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Atrasos da Fala

Como é produzida a fala?

O ser humano está geneticamente programado para aquisição da linguagem e da fala a partir de estruturas neurológicas próprias.

Áreas funcionais do cérebro relacionadas com a linguagem e a fala são bem estabelecidos. Estas áreas se desenvolvem bastante ao longo da infância, especialmente no primeiro ano de vida.

Além destes campos anatômicos e toda a neurofisiologia envolvida, os aspectos comportamentais e os estímulos que a criança recebe do ambiente são igualmente fundamentais para o desenvolvimento da fala.

Os sons são produzidos a partir do ar sai de nossos pulmões. Quando este ar passa pela laringe, ele movimenta as pregas vocais. Depois, ao chegar na boca, o ar é articulado pelos lábios, língua, bochecha, dentes, cavidade nasal e véu palatino (popularmente conhecido como “céu da boca”).

Por meio dessas movimentações, conseguimos produzir sons e falar.

A fala, portanto, depende de estruturas específicas do cérebro e também dos diferentes órgãos e estruturas envolvidos com a produção da voz, incluindo pulmões, laringe, boca e língua, além de toda a musculatura envolvida com os movimentos da boca e da língua.

Qual a diferença entre fala e linguagem?

Linguagem se refere à capacidade de comunicação de ideias, pensamentos, opiniões, sentimentos, experiências, desejos ou informações. Ela pode ser expressa de duas formas:

  • Verbalmente, por meio da fala ou escrita;
  • Não verbalmente, por meio de gestos e expressões corporais, faciais, desenhos, etc.

A fala é, portanto, uma das formas de expressão da linguagem.

Evolução da fala pelo bebê e pela criança

Antes de realizarem experiências verbais de balbucios intencionais e palavras, os bebês já desenvolveram um aparato de compreensão da linguagem que dá suporte a esta fala.

Quando eles usam o choro, o sorriso e outros gestos como sinais de fome, tristeza, contentamento ou solidão, é sinal de que eles já compreendem que a fala dos pais e demais pessoas que os cercam é um canal de comunicação.

Mesmo que estes bebês ainda não tenham a capacidade cerebral e motora para articular palavras e falarem, eles já podem “conversar”, dando atenção a quem fala e respondendo com gestos e resmungos à sua própria maneira.

Assim, quando um balbucio já vem acompanhado de uma intenção como chamar os pais ou demonstrar algum desconforto, ele já pode ser considerado como uma forma de fala.

0 A 3 MESES

  • Reage a sons altos
  • Acalma-se ou sorri quando ouve a fala
  • Reconhece sua voz e para de chorar ao ouvi-la
  • Para ou inicia a sucção enquanto mama ao ouvir a voz
  • Articula sons com a boca
  • Chora de maneira diferente para necessidades diferentes
  • Sorri ao ver os pais, pois os reconhece

4 AOS 6 MESES

  • Segue os sons com os olhos
  • Reage às mudanças no seu tom de voz
  • Da atenção a brinquedos que produzem sons
  • Presta atenção à música
  • Balbucia sons diferentes, inclusive começando com p, b, m, imitando a maneira correta de falar
  • Dá risadas
  • Balbucia quando está excitado ou insatisfeito
  • Produz murmúrios brincando sozinho ou com você

7 AOS 12 MESES

  • Gosta de brincar de “esconde-achou” e de bater palmas com música
  • Vira-se para a direção dos sons
  • Presta atenção quando você fala com ele
  • Entende palavras comuns “água”, “mamar”, “sapato”
  • Atende a chamados como “vem cá”
  • Balbuciar sílabas repetidas como “dadada”, “papapa”
  • Pode falar palavras como papai e mamãe (papa/mama)
  • Balbucia no intuito de receber atenção
  • Tenta se comunicar com gestos como levantar os braços
  • Imita diferentes sons da fala
  • Fala uma ou duas palavras como “papai”, “mamãe” ou “não” até um ano

Esta é uma fase bem importante, pois as crianças falam suas primeiras palavras com significado. Algumas fazem após o primeiro ano de vida. Atrasos desta aquisição devem ser um sinal de alerta.

1 AOS 2 ANOS

  • Usa palavras com significado usando os fonemas mais simples, o p, b, m.
  • Palavras com omissões de sons como aua para água, papa para papai, eiti para leite.
  • Usa onomatopéias como au-au para cachorro e cabouaua para acabou a agua, quémai para quero mais. Pode até usar frases como qué mai eiti para quero mais leite.
  • A criança possui um vocabulário básico de palavras para se comunicar com efetividade.

2 A 3 ANOS

  • Usa frases com duas ou três palavras para se expressar ou perguntar
  • Pronúncia os sons de k, g, f, t d e n.
  • Fala de um jeito que pessoas da família e amigos entendem

A fala nesta idade ainda está em fase de aquisição e pode-se ficar alerta e até buscar um profissional para avaliação. No entanto, até os quatro anos ainda é tempo de adquiri-la.

3 A 4 ANOS

  • Fala com facilidade sem repetir sílabas ou palavras, mas ainda apresenta distorção natural da fala.

4 A 5 ANOS

  • Pronuncia corretamente a maioria dos sons, com exceção de alguns poucos (l, s, r, v, z, ch).

Sinais de atrasos da fala

O ritmo da aquisição da fala e da linguagem entre as crianças pode variar bastante. No entanto, existem alguns marcos que devem ser considerados para encaminhamento da criança para avaliação por profissionais especializados, conforme a tabela abaixo.

Idade (Meses) Critérios para Encaminhamento para crianças com Atraso da Fala
12 Não balbucia ou imita voz
18 Não fala palavras isoladas
24 Vocabulário de palavras únicas ≤ 10 palavras
30 Menos que 100 palavras; sem evidência de combinação de 2 palavras; ininteligível
36 Menos que 200 palavras; não utiliza frases telegráficas; clareza <50%
48 Menos que 600 palavras;

Diagnóstico do atraso da fala

O fonoaudiologista especialista em linguagem é responsável por realizar os testes para o diagnóstico dos atrasos da fala.

Já o foniatra é um médico otorrinolaringologista responsável por identificar as causas para este atraso na fala e delinear um plano de tratamento.

O diagnóstico é realizado quando a produção da fala não ocorre de acordo com o esperado para a idade e o estágio do desenvolvimento da criança.

O DSM -5 caracteriza 4 critérios diagnósticos:

A. Dificuldade persistente para a produção da fala que interfere na inteligibilidade da fala ou impede a comunicação verbal das mensagens.

B. A perturbação causa limitações na comunicação eficaz, que interferem na participação social, sucesso acadêmico ou no desempenho profissional

C. Ocorre no período do desenvolvimento

D. Não são atribuídas a condições congênitas ou adquiridas como paralisia cerebral, fenda palatina, deficiência auditiva, lesão cerebral traumática, deficiência cognitiva e outras.

Tratamento

O tratamento do atraso da fala depende inteiramente da correta identificação para a causa do problema.

Em um paciente com deficiência auditiva, por exemplo, possivelmente com o uso de aparelhos auditivos.

Em caso de problemas neurológicos, o neurologista deverá orientar em relação à prescrição de medicamentos. Se o fator emocional for a variável mais importante, deverá ser considerado o tratamento com psiquiatra ou psicólogo.

Dependendo do problema, será considerado o encaminhamento para neurologistas, psiquiatras, psicólogos ou fonoaudiologistas.