Depressão amorosa
Depressão amorosa
Apesar de a depressão amorosa, em si, não ser um transtorno mental, de fato – ou seja, não está catalogado no DSMV -, trata-se de uma expressão usada em casos nos quais o término do relacionamento provoca uma profunda dor emocional no indivíduo, levando-o, em alguns casos, ao desenvolvimento de um quadro psicopatológico de depressão.
Embora nem todas as pessoas venham a ser diagnosticadas com depressão de fato, a tristeza, melancolia e angústia vividas no término podem impactar o bem-estar do sujeito, resultando na necessidade de acompanhamento psicológico.
Pensando nessa situação, desenvolvemos este conteúdo com algumas considerações importantes sobre o assunto. Reflita conosco lendo-o até o fim.
O que é a depressão amorosa?
A depressão amorosa pode ser caracterizada como um conjunto de sintomas emocionais envolvidos com o término de um relacionamento.
A pessoa pode se sentir triste, melancólica, desesperançosa, com muita saudade do ex-parceiro ou parceira, etc.
Além disso, em algumas situações o indivíduo pode vir a ser diagnosticado com depressão, de fato. Isto é, o término do relacionamento pode servir de gatilho para que um quadro depressivo seja instaurado no sujeito.
Ao mesmo tempo, é importante destacar que a depressão amorosa, como o senso comum descreve, não é o mesmo que uma depressão psicopatológica diagnosticada. Mas, sim, pode ser vista como uma espécie de fase depressiva não patológica, devido às questões emocionais envolvidas com o relacionamento que foi rompido. É como se o sujeito vivesse um luto por conta da sua perda.
No entanto, como mencionamos, isso não impede que a pessoa possa, de fato, vir a desenvolver um quadro de depressão. Logo, podemos entender que:
- A depressão amorosa não é um quadro clínico presente no DSMV e consiste em um conjunto de sintomas emocionais negativos envolvidos com o fim de um relacionamento amoroso.
- Embora não seja doença, o episódio de depressão amorosa pode servir de gatilho para que o sujeito desenvolva um quadro depressivo de fato, que necessita de intervenção psicoterápica.
Neste conteúdo, focaremos no primeiro caso: no conjunto de sintomas depressivos que é instaurado na rotina do sujeito ao terminar o relacionamento.
Quais as causas da depressão amorosa?
A depressão amorosa pode estar associada a uma série de questões que envolvem o relacionamento amoroso.
A pessoa pode viver uma situação de depressão amorosa ao terminar o relacionamento, ao ser traído, etc.
Afinal, os relacionamentos amorosos costumam ter um impacto bastante expressivo em nossas vidas, especialmente quando a pessoa convive conosco durante muito tempo.
Compartilha-se sonhos, objetivos, demandas do dia a dia, etc. Até mesmo os amigos costumam ser em comum, ao mesmo tempo em que cada parceiro também se envolve emocionalmente com a família um do outro.
Em paralelo a isso, pode haver a construção da família, com o nascimento dos filhos e a adoção de pets, por exemplo.
Sendo assim, muito na rotina da pessoa têm relação com o seu namoro ou casamento. Logo, quando o término acontece, seja depois de uma traição ou não, a dor pode ser bastante intensa.
A pessoa vive um luto, uma perda significativa que fará com que toda a sua vida, seus sonhos a dois e muitos planos tenham que ser remodelados da noite para o dia.
O que antes parecia estar certo, agora, parece estar fora do lugar e tudo bagunçado. O sujeito pode viver, durante períodos do dia, momentos em que pensa incansavelmente no parceiro e no passado que não existe mais.
Pode haver uma dificuldade para seguir em frente, desenvolver novos projetos de vida, e assim por diante.
Por isso, caracterizam esse tipo de situação como depressão, pois, de fato, a pessoa pode se tornar depressiva por conta do término. Sendo assim, cuidar da saúde mental e buscar medidas que minimizem as questões emocionais é muito importante para manter a qualidade de vida.
Como lidar com a depressão amorosa?
Quando pensamos em saúde mental, devemos ter a consciência de que cada caso sempre será único. Isso nos dá a entender que é inviável encontrarmos algum tipo de manual ou passo a passo que venha a ser impecável para nós e para todas as pessoas.
Sendo assim, trouxemos algumas dicas de como lidar com a depressão amorosa sem o intuito de descrever um roteiro infalível, mas, sim, com o propósito de apresentar a você algumas
possibilidades interessantes. Acompanhe a seguir, reflita conosco e lembre-se: em caso de dúvidas, converse com um profissional da saúde.
1. Vivência do luto
Como mencionamos anteriormente, a perda de um parceiro ou parceira pode ser encarado como um verdadeiro luto.
Afinal, o luto consiste em uma fase de elaboração pela qual passamos quando perdemos algo que tem um significado extremamente importante em nossas vidas. Isso porque esse “extremamente importante”, muitas vezes, está associado com a energia e o investimento psíquico que depositamos na situação.
Por exemplo, durante a construção de um relacionamento amoroso, muitos investimentos emocionais, psíquicos e até mesmo práticos são depositados na relação. A pessoa pensa considerando o parceiro, faz planos em conjunto, investe emoções na interação com o outro, etc.
Logo, todo esse investimento faz com que o relacionamento tenha um papel muito importante na vida da pessoa, fazendo parte, inclusive, do sentido que ela pode dar para a sua existência.
Consequentemente, quando há uma ruptura nesse relacionamento, a pessoa se vê “vazia” diante da falta do seu amor, que era o alvo de muitos investimentos. Onde ela irá investir agora? Como irá tirar o foco desse amor para encontrar algo novo para investir?
Esses questionamentos são vivenciados no luto, na perda de algo importante. Por isso, no começo a pessoa tende a se sentir vazia e desesperançosa. Mas, à medida que o tempo passa, ela pode começar a encontrar novas situações para investir, como trabalho, nova rotina, novo relacionamento, etc.
Respeitar esse tempo de elaboração do luto e reequilíbrio emocional é uma das formas de começar a lidar com a depressão amorosa.
2. Expressão dos sentimentos
Expressar os sentimentos, seja por meio da escrita ou da fala, também pode ser interessante nesse caso. O contrário pode ser ruim para a saúde mental. Isto é, tentar “engolir as emoções” e fingir ser mais forte do que se é pode prejudicar o seu bem-estar.
Por isso, quando você se sentir à vontade com um amigo ou conhecido, expresse os seus sentimentos. Não tenha medo de falar sobre como se sente, pois a fala é bastante terapêutica. Colocar os sentimentos e emoções em palavras nos ajuda a compreender o que pode estar acontecendo dentro de nós, auxiliando na hora de pensarmos em formas de lidar com o que é vivido.
Se não refletirmos sobre o que sentimos, como poderemos pensar em novos caminhos para seguir e para lidar com as emoções? Pois é!
Portanto, colocar o que se sente em palavras é algo que ajuda a “esvaziar” a mente e as emoções, ao mesmo tempo em que traz mais clareza para o que acontece conosco. Às vezes, podemos perceber que a situação não é tão grave quanto a nossa mente imagina, mas, sim, pode ser contornada por algumas vias válidas.
Sendo assim, considere expressar os seus sentimentos e emoções. Cogite fazer isso com um amigo, com um psicólogo ou até mesmo escrevendo. Escrever e ler sobre as próprias emoções também produz um efeito interessante.
3. Responsabilização frente à própria vida
Em alguns casos, o relacionamento afetivo pode criar uma sensação de co-responsabilidade. Isto é, a pessoa pode deixar de lado, muitas vezes, a sua autorresponsabilidade, focando na relação como se ambos fossem uma pessoa só. As expectativas são criadas em cima da vida a dois, os planos e tomadas de decisão partem das conversas a dois, e assim por diante.
Sendo assim, na hora de enfrentar a depressão amorosa é importante considerar a necessidade de se responsabilizar frente às próprias decisões e à própria vida. Recriar a identidade individual, desvencilhando-se da chamada “identidade conjugal”, é um passo importante rumo à superação.
Começar a tomar as próprias decisões, a se responsabilizar pelo o que faz ou o que deixa de fazer, entre outras questões, contribui para uma nova visão de vida.
Não estamos dizendo que isso é fácil. A sociedade, de forma geral, enxerga os casais como “uma pessoa só”, “uma mesma identidade”, logo, é algo que pode ser difícil de ser atravessado, mas, com a ajuda psicológica, o caminho pode ser mais assertivo.
4. Novos planos e projetos
Iniciar novos planos e projetos para a vida individual também pode ser bem interessante. Até então, ao lado do parceiro ou da parceira, estima-se que muitos sonhos e objetivos foram traçados em conjunto.
Agora que a relação terminou, como será possível seguir determinados planos? Pois é… Nesses casos, começar a pensar em novos projetos pessoais, focados em si mesmo e não mais no relacionamento, é uma forma de iniciar a projeção para o futuro.
Esse momento pode ser doloroso, o que indica que não precisa ser algo transformador que ocorre da noite para o dia.
Você não precisa imaginar como será a sua nova casa, sua nova rotina, ou tudo que precisa mudar de um segundo ao outro. Mas, sim, pode começar planejando as coisas aos poucos.
Por exemplo, se você ia de carona para o trabalho, comece a pensar em alternativas para se locomover até lá. Esse já será um novo plano e projeto para a sua vida individual. Depois, considere fazer planos para mudar a decoração da casa, pensar em viagens que você gostaria de fazer, mas que não fez no relacionamento, focar em novas fases para a sua carreira, trazer a atenção para sonhos que foram adormecidos durante a relação, enfim.
Mergulhar no autoconhecimento e encontrar novos rumos, metas e objetivos ajuda a construir uma nova história para a sua vida, ao mesmo tempo em que contribui para a elaboração do luto, que vai deixando o passado para trás e focando em um novo futuro.
5. Fortalecimento da autoestima
Fortalecer a autoestima é outro ponto muito importante, que pode ajudá-lo a enfrentar essa fase que, em muitos casos, pode ser bem “turbulenta”.
Muitas pessoas podem se sentir menos amáveis quando terminam um relacionamento, especialmente quando há casos de traição. Por isso, cuidar de si mesmo e buscar o autoconhecimento para fortalecer a autoconfiança são medidas interessantes.
Cuide da sua aparência, da sua carreira e faça atividades que gosta, aumentando a sua percepção positiva de si mesmo.
Foque em analisar quais são os seus pontos fortes e fracos, dando mais atenção àquilo que você encara como positivo, e não apenas ao que pode ser considerado negativo.
E embora existam “defeitos”, lembre-se de que a perfeição não existe, e que as pessoas sempre terão as suas forças e fraquezas. Não há como ser uma pessoa impecável.
Portanto, evite a autocobrança excessiva e considere focar em enaltecer o que há de bom em você. Inclusive, lembre-se do papel da psicoterapia no caso de aumento da autoestima, ok?
6. Evitar o isolamento social
Sabemos que, no começo, pode ser difícil manter as interações sociais, especialmente quando o círculo de amizade é composto por pessoas que o casal conhece.
No entanto, isolar-se pode ser prejudicial para a saúde mental. Lembra que comentamos, anteriormente, sobre a possibilidade de conversar sobre como você se sente? Pois é… As interações sociais podem ajudá-lo a enfrentar a depressão amorosa.
Afinal, os seres humanos são seres sociais e precisam dessa interação para se sentirem acolhidos, amados e cuidados. Além do mais, as interações saudáveis também contribuem para o aumento da autoestima, coisa que mencionamos anteriormente.
Por conta disso, comece a restabelecer a sua vida social de uma forma gradativa e saudável. Você não precisa forçar a barra e tentar interagir com o maior número de pessoas possível, mas, sim, pode ir construindo a sua vida social aos poucos, conhecendo gente nova, interagindo com quem é importante, e assim por diante.
Novamente, em caso de dificuldades para desenvolver laços sociais, não hesite na hora de buscar ajuda psicológica. Este conteúdo não exclui o acompanhamento de um psicólogo qualificado.
7. Trazer os pensamentos para o presente
Cuidado com o excesso de pensamentos ancorados no passado. É muito comum, em uma depressão amorosa, o foco ser voltado para as vivências do casal, a história que foi construída, e assim por diante.
Entretanto, quando esses pensamentos se tornam frequentes, a ponto de atrapalhar a rotina da pessoa, é interessante iniciar o exercício de mindfulness, que visa trazer a atenção para o presente, de uma forma plena.
Sendo assim, considere focar no que você está fazendo e vivendo neste exato momento, tentando se desligar, aos poucos, dos pensamentos excessivos sobre o passado.
Claro que, em determinadas situações, o passado virá à tona na mente, mas tentar se policiar para pensar no “aqui e agora”, evitando que o passado comande as suas ideias, emoções e passos no presente, é algo muito importante.
No começo, pode parecer mais difícil. Mas à medida que esse exercício é posto em prática, novas perspectivas sobre o presente podem ser construídas, dando espaço para pensamentos mais saudáveis e menos negativos.
8. Psicoterapia
A psicoterapia é outra ferramenta muito frutífera quando pensamos no enfrentamento tanto da depressão em si, quanto da depressão amorosa.
Durante as sessões, o paciente é convidado a pensar e falar sobre si, sua história, emoções, sonhos, tristezas, angústias, alegrias, etc. Assim sendo, torna-se possível pensar em novos caminhos para seguir, ao mesmo tempo em que muita coisa é ressignificada.
O paciente é escutado em sua plenitude, sem julgamentos, censura ou discriminação. Ele se sente acolhido e pode falar sobre o que quiser, visando remodelar a sua vida, sua autorresponsabilidade e, em muitos casos, os seus sonhos para o futuro.
O processo respeita o tempo de recuperação e desenvolvimento de cada um. O terapeuta, treinado para escutar, irá direcionar o paciente por meio de questionamentos, reflexões e insights, ao mesmo tempo em que psicoeduca, apontando quais comportamentos saudáveis podem ajudá-lo a enfrentar esse momento.
Os pensamentos negativos e distorcidos podem ser trabalhados e vistos sob um novo ponto de vista, que contribui para a qualidade de vida do sujeito.
Por isso, mencionamos tanto no decorrer deste conteúdo a importância do psicólogo frente a um caso de depressão amorosa. Afinal, ele é o profissional preparado para lidar com esse tipo de situação, caminhando ao lado do paciente.
9. Investir em hábitos saudáveis
Os hábitos saudáveis têm um papel muito importante em nossas vidas. Eles contribuem para o aumento do bem-estar, diminuição do estresse e da ansiedade, proteção da nossa saúde física e mental, etc.
Por isso, no enfrentamento da depressão amorosa recomenda-se alguns pontos, como por exemplo:
- Investimento na criação de uma rotina de sono que seja saudável.
- Cuidados com a alimentação.
- Prática de exercícios físicos que melhoram a qualidade de vida, aumentando a sensação de bem-estar. Entre outras questões semelhantes.
Lembre-se sempre de que somos seres inteiros, não em partes. Isto é, a forma como cuidamos do nosso corpo pode impactar na nossa mente e em nossas emoções. Por isso, é extremamente importante manter uma rotina de hábitos saudáveis para, assim, cuidar também da saúde emocional, psicológica e mental.
Referências
GLOVER, Marissa. Como sair da depressão amorosa. Disponível em: https://br.psicologia-online.com/como-sair-da-depressao-amorosa-40.html. Acesso em 12 dez. 2022.
GUEDES, Dilcio Dantas; MONTEIRO-LEITNER, Julieta; MACHADO, Karine Cardozo Rodrigues. Rompimento amoroso, depressão e auto-estima: estudo de caso. Revista Subjetividades, v. 8, n. 3, p. 603-643, 2008.
MARCONDES, Mariana Valença; TRIERWEILER, Michele; CRUZ, Roberto Moraes. Sentimentos predominantes após o término de um relacionamento amoroso. Psicologia: ciência e profissão, v. 26, p. 94-105, 2006.