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Deficiência do Processamento Auditivo

Deficiência do Processamento Auditivo

A pessoa com Deficiência do Processamento Auditivo ouve claramente os sons e a fala humana. No entanto, ela apresenta dificuldade de interpretar a mensagem recebida e os ruídos ambientes.

Ouvir é um processo bem mais complexo do que somente “detectar” ou “escutar”. É necessário que os sons sejam processados pelo cérebro para serem “compreendidos”. Basicamente, trata-se da capacidade do cérebro de utilizar as informações que chegam aos ouvidos. Em outras palavras, é o que o cérebro faz com o que o indivíduo ouve.

O distúrbio ou transtorno do processamento auditivo central (DPAC) ou disfunção auditiva central, é um problema de interpretação do som. O paciente consegue detectar o som, no entanto, o cérebro não consegue compreendê-lo totalmente. Ele afeta as vias centrais da audição, isto é, as regiões do cérebro ligadas às habilidades auditivas responsáveis por uma série de processos, desde a detecção do som até a interpretação das informações sonoras.

Por este motivo o paciente não apresenta alterações no exame de audiometria, necessitando de outros exames para diagnosticar o distúrbio do processamento auditivo, pois se trata de uma falha no sistema nervoso central, exames que são feitos pelo fonoaudiólogo.

Muitas pessoas que possuem este transtorno são confundidas com disléxicas ou com transtorno do déficit de atenção, pois os sintomas são semelhantes, possuem alterações de linguagem, leitura e escrita. Nestes casos, é indicada a bateria de exames para avaliação do Processamento Auditivo Central e diagnóstico diferencial.

Tipos de deficiência de processamento auditivo


Os processos mentais envolvidos são muitos: habilidades como lateralização e localização espacial do som, compreensão da fala no ruído, compreensão de uma mensagem, mesmo quando ela está distorcida e fragmentada; capacidade para eleger estímulos apresentados a uma orelha, ignorando informações apresentadas à orelha oposta e/ou reconhecer estímulos diferentes apresentados simultaneamente a ambas, capacidade de discriminar e identificar pequenas mudanças nos estímulos como diferenças de frequência, intensidade, ou duração e capacidade de detectar e perceber modulações e intervalos mínimos em uma sequência de sons.

Elas são resumidas em 4 habilidades, como descritas abaixo:

  • Discriminação- Percepção das diferenças e semelhanças entre os sons;
  • Reconhecimento-Percepção das características de cada som;
  • Localização- detectar a localização dos sons;
  • Compreensão- compreensão da linguagem verbal.

Deficiência do processamento auditivo e demais condições neurológicas

Transtorno Auditivo central é primariamente um déficit da percepção auditiva, que deve ser demonstrado e diferenciado dos demais transtornos de desenvolvimento, da cognição ou da linguagem como autismo, dislexia ou déficits de atenção.

Uma criança com autismo, por exemplo, pode ter como condição uma alteração do processamento auditivo, mas as questões neurológicas do Transtorno do Espectro Autista são as principais limitações do indivíduo e o diagnóstico não pode ser como de DPAC (distúrbio do processamento auditivo central), primariamente.

O diagnóstico diferencial do DPAC deve ser multidisciplinar, pois exige também o estudo e observação de outros processos e mecanismos, dentre eles cognitivos e linguísticos, para serem identificadas possíveis comorbidades, transtornos mais globais ou de alta ordem.

Como suspeitar uma deficiência no processamento auditivo central?

Crianças ou adultos com DPAC apresentam como padrão de resultado, baixo desempenho em uma ou mais habilidades auditivas e comportamentais citadas a seguir:

    • Dificuldade de localização sonora;
    • Entende as ordens ou frases ao “pé da letra”, apresentando dificuldade para compreender piadas, provérbios, abstrações;
    • Piora do desempenho em locais com sinal acústico degradado ou com competição ( ambientes ruidosos);
    • Dificuldade em acompanhar conversas muito longas ou com mais de uma pessoa falando ao mesmo tempo;

Demora para responder aos sons;

  • Dificuldade para discriminar, comparar ou aprender novos sons;
  • Solicitação frequente de repetição (Hã? O quê?);
  • Dificuldade em entender e, por consequência, seguir regras e ordens;
  • Dificuldade nos mecanismos de atenção auditiva e memória;
  • Dificuldade para ler e escrever;
  • Dificuldade de organizar o discurso;
  • Dificuldade em aprender uma segunda língua;
  • Ao reproduzir músicas ou textos, há distorção na compreensão e/ou trocas por palavras de mesma sonoridade.

 

Avaliação fonoaudiológica


Na avaliação fonoaudiológica, se encontra alteração nas habilidades a seguir:

  • Localização e lateralização sonora: habilidade para identificar a fonte sonora e reconhecer a sua procedência no espaço.
  • Discriminação auditiva: habilidade para distinguir um som de outro.
  • Reconhecimento de padrão auditivo: habilidade para determinar semelhanças e diferenças entre padrões acústicos.
  • Aspectos temporais da audição: habilidade para processar estímulos acústicos em função do tempo.
  • Figura-fundo: a habilidade de reconhecer a fala ou outros sons quando sinais competitivos estão presentes, podendo ser fala ou ruído com espectro de fala.
  • Fechamento auditivo: habilidade de reconhecer a fala ou outros sons quando parte desta informação está faltando, como quando parte do espectro do sinal está mascarada em sua amplitude (por exemplo, pela introdução de ruído branco), comprimida no tempo ou ainda com extração de frequências baixas ou altas.
  • Aspectos binaurais da audição: habilidades para processar estímulos acústicos apresentados simultaneamente nas duas orelhas.

Terapia fonoaudiológica para deficiência do processamento auditivo central


Uma vez confirmada audição normal e alteração nas habilidades centrais auditivas, é indicado o tratamento, o mais rápido possível, aproveitando a melhor fase de plasticidade cerebral para o aprendizado.

A intervenção deve ser realizada visando a melhora do déficit auditivo e amenizar o impacto das alterações nas atividades cotidianas, assim como aumentar a participação do paciente e sua autonomia nos diferentes ambientes educacionais, sociais, ocupacionais e familiares.

O tratamento inclui o desenvolvimento da percepção auditiva e o aperfeiçoamento da comunicação por meio do atendimento clínico do paciente. É importante que os princípios da intervenção sejam estendidos à escola ou local de trabalho objetivando a generalização das habilidades aprendidas.

Trata-se de propor abordagens para melhorar o funcionamento do indivíduo e da família em todas as áreas de suas vidas.

Na terapia, a Fonoaudióloga, após mapear a dificuldade do paciente, organiza a reabilitação com exercícios verbais e não verbais, dentro e/ou fora da cabine acústica (cabine acústica é um espaço preparado com amortecimento sonoro para os exames auditivos ou para o trabalho auditivo com fones de ouvido).

Os exercícios são realizados em consultório, pelo menos uma vez por semana, e cada sessão tem duração de 30 a 45 minutos e são abordados os aspectos da percepção auditiva e linguagem que estiverem alterados.

Os indivíduos com este distúrbio conseguem recuperar o atraso e atuar com independência dentro dos parâmetros de normalidade, se trabalhados com eficiência, com apoio da família e professores e quando necessário, a equipe multidisciplinar.