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Autoridade dos pais

Autoridade dos pais

A autoridade dos pais, quando desempenhada de forma ajustada, pode promover a construção de um lar justo, equilibrado e saudável. Em contrapartida, quando a autoridade caminha rumo ao autoritarismo, o relacionamento entre pais e filhos poderá ficar prejudicado.

Pensando nessa diferenciação, fizemos este conteúdo completo com o intuito de ajudá-lo a refletir sobre a temática, visando a construção de um lar mais saudável para as crianças e os adolescentes e, claro, para os pais.

Diferença entre autoridade e autoritarismo

Pensar na diferença entre a autoridade dos pais e o autoritarismo é uma forma de quebrarmos comportamentos que possam estar sendo nocivos na educação de nossas crianças.

No caso da autoridade, os pais demonstram um certo “poder” sobre os filhos, mas sem o uso exagerado desse poder. O relacionamento é baseado na premissa de que os pais são detentores de conhecimentos importantes, que devem ser levados em conta pelos filhos.

Os pais que possuem autoridade costumam conversar com os filhos de forma clara e objetiva sobre os limites e as consequências de determinados atos, sem ameaçar ou causar medo, mas, sim, apenas trazendo à tona a verdade por trás de algumas situações. É o caso de dizer que o filho sofrerá consequências negativas se quiser sempre faltar à aula, por exemplo.

Já o autoritarismo pode ser entendido como um abuso desse poder hierárquico dos pais. Normalmente, no autoritarismo há a presença de violência, ameaças, xingamentos, etc. Além disso, pais autoritários não costumam justificar as suas decisões para os filhos, dizendo que eles devem aceitar “e pronto”. Neste caso, os pais não ajudam os filhos a entender o motivo pelos quais determinados comportamentos são ruins, mas, sim, apenas os reprimem.

É o caso de bater em um filho que faltou a aula, sem ajudá-lo a refletir sobre como esse comportamento (de faltar) pode trazer consequências negativas.

Perceba que existe uma discrepância entre autoridade e autoritarismo. Na autoridade, a voz do filho é ouvida e os pais o entendem como um indivíduo; no autoritarismo, a individualidade do filho é anulada e ele passa a ter que acatar com tudo o que os pais querem, sem questionar, como se vivesse uma “ditadura” dentro de casa.

Consequências do autoritarismo

As consequências do autoritarismo podem ser bastante danosas para a saúde mental e para os relacionamentos dos filhos. O fato de crescer em um lar autoritário pode acarretar em uma visão violenta das relações.

Por exemplo, se o filho cresce apanhando dos seus pais quando os decepciona, poderá usar a violência para reprimir outras pessoas quando algo não for como ele deseja.

Além disso, o comportamento autoritário dos pais podem causar reflexos como:

  • Baixa autoestima, devido à repressão sofrida de forma frequente no ambiente familiar.
  • Problemas para se relacionar com as outras pessoas.
  • Insegurança.
  • Comportamentos agressivos e violentos.
  • Comportamentos autoritários dos filhos para com outras pessoas.
  • Conflitos dentro do relacionamento entre irmãos.
  • Problemas relacionados aos sintomas de estresse, ansiedade, etc.

O autoritarismo atrapalha o desenvolvimento social e emocional das crianças e adolescentes. Por isso, não deve fazer parte da rotina familiar.

Resultados da autoridade

A autoridade, pelo contrário, pode promover muitos benefícios e efeitos saudáveis no desenvolvimento da criança e do adolescente.

Quando os filhos têm chance de crescer em um lar operado pela autoridade dos pais de forma harmoniosa, eles poderão compreender quais atitudes podem ajudá-los a solucionar conflitos e problemas interpessoais.

Além disso, o respeito será internalizado, a visão sobre as relações familiares será diferente, os filhos se sentirão mais respeitados pelos seus pais – o que impacta na autoestima e na autoconfiança -, entre outros fatores positivos.

Por isso, escolher a autoridade ao invés do autoritarismo é algo válido e muito saudável.

Como fortalecer a autoridade dos pais sem ser autoritário?

Apesar de ter ficado claro que a autoridade dos pais é mais saudável, diferentemente do autoritarismo, alguns pais podem ter dúvidas de como garantir essa autoridade de forma respeitosa e saudável.

Por isso, reunimos uma série de orientações que poderão ajudá-lo nesse sentido. Acompanhe a seguir:

1. Comunicação não-violenta
A comunicação não-violenta consiste em uma comunicação baseada em respeito, afeto, compaixão e empatia. Trata-se de uma forma de se comunicar que preza pelo mantimento da proximidade com a criança ou com o adolescente.
Desse modo, é mais interessante seguir uma via de afeto do que uma via agressiva na hora de apresentar direcionamentos aos seus filhos.
Por exemplo, ao invés de levantar o tom de voz e “xingar” quando o seu filho faz algo errado, usar uma comunicação mais amena, empática e que o faça entender que, sim, você se decepcionou, mas que espera mudanças pois acredita nele, é algo válido.
Veja uma situação hipotética:

  • Comunicação violenta: “Você tirou nota baixa outra vez? Que decepção! Vai ficar de castigo só para aprender a se dedicar mais!”. A situação pode ficar ainda pior quando os pais agridem fisicamente – seja com um simples tapa ou empurrão.
  • Comunicação não-violenta: “Filho, vi que você tirou uma nota baixa novamente. O que está acontecendo? Você tem alguma explicação para isso? Como eu posso te ajudar? Confesso que fiquei triste com isso, mas sei que juntos vamos encontrar uma solução. Vamos pensar sobre isso?”. Perceba que esse discurso dá voz à criança e permite que ela perceba o erro e a possibilidade de consertá-lo.

Acima de tudo isso, a comunicação não-violenta abre caminho para o diálogo. O diálogo é essencial para estabelecer a confiança entre pais e filhos, além de ser imprescindível para dar espaço aos pensamentos dos filhos, que também são importantes e merecem atenção.
Ou seja, é importante considerar a premissa de que os pensamentos e desejos dos filhos têm validade, e não apenas os dos pais.

2. Ensinamentos por meio do exemplo
Os filhos estão o tempo todo observando as atitudes de seus pais. Logo, se os pais não apresentam comportamentos adequados, os filhos poderão repeti-los.
Por exemplo, se você quer que o seu filho aprenda a escutar você durante uma conversa, é imprescindível que você também dê voz a ele e o escute profundamente.
Caso contrário, por que ele se sentiria obrigado a fazer algo que nem você faz?
Seja um exemplo para o seu filho. Quais atitudes você espera que ele coloque em prática em determinadas situações? Seja você o primeiro a colocá-las!
Se você quer que o seu filho exercite a paciência diante de uma frustração e de algo que ele não pode ter agora, mostre que você também se frustra e que também precisa ser paciente em situações difíceis.
Exemplificando, imagine que o seu filho quer ir brincar ao invés de estudar. Nessa situação, considere dizer que o compreende, mas que, quanto antes ele terminar as tarefas, antes ele poderá brincar. Assim, quando você estiver trabalhando e com vontade de fazer outra coisa, considere dizer isso ao seu filho. Diga que gostaria de estar assistindo televisão, mas que precisa trabalhar primeiro.
Ser um exemplo pode ser mais fácil do que tentar explicar por que o seu filho deve fazer X ou Y. Dito de outro modo, mostrar, na prática, no dia a dia, pode ajudá-lo a internalizar mais efetivamente o ensinamento em questão.

3. Direito dos filhos se manifestarem
No autoritarismo, a voz dos filhos costuma ser anulada. Eles não são ouvidos e os pais costumam obrigá-los a fazer as coisas que não querem, sem buscar entender o que as crianças e os adolescentes pensam.
Porém, essa postura pode ser extremamente prejudicial para o desenvolvimento dos pequenos, que não têm chance de desenvolver uma postura crítica, um ponto de vista ou uma identidade própria.
Sendo assim, procure criar uma atmosfera familiar na qual os seus filhos possam dizer o que pensam. Peça a opinião deles, diga que os entende e demonstre por que eles não podem seguir esses caminhos de vez em quando.
Voltando ao exemplo de a criança querer brincar ao invés de estudar, você pode dizer a ela que entende esse desejo, afinal, brincar pode ser mais legal em alguns momentos. Porém, diga que ela só poderá ter esse desejo atendido depois dos estudos, pois eles são importantes e ela tem responsabilidades para com eles.
Perceba que, nesse cenário, é deixado claro que o filho terá o seu desejo atendido, mas ele deverá cumprir com o seu dever primeiro.
Além desse exemplo, podemos pensar em muitas outras situações. Para manter a autoridade dos pais, podemos pensar no fato de que as crianças também têm opinião e desejam emiti-las. Se os pais as ouvem, dão espaço para se manifestar, as chances de os pequenos desenvolverem um senso crítico e uma boa autoestima são maiores.
Lembre-se de que, às vezes, você poderá mudar a sua opinião em prol do que o seu filho argumenta. Em outras situações, isso não será possível, e é importante explicar o porquê. Assim, seus filhos sempre terão espaço para falar, o que é mais importante do que sempre terem os desejos atendidos – uma coisa não tem relação com a outra.
Ouvir o filho não é aceitar todas as ideias dele. Mas é dar margem para que sejam implementadas ações que incluam a opinião dele na família.

4. Clareza no que se espera da relação pais e filhos
Muitas vezes, os pais podem ter dificuldades para apresentar orientações claras e objetivas para os seus filhos. É o caso de desejar que o filho aja hoje de uma forma, e amanhã de outra.
Esse tipo de situação pode causar confusão nos pequenos. Por isso, quando estiver apresentando normas e regras, lembre-se de ser bem claro e jamais use ambiguidade. Os seus filhos precisam entender exatamente o que você espera deles.
Por exemplo, apenas dizer “arrume o seu quarto” pode ser algo amplo para uma criança que ainda não tem um senso apurado do que é considerado um quarto arrumado. Agora, dizer que quer que o seu filho arrume a cama e os brinquedos todos os dias é algo mais específico, que pode ajudá-lo a compreender melhor o direcionamento.
Sendo assim procure sempre apresentar caminhos claros e objetivos, que não sejam ambíguos e que ajudem o adolescente ou a criança a interpretar o que você espera.
Desse modo, você mantém a coerência e ajuda os seus filhos a seguirem o que você propôs, sem grandes contratempos.

5. Promessas devem ser cumpridas
Quando pensamos na autoridade dos pais, estamos pensando no poder da palavra. Em uma relação que existe autoridade, a palavra tem um grande peso. Isso quer dizer que se você promete algo aos seus filhos, é extremamente importante que você cumpra.
Caso contrário, poderá quebrar com o respeito e a confiança que eles têm para com você.
Afinal, como eles se sentirão instigados a seguir as suas recomendações se nem mesmo você segue o que fala? Por que eles vão cumprir as promessas (de arrumar o quarto, por exemplo) se você mesmo não cumpre outras promessas que faz para eles ou para o seu parceiro ou parceira? Pense sobre isso.
A palavra é “sagrada” quando pensamos em autoridade e relacionamento entre pais e filhos. Se ela for vazia e quebrada a todo momento, pode se tornar difícil desenvolver uma relação de confiança e estabilidade na autoridade dos pais.

6. Mentiras não podem acontecer
Seguindo o que acabamos de apresentar acima, a palavra tem um poder muito grande na relação entre pais e filhos. Por isso, a mentira não deve fazer parte do ambiente familiar.
Sabemos que todas as pessoas, em algum momento de suas vidas, já mentiram. Faz parte da existência humana.
No entanto, se você deseja transparecer uma autoridade saudável, evite mentir para os seus filhos. Se eles descobrirem a verdade, poderão perder a confiança na sua palavra e a sua autoridade poderá ficar fragilizada.
Além do mais, mentir pode instigá-los a adotar o mesmo comportamento, provocando efeitos nocivos na relação familiar.

7. Nunca desautorizar o outro na frente dos filhos
Considerando a relação entre os pais, é imprescindível que estes nunca se desautorizem na frente dos filhos.
Por exemplo, se o seu marido diz “não” para alguma coisa, é importante que você mantenha a mesma postura e não invalide o “não” do outro.
Caso contrário, os filhos podem perceber que devem obedecer só um dos lados – aquele que está acatando com o que eles desejam -, prejudicando a relação intrafamiliar.

8. Jamais aderir a atitudes violentas
Os comportamentos violentos não se resumem apenas às agressões físicas. Eles podem aparecer de diversas formas, como:

  • Tom de voz elevado.
  • Xingamentos e ofensas.
  • Castigos desproporcionais.
  • Ignorar o filho e “dar um gelo”.
  • Invalidar o sentimento dos filhos.
  • Invalidar a fala dos filhos.
  • Entre outras ações.

Esses comportamentos podem causar danos na saúde mental das crianças e dos adolescentes e, por isso, devem ser evitados.

9. Dar espaço para as emoções dos filhos
Os seus filhos estão desenvolvendo a capacidade de lidar com as emoções. Por isso, quando você os contraria, é possível que eles demonstrem uma frustração além da conta, com momentos de raiva e de choro, por exemplo.
Jamais mande os seus filhos “engolirem” o que estão sentindo, pois isso pode ocasionar problemas de saúde mental e dificuldades para lidar com as emoções mais tarde.
Sendo assim, permita que os seus filhos falem sobre o que sentem, seja empático e dê apoio, mesmo que você não possa mudar a situação. Por exemplo, se o seu filho chora porque não pode brincar, devido à nota baixa que tirou e a necessidade de estudar, acolha a tristeza dele, diga que o entende e que está ali para ajudá-lo a enfrentar essa situação.
Deixe claro que chorar não é um problema, bem como falar sobre o que se sente é algo válido. Assim, ele passará a expressar as suas emoções de forma mais assertiva, aprendendo a lidar com elas.

10. Cuidados com as punições e proibições
Proibir não necessariamente é educar. Ao menos no sentido de apenas proibir sem explicar os motivos pelos quais algo não pode ser feito.
Isto é, se você apenas diz “você não pode fazer isso” e não apresenta argumentos plausíveis para tal afirmação, é possível que os seus filhos fiquem instigados a contrariar a autoridade dos pais e ir adiante para ver o que acontece.
Em contrapartida, se você deixa claro porque tal atitude não deve acontecer por parte dos seus filhos, torna-se viável proporcionar uma reflexão neles, que os ajudem a entender as consequências que podem surgir ao burlar tal “proibição”.
Por isso, o diálogo, com orientações e justificativas claras, pode ser mais válido do que proibir e punir.

11. Cuidado com o tom de voz
Já comentamos que um tom de voz muito alto e violento pode ser prejudicial para o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, que entenderão que não há problemas em ser uma pessoa violenta.
Em contrapartida, isso não quer dizer que os pais devam usar um tom de voz muito baixo, como se estivessem apenas pedindo um favor aos filhos. É preciso transparecer uma certa firmeza e certeza no que é dito.
Além disso, olhar nos olhos do filho, fazê-lo ouvir você com clareza e ter um momento propício para conversas, é algo válido e que pode ajudar nessas horas.

12. Mantenha comportamentos coerentes
Assim como mencionamos no tópico “seja um exemplo”, lembre-se de que a coerência também precisa acontecer.
Por exemplo, se você diz ao seu filho que usar o celular na mesa, durante o jantar, é algo ruim e que não deve ser feito, mas você mesmo tem esse costume, como poderá manter a sua autoridade dessa forma?
A incoerência pode minar a autoridade dos pais e, por isso, é preciso se policiar e ficar muito atento à forma como você age diante do seu filho.
Assim, as chances de construir uma narrativa mais coerente, justa e entendível serão muito maiores.

E não se esqueça: se você percebe que a autoridade dos pais está fragilizada e está com dificuldades para restabelecê-la, você também pode buscar ajuda profissional.
Um psicólogo poderá orientá-lo quanto às medidas que mais se encaixam na realidade e na singularidade da sua família. Considere essa possibilidade e boa sorte!

Referências
Rede Nacional da Primeira Infância. Educar os filhos com autoridade e não autoritarismo. Disponível em: http://primeirainfancia.org.br/educar-os-filhos-com-autoridade-e-nao-autoritarismo-saiba-mais/. Acesso em 24 nov. 2022.

Sempre Família. 8 conselhos para exercer uma autoridade assertiva com seus filhos. Disponível em: https://www.semprefamilia.com.br/educacao-dos-filhos/como-exercer-autoridade-assertiva-com-seus-filhos/. Acesso em 24 nov. 2022.