Como lidar com a rejeição dos filhos
Lidar com a rejeição dos filhos pode ser bastante difícil para alguns pais. A dor de ver o filho se afastando e, muitas vezes, a falta de conhecimento do porquê isso acontece, podem resultar em questões emocionais nos pais.
Por isso, refletir sobre essa temática, sem deixar de lado a responsabilidade dos pais, é um caminho que pode ajudar na hora de lidar com essa situação.
Embora cada caso seja único e não exista uma resposta universal da melhor forma de lidar com filhos que se afastam dos pais, ainda assim alguns pontos de reflexão podem ser válidos nesse momento.
Acompanhe a seguir o nosso conteúdo e considere analisar os fatores que podem estar envolvidos com essa rejeição.
Como mencionado acima, não existe um passo a passo de como lidar com a rejeição dos filhos. Primeiro porque cada indivíduo é único. Segundo porque cada relação e interação também são únicas.
Portanto, seria impossível descrever uma forma infalível para sanar o problema.
Sendo assim, elencamos a seguir uma série de pontos importantes que podem ser levados em conta na hora de praticar a autoanálise com relação ao que pode estar acontecendo. Acompanhe a seguir e saiba mais.
1. Compreender os potenciais motivos do afastamento do filho
Antes de qualquer coisa, é interessante refletir sobre o motivo pelo qual o filho possa estar se afastando e rejeitando os pais. Pode ser que os pais se deparem com um motivo ou com vários, dependendo da situação.
Essa fase pode ser um pouco difícil de ser concluída. Porém, o diálogo pode ajudar a compreender o que está acontecendo.
Buscar entender o ponto de vista do filho pode ajudar a realçar quais foram os acontecimentos que resultaram na rejeição e no afastamento.
Além disso, é válido que os pais também façam uma autoanálise de si mesmos. Como você tem agido com o seu filho? Como está o respeito para com o espaço dele? Será que há respeito por parte dos pais? Será que o filho está se sentindo sufocado?
Esses e outros questionamentos podem ajudar a delimitar quais são os possíveis comportamentos dos pais que têm sido desaprovados pelos filhos, a ponto de afastá-los.
Novamente, reiteramos que essa descoberta não é simples, e pode exigir tempo e paciência. Mas buscar entender a situação sob novas perspectivas, fugindo do discurso superficial de “meu filho me rejeita” e indo para “por que será que meu filho me rejeita?” é um caminho bastante interessante e que pode resultar em bons frutos.
Outro ponto que vale assinalarmos aqui é que o fato de o seu filho rejeitar os pais, por conta de determinados comportamentos dos progenitores, não quer dizer que os pais são obrigados a mudar. Porém, pensar em formas de negociar caminhos e possibilidades é interessante.
Assim sendo, não estamos dizendo que os pais devem se anular para serem aceitos pelos filhos. Estamos dizendo que compreender a situação por outras vias, de forma mais profunda, pode contribuir para o entendimento dos comportamentos dos filhos, bem como pode ajudar na hora de conversar sobre o que está acontecendo.
2. Invista no diálogo respeitoso e empático para compreender a situação
A partir das reflexões que descrevemos anteriormente, é interessante que os pais procurem os filhos para conversar de uma forma empática e respeitosa para compreender o que pode estar acontecendo.
Vale ressaltar que é muito importante que os pais não forcem a situação, querendo que os filhos se aproximem a qualquer custo. O interessante é mostrar aos filhos os seus sentimentos, conversando de forma madura e adulta sobre o sentimento de ser rejeitado. Inclusive, é nesses diálogos que os pais podem descobrir que o afastamento do filho nada tem a ver com os pais em si, mas, sim, tem relação com a correria da rotina do filho – no caso dos filhos adultos, por exemplo.
Ao mesmo tempo, é nesses diálogos que algumas questões em aberto podem ter a oportunidade de serem resolvidas no seio familiar.
O processo pode ser um pouco difícil, e alguns assuntos podem sim ser constrangedores, no entanto, ter paciência e construir um diálogo respeitoso e empático pode ser um bom caminho.
Para tanto, considere ter um momento propício para essa conversa, com privacidade e tempo disponível. Ou seja, evite dialogar sobre esses assuntos difíceis em encontros com muitos familiares, por exemplo, pois isso poderia expor intimidades da família – coisa que, talvez, os filhos não queiram expor.
3. Pratique a inteligência emocional diante da situação
A inteligência emocional também pode contribuir neste momento. Muitas vezes, os pais podem se sentir extremamente afetados com a rejeição e o afastamento dos filhos, ao mesmo tempo em que negligenciam as emoções que podem vir à tona nesse momento.
O ideal, aqui, é escutar o que você está sentido. Quais sentimentos e emoções têm sido despertados com a rejeição dos seus filhos? Quais sensações têm sido sentidas nesses momentos? Como você tem reagido a esses sentimentos e emoções? Como é possível lidar com o que é sentido, sem permitir que o lado emocional, simplesmente, comande os seus comportamentos e pensamentos? Você tem escutado o que sente? Tem desabafado com alguém que confia? Tem aprendido a lidar de uma forma mais saudável e menos reativa?
Esses e outros questionamentos podem ajudar a enfrentar as questões emocionais deste momento com mais coesão. Afinal, se permitimos que as emoções comandem nossas ações, sem pensar sobre elas e sem buscar entendê-las, podemos ter comportamentos reativos muito impulsivos que, de quebra, podem piorar a situação dentro do relacionamento.
4. Respeite o espaço dos seus filhos
Os filhos não existem para sanar os desejos emocionais dos pais. Embora as emoções estejam envolvidas com esse relacionamento, os pais devem compreender que os filhos são seres à parte, e não uma extensão do pai e da mãe.
Compreender essa perspectiva pode ajudar a entender que os filhos, especialmente na fase adulta, poderão se afastar dos pais para seguir a própria vida. Isto é, eles não estão, de fato, rejeitando os pais, mas, sim, seguindo com a vida que desenvolveram para si mesmos.
Essa compreensão pode quebrar com aquela ideia de que os filhos têm dívidas com os pais e que devem estar sempre por perto, sanando os desejos dos progenitores.
Os filhos são seres únicos, assim como os pais. Por isso, podem desejar seguir caminhos diferentes que, muitas vezes, os levam para longe. É simplesmente algo natural e esperado.
Porém, quando os pais forçam a situação e querem que os filhos estejam sempre por perto, pode-se criar uma situação de dependência emocional, na qual os pais querem a presença dos filhos o tempo todo para “serem felizes”.
Essa situação pode sufocar o relacionamento entre pais e filhos, resultando em situações desagradáveis, rejeição, etc.
Portanto, respeitar o espaço dos seus filhos é importante. Às vezes, eles apenas precisam de espaço para crescer e se desenvolver, e não estão, de fato, querendo se afastar dos pais.
5. Aprender a pedir desculpas é um caminho
Em algumas situações, os pais querem lidar com a rejeição dos filhos, mas, na prática, não admitem terem cometido equívocos que enfraqueceram o laço com os filhos. É o caso de os pais deixarem de cumprir promessas, ou simplesmente tomarem uma atitude que magoou os filhos ou quebrou a confiança.
O pedido de desculpas pode ser uma forma de mostrar arrependimento e desejo de consertar o que aconteceu, visando restabelecer o equilíbrio na relação.
Contudo, esse tipo de pedido deve ocorrer de forma genuína, e não superficial. Peça desculpas se você sente que cometeu equívoco e realmente quer ser desculpado.
Lembre-se de que assim como os seus filhos em desenvolvimento, os pais também podem cometer erros, e o perdão pode ser um caminho para restabelecer o laço social familiar que é tão importante.
Ao mesmo tempo, cuidado com a ideia de que querer forçar que o seu filho desculpe você. Dependendo da situação, pode ser que ele precise de um bom tempo de recuperação. Portanto, respeite o tempo e o espaço do seu filho frente aos erros cometidos pelos pais e diante dos pedidos de desculpas.
6. Precisamos compreender que os filhos não são propriedade dos pais
Como mencionado anteriormente, o espaço dos filhos deve ser respeitado para se evitar a ideia de que eles são uma extensão dos pais. Lembre-se de que apesar de os filhos estarem sob a tutela dos pais, isso não quer dizer que os pais sejam donos deles. Os pais são facilitadores, mentores e auxiliadores no processo de desenvolvimento humano, e não proprietários das crianças, dos adolescentes e dos jovens adultos.
Quebrar essa ideia de que o filho tem que aceitar tudo apenas por ser filho e você o pai ou a mãe é algo muito importante. Claro que os filhos têm o dever de respeitar a autoridade dos pais… O que queremos dizer aqui é que é muito importante ser autoridade, não autoritário.
Portanto, não podemos enxergar nossos filhos como seres que devem ser “moldados” de acordo com a vontade dos pais. Isso é imprescindível para evitar um autoritarismo que, mais tarde, provoca a rejeição por parte dos filhos.
Dê espaço para que eles opinem, falem sobre o que pensam e tenham os seus desejos respeitados. Oriente em algumas situações, mas jamais queira ser um pai que cria uma verdadeira corrente nos filhos, aprisionando-os às suas vontades.
7. Psicoterapia para os pais
A psicoterapia também pode ajudar a lidar com a rejeição dos filhos. Muitas vezes, as questões mal resolvidas nos pais podem estar “respingando” na relação com os filhos, resultando em um afastamento destes.
Portanto, buscar ajuda profissional pode ser um caminho bastante interessante. Na psicoterapia é possível analisar as situações sob outras perspectivas, que escapam daquela ideia automática de que o filho é mau por se afastar e os pais são vítimas de “ingratidão”.
Na análise é possível pensar nas questões emocionais, subjetivas e práticas envolvidas com a situação. É possível discutir mudanças de comportamentos e até mesmo de pensamentos com relação a tudo o que vem acontecendo.
Os pais podem optar pela terapia a qualquer momento, mas no caso da rejeição dos filhos ser um problema para o indivíduo progenitor, a terapia poderá ser ainda mais importante e válida.
Um profissional neutro, como um psicólogo, poderá ajudar na hora de compreender quais medidas podem ser colocadas em prática, de que forma a comunicação pode acontecer mais efetivamente, e assim por diante. Considere essa possibilidade.
8. Psicoterapia familiar em alguns casos
Além de a psicoterapia para os pais, de forma individual, ser uma ação bastante interessante, a psicoterapia familiar também tende a trazer bons resultados.
Assim como ocorre na terapia de casal, a terapia familiar visa auxiliar na comunicação entre os membros; na detecção e compreensão dos sentimentos de cada um; na construção e no estabelecimento de papéis, dentro da família, mais organizados; na abertura para que dores, angústias, medos e mágoas possam ser trabalhadas visando o reequilíbrio familiar; entre outras questões.
Tudo isso é acompanhado por um profissional qualificado e preparado para tal atividade, visando orientar a família, quebrar tabus, trazer novas perspectivas e permitir a criação de um ambiente construtivo e efetivo para o fortalecimento dos laços sociais dentro da família.
Assim, torna-se possível lidar com a rejeição dos filhos e com outras questões que esse relacionamento complexo possa estar apresentando neste momento.
9. Compreenda que as pessoas são diferentes e demonstram o amor de forma singular
Outro fator que vale ser levado em consideração, quando pensamos em como lidar com a rejeição dos filhos, é a ideia de que, às vezes, a forma como o filho se comporta não é, de fato, uma rejeição.
Isto é, pode ser que o filho esteja, simplesmente, demonstrando o seu amor à sua maneira. As pessoas sentem e demonstram as emoções de maneiras diferentes. Pode ser que o seu filho não demonstre tanto quanto você gostaria porque ele funciona dessa forma. Simples assim.
Por isso, ter uma conversa franca e falar sobre os sentimentos vivenciados no seio familiar é muito importante para esclarecer esses pontos.
Ou seja, ao invés de deduzir que o seu filho está rejeitando você, que tal procurar compreender a maneira como ele costuma demonstrar os sentimentos?
Pode ser que a situação realmente não tenha relação com rejeição, mas, sim, com subjetividade.
10. Cuidado com os comportamentos narcisistas
Muitas vezes, podemos ter comportamentos narcisistas ao longo de nossas vidas. Afinal, o ser humano, de maneira geral, é narcisista. Isto é, pode ser que você acredite que determinados comportamentos dos seus filhos são cometidos com o intuito de afetar você quando, na realidade, eles estão apenas seguindo com a vida deles.
É um comportamento narcisista acreditar, o tempo todo, que tudo o que as outras pessoas fazem é com o propósito de nos atingir. Pois pare e reflita: será que somos tão importantes a ponto de as outras pessoas estarem dedicando as suas vidas e as suas atuações para nos afetarem? Pense sobre isso.
No caso do relacionamento entre pais e filhos, não é diferente. Os filhos podem ter atitudes que parecem ser rejeição, como por exemplo, ir viajar e não convidar os pais “para rejeitá-los”, quando, na verdade, os pais é que estão tendo uma visão narcisista da situação, acreditando que não ser convidado para a viagem é uma afronta ou um comportamento focado em atingir o bem-estar dos pais.
Nessas situações, é interessante refletir sobre a via da racionalidade: como tal situação afeta você? Por que ela afetou? Será que o seu filho quis afetar você, ou você, simplesmente, comprou essa briga?
Lembre-se de que todo ser humano é narcisista à sua maneira, mas nem por isso devemos deixar o narcisismo dominar nossos pensamentos. Refletir de forma mais neutra e equilibrada é importante. Inclusive, novamente reiteramos que a psicoterapia pode ajudar nessa situação.
11. Análise da presença e da ausência dos pais
Muitos pais podem ter tido comportamentos ausentes ao longo do desenvolvimento dos filhos, ao menos no sentido emocional. Ou seja, até estiveram presentes para comprar coisas, auxiliar em algumas questões do desenvolvimento, etc., mas, emocionalmente, podem ter negligenciado os filhos.
Nessa situação, a rejeição pode ter uma ligação direta com o laço que havia sido construído no passado. Será que o laço realmente existia? Ou a família era apenas o lugar onde o filho morava, mas não recebia afeto e era negligenciado?
Essa verdade pode ser dolorosa para os pais, mas, colocar a mão na consciência e pensar sobre o assunto é importante. Inclusive, caso os pais detectem sinais de que foram ausentes e de que isso foi o motivo pelo qual o filho tem se afastado, ainda existe a chance de dialogar e pensar em alternativas frente ao ocorrido.
Certamente não há como mudar o passado dos pais que foram ausentes, mas é possível escrever um novo futuro com base no desejo de mudar e crescer.
12. Entendendo a adolescência
Por fim, é importante que os pais também considerem as fases do desenvolvimento humano na hora de lidar com a rejeição dos filhos.
Por exemplo, na adolescência os filhos estão passando por uma série de descobertas e mudanças importantes, tanto na vida social, quanto na vida pessoal.
Sendo assim, é muito comum que eles busquem a sua própria identidade, interagindo com outros adolescentes e aproximando-se de novos relacionamentos.
Ao mesmo tempo, o que é familiar, no sentido de conhecido, pode se tornar monótono, devido às alterações cerebrais. Consequentemente, os passeios em família e aquela interação dentro de casa pode se tornar tediosa.
Isso de forma alguma quer dizer que o filho esteja rejeitando os pais. Mas, sim, quer dizer que ele está se descobrindo e redescobrindo, o que abre margem para que ele se afaste da mesmice e experimente coisas novas.
Inclusive, no nosso conteúdo sobre como lidar com um filho adolescente, você poderá ter acesso a essa e outras informações importantes sobre essa fase de mudanças e transformações.
Esperamos que este conteúdo possa ter contribuído com as suas reflexões. E não se esqueça: ele não substitui o acompanhamento psicológico. Em caso de problemas de relacionamento na família, que prejudicam o bem-estar dos integrantes, procure ajuda.
Referências
Cérebro adolescente: O grande potencial, a coragem e a criatividade da mente dos
12 aos 24 anos, nVersos, 2016, 320 páginas.
ROSENBERG, M. B. Comunicação não violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. 3a ed. Editora Ágora. 5a ed. tradução. 2021