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Como lidar com a briga dos pais?

Apesar de não existir uma fórmula mágica de como lidar com a briga dos pais, podemos discutir algumas posturas e ações que, em algumas situações, podem contribuir positivamente para o bem-estar dos filhos.

Afinal, sabemos que não é fácil lidar com uma atmosfera de brigas constantes dentro do lar. No entanto, não temos o poder de mudar os nossos pais e, por isso, é muito importante não “comprarmos a briga” crendo que iremos transformar e mudar tudo sozinhos. Mas, sim, o que podemos fazer é pensar em formas de dialogar, ao mesmo tempo em que respeitamos as nossas emoções.

Neste texto, trouxemos algumas considerações nesse sentido, visando auxiliar você nas suas reflexões sobre as formas de lidar com esse tipo de conflito familiar. Acompanhe.

Lidar com a briga dos pais pode ser bem difícil. Inclusive, é importante ressaltarmos que a forma como cada um lidará com a situação pode ser diferente. Isso porque cada ser humano interpreta o mundo à sua maneira, o que pode resultar em reações emocionais diversas.

Por isso, não podemos descrever um passo a passo certeiro quando pensamos nessa situação. O que podemos fazer é refletir sobre caminhos que podem nos ajudar a tomar decisões mais tranquilas e que priorizem o nosso bem-estar. Veja a seguir alguns desses caminhos.

1. Evite tomar partido
Sabemos que nem sempre é fácil não tomar partido, especialmente quando há um vínculo maior com um dos pais. Porém, tomar partido na situação pode agravar o problema e fazer com que você, inevitavelmente, se veja dentro das brigas.
Por exemplo, se um dos seus pais vem conversar com você depois da discussão, tentando “manchar” a imagem do outro, cuide para não tomar partido. Lembre-se de que todas as histórias possuem duas versões, e se pautar em apenas um lado pode não ser o caminho mais interessante.
Inclusive, você não tem o dever de dizer quem está certo ou quem está errado, afinal, os seus pais são adultos e são um casal, portanto, eles devem resolver as próprias situações sozinhos.
Dessa maneira, você pode escutar o que os seus pais têm a dizer, caso isso não seja um problema para você, mas não tem a obrigação de dizer quem está certo ou quem está equivocado nesse caso, uma vez que você não é um juiz.
Além disso, enquanto a briga estiver acontecendo, desde que não haja violência, você também não tem a obrigação de tomar partido. Se pedirem a sua opinião, seja sincero e diga que prefere não se intrometer, e que os deixará a sós nesse momento.

2. Busque um ambiente tranquilo
Sabemos que pode ser bastante difícil ouvir a briga dos pais, especialmente quando elas são bem acaloradas e recorrentes. Porém, como dito acima, não é sua responsabilidade apartar a situação ou tomar alguma atitude frente a isso – salvo em casos de violência, nos quais é necessário chamar a polícia.
Sendo assim, você pode selecionar um lugar tranquilo da sua casa para usá-lo com refúgio nesses momentos.
Pode ser um ambiente no quintal, um lugar na sua rua, o seu quarto, um cômodo distante do conflito, etc.
Se não for possível ir para muito longe, tente ir para um cantinho da casa ouvir música no fone de ouvido, a fim de diminuir os ruídos da briga. Assim, você poderá buscar se desconectar do que está acontecendo, priorizando o seu bem-estar frente a isso.

3. Cuidado com a culpabilização
Infelizmente, é muito comum vermos os filhos se culpando por conta da briga dos pais. Porém, o fato é que o desentendimento do casal diz respeito a eles, e não aos filhos.
Mesmo quando os pais dizem que o motivo da briga é um comportamento do filho, ainda assim estamos falando de algo relacionado aos dois, e não à prole em si.
Por isso, culpabilizar-se não faz sentido e pode, apenas, prejudicar a saúde mental e o bem-estar dos filhos.
Sendo assim, quando você se deparar com o comportamento de se culpar, questionando-se sobre “onde errou”, lembre-se de que esse problema não diz respeito a você – mas, sim, diz respeito aos outros.
Mentalizar o fato de que você não é o motivo da briga é algo importante. Lembre-se: mesmo quando disserem que você fez algo e que essa situação desencadeou a briga, ainda assim estamos falando de um conflito entre os pais, e não de uma culpa do filho.
Inclusive, se a culpabilização fizer parte da sua rotina e você começar a acreditar que tem realmente culpa, considere conversar com alguém de sua confiança. Às vezes, falar sobre o que se sente e sobre a sua visão, com outra pessoa, pode ajudá-lo a enxergar novas perspectivas e reorganizar os pensamentos, tirando essa sensação de culpa que possa estar causando mal-estar emocional.

4. Construa uma rede de apoio
Por falar em conversar com outra pessoa, não podemos deixar de citar a importância de construir uma rede de apoio sólida nesses momentos – e em qualquer fase de nossas vidas.
Quando temos amigos que confiamos, podemos desabafar sobre o que sentimos e sobre o que vem acontecendo conosco, buscando formas de lidar com a situação.
Além disso, a rede de apoio pode nos ajudar a nos sentirmos acolhidos e protegidos frente às brigas dos pais.
Por isso, aproxime-se das pessoas que são importantes para você. Mantenha contato com os seus amigos e priorize as relações que fazem bem a você.
Considere, inclusive, ligar para um amigo quando estiver em um momento conflituoso, como durante a briga dos seus pais. Assim, torna-se possível distrair os pensamentos e receber apoio de uma pessoa querida.

5. Considere conversar francamente em um momento apropriado
Conversar com os seus pais sobre o que vem acontecendo, em um momento apropriado, pode ajudar a lidar com a situação.
Dizemos “momento apropriado” no sentido de reservar um momento mais tranquilo para conversar com eles. Ou seja, evite querer resolver a situação quando a briga entre os dois estiver acalorada, pois isso pode prejudicar a compreensão da sua mensagem e fazer com que você acabe entrando na discussão sem querer.
Depois da briga – e depois que os seus pais demonstrarem um maior equilíbrio emocional -, diga a eles que deseja conversar um pouco sobre um assunto importante.
Em seguida, fale sobre como você tem se sentido diante das brigas que estão acontecendo com frequência. Lembre-se de que você não está ali para mudá-los, mas, sim, para explanar o constrangimento e o mal-estar que você pode estar sentindo devido às brigas.
Às vezes, os seus pais podem nem ter se dado conta da situação que estão provocando dentro de casa, e o diálogo franco, com base na comunicação não-violenta, pode ajudar a esclarecer nesse sentido.
Considere, ainda, ouvi-los atentamente, sem tomar partido, ok?

6. Compreenda que as brigas podem acontecer
As brigas e discussões fazem parte dos relacionamentos humanos. De vez em quando, elas podem aparecer. Inclusive, o estopim para tais discussões podem ser banais, como questões relacionadas à limpeza da casa, por exemplo.
Por isso, entender que as brigas acontecem de vez em quando, sem que isso seja “o fim do mundo” para a família, pode ajudá-lo a minimizar o peso que as situações têm provocado no seu bem-estar.
Obviamente, não estamos dizendo que brigas violentas são normais e devem ser enxergadas dessa forma, mas, sim, queremos dizer que, em algumas situações, os conflitos familiares vão aparecer.
Sendo assim, afastar-se do conflito, até que ele se acalme, pode ser mais válido do que querer evitá-lo a todo custo. Afinal, por meio dos conflitos saudáveis é possível que as relações cresçam e caminhem rumo a mudanças positivas.
Assim sendo, mudar as perspectivas que você tem da situação pode ser interessante na hora de lidar com a briga dos pais.

7. Incentive a terapia de casal
A terapia de casal pode ser um caminho bastante relevante quando há muitas brigas dentro do relacionamento. Sendo assim, em um momento propício, como na hora de conversar com mais tranquilidade com os seus pais, fale sobre a terapia de casal e sobre a importância dessa intervenção profissional.
Se possível, mostre conteúdos e informações sobre como funciona essa terapia. Inclusive, aqui em nosso site você pode encontrar um material completo sobre terapia de casal que pode ajudá-lo nessa situação.
Às vezes, os seus pais nem se deram conta de que as brigas são tão frequentes e que existe a possibilidade de receber apoio profissional frente aos conflitos mal-resolvidos. Por isso, apresentar essa possibilidade pode ser bem interessante.

8. Peça ajuda quando necessário
Lembra quando comentamos a importância da rede de apoio na hora de lidar com a briga dos pais? Pois bem! Ela pode ser uma fonte de escape quando você se sentir extremamente abalado por conta das discussões dentro de casa.
Dito de outro modo, você pode pedir ajuda, quando necessário, para essa rede de apoio, a fim de receber acolhimento emocional e suporte.
Dessa maneira, fica evidente que você não precisa lidar com tudo sozinho, expondo-se a situações de estresse extremo que prejudicam o seu bem-estar. Mas, sim, pode considerar o apoio de pessoas importantes que possam ajudá-lo a enfrentar essa situação.
Embora no começo possa ser difícil falar sobre o assunto, tendo em vista que algumas pessoas têm vergonha de comentar o que está acontecendo dentro de casa, ainda assim é interessante você lembrar que falar sobre o que acontece conosco é uma forma terapêutica de organizarmos emoções, nomearmos o que sentimos e, ainda, buscarmos formas mais racionais de enfrentarmos as circunstâncias difíceis. Pense nisso.

9. Solicite que a conversa aconteça a sós
Se você está buscando alternativas de como lidar com a briga dos pais, pois elas acontecem frequentemente na sua presença, considere solicitar que a conversa entre eles ocorra em um ambiente reservado.
Isto é, diga que você prefere que eles tenham tal conversa em um ambiente a sós, ou peça licença para se retirar do cômodo na hora em que a discussão estiver acontecendo.
Você não é obrigado a ser o espectador da situação que está acontecendo ali. Lembre-se disso.

10. Se houver violência, chame a polícia
Em casos de violência, é muito importante tomar uma atitude em prol do bem maior. Pode ser difícil acionar a polícia, mas é imprescindível para evitar que a situação se agrave.
Sendo assim, se você perceber que um dos progenitores está empurrando, batendo, arranhando ou tendo outra atitude violenta, chame a polícia.
Evite se “intrometer” na situação, especialmente se você for criança, para não sair ferido. Tentar manter a calma – dentro do possível – e acionar os órgãos competentes é relevante para evitar que o problema evolua e cresça cada vez mais.

11. Cuidado para não assumir o lugar de “cuidador”
Em algumas situações, os filhos podem começar a assumir um lugar de “cuidador” dos pais, como se eles fossem os responsáveis por sempre apartar a briga, minimizar os conflitos, ajudar a solucionar os problemas do casal, etc.
No entanto, lembre-se de que você não tem essa responsabilidade. Ou seja, não é papel dos filhos ajudar os pais a manterem o relacionamento.
Se os pais sempre pedem o seu apoio para solucionar a situação, baseando-se no que você faz ou diz, seja franco e diga que essa posição não diz respeito a você.
Não é dever dos filhos solucionar o que está acontecendo. Mas, sim, é dever do casal manter a comunicação no relacionamento e buscar formas internas de atravessar essas situações.
Você não é o cuidador dos seus pais, muito menos do relacionamento deles.

12. Busque psicoterapia para você
Sabemos que lidar com a briga dos pais pode ser bem difícil. Muitas questões emocionais, quebras de idealização dos pais e outras situações podem vir à tona nesse momento.
Por conta disso tudo, buscar ajuda profissional e fazer psicoterapia pode ser bem relevante. Com o terapeuta você poderá conversar sem censura e sem medo de ser julgado, ao mesmo tempo em que poderá reorganizar os seus pensamentos e sentimentos frente à situação.
Outras questões poderão ser analisadas, ressignificadas e transformadas, à medida que a psicoterapia for avançando.

13. Cuidado com os comportamentos impulsivos
Por fim, cuidado com os comportamentos impulsivos. Em algumas situações – especialmente quando tomamos partido -, poderemos ter o desejo de tomar alguma atitude frente à briga.
Mas, assim como os seus pais podem estar com os sentimentos à flor da pele, você poderá estar se sentindo da mesma forma, o que prejudica na hora de pensar com clareza antes de agir.
Por isso, apartar-se da situação e buscar tomar uma atitude apenas quando todos estiverem mais tranquilos é um caminho mais seguro para o relacionamento entre pais e filhos.

Esperamos que este conteúdo possa ter contribuído com as suas reflexões. Fique bem e lembre-se de buscar ajuda quando necessário. Boa sorte!