Crianças com altas habilidades

[accordion-model-lca titulo=”Crianças com altas habilidades”]

As crianças com altas habilidades ainda são vistas de uma maneira deturpada pela maior parte das pessoas. Isso porque o termo “altas habilidades” costuma ser visto como uma característica “supra-humana”, como se essas crianças tivessem verdadeiros superpoderes.

No entanto, a realidade é diferente e, por vezes, muito desafiadora. Por isso, compreender melhor esta temática é um passo para todos nós construirmos uma educação mais inclusiva e respeitosa para todas as pessoas.

A seguir, descrevemos uma série de informações importantes. Acompanhe e saiba mais!

[/accordion-model-lca]

[accordion-model-lca titulo=”O que são crianças com altas habilidades?”]

Uma criança com altas habilidades pode ser caracterizada como um indivíduo que apresenta um desempenho superior, em uma ou mais áreas do conhecimento, quando comparada com os seus pares, ou seja, com as crianças da sua idade e contexto social.

Essas habilidades podem ter relação com uma série de áreas, que vão além da matemática e do raciocínio lógico. Elas também podem ser encontradas na criatividade, na capacidade de liderança, na facilidade para desenvolver materiais artísticos, na capacidade psicomotora, na aptidão acadêmica e, claro, na capacidade intelectual geral.

Porém, essas crianças, muitas vezes, são vistas como indivíduos que “são bons em tudo”, ou são um “prodígio”, mas essa é uma visão deturpada da situação.

Afinal, crianças com altas habilidades podem ter uma aptidão aguçada em apenas uma área, e não “em tudo”, como muita gente imagina.

Mais adiante, neste texto, apresentaremos alguns mitos sobre essas crianças, para que reflitamos sobre a forma como as enxergamos no dia a dia.

[/accordion-model-lca]

[accordion-model-lca titulo=”Desafios das crianças com altas habilidades”]

Apesar de a maior parte da sociedade pensar que as crianças com altas habilidades são superdesenvolvidas e que apresentam uma capacidade incalculável de lidar com as adversidades, a realidade pode ser bem diferente.

Isso quer dizer que assim como as crianças com deficiências e transtornos de aprendizagem, as crianças com altas habilidades também convivem com uma série de desafios e dificuldades. A seguir, elencamos alguns desses pontos que podem ser levados em conta ao pensarmos nesta temática:

1. Precariedade ou inexistência do atendimento especializado
Infelizmente, a precariedade ou a inexistência do atendimento especializado é um dos maiores desafios dessa classe de estudantes.
Isso significa que esses alunos podem ser deixados à margem do sistema educacional, não recebendo uma atenção adequada que leve em consideração as condições que possuem.
Afinal, assim como as crianças com deficiências intelectuais necessitam que a educação seja inclusiva e manejada de acordo com as suas necessidades, as crianças com altas habilidades também precisam.
Porém, devido aos mitos que cercam esse tipo de diagnóstico, as escolas e os educadores podem não ter essa visão clara. Isto é, por conta de mitos e tabus, podem compreender que a criança está muito bem, por ser “muito inteligente”, e que ela não sofre por conta disso.
No entanto, é necessário criar um ambiente inclusivo, adequado às necessidades pedagógicas da criança, para instigar o seu desenvolvimento e a sua saúde mental.

2. Desinformação das pessoas em volta do indivíduo
A falta de informação sobre o assunto pode resultar em comportamentos inadequados por parte das outras pessoas.
Primeiro porque os colegas da turma podem discriminar a criança com altas habilidades. Segundo porque o próprio professor pode projetar expectativas exageradas no desempenho do aluno.
Além disso, pode ocorrer o afastamento dos outros alunos, tendo em vista que existem mitos de que as crianças com altas habilidades são “metidas”, “sabichonas” ou algum adjetivo semelhante.

3. Comparações excessivas
As pessoas que possuem altas habilidades podem sofrer com uma comparação excessiva feita pelos outros indivíduos.
É o caso de um professor sempre comparar o aluno com outras pessoas do convívio dele, seja para dizer que ele “é melhor” ou para dizer que ele está “no nível de alguém mais velho”.
Esse tipo de postura pode anular o sujeito que tem as altas habilidades, como se ele fosse apenas um amontoado de características comparáveis, e não um ser humano normal com emoções, desejos, sonhos, medos, etc.

4. Expectativas e responsabilidades inadequadas
Quando uma criança recebe o diagnóstico de altas habilidades, a falta de informação pode resultar em um aumento expressivo nas expectativas dos pais e dos educadores.
Essa expectativa de ver a criança como um ser “perfeito em tudo” pode ocasionar o acúmulo de responsabilidades inadequadas.
É o caso de pais que procuram fazer com que o seu filho “avance” na escola, mesmo que, para isso, precise deixar todos os seus amigos e relacionamentos interpessoais para trás.
Esse “avanço” pode ser inapropriado para o desenvolvimento social e emocional da criança. Afinal, o desenvolvimento humano não está relacionado apenas à inteligência, mas sim, a diferentes áreas.
Sendo assim, essa expectativa de perfeição e essa responsabilização precoce para novas aprendizagens “acima da média” ou atividades, que exigem uma responsabilidade maior da criança, podem se tornar grandes problemas mais tarde.

5. Pessoas com altas habilidades sofrem preconceitos
Os preconceitos estão enraizados em nossa sociedade, infelizmente. E no caso de crianças com altas habilidades não é tão diferente.
Elas ainda precisam lidar com as comparações, discriminações, falta de espaço, etc.
Afinal, quem nunca ouviu alguém falar que indivíduos com altas habilidades são verdadeiros “gênios”?
Esse tipo de visão pode resultar em uma exclusão social, que prejudica o desenvolvimento emocional e psíquico da criança.
Por isso, justamente, que a disseminação de informações e o atendimento especializado são pontos importantíssimos.

6. Muitos pais podem esconder essa informação dos seus filhos
Devido a uma série de motivos, alguns pais podem crer que esconder a informação da superdotação será “bom” para os seus filhos.
Afinal, podem temer que esse diagnóstico sirva de rótulo. Porém, a verdade é que esse tipo de postura pode gerar mais sofrimento do que proteção.
A criança percebe que é diferente dos amigos, e a ausência do diagnóstico pode fazer com que a autoestima do indivíduo seja diminuída, uma vez que ele se sente “esquisito” sem compreender exatamente o porquê.
Além do mais, essa postura pode ferir os direitos humanos do pequeno. Portanto, jamais esconda isso de uma criança com altas habilidades! Ela tem o direito de saber mais sobre a sua própria condição.

7. “Forçação” para que as crianças com altas habilidades se saiam “perfeitas” em tudo
Um dos grandes desafios vividos por crianças com altas habilidades é o fato de que as pessoas, à sua volta, a enxergam como perfeita e impecável em tudo – embora já tenhamos deixado claro que isso é uma inverdade.
Essa “forçação” pode resultar em uma sobrecarga excessiva sobre o sujeito, que se sente sufocado diante de tantas exigências e responsabilidades.
Não se esqueça que embora o seu filho possa ser “muito bom” em algo, ele ainda está passando pelos mesmos processos de maturação emocional, social e psíquica que qualquer outro sujeito passa ao longo da vida.
Isto é, o seu filho não está “pronto” e “findado”. Ele tem muito o que desenvolver e, assim como qualquer ser humano, nunca conseguirá ser perfeito em todas as esferas da vida.

8. Desinteresse por tarefas rotineiras e repetitivas
A falta de estímulos pode resultar em um desinteresse pelas tarefas rotineiras e repetitivas em casa e na escola. Afinal, para as crianças com altas habilidades, determinadas atividades podem ser superficiais demais e sem grandes benefícios intelectuais e/ou emocionais.
Obviamente, isso não acontecerá com todas as atividades, mas sim, com aquelas que estão “abaixo” do desenvolvimento cognitivo do indivíduo.
Sendo assim, pode ser que a criança se interesse muito pelas aulas de ciências na escola, mas as aulas de matemática podem causar tédio, quando pensamos nas atividades regulares curriculares comuns.

[/accordion-model-lca]

[accordion-model-lca titulo=”Tentativas de “criar” crianças com altas habilidades”]

Infelizmente, a visão deturpada sobre as crianças com altas habilidades pode ocasionar a tentativa de criar esse tipo de indivíduo.

Isto é, os pais, muitas vezes, podem tentar, a todo custo, encontrar características de superdotação em seus filhos, como se isso fosse um “troféu”.

Mas, na prática, essa expectativa pode ocasionar frustração para ambos os lados, além de sobrecarregar as crianças com atividades intelectuais diversas, como se isso fosse “fazê-la ficar superdotada”.

Não é assim que funciona esse tipo de quadro clínico. Assim como ocorre em outras situações e diagnósticos, não existe fórmula ou método para “criar” um “indivíduo com diagnóstico X”, e neste caso não seria diferente. Reflita sobre isso e pense no quanto, muitas vezes, dispomos de expectativas exageradas sobre as crianças por enxergarmos as altas habilidades como algo mágico e apenas “maravilhoso”.

[/accordion-model-lca]

[accordion-model-lca titulo=”Mitos sobre crianças com altas habilidades”]

Além de pensarmos nos desafios vividos por crianças com altas habilidades, é interessante quebrarmos alguns paradigmas e ideias errôneas sobre esses indivíduos que apresentam um desenvolvimento intelectual, em uma ou mais áreas do conhecimento, acima da média.

Abaixo descrevemos com mais detalhes os principais mitos e os motivos pelos quais eles não passam de ideias deturpadas:

1. Possuem baixa sociabilidade
Muitas pessoas acreditam que indivíduos com superdotação são desprovidos de capacidades sociais adequadas, o que não necessariamente é uma verdade.
Obviamente, existem crianças que, devido às suas condições, podem se isolar dos demais na sala de aula, mas isso não é a regra, é apenas uma possibilidade.
Afinal, as crianças superdotadas, quando não possuem altas habilidades na área social, apresentam, costumeiramente, as mesmas características de desenvolvimento social que os seus pares.
Isto é, se uma criança de 10 anos apresenta uma superdotação linguística, ela ainda assim poderá ter as mesmas capacidades sociais que outra criança de 10 anos sem o diagnóstico.

2. Crença de que serão boas em tudo
Como vimos anteriormente, muitas vezes os pais e educadores depositam grandes expectativas sobre as crianças com altas habilidades, o que pode ser prejudicial para a saúde mental.
Isso parte deste mito de que elas são boas em tudo, mas, na verdade, uma criança superdotada pode apresentar aptidão e habilidades em apenas uma área do conhecimento, e não necessariamente em várias ou todas.

3. Ideia de que tudo é fácil para as crianças com altas habilidades
Assim como para nós nem tudo é fácil, mesmo que tenhamos algumas habilidades e conhecimentos, para as crianças com altas habilidades não é diferente.
Elas realmente terão algumas facilidades, especialmente dentro das áreas de conhecimento que dominam, mas isso jamais significará que elas serão habilidosas em tudo que se propuserem fazer.

4. As crianças com altas habilidades são autodidatas
Este é outro mito que pode, inclusive, prejudicar o desenvolvimento da criança. Afinal, pare e pense no seguinte cenário: lembre-se da matéria escolar que você aprendia com mais facilidade, seja porque gostava ou porque, simplesmente, sentia mais facilidade em aprender.
Agora, imagine uma situação na qual você não tivesse um professor e tivesse que aprender tudo aquilo sozinho. Imaginou?
Possivelmente você pensou que, talvez, não seria possível aprender tudo sozinho, certo? Pois é!
No caso das crianças com altas habilidades, não é diferente. O fato de elas serem superdotadas não necessariamente as tornam autodidatas.

5. Aceleração escolar é a melhor solução
Muitos pais e educadores ainda acreditam que a aceleração escolar é a melhor ou a única solução.
Assim sendo, investem na aceleração de crianças do 6º ano para que estudem diretamente no 9º, por exemplo.
Embora academicamente isso até possa ser possível, quando pensamos na dimensão ser humano, com seu lado emocional e social, isso pode ser um grande problema.
Afinal, como vimos, não é porque a criança “vai muito bem” nas matérias da escola que ela está pronta para pular etapas da sua maturação psíquica, emocional e social.
Estar em um contexto com crianças de idades diferentes, sem preparo mental e cerebral para isso, pode resultar em problemas de sociabilidade, baixa autoestima, bullying, etc.

[/accordion-model-lca]

[accordion-model-lca titulo=”Como os pais podem auxiliar as crianças com altas habilidades?”]

Se porventura o seu filho foi diagnosticado com altas habilidades, o primeiro passo é buscar mais informações sobre a temática. Assim, torna-se possível compreender melhor a realidade do seu filho, além de colocar em prática medidas que realmente possam acolhê-lo e ajudá-lo.

Além disso, outras atitudes podem ser bem-vindas nesse momento. Veja abaixo:

1. Fomentar a educação especial na escola
Mantenha-se próximo da escola do seu filho, sempre instigando a necessidade de haver uma educação especial, com atividades adequadas para o desenvolvimento da criança com superdotação.
Às vezes, a comunidade escolar pode estar despreparada para isso, e a participação dos pais pode auxiliar na implementação de mudanças importantes.
Esteja presente!

2. Deixar isso claro à criança
Jamais esconda a realidade da criança. Ela tem o direito de saber mais sobre si mesma, uma vez que isso poderá ajudá-la a compreender a diferença que possuem dos seus pares, bem como as melhores formas de lidar com a situação.
Afinal, imagine o contrário: se você tivesse um diagnóstico importante, e todos escondessem isso de você, como se sentiria? Pois é! Não cometa uma injustiça.

3. Incentivar Atendimento Educacional Especializado (AEE) no contraturno
Converse com a direção da escola sobre a possibilidade de se desenvolver o AEE no campo educacional.
Assim, as crianças com altas habilidades terão um espaço para ocupar o tempo positivamente e desenvolver as suas aptidões no contraturno, com conteúdos e estratégias que estejam alinhadas às necessidades dos pequenos superdotados.

4. Incentivar a sociabilidade ideal para a faixa etária
Evite “forçar a barra” para que o seu filho interaja apenas com crianças mais velhas. Foque em incentivar uma sociabilidade saudável, ideal para a faixa etária do pequeno. Esse tipo de cuidado pode fazer toda a diferença no desenvolvimento da criança.
Afinal, como vimos no decorrer deste conteúdo, embora o indivíduo possa apresentar superdotação para determinadas áreas do conhecimento, isso não necessariamente significa que ele será acima da média, inclusive, na socialização.
Dito de outro modo, ele precisa de crianças com a mesma maturação social para ir desenvolvendo a sua sociabilidade de maneira mais equilibrada.

5. Buscar aprender mais sobre as condições da criança
Buscar informações pode ser um caminho muito relevante, pois você poderá compreender melhor a realidade do seu filho, sem comparar com as histórias “heróicas” de “crianças prodígio”.
Respeite as características pessoais do seu filho, entenda a realidade que ele vive, conheça um pouco mais sobre a superdotação e busque informações sérias e relevantes sobre essa temática.

6. Buscar o apoio psicológico para pais e filhos
Buscar orientação psicológica pode ser um bom caminho para os pais e para as crianças com altas habilidades.
Você pode investir na psicoterapia infantil para que a criança pratique o autoconhecimento, seja escutada, respeitada e aprenda a lidar com as adversidades advindas da sua própria condição pessoal.
Ao mesmo tempo, os pais podem fazer psicoterapia para lidar com o “baque” do diagnóstico, com as dúvidas vividas nessa nova fase, com as emoções envolvidas no caso, etc.

7. Cuidado com as expectativas
Por fim, e igualmente importante, cuide bem das expectativas que você tem posto sobre o seu filho.
Muitos pais podem confundir esse diagnóstico como algo maravilhoso e que pode tornar o seu filho um verdadeiro “super-herói”.
Porém, essa visão exagerada das crianças com altas habilidades pode resultar em uma sobrecarga nos pequenos, uma vez que os pais podem enxergá-las como perfeitas e impecáveis – mas, quando um defeito aparece, a frustração é grande e o emocional de ambos os lados pode se abalar.
Portanto, respeite os limites do seu filho e nunca o compare. Entenda que ele é um ser humano como qualquer outro, apenas com uma característica diferente – mas quem não tem características diferentes?
Considerar esse ponto de vista é uma forma de respeitar a singularidade do seu filho, sem tentar rotulá-lo como o ser humano mais perfeito do mundo.
Pense nisso!

Referências
PÉREZ, S. G. P. B. Mitos e Crenças sobre as Pessoas com Altas Habilidades: alguns aspectos que dificultam o seu atendimento. Revista Educação Especial, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 45–59, 2012

Fleith, Denise de Souza (org) A construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação: volume 1: orientação a professores / organização: Denise de Souza Fleith. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007.

[/accordion-model-lca]