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Aspectos psicológicos do jovem talento esportivo

Aspectos psicológicos do jovem talento esportivo

Os aspectos psicológicos do jovem talento esportivo podem se divergir dos talentos mais maduros e consolidados. Afinal, o jovem talento, muitas vezes, possui idade mínima, que varia de 12 a 18 anos, por exemplo.

As crianças e os adolescentes que encaram as mudanças advindas do seu alto desempenho no esporte estão atravessando todas as questões relacionadas às fases do desenvolvimento humano.

Sendo assim, a maturação cerebral, psíquica e emocional ainda não ocorreram plenamente, o que pode resultar em questões que merecem atenção por parte da família e dos profissionais que estão apoiando esse jovem talento.

Pensando nisso, desenvolvemos este conteúdo com uma série de informações importantes sobre a temática. Acompanhe para saber mais.

Aspectos psicológicos do jovem talento esportivo

Os aspectos psicológicos do jovem talento esportivo podem ser marcados por conflitos, dúvidas, incertezas e transformações na vida do indivíduo. As mudanças na rotina, a angústia de abrir mão da sua escola e de seus amigos, o medo diante das cobranças sociais, a irritabilidade de ter a sua rotina toda transformada, entre outros aspectos podem ser bastante comuns.

Nessas situações, tanto o papel da família, quanto dos profissionais envolvidos com a criança ou com o adolescente, é muito importante. É por meio dessa rede social que a criança e o adolescente poderá maturar as suas questões psíquicas e emocionais, aprendendo a lidar com as adversidades e cobranças advindas da prática esportiva.

Ao mesmo tempo, a rede social na qual a criança está inserida também pode ser fonte de problemas em alguns casos, e é por isso que, além dos aspectos psicológicos do jovem talento esportivo, também trouxemos recomendações para a família neste texto. Vamos adiante:

1. Constituição do papel profissional de atleta
A constituição da carreira profissional do ser humano ocorre, costumeiramente, no final da adolescência e no início da vida adulta. Isto é, o jovem ingressa na faculdade após a conclusão do Ensino Médio e, aos poucos, constitui a sua identidade profissional à medida que o tempo passa.
Porém, em se tratando de um jovem talento esportivo, o tempo cronológico não costuma ser exatamente esse. É o caso de uma criança ter que “tomar a decisão” de criar a sua identidade profissional ainda na infância.
Esse processo pode ser conflituoso e confuso, devido ao papel infantil que ainda vem sendo desempenhado pelo indivíduo, e o papel profissional que pode passar a ser cobrado diante do esporte.
Diante da rotina esportiva que tende a ser corrida, a criança pode, muitas vezes, se ver obrigada a deixar a sua infância de lado em muitos momentos, o que pode acarretar uma sobrecarga emocional durante a constituição do papel profissional de atleta.

2. Maturação psicológica em desenvolvimento
O desenvolvimento cerebral e psicológico do ser humano ocorre durante a infância, adolescência e até mesmo em uma parcela da vida adulta.
Sendo assim, enquanto o jovem talento esportivo se vê diante das cobranças, exigências e ansiedades vividas no esporte, as suas questões psicológicas ainda estão se desenvolvendo.
Por conta disso, o esporte pode ser tanto a mola propulsora de resultados emocionais positivos, como também pode ser a abertura para níveis excessivos de estresse, ansiedade, irritabilidade, frustração, etc., que impactam o desenvolvimento do indivíduo e pode, em algumas circunstâncias, resultar em quadros de transtorno mental.
Por isso, é muito importante que a criança e o adolescente recebam um amparo psicológico de qualidade, a fim de evitar a sobrecarga emocional.

3. Desenvolvimento da identidade do indivíduo
Assim como ocorre a constituição do papel profissional de atleta, durante a trajetória da criança ou do adolescente vista como um jovem talento esportivo, a identidade do indivíduo, por si só, também passa a ser desenvolvida.
É na infância e na adolescência que muitas questões relacionadas à visão de mundo, personalidade, temperamento, perspectivas para o futuro, comportamentos e outros fatores vão sendo constituídos. Obviamente, não quer dizer que seja algo imutável, mas sabemos que a nossa história vivida na infância pode impactar profundamente a forma como encaramos as mais diversas situações de nossas vidas.
Assim sendo, a pressão exigida nos esportes de alto rendimento, o excesso de exposição midiática e tantos outros fatores envolvidos com a vida do jovem talento podem impactar na construção de sua identidade.
Inclusive, a criança ou o adolescente pode se ver fadada a pular etapas importantes, que são vividas em contextos comuns nos quais o jovem não é exposto a tudo que o mundo esportivo – e exigente – pode apresentar.

4. Presença da família como algo que estimula ou desmotiva
A presença da família e da rede de apoio também é um importante ponto quando pensamos nos aspectos psicológicos do jovem talento esportivo.
A família pode ser a mola propulsora da motivação diante dos desafios, bem como pode ser negligente a ponto de contribuir para que o indivíduo desista.
Portanto, tudo dependerá do contexto no qual o jovem está inserido, os laços construídos com seus familiares, a rotina da família, entre tantos outros pontos importantes.

5. O “ganhar” como o único objetivo e a frustração
Em muitas situações, a competitividade tóxica pode se tornar uma realidade na vida do jovem talento esportivo. É o caso de a vitória não ser algo importante, mas, sim, a única coisa que importa no trabalho com o esporte.
Porém, obviamente, nem sempre a pessoa estará sujeita à vitória. São muitas as circunstâncias que podem ocasionar a perda e o fracasso esportivo. Nesses casos, a frustração e a revolta podem aparecer de modo intenso, uma vez que a prática esportiva está ancorada única e exclusivamente na vitória.
Por isso, é muito importante que a rede social do jovem talento saiba ressignificar a perda e as falhas no esporte, visando quebrar essa ideia irracional de sempre ganhar a qualquer custo, que fomenta a ideia de que a perda é motivo para vergonha, revolta ou culpa.

6. Desenvolvimento da psicomotricidade e das sociabilidade
Apesar de haver aspectos psicológicos do jovem talento esportivo que podem ser vistos como “negativos” em algumas situações, como alguns que citamos, não podemos deixar de mencionar o quanto o esporte também auxilia no desenvolvimento da psicomotricidade e da sociabilidade.
No entanto, para que isso ocorra de modo saudável e efetivo, obviamente, é imprescindível que a atmosfera na qual o sujeito está inserido priorize a sua saúde mental e o seu desenvolvimento enquanto ser humano.

7. Negligência com relação às expressões emocionais
Muitas vezes, as expressões emocionais podem ser negligenciadas por terceiros frente ao jovem talento esportivo. É o caso de os treinadores e demais profissionais, envolvidos com a criança e com o adolescente, esquecerem, simplesmente, que estão diante de um indivíduo que ainda está desenvolvendo as suas questões psicológicas e emocionais.
Com isso, foca-se muito no desenvolvimento motor e corporal, deixando de lado a saúde mental que tem um papel importante na vida e na carreira de qualquer pessoa.
Portanto, é muito importante que os profissionais envolvidos com a criança ou com o adolescente criem um ambiente de escuta, acolhimento, empatia e compreensão, jamais reduzindo as questões emocionais e psíquicas do indivíduo.

8. Interesse dos pais que sobrecarregam os filhos
Inevitavelmente, os pais podem projetar, ao longo de suas vidas, os seus sonhos e desejos sobre os seus filhos. Não de forma intencional, mas como forma de dar a entender que determinados caminhos – escolhidos pelos pais – são os melhores para os filhos.
Contudo, devemos lembrar do fato de que os filhos não são uma extensão dos pais, mas, sim, indivíduos à parte. Logo, trata-se de um sujeito com aspirações, desejos, sonhos e objetivos únicos, que não podem se ancorar única e exclusivamente no que os pais desejam para a sua prole.
Caso contrário, os pais poderão expor seus filhos a rotinas exaustivas, nas quais apenas o foco na atividade esportiva é importante, anulando outros desejos e objetivos da criança e do adolescente.

9. Afastamento do contexto social
Sem dúvidas, as mudanças nos contextos sociais podem impactar profundamente o psicológico do jovem talento esportivo.
Antes, a rotina de ir à escola e interagir com seus amigos era uma. Agora, devido à competitividade exigida pelas grandes competições, o adolescente pode se ver diante de um afastamento daquela realidade vivida até então.
A saudade de compartilhar momentos com os amigos, a mudança na forma de planejar a sua rotina, as atividades que deixam de fazer parte do cotidiano, e outras questões que impactam no social da criança, podem gerar frustração, angústia, tristeza, ansiedade, estresse, etc.

10. Dificuldades de socialização e comunicação
A mudança brusca na rotina, os novos locais que vão sendo frequentados e a intensidade de pessoas que entram em contato com a criança ou com o adolescente também podem provocar impactos na sociabilidade, tanto de modo positivo, quanto negativo.
O jovem talento pode se ver como um “item” esportivo dentro do ambiente no qual está inserido, tendo dificuldades para expressar sua opinião, angústias, emoções, etc. Essas dificuldades impactam a sociabilidade e podem resultar em sofrimento emocional mais tarde.
Em contrapartida, há jovens que podem desenvolver uma capacidade comunicativa mais apurada, especialmente se a sua voz for ouvida e validada no ambiente no qual ele está. Nesse caso, a prática esportiva pode resultar em benefícios para a sociabilidade.
Partindo disso, é importante que as pessoas que estão em volta do jovem talento fomentem o diálogo, a escuta ativa, o apoio mútuo, a atenção à voz do atleta, etc.

Como a família pode incentivar o jovem talento esportivo?

A família pode fomentar a saúde mental, o bem-estar e a qualidade de vida do jovem talento esportivo que, agora, enfrenta grandes desafios, mudanças e transformações em sua vida. Para isso, um ambiente saudável e baseado na comunicação é algo que pode fazer a diferença. Além disso, outras ações podem ser bem-vindas nesse momento.

Claro que cada família é única e possui as suas regras e dinâmicas, logo, não existe método infalível de apoiar o jovem talento. O que existem são ações possíveis que podem criar uma atmosfera mais saudável e acolhedora para os jovens. A seguir, destacamos algumas considerações que podem ser usadas com base nessa premissa:

1. Evitar projeções de interesses
Um cuidado muito importante, que parte do pressuposto de que a família deve fazer a sua autoanálise frente aos próprios comportamentos que adota, é com relação à projeção que é feita sobre o jovem talento.
Será que os desejos do atleta estão sendo atendidos? Ou por trás de cada conquista há uma “forçação” de barra provocada pela família, que ancora no filho a possibilidade satisfazer os seus desejos reprimidos?
Por exemplo, se o pai, apaixonado por futebol, desejou ser jogador um dia, vê no seu filho a chance de consolidar esse plano, levando-o à exaustão nos treinos e nas metas que devem ser atingidas no esporte. Consequentemente, essa projeção estará anulando o desejo do jovem talento, reduzindo-o a um mero reprodutor dos desejos do pai.
Por isso, é imprescindível que a família tenha um olhar atento para os próprios comportamentos e não projete em sua prole os desejos constituídos em si mesma.

2. Incentivar a prática esportiva
O incentivo à prática esportiva é um caminho que pode contribuir para a motivação e o foco do jovem talento. Não estamos dizendo que é necessário obrigar que o filho treine até ficar exausto, mas incentivar, demonstrando que acredita no jovem e que estará com ele durante as adversidades advindas dessa nova fase da vida, é uma forma de demonstrar incentivo e cuidado.

3. Ser um exemplo no que diz respeito ao esporte
Quantas vezes você já viu casos de violência e intolerância no esporte? Quantas vezes se deparou com comportamentos agressivos entre torcidas, e atitudes totalmente deploráveis nesse sentido? Pois é!
Em se tratando do jovem talento no esporte, a família pode projetar a constituição de uma visão errônea ou sadia da competitividade. Por exemplo, se a família demonstra comportamentos agressivos com relação aos adversários, xingando e demonstrando uma postura violenta, como o filho poderá absorver uma visão diferente da competitividade?
Por isso, é muito importante que a família tome cuidado com a forma como aborda o adversário e o papel de quem está “do outro lado” do jogo, visando auxiliar o jovem talento na constituição de um autocontrole diante das perdas ou provocações que possa sofrer no esporte.
Sem esse amparo, e diante do desenvolvimento psíquico do adolescente, o indivíduo poderá adotar comportamentos agressivos e violentos, que serão prejudiciais para a sua imagem, vida e saúde mental.

4. Saber escutar e acolher as emoções dos filhos
Oferecer um suporte emocional também é uma das formas de auxiliar o filho na hora de enfrentar os aspectos psicológicos do jovem talento esportivo.
Lembre-se de que você não está diante de um adulto com desenvolvimento emocional consolidado, mas, sim, diante de um jovem que ainda tem muito o que aprender e explorar, o que pode gerar medo, angústia, desequilíbrios emocionais e outros fatores nele.
Preste atenção nas emoções do jovem, ampare-o e escute-o sem julgamentos. Ajude-o a entender o que sente e o que pode ser feito com relação a isso.

5. Ressignificar o desejo incessante de ganhar
Como vimos no decorrer deste texto, muitas vezes o jovem talento pode ver, no esporte, o objetivo de ganhar como sendo a única coisa possível.
Sendo assim, a família pode atuar como uma mola propulsora de reflexões e ressignificações diante disso. É o caso de fazer com que o jovem pense no esporte por outras vias e outros propósitos, como o desenvolvimento físico, os laços que são criados com os colegas, a possibilidade de construir trabalhos em equipe, os projetos que são criados a partir do esporte, etc., tirando o foco pleno do ganho.
Isto é, a família pode ajudar o jovem a compreender que a vitória é importante, mas que ela não é a única coisa que importa.

6. Ressignificar o papel da perda
Da mesma forma que o desejo incessante de ganhar pode ser ressignificado, a família também pode trazer novas perspectivas sobre a perda.
Ensinar uma pessoa a perder é valioso e a ajuda a lidar com as frustrações que poderão ser vividas no decorrer de sua vida.
Por isso, a família pode demonstrar que a perda ensina, fortalece, traz novos horizontes, expande a mente e multiplica possibilidades frente às mudanças que podemos aderir, convidando o jovem para reflexões sobre o que ocorreu na perda e o que pode ser absorvido disso.

7. Procurar apoio psicológico
Sem dúvidas, a psicologia esportiva também pode oferecer um suporte a mais no caso dos aspectos psicológicos do jovem talento esportivo. Isso porque o indivíduo terá a chance de ter as suas emoções mais íntimas escutadas, ao mesmo tempo em que consegue pôr em palavras os seus pensamentos e medos.
Além disso, o psicólogo poderá auxiliá-lo a lidar com as crises emocionais, problemas advindos do esporte, traçar metas para o futuro, entre outras ações pertinentes.
8. Fomentar outras práticas saudáveis
Fomentar outras práticas saudáveis, como encontro com amigos, passeios, contato com familiares, hobbies que não estejam atrelados ao esporte em si, entre outras medidas, também contribui para um aumento da qualidade de vida e do bem-estar do sujeito.
Outro ponto relevante, com relação a isso, é que uma vida que considera outras atividades saudáveis pode tirar o foco pleno do esporte, fazendo com que o sujeito se enxergue para além da rotina esportiva.

9. Estímulo à comunicação e ao diálogo
A comunicação e o diálogo, dentro da família, também pode criar um espaço mais acolhedor, sadio e confortável para o jovem talento. Ao perceber que tem voz e espaço para se abrir, queixar-se ou simplesmente solicitar algum conselho, o jovem poderá se sentir mais amparado, seguro e a sua autoestima também poderá ser mais positivamente explorada.
Por isso, conversar com o jovem, perguntar, se fazer presente, entre outras ações nesse sentido, é uma das formas de apoiá-lo frente às questões vividas por conta do seu talento esportivo.

10. Cuidado com as metas irreais e comparações
O cuidado com as metas irreais também deve ser considerado. Às vezes, a família e os treinadores podem estar exigindo resultados que ultrapassam os limites do indivíduo, sobrecarregando-o, frustrando-o e causando impactos na saúde física e mental.
O mesmo vale para as comparações: as metas devem ser alinhadas ao sujeito, e nunca comparadas com o desempenho de outros esportistas.
Lembre-se de que estamos diante de um sujeito em desenvolvimento, e não de um robô. Isso é muito importante para evitar condutas que fomentem efeitos emocionais negativos.

Referências
DE LIMA FABRIS, F.; MORÃO, K. G.; MACHADO, A. A. Influência parental no esporte: uma revisão da psicologia do esporte. Lecturas: Educación Física y Deportes, v. 25, n. 272, 2021.

MARKUNAS, M. Psicologia do esporte no desenvolvimento do papel profissional de atleta. Rev. bras. psicol. esporte, São Paulo , v. 1, n. 1, p. 01-13, dez. 2007 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-91452007000100011&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 10 nov. 2022.

SILVA, P. V. C.; FLEITH, D. S.. Atletas talentosos e o papel desempenhado por suas famílias. Rev. bras. psicol. esporte, São Paulo , v. 3, n. 1, p. 42-63, jun. 2010 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-91452010000100004&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 10 nov. 2022.