Saúde sexual da população transgênera
Falta de assistência médica para transgêneros
As pessoas transgêneros enfrentam vários obstáculos para acessar cuidados de saúde de qualidade. As escolas médicas e de outros profissionais de saúde via de regra ainda preparam muito mal os profissionais para abordarem questões relacionadas ao público transgênero.
A falta de competência clínica e cultural relevante entre os provedores não apenas compromete o acompanhamento médico como muitas vezes afasta estes pacientes de qualquer acompanhamento.
Um dos maiores tabus está relacionado à saúde sexual.
Pacientes transgêneros que procuram atendimento de saúde sexual e reprodutiva muitas vezes temem ser tratados de forma desrespeitosa ou crítica por causa de suas identidades de gênero ou escolhas sexuais.
Por outro lado, muitos provedores assumem que pacientes transexuais não precisam de serviços como exames pélvicos ou contracepção, ou que o tratamento de pacientes transexuais é muito complexo para sua prática.
Por fim, eles podem simplesmente não abordagem aspectos sexuais, com medo de que algum questionamento seja interpretado como discriminador.
Estudos mostram que uma em cada três pessoas transgênero e 48% dos homens transgênero atrasam ou evitam cuidados preventivos de saúde, como exames pélvicos ou exames de DST, por medo de discriminação ou desrespeito (1)
Vida sexual de pessoas transgêneras
Por mais básico que possa parecer, muitos profissionais de saúde ainda confundem identidade de gênero com opção sexual.
Transgênero é toda a pessoa que se identifica com um gênero diverso daquele que lhe foi designado ao nascer.
Pessoas transgêneras podem ter parceiros sexuais que são homens, mulheres ou ambos. Desta forma, os parceiros ou o histórico sexual de uma pessoa trans não podem ser presumidos a partir de sua identidade de gênero ou do gênero que lhes foi atribuído no nascimento.
Um homem trans, por exemplo, pode ter vagina e pode fazer sexo com penetração com outro homem.
O transgênero pode também ter um parceiro único ou múltiplos parceiros. E seus parceiros podem ou não ter outros parceiros sexuais.
Como regra geral, diferentes estudos mostram que, por motivos diversos, o transgênero tem uma maior probabilidade de participar de comportamentos sexuais de risco para transmissão de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), mas isso não pode ser extrapolado para assumir que qualquer transgênero tenha uma vida promíscua.
Transição de gênero
A transição de gênero é outro ponto de muita confusão para provedores de saúde. Muitos entendem o transgênero como uma pessoa que realizou uma cirurgia para a mudança de sexo.
Transgênero é uma questão de identidade, a como uma pessoa se identifica. Não tem relação com cirurgia, com a aparência ou com qualquer forma de tratamento.
De fato, estudos mostram que apenas 54% dos homens trans e 28% das mulheres trans optam por realizar alguma forma de cirurgia de redesignação sexual (cirurgia de mudança de sexo) (9).
Desta forma, podemos dizer que uma mulher transgênero pode ou não ter pênis e escroto, assim como um homem transgênero pode ou não ter útero e ovários.
Todas estas informações são importantes para se determinar quais os cuidados relacionados com a saúde sexual que cada transgênero necessita.
Saúde reprodutiva
Muitos homens transexuais que fazem sexo com outros homens correm o risco de gravidez indesejada, bem como de DSTs. Homens transexuais que fazem sexo com homens relatam altas taxas de relações sexuais, vaginais e anais desprotegidas.
O conhecimento do histórico de tratamentos cirúrgicos e hormonais e da vida sexual dos indivíduos trans é fundamental para discutir a respeito de métodos anticoncepcionais.
Problemas de saúde sexual relacionados à saúde mental
Estigmas e preconceitos persistentes podem afetar a saúde mental da população transgênera. Estes preconceitos podem ser implícitos (atitudes inconscientes ou estereótipos sobre um grupo de pessoas) ou explícitos (vieses dos quais uma pessoa está ciente).
A saúde mental destas pessoas pode ter forte impacto na saúde sexual destas pessoas. Isso porque problemas como depressão e ansiedade, são prejudiciais à função sexual e à satisfação sexual.
Indivíduos que lutam contra a depressão podem sentir apatia, fadiga e diminuição do desejo e da excitação sexual. Em alguns casos, a ansiedade também tem sido associada à diminuição do desejo e da excitação sexual.
Alternativamente, as pessoas com transtorno de ansiedade ficam mais propensas a se envolver em comportamentos sexuais compulsivos e se envolverem em comportamentos de risco.
Por fim, medicamentos para problemas de saúde mental podem inibir o desejo e a excitação.