação.

A articulação do primeiro dedão (primeira metatarsofalângica) é acometida no primeiro episódio em 50% dos casos.

Com o passar do tempo e após várias crises de gota, o paciente pode desenvolver quadros

A doença alterna períodos de atividade da doença com períodos em que ela não está ativa. Os períodos de atividade são autolimitados e geralmente melhoram em 3 a 10 dias. Mas,

com a progressão da doença, os períodos de atividade se tornam mais frequentes e mais prolongados.

A gota pode também levar à formação dos tofos gotosos, que são caracterizados pela deposição de urato nas cartilagens, tendões e partes moles em geral. Eventualmente, esses tofos podem drenar espontaneamente.

Manifestações sistêmicas, como fadiga, mal-estar, dor de cabeça ou dor muscular difusa não é comum. No entanto, alguns pacientes podem ter febre.

Além da artrite e dos tofos gotosos, a gota pode também acometer os rins. 20% dos pacientes apresentam nefrolitíase por cálculos de ácido úrico.

Em alguns desses casos, o urato pode também se depositar na forma de tofos gotosos no rim, podendo levar `a insuficiência urinária.

Fatores de risco

A gota afeta acomete principalmente os homens, mulheres após a menopausa e pessoas com doença renal.

Pessoas com familiares acometidos pela gota apresentam maior risco, o que indica uma predisposição genética.

Ela está fortemente a outras condições clínicas, incluindo:

Diagnóstico

O diagnóstico da gota deve ser suspeitado a partir de um quadro clínico característico. A confirmação é feita com a punção com agulha do líquido articular, seguido pela identificação dos cristais no exame ao microscópio.

Os cristais também podem ser identificado na secreção drenada de um tofo.

Os níveis de ácido úrico no sangue são importantes para medir. Entretanto, a interpretação deve ser feita com cautela.

Os níveis de ácido úrico durante a crise de gota são normais em aproximadamente 60% dos pacientes (1). Ao mesmo tempo, pessoas que não têm gota podem eventualmente ter níveis aumentados de ácido úrico (2).

Na suspeita de gota, devem ser solicitadas também radiografias da articulação envolvida. Ela pode mostrar a destruição articular provocada pelos cristais de urato.

Diagnóstico diferencial

O principal diagnóstico diferencial da gota é a condrocalcinose, uma doença caracterizada pela deposição de cristais de pirofosfato de cálcio diidratado.

Por sua semelhança, a condrocalcinose é também conhecida como Pseudogota.

Quando houver dúvida diagnóstica, a diferenciação pode ser feita por meio da punção do líquido articular seguido pela análise em microscópio.

Por outro lado, as doenças possuem características clínicas que muitas vezes são suficientes para se fechar o diagnóstico.

A gota acomete especialmente homens entre 40 e 60 anos. Já a condrocalcinose acomete especialmente as mulheres após a menopausa.

A gota costuma acometer uma única articulação, geralmente o dedão do pé. Já a condrocalcinose costuma acometer várias articulações e afeta sobretudo os joelhos, punhos, tornozelos, cotovelos, quadris e ombros.

Além disso, a radiografia na pseudogota mostra calcificações lineares na cartilagem articular.

Tratamento

O tratamento da gota geralmente é conduzido pelo Médico Reumatologista 

Nas crises, o objetivo é reduzir o processo inflamatório. Fora da crise, busca-se reduzir os níveis de ácido úrico, prevenindo novas crises.

Nos casos crônicos com a  presença de tofos gotosos ou deformidades ósseas, a cirurgia poderá ser considerada.

Tratamento da crise de gota

O tratamento da crise de gota envolve o uso de medicamentos como os antiinflamatórios não esteroidais, a colchicina ou os corticoides. Eventualmente, esses medicamentos podem ser usados em combinação.

Vale considerar que o Ácido Acetil Salicílico (AAS) é contraindicado para pacientes com gota, uma vez que ele reduz a eliminação renal do ácido úrico.

Antiinflamatórios não esteroidais

Os antiinflamatórios não esteroidais (AINE) são as drogas de primeira escolha no tratamento da crise de gota.  O mais utilizado é a Indometacina, mas outros AINE como o ibuprofeno, naproxeno, ou celecoxib podem também ser usados.

Em doses mais elevadas, os AINE são muito usados para aliviar a crise de gota. Eles são geralmente suspensos dois dias após a melhora do quadro da Artrite.

Em casos crônicos, os AINE podem ser mantidos em doses mais baixas para reduzir a inflamação.

Essas medicações devem ser usadas com cautela em pacientes com insuficiência renal, hipertensão, ulcera péptica ou gastrite.

Colchicina

A colchicina é um medicamento com propriedades anti-inflamatórias que pode ser usado tanto nas crises de gota como para prevenir as crises. No entanto, a dose deve ser aumentada durante as crises.

Ela ajuda a reduzir a deposição de cristais de urato e a consequente resposta inflamatória. Para ser eficaz, ela precisa ser administrada no início da crise.

Corticoides

Os corticoides são medicamentos com potente ação anti-inflamatória, muitas vezes utilizados em situações nas quais os pacientes têm contraindicações para o uso de outros anti-inflamatórios ou da Colchicina.

Eles podem ser administrados tanto por boca como na forma injetável. Corticoides de depósito como a Triancinolona podem ter efeito importante na melhora da inflamação durante a crise de gota.

O uso prolongado de corticoesteróides pode ter efeitos colaterais graves como osteoporose, necrose óssea avascular e maior risco de infecção. Além disso, devem ser usados com cautela em pacientes com diabetes ou Hipertensão Arterial Sistêmica.

Prevenção das crises de gota

A prevenção da gota tem como foco a redução dos níveis de ácido úrico. Isso deve envolver medidas dietéticas e uso de medicamentos. Além disso, é fundamental manter um estilo de vida saudável.

Medicamentos que reduzem os níveis de ácido úrico podem agir promovendo uma menor produção do ácido úrico, como é o caso do alopurinol, ou aumentando sua eliminação pelos rins, como é o caso da Probenecida.

Eles não devem ser usados durante a crise gotosa, sendo fundamental o cuidado de se aguardar a resolução completa da crise aguda para que o uso seja iniciado. Isso porque eles promovem uma queda brusca nos níveis de ácido úrico, podendo levar a uma piora da artrite.

Medicamentos

Alopurinol

O principal medicamento usado para a prevenção da gota é o Alopurinol, que é um bloqueador da produção de ácido úrico.

Ele deve ser usado diariamente mesmo fora das crises de gota.

Probenecida

A probenecida é um medicamento de segunda escolha, podendo ser usado especialmente no caso de gota grave e recorrente em pessoas que apresentam efeitos colaterais graves com o uso do alopurinol.

A probenecida inibe a reabsorção de ácido úrico pelos rins, facilitando sua eliminação pela urina.

Cuidados nutricionais

A adequada hidratação é fundamental para a prevenção da crise de gota, uma vez que ela ajuda na eliminação renal do ácido úrico.

Deve-se também evitar o consumo de alimentos ricos em purina, já que eles que aumentam os níveis de ácido úrico quando são digeridos. Entre eles, incluem-se a carne vermelha, frango, frutos do mar, ovos, carnes processadas, certos peixes.

O Álcool deve ser evitado, uma vez que ele interfere na eliminação renal do ácido úrico.

A cerveja e a cidra são consideradas as bebidas alcoólicas que mais aumentam o risco de gota. Isso porque além do efeito do álcool elas também são ricas em purinas.

Cirurgia

A cirurgia para a remoção do tofo gotoso pode ser considerada quando os tofos se tornam grandes e dolorosos e especialmente quando eles desenvolvem uma infecção secundária.

A cirurgia de artroplastia (prótese) ou artrodese (fusão óssea) pode ser considerada no caso de uma grave destruição óssea.