Síndrome dos Ovários Policísticos
O que é a Síndrome dos Ovários Policísticos?
A síndrome dos ovários policísticos é uma condição que engloba uma série de problemas decorrentes de uma produção elevada de testosterona pelo ovário. Este é o distúrbio hormonal mais comum entre as mulheres em idade reprodutiva e uma causa comum de anovulação e infertilidade feminina.
Ainda que a causa da Síndrome seja desconhecida, uma das principais hipóteses está relacionada à resistência à ação da insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas e que também está associado à diabetes. Isso porque a insulina alta pode prejudicar a ovulação e fazer com que os ovários produzam quantidades excessivas de testosterona.
Segundo os Critérios de Roterdam (1), o diagnóstico é feito na presença de dois dos três critérios abaixo:
- Ciclo menstrual irregular;
- Hiperandrogenismo (excesso de testosterona);
- Presença de ovários policísticos.
O diagnóstico deve ser feito por exclusão, descartando-se diversas outras condições que podem provocar os mesmos sinais e sintomas.
Entre 5% e 10% das mulheres em idade reprodutiva (entre 15 e 44 anos) apresentam a Síndrome dos Ovários Policísticos (1).
A maioria das mulheres descobre o problema ao redor dos 30 anos, em decorrência da dificuldade para engravidar. Entretanto, ela pode acontecer em qualquer idade após a puberdade.
O risco para a Síndrome dos Ovários Policísticos é maior em pessoas com familiares próximas também acometidas.
Ciclo menstrual irregular
O ciclo menstrual normal envolve um conjunto de eventos preparatórios para uma eventual gravidez. Ele é dividido em quatro fazes:
- Menstruação: período em que ocorre a perda de sangue pela vagina.
- Fase pré-ovulatória: também chamada de fase folicular, estende-se aproximadamente entre os dias 6 e 14 do ciclo. Os folículos nos ovários crescem e, durante os dias 10 a 14, um deles se sobressai para formar um óvulo totalmente maduro.
- Ovulação: ocorre aproximadamente no dia 14, no caso de um ciclo menstrual de 28 dias. É quando a mulher está fértil e tem maiores chances de engravidar;
- Fase pós-ovulatória: também chamada de fase lútea, é o período que antecede a nova menstruação, geralmente entre o dia 15 e o dia 28 do ciclo. O nível do hormônio progesterona aumenta, de forma a preparar o revestimento uterino para a gravidez. Quando não há a fertilização do óvulo pelo espermatozoide, o corpo lúteo involui após aproximadamente 14 dias e o revestimento uterino se desfaz, dando início a um novo ciclo.
No caso da mulher com a Síndrome do Ovário Policístico, continua a haver o crescimento dos folículos durante a fase pré-ovulatória. Entretanto, os altos níveis de testosterona impedem que eles amadureçam completamente e que a ovulação aconteça.
Algumas mulheres ovulam ocasionalmente; outras nunca ovulam.
Como consequência da não ovulação, as mulheres com a síndrome têm dificuldade para engravidar. Além disso, apresentam ciclos menstruais prolongados e menos frequentes, condição essa chamada de Oligomenorreia.
Os períodos menstruais passam a ter mais de 35 dias de intervalo ou com menos de 9 menstruações por ano.
Em alguns casos, a mulher deixa de menstruar, condição conhecida pelo termo Amenorreia.
Hiperandrogenismo (excesso de testosterona)
A Testosterona é considerada um hormônio masculino e está presente em níveis bem mais elevados nos homens. Entretanto, ela também é produzida em pequena quantidade nos ovários das mulheres.
Na Síndrome dos Ovários Policísticos, esta produção encontra-se anormalmente elevada.
O Hiperandrogenismo é um termo usado para designar um conjunto de sinais e sintomas decorrentes do excesso de testosterona, incluindo:
- Crescimento de pelos em locais mais comuns nos homens, como face, seios e costa;
- Alopecia (queda de cabelo);
- Excesso de acne;
- Ganho de peso, especialmente ao redor da barriga;
- Aumento do clitóris associado ao aumento da libido;
- Aparência masculina, com aumento da massa muscular;
- Redução dos seios;
O hiperandrogenismo também pode ser diagnosticado laboratorialmente, por meio do exame de sangue. Ele deve incluir a dosagem de Testosterona total, Testosterona livre, Androstenediona e Sulfato de dehidroepiandrosterona (DHEAS).
Ovários policísticos
Os ovários policísticos podem ser diagnosticados através do Ultrassom pélvico.
Os “cistos” observados nos ovários policísticos não são de fato cistos, mas sim folículos imaturos. São folículos ovulares que não amadureceram completamente devido aos altos níveis de testosterona.
O uso do ultrassom não é recomendado para adolescentes (menos de 20 anos), uma vez que o aparecimento de folículos imaturos nos ovários é comum nessa faixa etária.
A caracterização do ovário como sendo policístico envolve o número, o tamanho e o volume dos folículos (1):
- Número de folículos imaturos: 12 ou mais em cada ovário;
- Tamanho dos folículos imaturos: 2-9 mm de diâmetro;
- Volume ovariano: mais de 10 cm3.
Sintomas da Síndrome do Ovário Policístico
A Síndrome dos Ovários Policísticos pode envolver os seguintes sinais e sintomas, ainda que nem todos eles precisem estar presentes:
- Ciclos menstruais irregulares, com menstruação ausente (Amenorreia) ou pouco frequente (oligomenorreia)
- Dificuldade com a concepção / fertilidade
- Ovários grandes ou com muitos cistos
- Excesso de pelos no corpo, incluindo peito, estômago e costas (hirsutismo)
- Ganho de peso, especialmente ao redor da barriga
- Acne ou pele oleosa
- Dor pélvica
- Mudanças de humor, ansiedade ou depressão
Quais as consequências da Síndrome dos Ovários Policísticos?
As consequências da Síndrome dos Ovários Policísticos podem estar ligadas ao excesso de testosterona e à perda da função ovariana, podendo incluir:
- Infertilidade
- Diabetes gestacional ou pressão alta induzida pela gravidez
- Aborto ou parto prematuro
- Esteato-hepatite não alcoólica: inflamação grave do fígado causada pelo acúmulo de gordura;
- Síndrome metabólica: um conjunto de condições, incluindo Hipertensão Arterial, hiperglicemia, colesterol alto e maior risco de doença cardiovascular;
- Diabetes tipo 2 ou pré-diabetes
- Apnéia do sono
- Depressão, ansiedade e transtornos alimentares
- Sangramento uterino anormal
- Câncer de endométrio
- Obesidade:
Tratamento
Não existe cura para a Síndrome dos Ovários Policísticos. Entretanto, o tratamento pode ser bastante efetivo no sentido de gerenciar os sintomas, incluindo:
- Tratamento de distúrbios menstruais, hirsutismo, acne e outros
- Tratamento de suas complicações, incluindo infertilidade, diabetes e obesidade.
O controle do peso é uma das medidas mais importantes. Isso envolve principalmente uma Dieta para perder peso combinada com a Atividade Física para a perda de peso.
Perder peso também pode aumentar a eficácia dos medicamentos e até mesmo ajudar a combater a infertilidade.
A atividade física pode ajudar a reduzir a glicemia e a tratar ou prevenir a resistência à insulina. Além disso, ela ajuda no controle de peso, o que é importante para evitar o desenvolvimento de diabetes.
A redução no consumo de Carboidratos, especialmente dos Carboidratos ultraprocessados, é outra medida importante para a prevenção da diabetes.
Pílulas anticoncepcionais combinadas de estrogênio e progestina ajudam a reduzir a produção de testosterona e a regular os níveis de estrogênio na mulher que não está pretendendo engravidar.
A regulação nos níveis hormonais pode contribuir para diminuir o risco de câncer de endométrio e regular os ciclos menstruais, crescimento excessivo de pelos e acne.
Além das pílulas, outros Métodos anticoncepcionais hormonais que combinam o estrogênio e a progesterona poderão ser considerados, incluindo adesivos, anticoncepcionais injetáveis, anel vaginal ou Dispositivo Intrauterino hormonal (DIU).
Infertilidade
A infertilidade na Síndrome dos Ovários Policísticos está associada à não ovulação. Algumas mulheres ovulam ocasionalmente, outras nunca ovulam.
Ter a Síndrome dos Ovários Policísticos não significa que uma pessoa não pode engravidar, mas sim que pode haver uma maior dificuldade para isso.
O primeiro passo no tratamento da infertilidade envolve uma série de medidas não farmacológicas que podem contribuir para que a ovulação aconteça e a mulher consiga engravidar, incluindo a perda de peso e abandono do álcool e tabaco.
Quando isso não for suficiente, o Médico ginecologista poderá lançar mão de uma série de medicamentos que estimulam a ovulação, incluindo o clomifeno ou as gonadotrofinas.
Este tratamento é efetivo para aproximadamente 70% das mulheres com a Síndrome dos Ovários Policísticos que desejam engravidar (1).
O passo seguinte a ser considerado envolve as técnicas de reprodução In Vitro. Nestas técnicas, o óvulo da mulher é fertilizado com o esperma do seu parceiro em um laboratório. A seguir, ele é colocado em seu útero para implantar e se desenvolver.
Comparado com os medicamentos, a fertilização in vitro tem taxas mais altas de gravidez e melhor controle sobre o risco de ter gêmeos e trigêmeos (permitindo que seu médico transfira um único óvulo fertilizado para o útero).
Por fim, existe ainda a opção pelo tratamento cirúrgico.
A camada externa dos ovários (chamada de córtex) costuma estar espessada em mulheres com a Síndrome dos Ovários Policísticos e acredita-se que isso possa dificultar a ovulação espontânea.
A perfuração ovariana é uma cirurgia na qual o médico faz alguns furos na superfície do ovário usando laser ou um eletrocaltério. A cirurgia geralmente restaura a ovulação, mas apenas por 6 a 8 meses.
Problemas gestacionais
A Síndrome dos Ovários Policísticos pode causar problemas durante a gravidez, tanto para a gestante como para o bebê. Para a gestante, há um maior risco de aborto espontâneo, diabetes gestacional e pré-eclâmpsia.
No caso do bebê, há um maior risco de ganho excessivo de peso e de precisar passar mais tempo em uma unidade de terapia intensiva neonatal.
Algumas medidas podem ajudar a diminuir este risco, tanto para a mãe como para o bebê:
- Alcançar um peso saudável antes de engravidar e manter o peso adequado durante a gestação;
- Obter um bom controle nos níveis de açúcar no sangue (glicemia) antes de engravidar;
- Tomar ácido fólico.
Obesidade
A maioria das mulheres em algum momento da vida tem que lidar com a obesidade.
Para as mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP), perder peso pode se tornar uma luta constante.
O principal motivo para isso é que a síndrome está habitualmente associada a uma maior resistência à ação da insulina, um hormônio que ajuda a converter açúcares e amidos dos alimentos em energia.
Sem a ação da insulina, estes carboidratos tendem a ser armazenados na forma de gordura.
Outro problema é que o excesso de testosterona faz com que estas mulheres tenham a tendência de acumular a gordura predominantemente na região abdominal, que é o tipo mais perigoso de gordura. Isso porque ela está associada a um risco aumentado de doenças cardíacas e outras condições de saúde.
A perda de peso pela mulher com a Síndrome dos Ovários Policísticos não apenas reduz o risco de muitas doenças, mas também pode melhorar a qualidade de vida, melhorar diversos dos sintomas característicos da doença (incluindo os distúrbios menstruais) e fazer a paciente se sentir melhor.
Diabetes
A ligação entre a Síndrome dos Ovários Policísticos, resistência à insulina e diabetes tipo 2 vem sendo observada a longa data.
Ainda que a causa da Síndrome seja desconhecida, uma das principais hipóteses está relacionada à resistência à ação da insulina. Isso porque a insulina alta pode prejudicar a ovulação e fazer com que os ovários produzam excesso de testosterona.
A resistência à insulina está presente em 70 a 95% das pessoas obesas e 30 a 75% das pessoas magras portadoras da síndrome dos Ovários Policísticos(1, 2) e pode ser tanto causa como consequência da mesma.
O tratamento da resistência à insulina na mulher com Síndrome dos Ovários Policísticos deve envolver a perda de peso, a prática de exercícios (tanto aeróbicos como de fortalecimento) e o uso de medicamentos, especialmente a metformina.
Síndrome dos Ovários Policísticos em atletas
A Síndrome dos Ovários Policísticos é um distúrbio comum entre esportistas de elite e a causa mais frequente de problemas menstruais na atleta (1).
Além de a síndrome ser comum na população como um todo, o aumento nos níveis de testosterona é considerado uma vantagem esportiva para estas atletas, o que justifica uma “seleção natural” destas mulheres para o esporte competitivo.
A amenorreia decorrente da síndrome dos Ovários Policísticos, entretanto, deve ser diferenciada da amenorreia decorrente da deficiência energética que acontece na Tríade da Mulher Atleta.
O perfil hormonal nestas duas condições é completamente diferente. Enquanto na Síndrome dos Ovários Policísticos a testosterona encontra-se elevada, a deficiência energética promove uma redução nos níveis da testosterona.
Além disso, o Ovário policístico promove o ganho de massa óssea, ao passo que a Osteoporose (perda de massa óssea) é um dos pilares que caracterizam a Tríade da Mulher Atleta.