Objetos Transicionais na Infância
(chupetas, ursinhos, naninhas, outros)
Objeto transicional na infância
O objeto transicional na infância tem um papel muito importante no desenvolvimento das crianças. Ele pode auxiliar a criança na hora de lidar com as frustrações, e com a ansiedade vivida ao se separar dos seus pais, entre outras situações importantes.
Trata-se de um objeto saudável, que não precisa ser reprimido ou escondido da criança. Para saber mais sobre esse objeto transicional, acompanhe este texto até o fim.
Quais são os objetos transicionais?
O objeto transicional na infância é algo totalmente subjetivo. Isso quer dizer que nós, adultos, não temos o poder de “escolher” qual item será o “real” objeto transicional de nossos filhos. A seleção é feita por ele mesmo, quando ainda é muito pequeno.
Isso quer dizer que muitos objetos podem entrar para a lista de possibilidades. Além disso, é possível que uma criança tenha mais de um objeto transicional ao longo do seu desenvolvimento infantil.
Abaixo apresentamos alguns exemplos de objetos:
1. Chupeta
A chupeta é um dos objetos transicionais mais conhecidos. Afinal, a maior parte das crianças utiliza a chupeta como uma forma de se tranquilizar em momentos de frustração ou quando ficam longe do adulto pelo qual elas estão vinculadas (que pode ser a mãe, o pai, algum cuidador, etc.).
Apesar de não ser um problema para a saúde psicológica, o uso exagerado da chupeta pode acarretar em problemas bucais. Por isso, levar o seu filho ao dentista, periodicamente, é importantíssimo.
2. Ursinho
Algumas crianças podem “eleger” um ursinho ou uma boneca de pelúcia como o seu objeto transicional na infância. Normalmente, esse objeto é usado na hora de dormir ou quando a criança precisa se separar de sua figura de vinculação, como por exemplo, para ir à escola.
Embora a criança possa não manipular o objeto na escola, o fato de tê-lo acessível pode tranquilizá-la.
3. Brinquedo
Assim como ocorre com pelúcias, os mais diversos brinquedos também podem ser utilizados. Normalmente, são brinquedos de fácil transporte, e que podem ser usados na cama, na hora de dormir, sem grandes impasses.
4. “Paninho” ou fraldinha
O paninho, também chamado de fraldinha ou naninha, também costuma ser um objeto transicional bastante comum na infância. A criança pode gostar de cheirá-lo, segurá-lo, colocá-lo sobre o rosto, e assim por diante.
5. Uma parte do corpo
Embora nem todo mundo saiba disso, a verdade é que o objeto transicional na infância também pode ser uma parte do corpo. Isso mesmo.
Por exemplo, quando a mãe faz o bebê dormir, pode ser que ele goste de entrelaçar seus dedinhos no cabelo da mãe, bem como pode gostar de segurar a ponta da orelha dela.
Assim, quando não está por perto da cuidadora, pode segurar nos cabelos de quem estiver por perto ou o seu próprio.
Trata-se de um objeto transicional muito comum e saudável, exceto quando a criança começa a sofrer emocionalmente quando não consegue tocar a outra pessoa que está perto – por exemplo, na escola.
Qual a função dos objetos transicionais no desenvolvimento infantil?
O objeto transicional na infância é algo natural e que acontece com praticamente todas as crianças. Alguns são mais visíveis, outros podem ser mais sutis. Isso quer dizer que o fato de você não perceber qual é o objeto do seu filho não significa que ele não esteja se desenvolvendo de forma saudável.
Afinal, às vezes o objeto pode ser uma parte do corpo, e a criança pode tocá-la de forma sutil, que nem mesmo os cuidadores percebem.
De todo modo, a função do objeto transicional, de forma geral, é promover segurança e tranquilidade para a criança diante das emoções vividas no dia a dia. Abaixo apresentamos algumas
classificações que podem lhe ajudar a compreender melhor essa temática:
1. Tranquilizar a criança em situações de ansiedade e frustração
A criança ainda não tem a sua maturidade emocional totalmente desenvolvida. Isso significa que, diante dos desequilíbrios emocionais, ela pode sofrer e demonstrar um comportamento mais “explosivo”, podemos assim dizer.
Nesses casos, o objeto transicional na infância pode servir como um alicerce na hora de lidar melhor com a sensação de frustração. A criança pode se sentir mais tranquila, pois aquele objeto é algo que, praticamente, substitui a presença do seu cuidador. Logo, ela se sente acolhida diante da situação.
Nos casos de ansiedade de separação, o objeto também pode servir como uma ponte entre a ausência e a presença da mãe. É como se ele a “substituísse”, de certo modo.
2. Mediar a relação entre mãe e filho
O objeto transicional na infância ajuda na mediação da relação entre mãe e filho. Por meio desse objeto, a criança pode se desvincular da presença constante da mãe, aos poucos, explorando o ambiente, conhecendo novas situações e lidando melhor com a ausência materna.
3. Oferecer mais conforto diante de situações difíceis
Em situações difíceis, como por exemplo, em algum “desentendimento” com algum coleguinha de turma, a criança pode se sentir abalada emocionalmente. O objeto transicional na infância, muitas vezes, pode ajudá-la a se acalmar, a fim de enfrentar a situação com mais conforto.
Aos poucos, a criança pode restabelecer o equilíbrio emocional, encarando a situação com mais calma e tranquilidade.
4. Auxilia na adaptação em novos ambientes
A criança, nos primeiros meses de vida, está totalmente vinculada à família. Tudo o que ela conhece do mundo é aquilo que a família tem apresentado. Logo, qualquer mudança de rotina ou de ambiente pode ser estranha e até mesmo assustadora.
É o caso de a criança precisar ir à creche. Os primeiros dias a colocarão diante de uma situação difícil de assimilar, que possa deixá-la desconfortável, assustada e com medo.
Porém, o uso do objeto transicional na infância pode tranquilizar essa “passagem”, servindo como um alicerce no período de adaptação a novos ambientes.
Obviamente, isso não quer dizer que a criança só se manterá tranquila quando estiver com o objeto em mãos, mas sim, que ela poderá, aos poucos, se adaptar ao novo espaço e ir deixando o objeto de lado.
Até que idade uma criança pode ter objeto transicional?
Na realidade, quando pensamos em maturidade emocional, não existe uma idade certa ou errada para a criança manter o uso do objeto transicional na infância.
Contudo, obviamente, não podemos descartar os possíveis sinais de alerta que aparecem em algumas situações.
Sendo assim, para que você possa ter uma ideia, estudos apontam que a idade em que a criança costuma “largar” o objeto varia de 3 a 5 anos.
Isso não quer dizer que uma criança de 5 anos e meio é “problemática” porque ainda usa o objeto. Também não quer dizer que uma criança de 2 anos possui algum problema porque abre mão do objeto.
No entanto, se a criança apresenta uma grande dificuldade para se desvincular do objeto e o usa com frequência, é preciso ficar atento. Abaixo apresentamos alguns fatores que devem ser observados em crianças maiores de 5 anos que ainda têm o objeto transicional como fonte de alívio emocional:
1. A criança não consegue se desvincular do objeto, nem mesmo em atividades que gosta
Embora a criança possa gostar de passear no parque ou ir na casa da vovó, ainda assim ela precisa ficar constantemente com o objeto por perto. Isto é, embora ela possa estar fazendo alguma atividade que gosta muito, não consegue se desconectar do item.
2. A criança pode estar sofrendo bullying
A criança começa a sofrer prejuízos por conta do bullying que pode existir no contexto escolar, caso ela ainda necessite do objeto transicional neste ambiente.
3. A criança se isola e se concentra apenas no objeto
Quando a criança solicita o objeto e é atendida pela professora, ela costuma se isolar e não interage com outras crianças ou até mesmo brinquedos. Nesse caso, é importante buscar auxílio psicológico.
4. Os pais estão sofrendo impactos na rotina por conta do objeto da criança
Caso o objeto transicional seja uma parte do corpo (como por exemplo, os cabelos da mãe), e os pais estão sofrendo impactos na rotina por conta disso, é importante ficar atento.
Isto é, se a mãe vê a sua rotina sendo atrapalhada para oferecer os cabelos para o filho tocar e se acalmar, é preciso investigar.
5. A criança só se acalma com o objeto
Não existe nenhuma forma que ajude a criança a se acalmar? Ela demonstra calma apenas quando está com o objeto em mãos?
Esses comportamentos, depois dos 5 anos de idade, devem ser analisados com cuidado por um profissional da saúde.
Além de considerar esses pontos acima, é muito importante que você converse com um profissional psicólogo caso esteja com alguma dúvida sobre a temática.
Como tirar o objeto transicional?
Na prática, é bem provável que a criança comece a utilizar cada vez menos o objeto transicional na infância. Isso quer dizer que, na maior parte das vezes, o desinteresse surge da própria criança.
Mas, além de aguardar esse desinteresse, os pais também podem colocar algumas medidas em prática, como por exemplo:
1. Elogiar quando o filho se afasta do objeto
Se porventura o filho demonstrar desinteresse no objeto transicional em alguns momentos, como por exemplo, esquecê-lo em casa ao ir para a escola, sem se queixar por conta disso, os pais podem elogiar tal atitude.
Reconheça que ficou orgulhoso da atitude da criança, e mostre o quanto isso é benéfico. Assim, ela internaliza que esse comportamento é sadio e satisfatório.
2. Ajudar a criança a falar sobre o que sente
Nos momentos em que a criança solicita o objeto transicional, tente ajudá-la a comunicar o que sente. Pergunte quais são as sensações, do que ela tem medo, o que a está deixando triste. Também considere demonstrar presença, dizendo que ela não está sozinha e que você está com ela para auxiliá-la.
Esse discurso pode ser feito por qualquer pessoa que fique com a criança no lugar do cuidado principal.
3. Acolher as angústias do pequeno e fornecer um ambiente seguro
Permita que a criança chore e reclame o que está sentindo. Acolha, dê um abraço, mostre que o ambiente é seguro para ela e dê a entender que, aos poucos, as coisas vão ficar bem. Isso pode acalmá-la e fazê-la perceber que não há riscos, o que a deixará mais tranquila e pronta para enfrentar diversas situações.
4. Incentivar a sociabilidade da criança
Procure sempre incentivar a sociabilidade da criança. Isto é, tente mantê-la ativa em ambientes sociais, como eventos, encontros com familiares, etc.
Esse contato com outras pessoas é muito importante para que ela conheça outros indivíduos e perceba a existência de uma vida para além da sua própria casa.
Além disso, aos poucos a criança pode desenvolver a sua inteligência emocional, devido à interação que ocorre com os outros e a detecção das emoções vividas, vistas e sentidas dentro dessas relações.
5. Permitir que ela explore novos ambientes
Assim como permitir que a criança tenha contato com outras pessoas é importante, também é imprescindível incentivar que ela explore novos ambientes.
Isto é, levá-la para passear em locais diferentes do que ela vê em casa é algo relevante. Da mesma forma como apontamos acima, ela poderá desenvolver novos horizontes, visualizar locais diferentes e perceber a existência de coisas distintas do que tem em casa.
Tudo isso pode contribuir para a adaptação em situações diferentes e adversas.
6. Buscar a psicoterapia infantil caso necessário
Em casos nos quais o objeto transicional na infância se torna um problema ou você tem dúvidas se ele é ou não algo que está prejudicando o seu filho, procure a psicoterapia infantil.
O psicólogo infantil poderá avaliar o caso com mais precisão, orientando os pais e oferecendo um suporte para a família lidar melhor com o que vem ocorrendo.
Afinal, possivelmente você pode ter dúvidas sobre o uso do objeto, e assim poderá comunicar o profissional e entender um pouco mais do que pode estar acontecendo.
Ao mesmo tempo, o psicólogo contribui para o desenvolvimento da criança, oferecendo um espaço de expressão de sentimentos e emoções, bem como ajuda a criança a se reconhecer enquanto sujeito e a lidar com a ausência dos pais no cotidiano.
Esperamos que este conteúdo possa ter sido útil para você. E lembre-se: este material não substitui uma consulta com um profissional qualificado.
Referências
SALAMONDE, C. M. A importância do objeto transicional no desenvolvimento psíquico sadio. FGV ISOP – Dissertações, 1981.
SANTANA, S. R. F. A Adaptação e os Objetos Transicionais em Creche e em Jardim-de-Infância. Mestrado em Educação Pré-Escolar – Instituto Politécnico de Setubal. 2017.