Isolamento Social e Solidão na Terceira Idade
Isolamento social e solidão na terceira idade
Sem dúvidas, o isolamento social e a solidão na terceira idade são dois pontos que merecem atenção por parte da sociedade. Afinal, a falta de interações sociais positivas e a sensação de estar só podem gerar impactos na saúde mental do indivíduo.
Por isso, desenvolvemos este material completo sobre a temática, visando oferecer a você alguns esclarecimentos importantes. Acompanhe.
Por que ocorre o isolamento social na terceira idade?
Obviamente, o isolamento social e a solidão na terceira idade ocorrem por conta de uma série de fatores, e não apenas por um ponto em específico. Primeiro, devemos ter a consciência de que cada idoso é uma pessoa com uma trajetória singular e completamente única, que não se repete. Segundo, o contexto social do indivíduo tem um poder grande de fomentar a solidão, ou de fortalecer as relações sociais.
Além disso, as condições de saúde e a vida financeira do sujeito também podem provocar impactos na sociabilidade. A seguir, descrevemos três campos de amplos fatores, apresentados por Bezerra, Nunes e Moura (2021) que podem fazer com que o isolamento se torne uma realidade na vida do idoso:
- Fatores relacionados à saúde: Indivíduos com doenças físicas ou mentais, que podem provocar a dependência ou impactos na rotina funcional do sujeito, podem ocasionar as situações de isolamento e solidão. É o caso de um indivíduo que tem problemas físicos relacionados à mobilidade, sendo dependente de terceiros para poder sair de casa e ter contato com o lado externo, por exemplo. O fato de haver essa limitação pode dificultar as interações sociais.
- Fatores estruturais: Quando o contexto no qual o sujeito está inserido promove desigualdades e não fomenta a participação do idoso em atividades sociais, também é possível detectar uma maior chance de isolamento social e solidão na terceira idade. Afinal, se na cidade em que o idoso reside não houver nenhum tipo de evento social voltado a esse grupo, como ele poderá interagir com outras pessoas da mesma idade? Obviamente, ele pode encontrar outros caminhos para interagir com essas pessoas, mas, sem dúvidas, o suporte estrutural pode fazer toda a diferença.
- Fatores sociodemográficos: Fatores relacionados ao gênero, classe social, nível de instrução, pouca vinculação religiosa, baixa mobilidade e acesso ao transporte, entre outros fatores relacionados, também podem provocar o isolamento nessa idade.
Por isso, investir em medidas que minimizem os impactos desses fatores é importante. Caso contrário, o idoso poderá estar diante de impactos profundos em sua qualidade de vida e bem-estar. Comentamos sobre esses impactos no tópico a seguir.
Impactos do isolamento social e da solidão na terceira idade
O isolamento social e a solidão na terceira idade podem ocasionar problemas na saúde física e mental do idoso, ocasionando efeitos que, inclusive, podem levar à morte precoce.
Abaixo descrevemos alguns desses impactos para que possamos refletir sobre o tema e buscar formas de minimizar esses problemas. Veja:
1. Falta de sentido para a vida
Nós, seres humanos, somos seres sociais. E, como tais, construímos muitos sentidos em nossas relações interpessoais. Assim sendo, o isolamento social e a solidão na terceira idade podem ocasionar uma falta de sentido para a vida ou para diversas esferas da vida, fazendo com que o idoso comece a se questionar se há um real fator positivo na sua existência.
Esse tipo de pensamento pode ocasionar sofrimento emocional intenso, resultando, inclusive, em quadros de depressão.
Além disso, o fato de vivenciar o afastamento dos filhos, quando estes saem de casa para construir as suas famílias, pode causar ainda mais a sensação de perda de sentido. Questionamentos como “Por que eu ainda preciso viver?” podem aparecer, colocando em risco a saúde mental do indivíduo.
Por isso, fortalecer as relações sociais, conhecer novas pessoas e manter uma vinculação com a família são medidas importantes.
2. Sentimento de desvalia e de baixa autoestima
Uma pessoa que vive em isolamento social, sentindo-se só, pode começar a desenvolver um sentimento de desvalia e de baixa autoestima. Esses sentimentos podem surgir em qualquer etapa de nossas vidas, porém, na terceira idade, ao se deparar com a aposentadoria, por exemplo, essa sensação pode ser ainda mais fortalecida.
O indivíduo pode se sentir “inútil” para a sociedade, e ao sentir o afastamento das outras pessoas, pode começar a se questionar até que ponto é “alguém interessante” ou uma pessoa digna de amor.
Todos esses questionamentos podem causar impactos na saúde mental, e por isso é necessário ficar atento a eles, visando desmistificá-los e proporcionar novas perspectivas para a aposentadoria e as formas de se relacionar com as outras pessoas.
3. Sentimento de culpa
O sentimento de culpa também pode aparecer em muitos casos, afinal, o indivíduo, que pode ser dependente para se locomover, se higienizar ou alimentar-se, pode se sentir “um peso” na vida da família.
A perda da autonomia pode começar a provocar a sensação de estar incomodando as outras pessoas, ocasionando sensações de angústia e de baixa autoestima.
A culpa começa a se tornar recorrente, fazendo com que a pessoa possa acabar se retraindo ainda mais. Isto é, o indivíduo pode deixar de solicitar passeios e contatos com o mundo externo por medo de provocar algum tipo de desconforto em quem o ajudaria.
Sendo assim, é muito importante que a família fique atenta à negação que o idoso pode apresentar na hora de fazer algum passeio ou alguma atividade na qual ele não possui muita autonomia, pois, essa negação pode ser, muitas vezes, relacionada a um sentimento de culpa, e não à falta de desejo de fazer a tal atividade.
Do mesmo modo, é preciso ter paciência e não confrontar os desejos do outro. Lembre-se de que ele ainda é um sujeito com vontades e desejos, e não deve ser anulado em prol da rotina da família e do que os familiares julgam como certo.
4. Aparecimento de depressão e ansiedade
O isolamento social e a solidão na terceira idade também podem desencadear o aparecimento de quadros de depressão, como mencionamos anteriormente, e de ansiedade.
O fato de haver uma privação de relacionamentos, momentos vividos ao ar livre e situações que promovam autoestima, bem-estar e qualidade, pode resultar em um humor mais deprimido, falta de perspectivas para com o futuro e ansiedade relacionada, por exemplo, ao medo da morte e do fim da vida.
Além disso, a ausência de um apoio familiar e de pessoas queridas também pode agravar o quadro, resultando em uma baixa qualidade de vida.
Nesses casos, é importante que o idoso tenha acesso ao atendimento psicológico, a fim de lidar com as questões emocionais que surgem e com o propósito de buscar o fortalecimento de suas habilidades sociais.
5. Diminuição da qualidade de vida
A falta de atividades ao ar livre e do contato com o mundo externo pode ocasionar uma redução significativa na qualidade de vida do idoso.
Para refletir, pense na sua rotina hoje: com quantas pessoas e situações sociais você entra em contato com o passar das horas do seu dia? Agora, imagine uma privação desse tipo de interação, e a necessidade de ficar apenas em casa, olhando para o relógio? Pois é!
Essa realidade pode ser bastante cruel, resultando em uma vida sem estímulos que geram prazer e bem-estar. Essa falta de estímulos e ausência de sentimentos de pertencimento podem reduzir a qualidade de vida.
A rotina pode ficar monótona, sem estímulos e sem benefícios psicológicos para o idoso.
Por isso, fortalecer a vida social é promover qualidade de vida, interações positivas, construção de lembranças, desenvolvimento de uma rotina que traga prazer e bem-estar e, ainda, o fortalecimento da sensação de fazer parte de um grupo – de um propósito.
6. Construção de um estilo de vida pouco saudável
O isolamento social e a solidão na terceira idade também pode ser a mola propulsora do desenvolvimento de um estilo de vida que seja pouco saudável.
É o caso de idosos que recorrem ao tabagismo ou ao álcool para lidar com as sensações negativas vividas no dia a dia. Isto é, as drogas passam a servir de fonte de prazer, o que prejudica a saúde do sujeito.
Além disso, o sedentarismo, a má alimentação e a falta de autocuidado e higiene também são consequências de um isolamento excessivo.
Tudo isso, somado, pode reduzir a saúde física e mental, diminuindo a qualidade de vida e, inclusive, expondo o idoso às chances de desenvolver doenças cardiovasculares, mentais, entre outras.
7. Aumento do declínio funcional
Nosso cognitivo pode ser muito estimulado quando conversamos com outras pessoas, participamos ativamente de eventos sociais, entramos em contato com a natureza, praticamos exercícios ao ar livre, e assim por diante.
Quando não temos esses estímulos, podemos iniciar um declínio cognitivo e funcional, que reduz a nossa capacidade de se concentrar, de raciocinar, tomar decisões, e assim por diante.
Além disso, o sedentarismo na terceira idade pode ocasionar dificuldades para se locomover, dores e desconfortos no corpo, doenças físicas e mentais, etc.
Sendo assim, o isolamento pode ser a mola propulsora de um grande declínio funcional na vida do indivíduo, levando-o, inclusive, ao desenvolvimento de doenças que podem ocasionar a morte precoce.
Como lidar com o isolamento social na terceira idade?
Sabemos que não é simples lidar com o problema de isolamento social e solidão na terceira idade. Contudo, existem algumas ações que podem começar a contribuir para um aumento na qualidade de vida. Abaixo exemplificamos algumas ideias, mas lembre-se de não descartar o acompanhamento profissional, ok?
1. Participação de clubes e eventos para idosos
Procure, na sua cidade ou em regiões vizinhas que você pode acessar, quais são os clubes e eventos para a terceira idade que costumam acontecer.
Muitas vezes, as próprias prefeituras das cidades desenvolvem eventos para esse grupo, visando incluí-los em atividades sociais que melhorem a qualidade de vida.
No começo, se você não estiver familiarizado com esse tipo de evento, poderá se sentir um pouco desconfortável com a exposição nesses locais. Porém, investir nesse tipo de atividade, expondo-se gradativamente, é uma forma de resgatar as habilidades sociais, conhecer pessoas interessantes e viver novas experiências.
Afinal, nunca é tarde para viver novas experiências positivas, não é mesmo?
2. Fortalecimento dos vínculos familiares
Fortalecer os vínculos familiares, sem dúvidas, é uma das formas de combater problemas de isolamento social e solidão na terceira idade.
Você pode conversar francamente com os seus familiares, expondo as suas emoções e sentimentos frente à situação que está vivendo.
Você tem sentido culpa com relação à ajuda que recebe? Considere falar sobre o assunto. Às vezes, a nossa mente cria cenários catastróficos, que só nós enxergamos. Quando questionamos o outro, podemos ter acesso à verdade dele, resultando em um alinhamento de expectativas.
Pode acreditar, muitas vezes você imagina que incomoda o outro, mas isso não é visto do outro lado. E mesmo quando é, a conversa pode criar mecanismos em que ambos se sintam confortáveis e felizes na relação.
Por isso, manter uma comunicação com a família é um caminho bastante promissor, que fortalece os vínculos, quebra tabus e fantasmas que criamos, e melhora a qualidade de vida.
Não tenha medo de expor os seus sentimentos. Se você confia no familiar que cuida de você, é possível conversar sobre o que se sente. Por exemplo, se há um medo significativo da solidão, conversar sobre o assunto pode ajudar na hora de minimizar essas sensações.
3. Atividades que geram prazer e proporcionam interações
Encontrar atividades que promovam sensação de prazer e bem-estar, como hobbies, é muito interessante e ajuda a combater o isolamento.
Por exemplo, se você gosta de atividades ao ar livre, pode participar de grupos de caminhadas e corridas que proporcionam tanto a prática, quanto as interações.
Focar em atividades que tragam esse contato com outras pessoas e que propiciem momentos descontraídos e divertidos é uma forma de construir novos sentidos para a rotina e para o dia a dia.
4. Psicoterapia
Sem dúvidas, a psicoterapia também pode auxiliar nesses casos. Durante as sessões é possível encontrar novos sentidos para a rotina; reelaborar os planos de vida – ou construir novos do zero; entender as emoções vividas nesta fase da vida; ressignificar visões de mundo; fortalecer a inteligência emocional; trabalhar as habilidades sociais; construir uma rotina mais prazerosa e feliz; entre outras ações.
O psicólogo é um profissional neutro que estará ali para escutar e acolher, ao mesmo tempo em que auxilia você no direcionamento do que pode ser feito no dia a dia.
Descubra-se, conheça-se e veja como é possível encontrar novas vias e caminhos para as nossas vidas, inclusive na terceira idade.
5. Práticas de atividades ao ar livre
As práticas ao ar livre também podem auxiliar nesses casos. Isso porque quando temos contato com a natureza, podemos reduzir os níveis de estresse e ansiedade, ao mesmo tempo em que estimulamos a nossa criatividade.
Além disso, as atividades ao ar livre, como caminhada, passeios em parques e outras possibilidades, também aumentam as nossas chances de conhecermos novas pessoas, vermos novas realidades e vivermos experiências inesquecíveis, que escapam da monotonia que pode ser gerada em uma rotina de 24 horas dentro de casa.
6. Praticar atividades que estimulem a cognição
As atividades que estimulam a nossa cognição são capazes de aumentar o nosso bem-estar e qualidade de vida. É o caso de ler, fazer atividades manuais, jogar jogos com os amigos, assistir conteúdos diferentes, entre outras possibilidades.
Especialmente os trabalhos manuais, como artesanato, arte e costura, são medidas que estimulam o nosso raciocínio, pensamentos, cognição, etc. Além disso, é possível trabalhar o foco e reduzir o estresse ao desenvolver um hobby divertido e instigante.
7. Fortalecimento da autoestima
Praticar exercícios físicos, comprar uma roupa nova, cuidar da pele e dos cabelos, manter os cuidados com a higiene, aprender coisas novas, entre outras ações riquíssimas, também podem auxiliar nos casos de isolamento social e solidão na terceira idade.
Afinal, dessa forma estaremos aumentando a nossa autoestima, o que é capaz de fortalecer as relações sociais que podemos estar construindo.
Quando nos amamos, podemos amar outras pessoas. Quando nos relacionamos bem conosco, podemos nos relacionar bem com as outras pessoas.
Por isso, cuidar da autoestima é abrir um caminho para a autoconfiança e para os relacionamentos interpessoais positivos.
8. Visitar espaços culturais da cidade
Considere visitar espaços culturais da sua cidade, para alimentar tanto os seus conhecimentos, absorvendo informações sobre a sua região, e alimentar o seu contato com as outras pessoas.
Você terá a oportunidade de aprender coisas novas, ver pessoas diferentes, transitar por locais instigantes e interessantes, e aumentar a qualidade de vida por meio da cultura.
9. Investir na tecnologia quando possível
Apesar de a tecnologia não substituir as relações que ocorrem na vida real, a verdade é que ela pode criar uma rede social com outros indivíduos, inclusive da mesma faixa etária que você.
Sendo assim, aprender a usar o celular ou o computador é uma medida que pode contribuir na hora de conhecer novas pessoas.
Apenas lembre-se de buscar auxílio quando necessário, pois, infelizmente, a internet também apresenta muitos golpistas e pessoas mal intencionadas. Saber filtrar quem entra na sua rede de amigos é muito importante e, caso você não saiba analisar isso com cuidado, peça ajuda a alguém que entenda de redes sociais.
Ademais, você poderá conversar, conhecer novos estilos de vida, distrair-se com conteúdos interessantes e que agregam valor, e muito mais.
Esperamos que este conteúdo possa ter ajudado de alguma forma. Lembre-se de que o acompanhamento psicológico não deve ser descartado apenas por colocar nossas dicas em prática, ok? Este conteúdo não substitui o tratamento profissional.
Referências
BEZERRA, P. A.; NUNES, J. W.; MOURA, L. B. A. Envelhecimento e isolamento social: uma revisão integrativa. Artigo de Revisão. Acta Paul Enferm. 34, 2021. DOI: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2021AR02661
MORI, G. M. Combate à solidão e ao isolamento social na velhice. Um caminho a ser trilhado. Rev. Longeviver, Ano I, n. 3, Jul/Ago/Set, São Paulo, 2019: ISSN 2596-027X.