Como melhorar o relacionamento familiar
Melhorar o relacionamento familiar é o objetivo de muitas pessoas que procuram fortalecer o vínculo com os familiares e construir um ambiente mais saudável para todos. Porém, como se trata de um relacionamento complexo, existem muitas variáveis e situações que podem desencadear efeitos na interação entre as pessoas. Algumas dessas variáveis são positivas, outras podem ser mais negativas, e assim por diante.
Por isso, neste conteúdo, nós reunimos uma série de considerações sobre a temática, visando auxiliar você nas suas reflexões sobre as possíveis formas de desenvolver um relacionamento familiar mais saudável. Vamos adiante!
Embora não exista um método de como melhorar o relacionamento familiar, existem ações e fatores que tendem a contribuir de forma positiva para a interação dentro de casa. Cabe à família avaliar quais dessas considerações fazem sentido para a dinâmica que possui, visando implementar ações que conduzam a um bom enlaçamento entre os envolvidos – sem desrespeitar a subjetividade de cada um.
Portanto, convidamos você para analisar os pontos descritos abaixo, a fim de avaliar quais deles podem ajudá-lo na hora de construir um laço familiar mais saudável, feliz e frutífero. Acompanhe.
1. Comunicação
A comunicação tem um papel muito importante no fortalecimento do vínculo e, inclusive, no desenvolvimento das habilidades sociais de todos os membros da família. Quando os indivíduos têm espaço para falar e se expressar em casa, podem ter maiores chances de aprender a lidar com o que sente; compreender em quais momentos sentem; quais são as melhores ferramentas para enfrentar determinadas situações; e assim por diante.
Além disso, a comunicação pode ser uma grande mediadora de conflitos. Quando acontece um desentendimento entre os familiares, a comunicação pode ajudar na hora de restabelecer o equilíbrio. É por meio dela que torna-se possível pensar sob a perspectiva do outro, entender o ponto de vista alheio, compreender como o outro se sentiu, etc. Ao mesmo tempo, é por meio desse diálogo que acordos podem ser feitos, com o propósito de construir um lar mais equilibrado e que respeite a opinião de cada um.
Em contrapartida, quando a comunicação é escassa, sentimentos podem ser negligenciados; opiniões caladas; brigas se tornam intermináveis; etc. Portanto, permitir que se construa um ambiente na base do diálogo é uma forma de melhorar o relacionamento familiar.
Claro que essa melhora não acontece da noite para o dia. O diálogo e a comunicação não-violenta precisam fazer parte da rotina de um modo profundo e recorrente, e não apenas quando um ou outro conflito aparecer. Assim, as chances de se construir um laço familiar mais sadio podem ser maiores.
Por isso, evite “joguinhos” emocionais, como por exemplo, afastar-se e calar-se ao invés de dizer, com respeito, o que incomoda e o que aconteceu, esperando que o outro familiar “adivinhe” o problema. Foque em ser sincero, respeitoso, empático e compreensível, para assim desenvolver uma comunicação mais assertiva dentro de casa.
2. Empatia e escuta ativa
Teoricamente, não existe a menor possibilidade de nos colocarmos no lugar do outro de uma forma plena, uma vez que cada pessoa é única e enxerga a vida sob a sua própria perspectiva. No entanto, podemos nos esforçar para imaginar como nos sentiríamos se estivéssemos do outro lado.
Esse exercício pode ajudar na hora de lidarmos com conflitos e desentendimentos, bem como pode ser uma forma de contribuir para que tenhamos uma comunicação mais assertiva.
Além de se colocar no lugar do outro sempre que possível, exercitando a empatia, mas sem nos anular para agradar ao outro, também podemos considerar a premissa da escuta ativa para melhorar o relacionamento familiar.
Essa escuta tem como objetivo ouvir exatamente o que o outro está dizendo, dando atenção plena às palavras que ele está proferindo. Isto é, evita-se pensar em outra coisa, bem como se evita imaginar o que o outro dirá. Ao mesmo tempo, corta-se qualquer pensamento de julgamento e preconceito que podemos ter sobre determinado assunto.
Dessa maneira, permitimos que o outro apresente o seu ponto de vista, de uma forma profunda, a fim de nos ajudar a compreender o que pode estar acontecendo com a outra pessoa.
Esses exercícios ajudam na hora de compreendermos as emoções alheias, bem como podem servir de estopim no momento de reagirmos a determinadas situações.
3. Respeito ao espaço alheio
Respeitar o espaço alheio é crucial para não invalidar o outro. Se estamos o tempo todo querendo saber o que o outro está fazendo ou pensando, podemos roubar a privacidade dele, deixando-o sufocado e incomodado com isso.
Sendo assim, quando pensamos em formas de melhorar o relacionamento familiar, podemos considerar a premissa de que, às vezes, as pessoas só querem ficar sozinhas. Elas só querem um momento de paz, descanso e com a companhia delas mesmas. Isso é normal e, inclusive, faz muito bem.
Se a família não respeita o espaço um do outro, pode ser que haja uma sobrecarga emocional nesse sentido. Pois imagine uma pessoa “grudada” em você o tempo todo, a toda hora: parece algo desconfortável e que rouba a sua privacidade, concorda?
Portanto, considere permitir que cada familiar tenha o seu próprio espaço dentro de casa e que possa tomar as suas próprias decisões.
4. Expressão de sentimentos e emoções
Aprender a expressar os sentimentos e permitir que o outro também faça isso é algo muito interessante.
Quando não expressamos o que sentimos, podemos sobrecarregar a saúde mental e, inclusive, afetar as nossas relações. É o caso de não falarmos sobre algo que nos deixou insatisfeitos, fazendo a outra pessoa pensar que está tudo bem, quando, na verdade, não está.
Sendo assim, considere criar um ambiente familiar no qual a expressão de sentimentos e de emoções ocorra de forma natural e saudável.
Obviamente, não estamos dizendo para você forçar a situação e obrigar a sua família a falar sobre sentimentos e emoções, mas, sim, você mesmo pode iniciar a implementação desse tipo de mudança, visando construir um ambiente propício para tal interação.
Falar sobre o que sentimos é, acima de tudo, algo terapêutico e que pode nos ajudar a lidar com as adversidades do dia a dia. Ter o apoio da família frente a essas emoções também é algo que costuma promover benefícios.
Portanto, considere a possibilidade de deixar isso claro dentro da sua casa: pode-se falar sobre emoções, sentimentos, ser sincero um com o outro dessa forma, e assim por diante, pois tudo isso pode ajudar a melhorar o relacionamento familiar.
5. Negociar acerca das tomadas de decisão da família
A família é um grupo familiar que abarca diferentes pessoas e opiniões. Isso significa que nem sempre todas as pessoas que estão nesse núcleo irão concordar com determinadas tomadas de decisão. Nesses casos, é importante garantir que todos opinem e negociem quanto ao que será decidido.
A opinião de cada familiar deve ser levada em conta para que se construa um ambiente respeitoso e democrático. E quando falamos da opinião de cada um, estamos incluindo crianças e adolescentes. Embora eles possam ser imaturos em algumas situações, ainda assim eles possuem uma subjetividade e um ponto de vista sobre variados temas. Por isso, permitir que eles participem das reflexões familiares é muito válido.
Os pais podem orientar os filhos frente às decisões, deixando claro porque determinada escolha (que o filho queria) não foi feita, por exemplo. Aqui, não é preciso acatar com a vontade de todos o tempo todo, mas, sim, é interessante colocá-la sobre a mesa e discutir sobre os prós e contras, para que todo mundo participe e seja possível negociar as decisões de maneira mais clara e assertiva.
Experimente investir em um bom diálogo nesse sentido, buscando compreender o que cada familiar pensa sobre as decisões da família.
Lembrando que, no caso de crianças e adolescentes, o ideal é sempre apresentar possibilidades que estejam de acordo com a faixa etária do membro familiar. Por exemplo, decisões sobre a vida financeira da família não são adequadas para uma criança de nove anos. Saiba mensurar isso na hora de incluí-la nas discussões da família.
6. Desenvolvimento da tolerância e do respeito às diferenças
As pessoas são diferentes, e isso é inegável. Dentro do ambiente familiar, as diferenças também existem e aparecem de forma explícita e implícita. Ainda de acordo com o que mencionamos sobre negociar com os familiares, podemos perceber que essa ideia remonta o fato de que cada familiar tem uma forma de encarar as situações. Logo, emite uma opinião diferente dos demais.
Claro que, em algumas circunstâncias, haverá concordância entre os membros da família. Porém, isso não quer dizer que todos irão concordar uns com os outros o tempo todo. Portanto, exercitar a tolerância e o respeito para com as diferenças é crucial.
Os pais, especificamente, devem ter o cuidado de não projetar nos filhos os seus próprios desejos e objetivos. Os filhos não são uma extensão das figuras parentais e possuem vontade própria e desejos. Logo, podem ter opiniões divergentes.
Por isso, é muito importante reconhecer que essas diferenças fazem parte do núcleo familiar, e tudo bem!
Apesar de parecer difícil exercitar a tolerância, aqui a família pode considerar a empatia que mencionamos anteriormente. Sempre que possível, imagine que é você emitindo uma opinião que não é levada a sério pelos demais familiares. Como você se sentiria nesse caso? Pense sobre isso.
Essas reflexões podem minimizar as situações de intolerância que podem ser presentes nas famílias, em algumas situações.
7. Reconhecimento dos erros
Reconhecer os erros é uma das formas de melhorar o relacionamento familiar. Muitas vezes, devido à cultura e ao contexto no qual a família se insere, especialmente os pais podem ter dificuldades para reconhecer os erros e pedir desculpas aos filhos. No entanto, a falta de reconhecimento dos equívocos pode minar a relação.
Em algumas situações, podemos ver pais culpando os filhos pelos próprios erros para, simplesmente, não admitir o equívoco.
Em contrapartida, quando você se abre e deixa claro que determinadas atitudes foram erradas e que há um arrependimento, torna-se possível elaborar a situação, atingir o perdão e buscar novos caminhos para remodelar o relacionamento.
Sem esse tipo de manejo, os filhos podem começar a apresentar comportamentos de rejeição dos pais, afastando-se destes, por exemplo.
Por isso, não tenha medo de reconhecer os seus erros. Admitir que algo foi errado e desculpar-se genuinamente por isso pode ser um caminho mais promissor do que tentar fingir que nada aconteceu.
8. Cuidado com as discussões no “calor” do momento
Quando as emoções estão à flor da pele, podemos perder um pouco o controle do que falamos e da forma como agimos. Aqui, falta inteligência emocional.
Por isso, cuidado com essas discussões que acontecem quando todo mundo está sobrecarregado emocionalmente. Talvez o mais viável seja pedir um momento de pausa para que todos se acalmem e pensem sobre o assunto para, depois de um tempo, voltar a falar sobre ele de uma maneira mais equilibrada e com menos interferência emocional.
Claro que isso não quer dizer que será possível apagar as emoções durante as discussões, mas, quando elas estão acima da média, é melhor dar uma pausa para evitar que palavras machuquem e atitudes magoem.
Ao mesmo tempo, é muito importante sempre considerar a escuta ativa e a empatia durante esse tipo de conversa, a fim de buscar compreender o outro lado antes de, simplesmente, entrar em um modo defensivo que impede o desenvolvimento de boas discussões que poderiam ser construtivas para a família.
9. Psicoterapia individual
A psicoterapia individual também pode contribuir na hora de melhorar o relacionamento familiar. Não no sentido de que esse seja o objetivo da terapia, mas, sim, no sentido de que ela pode proporcionar autoconhecimento, inteligência emocional e descobertas para cada membro familiar, resultando em impactos positivos nas relações interpessoais de uma forma geral e, claro, inclusive na família.
Por meio da psicoterapia algumas questões relacionadas aos traumas familiares, por exemplo, podem ser ressignificadas. O indivíduo também pode aprender a se posicionar melhor diante das situações, emitindo a sua opinião e o seu ponto de vista de forma mais ativa, sem ser submisso às vontades alheias.
Ao mesmo tempo, o processo de desenvolvimento da inteligência emocional contribui na hora de reconhecer as emoções no outro e reagir de acordo com a situação.
Logo, todos esses fatores podem servir de base na hora de melhorar o relacionamento familiar. Pois pare e pense: quando estamos bem e felizes conosco, tendencialmente estaremos mais propensos a desenvolver relacionamentos mais saudáveis e equilibrados, inclusive com os nossos familiares, não é mesmo?
10. Psicoterapia familiar
A psicoterapia familiar também pode ser vista como uma ferramenta interessante. Afinal, por meio dessa terapia é possível desenvolver uma comunicação familiar mais assertiva, ao mesmo tempo em que cada membro da família tem o seu espaço e os seus papéis estabelecidos com mais clareza e coesão.
Ao mesmo tempo, conflitos familiares podem ser manejados durante as sessões, com o auxílio de um terapeuta qualificado e preparado para tais momentos.
A família pode se conhecer melhor, entender o outro, aprender mais sobre os desejos de cada um, compreender os limites que devem existir entre os familiares, e assim por diante.
O processo, que é singular e de acordo com a dinâmica de cada família, pode proporcionar a resolução de problemas de tal modo que a própria família constrói as suas ferramentas e subsídios para lidar com as adversidades do cotidiano sozinha, ou seja, sem a necessidade de sempre ter a ajuda do terapeuta.
Por isso, investir nos cuidados com a saúde mental, dessa forma, pode ser algo bem interessante. Considere essa possibilidade para melhorar o relacionamento familiar!
Referências
BÖING, Elisangela; CREPALDI, Maria Aparecida. Relação pais e filhos: Compreendendo o interjogo das relações parentais e coparentais. Educar em Revista, p. 17-33, 2016.
CIA, Fabiana et al. Habilidades sociais parentais e o relacionamento entre pais e filho. Psicologia em estudo, v. 11, p. 73-81, 2006.
DIAS, Maria Olívia. Um olhar sobre a família na perspetiva sistémica–o processo de comunicação no sistema familiar. Gestão e desenvolvimento, n. 19, p. 139-156, 2011.
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