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Quando levar os filhos para a terapia?

 

Muitos pais se perguntam quando levar os filhos para a terapia, buscando encontrar o melhor momento para solicitar ajuda profissional – caso haja necessidade. Porém, a verdade é que não existe o melhor momento, mas, sim, o momento possível, com base nas subjetividades da criança e seus potenciais comportamentos.

Neste texto, buscamos elencar alguns desses sinais que podem nos ajudar na hora de detectarmos a necessidade de buscar ajuda psicológica. Acompanhe e reflita conosco.

Como mencionado há pouco, não existe um momento perfeito para buscar a psicoterapia para as crianças e os adolescentes. No entanto, algumas dificuldades e sinais de comportamentos deturpados podem servir de base na hora de tomar essa decisão.

Porém, como saber se um comportamento é ou não adequado? O ideal é buscar compreender as fases do desenvolvimento humano. Por exemplo, na adolescência, é muito comum que o adolescente busque desafiar mais os seus pais, pois faz parte do seu desenvolvimento e da construção da sua própria identidade.

Por isso, compreender o desenvolvimento humano e cada etapa de crescimento pode ajudar a evitar “confusões” quando pensamos em comportamentos esperados e inadequados. Inclusive, você pode considerar conversar com um pedagogo ou psicólogo apenas para tirar as suas dúvidas quanto a isso, a fim de já ter ideia se determinados comportamentos são ou não esperados para determinada idade.

Dito isso, sigamos agora com alguns sinais que podem ser detectados em diferentes faixas etárias. Veja:

1. Sinais de problema de sociabilidade
Uma criança que apresenta sinais de problemas de sociabilidade pode necessitar do apoio psicológico para atravessar essa questão.
Afinal, é sempre bom lembrarmos que nós, seres humanos, somos seres sociais. Por isso, necessitamos da nossa rede social para nos desenvolvermos emocionalmente, por exemplo. Sendo assim, quando essa sociabilidade é afetada, devemos ficar bastante atentos.
Será que a criança está tendo dificuldade para expressar as suas emoções frente aos outros? Ela tem sido muito tímida na escola? Adota comportamentos de isolamento social? Pensar e refletir sobre isso é um caminho interessante.
Veja alguns sinais que podem nos dar a entender que a criança está com problema para socializar com seus colegas e/ou familiares:

  • Dificuldade para aceitar a expressão de outros pontos de vista, ou seja, a criança não aceita o pensamento alheio. Claro que, normalmente, isso pode estar associado ao egocentrismo de determinadas idades, mas, quando isso é intenso e recorrente, é válido investigar.
  • A criança busca se esquivar de eventos sociais, como escola, aniversários, passeios, etc. Ela pode até inventar desculpas (como dor de cabeça) para não sair de casa.
  • Humor deprimido e irritável diante de situações sociais diversas.

Esses são alguns dos sinais que podemos considerar quando pensamos em problemas de socialização na infância. Inclusive, temos um conteúdo completo sobre o assunto. Não deixe de conferir!

2. Presença de sintomas de dificuldades de aprendizagem
As dificuldades de aprendizagem podem impactar a autoestima e a qualidade de vida da criança e do adolescente. Por isso, buscar investigar as causas do problema e oferecer apoio psicológico é muito importante.

Durante a psicoterapia, o psicólogo poderá avaliar quais as causas para tais dificuldades, buscando analisar se é algo relacionado apenas ao emocional ou se existe a presença de algum tipo de transtorno mental. Caso exista sintomas de transtorno, o psicólogo poderá encaminhar a criança ao psiquiatra.

Veja alguns dos sinais de dificuldade de aprendizagem na infância e adolescência:

  • Comprometimento da leitura em fase de alfabetização e pós-alfabetização.
  • Comprometimento da expressão escrita.
  • Padrão comportamental de desatenção frequente.
  • Comportamentos de impulsividade e repetição, que caracterizam sinais de hiperatividade.
  • Notas baixas, inclusive nas matérias que a criança gosta.
  • Dificuldade para interpretar conteúdos e matérias da escola.
  • Entre outros sinais.

No nosso conteúdo sobre transtornos de aprendizagem, você poderá se aprofundar um pouco mais nas características dos principais quadros de dificuldade e transtorno de aprendizagem. Não deixe de conferir para avaliar quando levar os filhos para a terapia.

3. Dificuldade para dormir ou sono excessivo (insônia, pesadelos constantes, medo de dormir)
Os distúrbios do sono, quando recorrentes, podem ser um dos sinais de quando levar os filhos para a terapia. É o caso do filho que tem dificuldade para dormir e do filho que dorme excessivamente.
São muitos os padrões que podem ser observados nesse sentido. Contudo, quando o desequilíbrio do sono tem afetado a qualidade de vida e a saúde da criança, impactando a sua rotina, é interessante buscar ajuda.
Veja alguns sinais que denunciam essa necessidade de investigar a situação:

  • Criança com medo de dormir por conta dos pesadelos.
  • Dificuldade para dormir sozinho – sempre querendo dormir com os pais.
  • Sono excessivo e cansaço constante.
  • Insônia recorrente.
  • Entre outros sinais.

4. Comportamentos agressivos
Os comportamentos agressivos, como afronta para com os pais, xingamentos, acessos de raiva, irritabilidade constante, entre outros, pode ser um dos sinais importantes de que é necessário levar os filhos para a terapia.
Obviamente, não estamos falando de qualquer comportamento. A criança pode, às vezes, sentir raiva ou irritabilidade, especialmente quando contrariada. Como ela ainda está desenvolvendo o seu equilíbrio emocional, esses “deslizes” são esperados.
Porém, quando esses comportamentos escapam da fase do desenvolvimento da criança, denunciando algo que seja desproporcional, é válido ficar atento. Isso porque a criança pode estar apresentando sintomas de transtornos de comportamento, que devem ser investigados, diagnosticados e tratados para elevar a qualidade de vida dos pequenos.
A seguir, descrevemos alguns sinais importantes que podem ajudá-lo a avaliar a conduta do seu filho:

  • Padrão de comportamento no qual a criança desafia constantemente os adultos, apresentando um humor irritável.
  • Comportamento de violar os direitos básicos das outras pessoas, quebrando objetos de amigos, batendo em colegas, etc.
  • Padrão de comportamentos de raiva desproporcionais à situação vivida, como no caso de sentir raiva excessiva e xingar intensamente um colega que, simplesmente, esbarrou na criança.
  • Comportamentos de agressividade verbal ou física recorrente.
  • Entre outros sinais.

Em nosso site temos um conteúdo completo sobre transtornos de comportamento na infância. Não deixe de acessá-lo!

5. Alterações significativas na alimentação
As alterações no apetite e na alimentação também podem dar a entender que é um bom momento para levar os filhos para a terapia.
Se a criança ou o adolescente está sem apetite ou com um apetite exagerado, a ponto de impactar no seu peso corporal de forma expressiva, é válido ficar atento.
Especialmente na adolescência, pode-se detectar casos de anorexia e bulimia, por exemplo. Já em outras circunstâncias, a falta de apetite ou o excesso podem estar associados a casos de depressão e ansiedade na adolescência e infância.
Por isso, manter-se atento quanto a isso é um bom caminho. Considere averiguar questões como:

  • Variação de peso.
  • Apetite.
  • Frequência de alimentação.
  • Excesso ou ausência de fome.
  • Preocupação excessiva com o peso.
  • Entre outros fatores.

6. Atrasos no desenvolvimento
Como mencionamos no início deste conteúdo, o desenvolvimento humano passa por etapas que vão sendo concluídas à medida que o indivíduo cresce e tem acesso aos subsídios necessários para se desenvolver.
No entanto, devido a uma série de questões, os atrasos no desenvolvimento podem aparecer. Nesses casos, é válido levar os filhos para a terapia a fim de investigar as causas por trás de tais problemas de desenvolvimento.
Às vezes, as questões emocionais podem dificultar a aprendizagem de habilidades esperadas para a faixa etária da criança e, por isso, o apoio profissional é muito importante.
Considere avaliar e verificar os seguintes fatores:

  • A criança apresenta atraso na linguagem, ou ela tem conseguido se expressar de acordo com a idade?
  • Como está a marcha da criança? Ela caminha de acordo com a idade ou aparenta uma grande dificuldade para manter-se de pé?
  • A sociabilidade está de acordo com a idade ou a criança demonstra um comportamento de isolamento social?
  • Atividades como se alimentar, segurar objetos, entre outros, estão acontecendo de acordo com a idade, ou parecem estagnados?
  • A criança mais velha já consegue ter um maior controle das esfíncteres ou não?
  • De acordo com a idade da criança, ela consegue ou não consegue trocar de roupa?
  • A criança apresenta um atraso nos cuidados com a própria higiene?

Esses e outros questionamentos podem ajudar a avaliar o desenvolvimento do pequeno, visando oferecer a ele o suporte adequado em casos de atrasos significativos.

7. Crises de choro frequentes
Embora a depressão na adolescência e infância possa aparecer em forma de comportamentos mais agressivos e humor irritável, o choro excessivo também pode dar a entender que é o momento de levar os filhos para psicoterapia por conta dos quadros depressivos.
Se você percebe que a criança tem chorado excessivamente, mostrando-se “muito sensível” diante das mais diversas situações cotidianas, é válido conversar com um profissional da saúde mental.
Afinal, essa sensibilidade excessiva pode gerar sofrimento e disfuncionalidades na rotina da criança, causando prejuízos e problemas que podem ir se agravando com o tempo.
Sendo assim, se você detectar crises de choro frequentes no dia a dia do seu filho, além de acolhê-lo e de buscar entender o que ele possa estar sentindo, lembre-se de que a ajuda profissional é válida e importante nesses casos.

8. Mudanças expressivas e repentinas na conduta do seu filho
As mudanças de comportamento que acontecem de forma expressiva e repentina também podem ser consideradas na hora de analisar a necessidade de levar os filhos para a terapia.
Por exemplo, se o seu filho sempre foi muito ativo e, de uma hora para outra, simplesmente se isola, afastando-se de seus amigos e de sua rotina agitada, é válido investigar o que pode estar acontecendo.
Às vezes, trata-se de algo simples, que pode ser resolvido rapidamente. Em outras situações, pode ser necessário um acompanhamento mais prolongado, visando o bem-estar e a saúde do indivíduo.
Lembre-se de que a criança e o adolescente ainda não têm o cérebro plenamente desenvolvido, logo, eles podem ter dificuldades para lidar com as emoções e com situações de extremo estresse e ansiedade. Como resposta a essas dificuldades, o indivíduo pode apresentar mudanças repentinas na sua conduta.
Isso quer dizer que o comportamento do seu filho não necessariamente tem como base o desejo de irritar você – como muitos pensam. Mas, sim, ele pode estar denunciando questões emocionais que estão sendo difíceis de serem assimiladas pelos pequenos.
Por isso, diante dessas mudanças repentinas, considere conversar com um psicólogo para investigar melhor o caso.

9. Inexplicáveis dores no corpo (possível psicossomatização)
A psicossomatização consiste em dores no corpo que não têm uma causa fisiológica ou biológica. É o caso de a criança estar sempre reclamando de dor de barriga e não haver nenhum tipo de doença que possa estar ocasionando tal desconforto.
Esse tipo de dor surge à medida que as emoções passam a ser negligenciadas, a ponto de aparecerem no corpo como forma de expressão dos sentimentos e pensamentos não “atendidos”. Por exemplo, quando estamos muito ansiosos, podemos ter dor de estômago devido à ansiedade. No caso das crianças, é mais ou menos a mesma coisa.
A psicossomatização pode ser um sinal claro de que é hora de levar os filhos para a terapia, visando investigar a causa motriz por trás das dores e desconfortos físicos inexplicáveis.
Obviamente, o processo pode exigir tempo e paciência, ou seja, não necessariamente será detectada a causa em uma única sessão. Ao mesmo tempo, à medida que as sessões avançam, o indivíduo poderá compreender melhor as suas emoções, aprendendo a enfrentá-las com ferramentas internas que funcionam e que podem minimizar os efeitos da psicossomatização.

10. Demonstração de comportamentos ansiosos
A demonstração de comportamentos ansiosos também deve ser considerada quando pensamos em quando levar os filhos para a terapia.
Afinal, se a ansiedade tem sido excessiva, a ponto de prejudicar a saúde e o bem-estar da criança e do adolescente, é importante investigar para compreender o quadro e buscar o tratamento mais adequado. Veja alguns pontos que podem servir de base na hora de verificar se existe ansiedade no dia a dia do seu filho:

  • A criança demonstra ansiedade para sair de casa, com medo de se separar dos pais?
  • A criança ou o adolescente apresenta um medo excessivo do futuro, crendo que tudo dará errado?
  • Existem sintomas físicos, como sudorese, taquicardia, tremedeira, náuseas e vômitos envolvidos com os momentos de maior ansiedade?
  • A criança ou o adolescente apresenta uma repulsa excessiva às interações sociais, ou seja, fobia social?
  • Em algum momento o seu filho apresentou sintomas da síndrome do pânico?
  • A ansiedade aparece de forma recorrente, por meio de diversos estímulos diferentes?

Essas questões podem ser levadas em conta na hora de avaliar os níveis de ansiedade das crianças. Inclusive, se você quiser saber mais sobre a abordagem psicológica nos transtornos de ansiedade, acesse o nosso conteúdo completo sobre o tema.

11. Problemas relacionados ao consumo de tecnologia
O consumo de tecnologia tem se tornado cada vez mais frequente na vida das pessoas. Porém, quando esse consumo passa a ser excessivo, provocando impactos na vida social e funcional do indivíduo, é importante ficar atento. Por isso, se você perceber sinais de uso abusivo de mídias interativas é interessante levar os filhos para a terapia.
Conheça um pouco mais sobre esses sinais:

  • Dificuldade para se separar dos dispositivos eletrônicos.
  • Agenda da criança ou do adolescente mais focada nas tecnologias do que em atividades fora das telas.
  • Problemas de sociabilidade provenientes do uso excessivo de mídias.
  • Ansiedade relacionada ao desejo de concluir a próxima fase de um jogo o quanto antes.
  • Problemas para dormir devido ao consumo tecnológico.
  • Tentativa de controlar o consumo de tecnologia, mas falhando frequentemente nesse autocontrole e demonstrando sentimentos de frustração e decepção por conta disso. Ou seja, a criança ou o adolescente tenta se afastar das tecnologias, mas não consegue e sente culpa por isso.
  • Os filhos podem contar mentiras para usar mais as tecnologias, por exemplo, dizendo que usou o computador durante 1 hora, quando, na verdade, foram 2 horas ou mais.

O tratamento, nesses casos, pode ser multidisciplinar, mas buscar a ajuda de um psicólogo é um passo muito importante e válido.

 

Às vezes, a psicoterapia é recomendada aos pais – não à criança

Para finalizarmos este conteúdo, não podemos deixar de assinalar a importância de cuidar da saúde mental dos pais. Isso porque, muitas vezes, a psicoterapia pode ser mais recomendada aos progenitores do que a criança em si.

Afinal, algumas questões envolvidas com o relacionamento entre pais e filhos podem denunciar sinais de que os progenitores precisam de acompanhamento e não, necessariamente, as crianças.

Por isso, cogitar a possibilidade de conversar com um psicólogo para avaliar o caso dos pais é bem relevante. Assim, pode-se pensar em estratégias focadas na raiz da situação que, às vezes, pode ser as questões emocionais dos pais.

Reflita sobre esse ponto e lembre-se de conversar com um profissional qualificado para compreender melhor o seu caso.

Referências
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KRAUSER, C.; SCHERER, Z. A. P.; BUENO, G. A. S. Transtornos do Comportamento: conhecimentos e ações de profissionais de saúde e assistência social. Rev. Bras. Enferm. 73 (1) 2020.

PEREIRA ALVES, Camila et al. Crianças atendidas por problemas de aprendizagem em psicoterapia psicanalítica. Niños atendidos por problemas de aprendizaje en la psicoterapia psicoanalítica. Av. Psicol. Latinoam., Bogotá , v. 31, n. 2, p. 432-442, Aug. 2013