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Testosterona no Atleta Competitivo

Benefícios da Testosterona no Esporte

A Testosterona no Atleta Competitivo tem potencial para prover diversos benefícios no seu rendimento esportivo, incluindo:

  • Ganho de força e massa muscular;
  • Aumento da resistência;
  • Melhor recuperação entre duas sessões consecutivas de treino.

Enquanto o uso médico visa atingir as concentrações fisiológicas do corpo, o uso com fins de melhora do desempenho esportivo geralmente busca concentrações até 40 a 100 vezes maiores.

Riscos do abuso da testosterona

Entre os efeitos colaterais do uso de doses supra-fisiológicas da testosterona no atleta competitivo e demais indivíduos, devemos considerar:

  • Disfunção sexual e reprodutiva: doses suprafisiológicas de testosterona inibem a produção natural do hormônio pelo organismo e podem provocar a atrofia testicular. Isso pode levar à infertilidade e disfunção sexual, incluído diminuição da libido e problemas de ereção, entre outros. Essas mudanças costumam ser reversíveis, mas isso pode durar anos. Em alguns casos, o corpo nunca mais se recupera totalmente.
  • Ginecomastia masculina: o excesso de testosterona é transformado (aromatizado) em estrogênio, um hormônio predominante no organismo feminino. O estrogênio pode levar ao crescimento anormal das mamas.
  • Adolescentes: a testosterona pode levar ao fim do crescimento ósseo, levando à baixa estatura. O uso de esteróides anabolizantes nesta idade pode ser mais prejudicial do que o uso que começa na idade adulta.

Como é feito o uso da testosterona no atleta competitivo

Os esteróides anabolizantes são frequentemente usados ​​de forma intermitente, intercalando períodos de uso, seguido por um período sem a medicação. Os ciclos geralmente são feitos por alguns meses, mas podem variar de algumas semanas a até anos.

No início de um ciclo, a quantidade de esteróides é gradualmente aumentada. Ao final, ela é reduzida de forma gradual durante uma a duas semanas.

O objetivo das pausas é reduzir os efeitos adversos e dar tempo para que a produção de hormônios do corpo se recupere.

No caso de atletas competitivos, os períodos de uso e não uso podem ser escolhidos com o objetivo de evitar um teste de doping positivo.

Testosterona no atleta competitivo de elite masculino

Apesar da reconhecida importância da testosterona para a performance esportiva, a importância de pequenas variações nos níveis hormonais, para dentro dos parâmetros de normalidade, é no mínimo questionável.

Não estamos aqui falando no aumento suprafisiológico, de até 40 a 100 vezes acima dos valores de referência. Estes níveis são comumente visto entre aqueles que fazem uso da testosterona para melhora da performance esportiva ou por questões estéticas.

Os níveis de testosterona total considerados normais variam entre 10 e 25 nanomoles por litro. Entretanto, não é possível dizer que uma pessoa com testosterona de 25 tenha maior probabilidade de sucesso esportivo do que outro com testosterona de 10.

Ao olhar para atletas masculinos de elite, diversos estudos não observaram uma correlação direta entre maiores níveis de testosterona com aumento no rendimento esportivo (1, 2, 3).

Mais do que isso, um estudo realizado com 689 atletas de elite masculinos de diferentes modalidades mostrou que 25% deles apresentavam níveis de testosterona abaixo do que a Associação Internacional de Federações de Atletismo considera o limite inferior para homens (4). Ainda assim isso não parecia interferir no desempenho esportivo deles.

Testosterona na atleta competitivo de elite feminina

A testosterona é classificada como um hormônio sexual masculino, ainda que seja naturalmente produzida em pequenas quantidades também pelo ovário feminino.

Os níveis de testosterona considerados normais no homem variam entre 7,7 a 29,4 nmol / L. Nas mulheres, varia entre 0 e 1,7 nmol / L.

Em um estudo com 82 modalidades olímpicas, foi observado que os recordes mundiais nestas provas eram entre 5,5% e 18,8% superiores entre os homens quando comparado com as mulheres (5). Sem dúvidas, a testosterona é uma das principais responsáveis por isso.

Algumas mulheres, entretanto, possuem condições clínicas específicas que fazem com que elas produzam níveis anormalmente elevados de testosterona.

Ainda que estas condições possam acometer atletas ou não atletas, elas são mais comuns em mulheres envolvidas com o esporte de alto rendimento. Isso se deve, provavelmente, às vantagens esportivas proporcionadas pelos altos níveis de testosterona.

A Síndrome de Ovários Policísticos é uma das principais causas para estes pequenos aumentos nos níveis de testosterona. Mas, em algumas condições, este aumento pode ser bem maior, para próximo dos níveis observados em homens, proporcionando uma significativa vantagem esportiva.

A IAAF (International Association of Athletics Federations) definiu em 2019 um limite máximo de testosterona de 5,0 nmol / L para elegibilidade na classificação feminina em certas disciplinas (6). Para competir, atletas com níveis superiores de testosterona se vêm obrigadas a realizar tratamentos para a redução nos níveis hormonais.

Esta conduta tem sido muito questionada por questões éticas e discriminatórias. Um dos principais argumentos contrários a este tipo de comportamento é que a maioria dos atletas de elite possuem atributos fora da curva de normalidade e que dá a ele certas vantagens esportivas. Estabelecer um limite para os níveis de testosterona seria o mesmo que estabelecer uma altura máxima para jogadores de basquete, por exemplo.

Outro exemplo vem das piscinas: os músculos de Michael Phelps produzem metade do ácido láctico de uma pessoa normal, permitindo que ele se esforce por muito mais tempo sem se cansar (7). O Comitê Olímpico Internacional nunca tomou medidas para impedí-lo de competir com outros atletas que produzem níveis normais de ácido lático.

Obrigar as mulheres a usarem medicações para reduzir os níveis de testosterona, por outro lado, não significa tornar a disputa mais justa, muito pelo contrário. Uma testosterona de 4 pode ser considerada deficiente em um homem, podendo ser em parte responsabilizado por sintomas como distúrbios sexuais, Insônia, fadiga e letargia.

Este mesmo nível em uma mulher será considerado elevado e uma vantagem competitiva, mas no caso de mulheres com testosterona naturalmente elevada ela pode se comportar de forma semelhante a um homem com testosterona baixa, com comprometimento não apenas da sua performance, mas também da sua saúde.

Testosterona no atleta competitivo sênior

Os níveis de testosterona tendem a diminuir aproximadamente 1,2% a cada ano a partir de aproximadamente 30 a 40 anos de idade (8).

O desempenho esportivo também é gradualmente reduzido e há uma natural associação entre a queda no desempenho e a queda nos níveis de testosterona.

Um estudo realizado com 183 atletas masculinos de diferentes modalidades e com idade superior a 50 anos, com treinamento físico regular nos últimos 10 anos, obteve os seguintes achado (9):

  • 12 a 18% dos atletas apresentavam deficiência leve a moderada de testosterona;
  • 50% dos atletas acima dos 70 anos apresentavam níveis hormonais reduzidos.

Apesar disso, não foram observadas diferenças em relação à disfunção erétil, níveis de depressão ou outros sintomas tipicamente relacionados à deficiência de testosterona, quando comparado com os atletas que apresentavam níveis hormonais dentro da normalidade.

Sem negar a importância da testosterona, é preciso considerar que diversos outros fatores relacionados ao envelhecimento estão associados à perda de desempenho esportivo. Assim, nem sempre a testosterona baixa deve ser responsabilizada por eventuais quedas de rendimento.

A testosterona se tornou popular entre atletas homens de meia idade que procuram alguma forma da “fonte da juventude” que permitirá que eles participem de esportes em um nível semelhante ao que faziam quando eram mais jovens.

Como visto nos exemplos acima, existem diversas evidências de que retornar a testosterona para níveis fisiológicos em pacientes sem sintomas característicos da deficiência de testosterona não faz muito sentido.

Deficiência de Testosterona entre atletas

O treinamento físico com volume e intensidade moderados é considerado uma medida importante na prevenção e tratamento de eventuais disfunções sexuais e na manutenção dos níveis de testosterona. Entretanto, o excesso de exercício pode provocar o efeito oposto, com redução da testosterona.

A deficiência de hormônios reprodutivos levando à interrupção dos ciclos menstruais (amenorreia), é um problema reconhecido há longa data na mulher atleta. Originalmente o problema foi referido como “amenorreia atlética”. Mas, já há tempos, ela é vista como parte de uma condição médica mais ampla denominada de Tríade da Mulher Atleta.

A deficiência de Testosterona no atleta masculino era pouco falada até recentemente. Ela não provoca uma queixa tão objetiva como a parada da menstruação. Entretanto, hoje entende-se que existem muitas semelhanças entre as disfunções reprodutivas e hormonais que se desenvolvem em mulheres e homens, incluindo a queda nos níveis de testosterona.

Esta queda hormonal está geralmente associada a uma deficiência energética. Ela é acompanhada de outros problemas causados por esta deficiência energética, agrupadas no que se denomina de Deficiência Energética Relativa no Esporte (RED-S).

A deficiência de testosterona é também comumente vista em atletas que fizeram uso abusivo de esteroides anabolizantes. Um dos principais problemas relacionados ao uso de anabolizantes é que eles inibem a produção natural da testosterona pelo organismo.

Esta “parada” na produção de testosterona tende a ser reversível. Entretanto, ela tende a ser incompleta quando os hormônios foram usados por longa data e em altas doses.

Quando a testosterona deve ser reposta?

A Reposição Hormonal Masculina deve ser considerada nos indivíduos com clara deficiência de testosterona. Isso significa não apenas um nível hormonal baixo, mas também os sintomas característicos da deficiência hormonal.

Ela pode ser uma boa alternativa nas seguintes condições:

  • Homens com libido reduzido;
  • Tratamento de problemas de ereção;
  • Tratamento da osteoporose;
  • Prevenção de problemas cardiovasculares;
  • Prevenção e controle do diabetes.

Por outro lado, as principais especialidades médicas de referência na área, incluindo a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), a International Endocrinology Society, a Endocrine Society e o ACSM (American College of Sports Medicine) se posicionam de maneira fortemente contrária à reposição em pacientes com níveis hormonais baixos e sem sintomas característicos, bem como o uso por motivos estéticos ou para ganho de desempenho esportivo.

A reposição de testosterona também não deve ser feita para mulheres, independente dos níveis de testosterona aferidos (10).

Autorização para uso terapêutico.

A Autorização para Uso Terapêutico (AUT) é uma autorização especial concedida pelas agências regulatórias antidopagem para pessoas que precisam tomar uma medicação presente na lista de substâncias proibidas em decorrência de uma condição médica.

Para que a AUT seja concedida, são considerados os seguintes critérios:

  • A substância proibida é necessária para tratar uma condição médica aguda ou crônica, de modo que a suspensão ou a não utilização da substância piorem significativamente os sintomas;
  • A substância proibida solicitada para uso não pode melhorar o desempenho físico além do que seria esperado com o simples tratamento e restabelecimento do estado normal de saúde do atleta;
  • Não há outras alternativas baseadas em evidências ao uso da substância proibida. Em outras palavras – a substância proibida deve ser considerada insubstituível no tratamento da condição médica do atleta;
  • A necessidade do uso da substância proibida não deve ser resultado do uso não terapêutico prévio de qualquer substância ou método proibido pela Agência Mundial Antidopagem (WADA).

A própria WADA estabelece critérios claros e objetivos para a concessão de AUT para cada tipo de substância proibida.

No caso da Testosterona, ela só deve ser concedida no caso de deficiências de origem orgânica, ou seja, nas quais existe um defeito estrutural ou congênito que justifique a redução nos níveis de testosterona.

Isso inclui anomalias genéticas, trauma testicular, pacientes submetidos a retirada dos testículos, torção testicular, pacientes submetidos a quimioterapia, e sequelas de tumores hipofisários ou hipotalâmicos, entre outros problemas.

Deficiências de testosterona de origem funcional não justificam a Autorização para Uso Terapêutico, o que inclui a andropausa, Obesidade, Overtraining e, especialmente, aos casos que se desenvolvem em decorrência do uso indevido de testosterona ou outros esteroides anabolizantes (11).

Teste anti-doping

A detecção da testosterona no controle de doping é feita pelo teste de urina.

Diferentemente de outros anabolizantes que não são naturalmente produzidas pelo corpo, a simples detecção da testosterona não é suficiente. É necessário também diferenciar se a testosterona é resultado da produção endógena ou do uso exógeno com finalidade de ganho de desempenho.

Um dos meios utilizados para esta diferenciação é pela mensuração da proporção entre a testosterona e a epitestosterona, outro composto também produzido naturalmente pelo corpo. Em média, as pessoas têm uma relação testosterona/epitestosterona (relação T/E) de 1, sendo que 99% da população possui T/E menor do que 6 (12).

O uso de testosterona exógena faz com que a testosterona aumente, mas não a epitestosterona. Assim, a relação T/E também aumenta.

O Comitê Olímpico Internacional adotou um valor de T/E superior a 10 como indicativo do uso exógeno e superior a 4 como suspeito, sendo indicado a investigação nestes casos.

As Diretrizes da WADA descrevem duas abordagens diferentes frente a um T/E suspeito:

  • A primeira abordagem determina a relação T/E em pelo menos três amostras adicionais. Podem ser amostras que foram previamente coletadas e analisadas ou testes futuros sem aviso prévio. Se a variação entre os resultados for inferior a 30% para homens e 60% para mulheres, é indicativo que a razão T/E está naturalmente aumentada. Variações acima destes valores são indicativos de uso exógeno.
  • A segunda abordagem se baseia em diferenças sutis na estrutura da testosterona endógena e exógena, o que é feito por meio de um método denominado de Espectrometria de Massa de Razão Isotópica (IRMS). Este método é inviável tecnicamente e financeiramente de ser feito como rotina, mas pode ser usado em casos suspeitos.