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Hepatite Autoimune

O que é a Hepatite Autoimune?

A hepatite autoimune é uma inflamação crônica do fígado que se desenvolve em decorrência de uma atividade do sistema imunológico contra as células do fígado.

Quando diagnosticada e tratada precocemente, a hepatite autoimune pode ser controlada com medicamentos corticoesteroides.

Sem tratamento, ela pode levar à substituição gradativa do tecido hepático normal por um tecido fibrótico, cicatricial. Esta condição é conhecida como Cirrose Hepática.

Dependendo da gravidade do dano causado ao fígado ao longo do tempo, um transplante de fígado pode ser uma opção para recuperar a função hepática.

Fatores de risco

Fatores que podem aumentar o risco de hepatite autoimune incluem:

  • Mulheres são mais acometidas do que homens;
  • Histórico de infecções como o Hepatites virais, sarampo, herpes simples ou vírus Epstein-Barr;
  • Fatores genéticos: a Hepatite Autoimune é mais comum em familiares de pessoas com a mesma condição;
  • Portadores de outras doenças autoimunes, incluindo a Doença Celíaca, Artrite Reumatoide ou Colite Ulcerativa.

Sintomas iniciais da Hepatite Autoimune

Algumas pessoas têm poucos ou nenhum problema reconhecido nos estágios iniciais da doença, enquanto outras apresentam sinais e sintomas que podem incluir:

  • Pele e olhos amarelados (icterícia);
  • Fadiga
  • Desconforto abdominal
  • Dores musculares e nas articulações;
  • Lesões de pele

Complicações

A inflamação crônica do fígado pode levar à substituição do tecido hepático normal por tecido cicatricial (fibrose), condição essa chamada de Cirrose Hepática.

A cirrose, por sua vez, pode evoluir com aumento na resistência à circulação do sangue (Hipertensão portal) e perda da função hepática (Insuficiência Hepática).

Isso pode levar a diversas outras complicações, incluindo:

  • Ascite;
  • Inchaço nos membros;
  • Varizes esofágicas e varizes gástricas;
  • Síndrome hepatopulmonar;
  • Insuficiência renal (Síndrome Hepatorenal);
  • Esplenomegalia e hiperespelenismo;
  • Encefalopatia hepática;
  • Desregulação da pressão arterial;
  • Desnutrição;
  • Câncer de Fígado.

Discutimos sobre cada uma destas complicações no artigo específico sobre Cirrose Hepática.

Sintomas na fase crônica da Hepatite Autoimune

Os sintomas na fase crônica da doença estão geralmente relacionados à Cirrose Hepática. Entre eles, incluem-se:

  • Sangramentos frequentes e difíceis de serem estancados;
  • Fadiga
  • Perda do apetite
  • Perda de peso
  • Urina escura
  • Pele e olhos amarelados (icterícia)
  • Acúmulo de líquido no abdômen (ascite)
  • Inchaço nas pernas
  • Confusão, sonolência e fala arrastada (encefalopatia hepática)

Diagnóstico da Hepatite Autoimune

A Hepatite Autoimune deve ser considerada no diagnóstico diferencial de pacientes com enzimas hepáticas elevadas e/ou cirrose inexplicada, em qualquer idade. 

Não existe um marcador específico para se fechar o diagnóstico da hepatite Autoimune. Assim, é preciso que outras causas para as lesões hepáticas sejam descartadas, como hepatite viral ou hepatite induzida por drogas (1).

 A identificação de anticorpos autoimunes ou a presença de outras doenças autoimunes concomitantes também devem chamar a atenção para a possibilidade de Hepatite Autoimune.

Testes e procedimentos usados ​​para diagnosticar a hepatite autoimune incluem:

Exames de sangue

O exame de sangue permite testar para a presença dos anticorpos responsáveis pela Hepatite Autoimune. 

Além disso, os Marcadores da Função Hepática são usados para avaliar o grau de comprometimento da função hepática

Biópsia hepática

A biópsia hepática pode ser usada para confirmar o diagnóstico e determinar o grau e o tipo de dano hepático. 

Durante o procedimento, uma pequena quantidade de tecido hepático é removida, usando uma agulha fina que é introduzida no fígado através de uma pequena incisão na pele. 

A amostra é então enviada para um laboratório para análise.

Exames de imagem

Exames como o ultrassom, tomografia computadorizada ou ressonância magnética pode identificar alterações estruturais no fígado ou em outros órgãos que acontecem em decorrência da Hepatite Autoimune.

Tratamento da Hepatite Autoimune

Infelizmente, nenhuma forma de tratamento da Hepatite Autoimune é capaz de regredir um dano já estabelecido ao fígado.

Assim, o tratamento deve ter três objetivos diferentes:

  • Retardar ou interromper o ataque do sistema imunológico ao fígado, evitando-se com isso a progressão da lesão;
  • Amenizar os sintomas;
  • Tratar as complicações decorrentes da cirrose hepática, quando presentes.

Tratamento medicamentoso

Medicamentos corticoesteroides, como a prednisona, são indicados com o objetivo de retardar ou interromper o ataque do sistema imunológico.

Os cortocesteroides, especialmente quando tomados a longo prazo, podem causar diversos efeitos colaterais graves, incluindo diabetes, perda de massa óssea (osteoporose), pressão alta, catarata, glaucoma e ganho de peso.

Habitualmente, eles são usados em dose alta ao longo do primeiro mês de tratamento. 

A seguir, a dose é gradativamente reduzida até que se atinja a menor dose possível que seja capaz de controlar os sintomas, de forma a minimizar os efeitos colaterais.

A remissão pode ser alcançada em 65% a 75% dos pacientes após 24 meses de tratamento. Entretanto, para evitar a recidiva, o tratamento é mantido por pelo menos três anos (2).

Enquanto os esteróides são as medicações de escolha para a indução da remissão, a azatioprina é a droga de escolha para manter esta remissão (3).

Tentativas de retirada da medicação pode ser em todos os pacientes com doença inativa por ao menos 12 meses.

Infelizmente, a recorrência da inflamação é comum. Ela acontece em 50% dos pacientes dentro de 6 meses após a retirada do tratamento e em 80% após 3 anos (4).

Assim, em alguns casos, o tratamento pode ter que ser mantidos para o resto da vida.

Medidas comportamentais

Algumas medidas devem ser adotadas com o objetivo de minimizar as repercussões da insuficiência hepática e para evitar a evolução da doença.

Independente da causa, o paciente com hepatite fica mais sensível aos efeitos do álcool e de medicamentos hepatotóxicos.

Quando for o caso, o abandono do álcool e das drogas recreativas é fundamental. É preciso também ter cuidado redobrado com medicações.

Suporte nutricional

A desnutrição é um fator de grande importância para o prognóstico do paciente com doença hepática. 

Como referência, em um estudo com pacientes com doença hepática em estado inicial, aqueles que estavam desnutridos tiveram uma taxa de mortalidade em 1 ano de cerca de 20%, enquanto nenhum dos pacientes avaliados como bem nutridos morreu neste mesmo período (5).

Entre os principais cuidados nutricionais, incluem-se:

  • Correção das deficiências nutricionais
  • Restrição no consumo de sódio, especialmente no paciente com ascite e edema de membros inferiores;
  • Substituição da proteína da carne pela proteína láctea ou proteína vegetal, no paciente com Encefalopatia Hepática;
  • Evitar jejum prolongado

Discutimos mais a respeito dos cuidados nutricionais em um artigo específico sobre Dieta para o Hepatopata.

Transplante de Fígado

O Transplante de fígado é uma cirurgia na qual um fígado que não funciona mais é substituído pelo fígado saudável de um doador falecido ou uma porção de um fígado saudável de um doador vivo.

De acordo com estudo realizado nos Estados Unidos (6), a sobrevida após o transplante de fígado é de 79% em um ano, 67% em 5 anos, 57% em 10 anos, 50% em 15 anos e 48% em 18 anos. 

Além de uma maior sobrevida, os pacientes mostram uma significativa melhora na qualidade de vida um ano após o transplante de fígado. Esta melhora tende a ser mantida no longo prazo.