Pesquisar

Deficiência auditiva: abordagem fonoaudiológica em crianças e adultos

Deficiência auditiva

A deficiência auditiva ou perda auditiva é a perda sensorial dos níveis de detecção auditivos causada pela lesão das células ciliadas na cóclea, órgão responsável pela percepção dos sons, ou no nervo auditivo. É uma perda da capacidade para ouvir os sons.

Esta diminuição da capacidade de percepção dos sons dificulta a compreensão e a comunicação em crianças e adultos. Ela pode ser identificada por meio de alguns sintomas que podem surgir ao longo do tempo nos adultos como falar muito alto, assistir à televisão ou ouvir música muito alta, ou ter a sensação de que o ouvido está tampado.

Nas crianças, o não desenvolvimento da linguagem ou atraso nos primeiros anos de vida pode ser de origem auditiva e precisa ser diagnosticada o quanto antes, devido aos prejuízos na vida adulta.

O diagnóstico da perda auditiva é feito pelo otorrinolaringologista que por sua vez conta com o fonoaudiólogo audiologista para a realização dos exames auditivos necessários (audiometria, imitanciometria, BERA e outros).

Casos de cirurgia, limpeza dos ouvidos e medicação, ou seja, que afetam o ouvido externo e médio que necessitam de tratamento clínico são realizados pelo próprio médico otorrinolaringologista.

Casos cuja surdez lesiona as células do órgão interno da audição, a cóclea, o tratamento será feito com o uso de aparelhos auditivos e reabilitação auditiva, funções do fonoaudiólogo, indicados pelo otorrinolaringologista.

Existem várias causas de perdas auditivas, desde uma perda auditiva congênita, ou seja, a pessoa nasce surda, por uma lesão, como nos casos da surdez progressiva por exposição contínua a ruídos intensos no trabalho, doenças que causam surdez como a diabetes, certos medicamentos, envelhecimento natural relacionado à idade, inflamações nas orelhas ou traumas/acidentes.

O sintoma principal da surdez é a perda auditiva que pode ser de vários graus e formatos: graus leve, moderado, severo ou profundo.

Quanto maior o grau da surdez, maior a dificuldade para escutar o que as pessoas falam. Pode ocasionar mais dificuldades para ouvir os sons graves ou agudos ou ambos, mas também pode afetar a compreensão da fala em maior ou menor grau.

Principais diferenças da perda auditiva no adulto e na criança

Um adulto com perda auditiva adquirida já conhecia previamente os sons antes da perda, ou seja, desde criança ouve e compreende todos à sua volta. De uma hora para outra e dependendo do grau de acometimento da audição, começa a ouvir menos, parte deles e parte da fala circundante ou não ouve nada.

Por não ouvir, não compreende e começa a pedir que as pessoas repitam ou gritem, tenta fazer leitura labial e deixam de fazer o feedback da sua própria voz e falam mais alto, compensando. As perdas de audição acabam inibindo o indivíduo na vida social e profissional.

A indicação de aparelhos auditivos e terapia fonoaudiológica costumam ser suficientes para que eles retomem a sua comunicação anterior.

Uma criança que adquire perda auditiva transitória por uma infecção de ouvido, por exemplo, como a perda auditiva é pequena, não afeta sua comunicação, mas pode afetar a sua escolaridade.

Um bebê que nasceu surdo, em contrapartida, como não ouve (a maioria das surdez congênitas são de grau severo a profundo) os sons da fala, não aprende a falar e dificilmente faz leitura-labial. Nestes casos, o atendimento precoce (até os 3 meses de idade) é fundamental, como veremos a seguir.

Graus das perdas auditivas, sintomas e indicações terapêuticas

Indivíduos de audição normal costumam responder a limiares até 25 decibéis na audiometria tonal liminar (exame da audição). Ou seja, são consideradas perdas de audição resultados acima destes níveis.

PERDA AUDITIVA LEVE:

Quando a pessoa ouve a partir dos 25 decibéis até aos 40 db.

ADULTOS- Possuem leves dificuldades auditivas, pedindo para “repetir” o que a pessoa diz, com pouca frequência. Costumam se adaptar bem, se usarem perguntas adequadas e chegarem mais próximo das pessoas que falam.

Possuem dificuldade maior para compreenderem a fala em ambientes ruidosos. Têm dificuldades para ouvir sons como tic- tac do relógio ou um passarinho cantando. Podem se beneficiar de aparelhos auditivos, mas não em 100% dos casos, pois, se “viram bem sem os aparelhos”.

CRIANÇAS- As perdas leves em crianças que nascem com perda auditiva podem causar apenas um atraso na linguagem. A criança aprende a falar, mas demora um pouco mais que as demais.

Os pais, percebem certa “distração” aos sons, mas não conseguem identificar que existe uma perda de audição, pois, ora eles respondem aos sons, e ora não. Muitas vezes estas perdas auditivas leves só são diagnosticadas na idade escolar, pois começam os distúrbios de aprendizagem ou na idade adulta, quando as pessoas “sentem-se prejudicadas profissionalmente”.

PERDA AUDITIVA MODERADA:

Quando a pessoa ouve sons a partir dos 41 até aos 70 decibéis

ADULTOS- As dificuldades auditivas começam a ficar maiores. Respondem aos sons, mas de forte intensidade. Têm dificuldade para acompanhar conversas em grupo e acaba ficando “mais calado”.

Algumas vezes ouve os sons graves, respondem bem a uma grande parte dos sons, mas como não ouvem os sons agudos, não compreendem bem a fala (que são sons mais agudos). Estes são casos cujos aparelhos de audição ou próteses auditivas podem ser benéficos.

CRIANÇAS- As crianças que nascem com perdas auditivas moderadas possuem maiores dificuldades para ouvir e atrasam bastante a linguagem, o que causa maior preocupação aos pais. Nestes casos, logo após o diagnóstico feito pelo médico otorrinolaringologista, estão indicadas próteses auditivas e reabilitação fonoaudiológica urgentes, para diminuir os prejuízos futuros. O prognóstico de comunicação é ótimo, se o tratamento iniciar cedo.

PERDA AUDITIVA SEVERA:

Quando a pessoa consegue ouvir a partir dos 71 até aos 90 decibéis.

ADULTOS- Nos casos de surdez severa, o adulto consegue ouvir sons fortes como celular no máximo de volume, buzina de carro, latido de cães e voz alta.

Ele ouve estes sons de forma “fraca”, ou seja, não forte da forma que ouvimos, pois possui uma perda de audição. Como a pessoa não ouve a maioria dos sons da fala, ela perde o feedback da sua própria fala e começa a falar mais alto.

Além disso, intuitivamente, começa a usar a leitura-labial, muito embora, de forma precária. Por este motivo, está indicado, nestes casos, o uso de aparelhos auditivos de forma contínua e também a reabilitação auditiva para que a pessoa possa melhorar sua capacidade de compreensão da fala e leitura-orofacial (leitura-labial).

Em alguns casos o médico otorrinolaringologista indica o uso de implantes cocleares, que é um aparelho auditivo inserido no ouvido, por cirurgia.

CRIANÇAS- Crianças que nascem com perdas auditivas severas não desenvolvem a linguagem. Possuem pouca reação a sons. Assim como os adultos, só reagem a sons muito fortes. Não aprendem a falar, pois, o espectro de sons da fala está entre 50 a 60 db, sons que eles não detectam.

Para estas crianças, está indicado o uso de próteses auditivas o mais precoce possível, assim como a terapia fonoaudiológica que deverá ser por longo prazo. Alguns casos podem precisar aprender a língua de sinais (se a cirurgia de implantes ou próteses começar após os 3 anos e se a terapia demorar a iniciar).

PERDA AUDITIVA PROFUNDA:

Normalmente ouve-se a partir dos 91 decibéis e não se consegue ouvir a maioria dos sons.

ADULTOS- Pessoas adultas com perdas auditivas de grande magnitude ouvem poucos sons. Música, por exemplo, eles sentem somente a vibração. Como a perda ocorreu após eles já desenvolverem a comunicação, pode acontecer alteração da voz, pois a pessoa para de ouvir a própria voz e perde o seu feedback auditivo.

O uso de aparelhos auditivos está indicado, mas nem sempre as respostas são boas. O indivíduo ouve sons, mas a lesão das células é tão grande que não o permite IDENTIFICÁ-LOS.

Ou seja, o aparelho provoca “ruídos”, muitas vezes, indesejáveis. Nestes casos, está indicado o uso de IMPLANTES COCLEARES, que são aparelhos auditivos inseridos em cirurgia, no nervo auditivo.

Além da cirurgia, em ambos os casos está indicado o treinamento auditivo (às vezes de fala também) pelo fonoaudiólogo especializado em audiologia.

CRIANÇAS- Crianças com perda auditiva congênita (que nascem surdas) precisam iniciar tratamento fonoaudiológico o mais rápido possível.

Elas não desenvolvem linguagem e se não forem protetizadas no primeiro ano de vida, podem não conseguir desenvolver a linguagem oral e depender da língua de sinais. Elas não detectam os sons em geral, inclusive os da fala e restringem-se ao canal visual para compreender o que é falado

Para estas crianças, está indicado o uso de IMPLANTES COCLEARES preferencialmente às próteses auditivas. O grau de lesão, por ser grande, não possibilita a compreensão da fala através de aparelhos convencionais, pois as células ciliadas da cóclea estão profundamente lesadas.

O tratamento fonoaudiológico também precisa iniciar no primeiro ano de vida em conjunto com a orientação dos pais, para que a criança aprenda a se comunicar verbalmente. Alguns casos podem precisar aprender a língua de sinais (se a cirurgia de implantes ou próteses começar após os 2 anos e se a terapia demorar).

Terapia fonoaudiológica em adultos e crianças

Como visto acima, o grau de acometimento da audição, tanto em adultos como crianças, determina o grau de compreensão e expressão da fala. Quanto maior a perda auditiva, maior o acometimento na comunicação e vida social do indivíduo. A terapia fonoaudiológica consiste em dois passos principais:

1.INDICAÇÃO DE APARELHOS AUDITIVOS OU IMPLANTES COCLEARES

Aparelhos auditivos são sistemas eletrônicos para compensar a perda de audição, pois eles AMPLIAM OS SONS.
Quando a perda é leve ou moderada, eles costumam dar ótimas respostas de amplificação e de compreensão auditivas, pois existe CERTA PRESERVAÇÃO das células ciliadas na cóclea, órgão da audição que foi lesado.

Já a perda severa pode obter boas respostas de amplificação e compreensão ou em alguns casos, não, e as perdas profundas, dificilmente se beneficiam dos aparelhos de amplificação tradicionais.

Nestes casos, o médico otorrinolaringologista indica uma cirurgia que leva diretamente ao nervo auditivo as informações e, se bem trabalhadas pelo fonoaudiólogo em terapia, podem suceder na compreensão da fala e ótimas respostas sociais, OS IMPLANTES COCLEARES.

2.REABILITAÇÃO AUDITIVA E DE LINGUAGEM

A utilização de sistemas de amplificação sonora descritos acima deve ser acompanhada por uma reabilitação auditiva, para que o indivíduo “aprenda” a abstrair significado dos sons que recebe.

Da mesma forma, como os sons são recebidos e percebidos de forma distorcida, o fonoaudiólogo precisa trabalhar a leitura labial em alguns casos e a expressão verbal, pois a fala e a voz acabam sendo adquiridas e emitidas também de forma distorcida.

A fase que este trabalho se inicia é fundamental para um bom prognóstico, ou seja, quanto antes, melhor, principalmente em se tratando de surdez profunda e congênita. O ideal é que a terapia inicie antes do primeiro ano de vida.

Alguns casos, no caso das crianças, vão se beneficiar da linguagem de sinais como complemento à fala e outros, aprenderão a se comunicar pela linguagem verbal.