Vaginismo
O que é o Vaginismo?
O vaginismo é caracterizado por uma resposta involuntária e persistente dos músculos do assoalho pélvico, especialmente os que circundam a entrada vaginal, que se contraem de forma reflexa diante da tentativa de penetração. Essa resposta é inconsciente, ou seja, não está sob controle voluntário da mulher.
O vaginismo dificulta ou impossibilita a penetração vaginal durante a relação sexual, a realização de exames ginecológicos ou uso de absorventes internos. Por conta disso, ele pode ter grande impacto na saúde física, emocional e nos relacionamentos afetivos.
A avaliação ginecológica é fundamental para diferenciar o vaginismo de outras causas de dor sexual, como infecções, alterações hormonais ou lesões anatômicas. No vaginismo, a contração muscular impede ou dificulta a penetração, mesmo que não haja uma alteração física evidente.
Quem é mais acometida pelo vaginismo?
O vaginismo é mais comum em adolescentes e mulheres jovens, geralmente entre o final da adolescência e o início dos vinte anos, pois é nessa fase que elas tentam pela primeira vez usar tampões, ter relações sexuais com penetração ou fazer exames ginecológicos.
Meninas que tiveram uma educação moral muito conservadora e rigorosa, onde o sexo era visto como algo errado e as partes íntimas como algo “a ser escondido” a todas as custas, apresentam maior risco. Isso inclui também a educação religiosa. Muitas dessas meninas nunca desenvolveram uma “boa relação” com suas partes íntimas. Violência física, sexual ou emocional podem contribuir para isso. A violência pode não ser algo explícito e deliberado – pode ter relação, por exemplo, com um desfralde mal conduzido.
O problema é relativamente comum, embora poucas meninas falem abertamente sobre sua dificuldade. Alguns estudos indicam que até 5–17% das mulheres apresentam vaginismo (1). Muitas procuram ajuda apenas tardiamente, com certo desespero e querendo “salvar”uma relação ou casamento.
Ao longo da vida, o vaginismo pode aparecer também após experiências negativas relacionadas à sexualidade, incluindo violência física, sexual ou emocional. Pode também ser consequência de um dor na relação sexual, por exemplo por conta de infecção vaginal. Embora nem todas as dores na relação estejam associadas ao vaginismo, quando não tratada ela pode evoluir secundariamente com vaginismo.
Já na menopausa, problemas como a atrofia vaginal e o ressecamento vaginal podem causar dor e desconforto, podendo da mesma forma evoluir com vaginismo.
Vaginismo primário X secundário
O vaginismo pode ser classificado quanto à causa em primário ou secundário.
Vaginismo primário, que é a forma mais comum, é aquele que se desenvolve em adolescentes e aultos jovens que nunca tiveram uma penetração vaginal tranquila e prazerosa.
Já o vaginismo secundário ocorre quando uma pessoa que anteriormente conseguia penetração desenvolve vaginismo.
Quais as causas do vaginismo?
Vale lembrar que o vaginismo não é uma escolha ou “frescura”. Trata-se de um reflexo neuromuscular condicionado, que não está sob controle da mulher.
O vaginismo pode ter causas psicológicas, relacionais e/ou físicas. Em muitos casos, esses fatores estão combinados.
Mostramos as principais causas na tabela abaixo:
Categoria | Causas |
Psicológicas | – Ansiedade relacionada ao ato sexual |
– Medo de sentir dor ou de engravidar | |
– Experiências traumáticas prévias (ex: abuso sexual, violência) | |
– Culpa ou vergonha associada à sexualidade | |
– Transtornos de ansiedade ou depressão | |
– Educação sexual rígida ou repressiva | |
– Baixa autoestima ou imagem corporal negativa | |
– Fobias específicas relacionadas ao corpo ou sexo | |
Relacionais | – Falta de comunicação sexual no casal |
– Relacionamento com conflitos ou violência (psicológica ou física) | |
– Falta de intimidade emocional | |
– Experiência sexual negativa com o parceiro | |
– Pressão para desempenho ou para manter relações sexuais | |
– Falta de excitação e de “preliminares” antes da relação sexual. | |
Físicas | – Dor pélvica crônica |
– Infecções vaginais recorrentes (ex: candidíase, vaginose) | |
– Endometriose ou outras condições ginecológicas dolorosas | |
– Atrofia vaginal (comum na menopausa) | |
– Lesões ou cicatrizes vaginais (ex: pós-parto, cirurgias) | |
– Hipertonia do assoalho pélvico (tensão muscular crônica) | |
– Condições neurológicas ou musculares |
Classificação
O Vaginismo pode ser classificado em quatro graus, de acordo com Lamont (2). Um quinto grau foi posteriormente incluido:
- Grau 1: o espasmo que pode ser aliviado por tranquilização.
- Grau 2: o espasmo se mantém mesmo com a tranquilização da paciente, mas alguma penetração ainda é possível.
- Grau 3: a pessoa eleva as nádegas para evitar ser examinada.
- Grau 4: a forma mais grave, em que a pessoa eleva as nádegas, recua e fecha firmemente as coxas para evitar o exame.
- Grau 5: a pessoa experimenta uma reação visceral, como suor, hiperventilação, palpitações, tremores, tremores, náuseas, vômitos, perda de consciência, vontade de pular da mesa ou atacar o médico.
Diagnóstico
O diagnóstico do vaginismo é clínico e deve ser feito por um(a) ginecologista ou profissional da saúde sexual capacitado. Geralmente envolve:
- Entrevista clínica detalhada, com foco na história sexual, ginecológica e emocional
- Exame ginecológico cuidadoso (se possível), para avaliar o grau de contração e exclusão de outras causas físicas de dor
- Avaliação psicológica ou psicoterapêutica, quando necessário
Tratamentos para o vaginismo
O tratamento do vaginismo deve ser escolhido de forma individualizada a partir de possíveis causas identificadas na avaliação ginecológica.
O primeiro passo envolve o acolhimento da paciente e a educação sobre o problema. A maior parte das pacientes chega ao consultório em condição de desespero e culpando-se pelos problemas no relacionamento. Ela precisa entender que o problema é comum, que ela não tem culpa pelo que está acontecendo mas que, com o tratamento adequado, há uma alta probabilidade de recuperação. Sempre que possível, a inclusão do(a) parceiro(a) no processo terapêutico ajuda na redução do medo e na construção de uma vivência sexual positiva.
A Fisioterapia envolve a realização de exercícios de dessensibilização e reeducação muscular. No início, podem ser usadas técnicas de relaxamento externas, com exercícios para o assoalho pélvico e treinamento da percepção corporal, em que o examinador não toca as partes íntimas da paciente. Aos poucos, poderão ser usadas técnicas como o uso de dilatadores vaginais graduais, o que só deve ser feito quando a paciente indicar que está pronta para isso.
Por fim, tratamentos específicos podem ser indicados quando existe uma causa física para o vaginismo, como a atrofia vaginal, ressecamento ou cicatrizes vaginais. Medicamentos ou outros procedimentos podem ser necessários em alguns casos.