Aspectos psicológicos do aluno especial
Os aspectos psicológicos do aluno especial podem ser bastante singulares. Cada indivíduo pode experimentar a vida de uma forma única, e quando pensamos em um sujeito com um diagnóstico, seja ele criança, adolescente, adulto ou idoso, não é diferente.
Cada pessoa tem a sua própria história de vida, suas próprias concepções e visões de mundo. Isso quer dizer que não há possibilidade de pensarmos em aspectos globais e que terão a mesma intensidade na vida de todos os alunos especiais, mas, sim, podemos pensar em fatores semelhantes e comuns em algumas situações.
Assim, poderemos lançar um olhar atento às singularidades, buscando formas de implementar mudanças que construam um mundo que seja mais inclusivo e acolhedor para os alunos especiais.
Com isso em mente, desenvolvemos este conteúdo com uma série de informações interessantes sobre a temática. Acompanhe-nos e saiba mais.
Inicialmente, descrevemos alguns dos possíveis aspectos psicológicos do aluno especial, que podem ser experimentados em diferentes intensidades e em diferentes faixas etárias. Enquanto um adolescente pode experimentar as suas características pessoais de uma forma, as crianças poderão ter outra visão.
Por isso, encare a lista abaixo como fatores de reflexão, e não como algo descritivo, ok? Dito isso, vamos às considerações:
1. Luto diante do diagnóstico (tanto dos pais, quanto do aluno)
Dependendo da idade na qual o diagnóstico é dado, tanto os pais, quanto o aluno poderão atravessar uma espécie de luto. É como se houvesse a perda da “saúde plena”, ficando diante de algo que precisa ser assimilado e aceito aos poucos.
O processo pode ser mais rápido ou mais lento, dependendo do contexto, da história de vida e da resiliência dos envolvidos.
Mesmo em casos nos quais havia uma desconfiança desse tipo de quadro, ainda assim esse tipo de luto tende a ser atravessado.
2. Questões relacionadas à autoestima
A autoestima também deve ser considerada quando pensamos nos aspectos psicológicos do aluno especial. Afinal, o fato de receber um “rótulo” pode ser bastante difícil, especialmente na adolescência.
Em casos de bullying, a situação pode ser ainda mais agravada. Por isso, é importante que a família tenha um papel ativo, averiguando como a criança tem lidado com o diagnóstico e como ela vem sendo tratada na escola.
Manter uma postura próxima à escola pode ajudar na hora de implementar a conscientização sobre o assunto, prevenindo casos de estigma e preconceito.
3. Problemas de superproteção em casa
Sabemos que, para os pais, não é fácil lidar com o fato de que o filho possui um diagnóstico. Porém, a falta de equilíbrio emocional nessa situação pode resultar em um comportamento de superproteção.
Essa superproteção pode atrapalhar a aquisição de independência da criança. Afinal, precisamos ter em mente que um diagnóstico não é um “rótulo de incapacidade” relacionado à criança. Ela não deixa de ser capaz de aprender e de se desenvolver, ela apenas pode apresentar determinados limites.
Mas, a verdade é: quem não tem limites? Uns tem mais, outros menos, mas todos temos em diferentes esferas de nossas vidas.
4. Falta de apoio e compreensão social
A falta de apoio e de compreensão social no contexto em que a criança se insere também é outro ponto que podemos pensar quando analisamos os aspectos psicológicos do aluno especial.
Afinal, nem sempre os locais nos quais a criança está inserida são preparados para os alunos especiais. A própria turma da escola pode ter uma escassez de informação sobre o quadro, resultando no fortalecimento de comportamentos preconceituosos.
Além disso, o fato de não compreender o diagnóstico do amigo pode fazer com que as outras crianças se afastem por não compreender o que pode estar acontecendo com a criança, que tem o diagnóstico, em um momento de crise, por exemplo.
5. Preconceito e estigmas vivenciados no ambiente escolar
Seguindo o que acabamos de assinalar, a criança com diagnóstico pode atravessar problemas de preconceito e estigma, que impactam o seu desenvolvimento infantil, sua autoestima, autoconfiança, enfim, diversas esferas relacionadas às questões psicológicas do sujeito.
Por isso, quando pensamos nos aspectos psicológicos do aluno especial, não podemos deixar de citar o quanto a interação dos colegas podem impactar a autopercepção do indivíduo, que pode ser estigmatizado e diminuído devido ao seu diagnóstico.
É papel dos professores, educadores e familiares evitarem esse tipo de cenário, para possibilitar mais qualidade de vida e bem-estar à criança.
6. Dificuldades para se comunicar e socializar
Dependendo do quadro clínico da criança, pode ser que ela apresente problemas de socialização na infância e adolescência.
Por exemplo, crianças autistas podem ter uma sociabilidade pobre, apresentando dificuldades para interagir com os seus colegas e promover momentos sociais frequentes.
Esse tipo de dificuldade pode impactar o desenvolvimento educacional e social do sujeito, uma vez que vivemos em sociedade e as interações com as outras pessoas se fazem necessárias.
Estar pronto para apoiar a criança diante dos desafios da sociabilidade, dando a ela todo o suporte para atravessar as dificuldades da forma mais saudável possível, é algo imprescindível.
7. Dificuldades relacionadas às escolas despreparadas
Infelizmente, não são todas as escolas que estão preparadas para lidar com os aspectos psicológicos do aluno especial. Algumas sequer possuem profissionais capacitados para tal fim.
Esse problema pode impactar o desenvolvimento da criança, que poderá sofrer situações de exclusão na escola, além de atravessar dificuldades de aprendizagem que não são amparadas por profissionais, devido à falta de especialização.
8. Falta de suporte profissional
Além de a escola, muitas vezes, não apresentar materiais, estrutura e corpo docente preparado para receber alunos especiais, a falta de suporte profissional na vida pessoal também pode ser um problema.
É o caso de crianças com atraso na fala não receberem apoio de um fonoaudiólogo, por exemplo. Essa falta de suporte pode acarretar no agravamento de problemas desencadeados pelo quadro, dificultando o desenvolvimento do aluno.
Por isso, justamente, aconselha-se buscar ajuda o quanto antes, pois o diagnóstico e o tratamento precoces podem fazer toda a diferença na hora de estimular e desenvolver a criança.
9. Anulação do sujeito e foco no diagnóstico
Infelizmente, é muito comum vermos os educadores associando a criança com o diagnóstico. É o caso de usar discursos como “o aluno autista fez isso”, ao invés de usar o nome da criança.
Aqui, há uma anulação do sujeito, como se ele fosse apenas o diagnóstico que carrega. No entanto, esse tipo de anulação costuma ocorrer com mais recorrência em quadros de saúde mental, pois dificilmente vamos ouvir algo como “o aluno com asma fez isso”.
Esse tipo de situação pode estigmatizar o aluno, fazendo-o se enxergar pela via do diagnóstico, e não da singularidade. Ou seja, ele pode realmente crer que é apenas uma versão de um ser humano diagnosticável, e não um indivíduo como qualquer outro, com sonhos, objetivos, medos, angústias, desejos, etc.
É como se todas as atitudes da criança estivessem ancoradas no seu diagnóstico, e não na sua singularidade, nos seus desejos e sonhos. Parece que apenas o diagnóstico impulsiona os comportamentos.
Isso, sem dúvidas, afeta a visão de mundo da criança e ocasiona impactos em sua saúde psicológica.
10. Novas esferas do autoconhecimento
Quando pensamos nos aspectos psicológicos do aluno especial, também não podemos deixar de pensar nas redescobertas e no autoconhecimento que surgem do diagnóstico.
Especialmente em casos de diagnósticos mais tardios, os alunos especiais podem começar a se enxergar por novas vias e perspectivas, compreendendo melhor as próprias forças e fraquezas.
Sem dúvidas, esse conhecimento pode ajudá-los a enfrentar as adversidades do quadro clínico, ao mesmo tempo em que os mune com informações que podem ajudá-los a minimizar sintomas, por exemplo.
11. Comparação que anula as características da pessoa
Quando pensamos nos aspectos psicológicos do aluno especial, devemos ter a consciência de que a comparação não deve existir, pois ela pode anular as características pessoais do aluno.
É o caso de dizer que “ele parece uma criança normal” quando atinge a nota média da turma, por exemplo.
Além de ofensivo, o comentário não tem o menor sentido, uma vez que a criança é completamente normal, apenas tem um quadro clínico como ocorre em crianças com diagnósticos de doenças físicas.
Até aqui, pudemos ver o quanto os discursos que circulam na sociedade podem impactar os aspectos psicológicos do aluno especial. Discutir sobre esses pontos e praticar a empatia, colocando-se no lugar do indivíduo, são medidas imprescindíveis na hora de criarmos um ambiente mais acolhedor para todos. Sigamos em nossas reflexões.
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Como a família e a escola podem ajudar o aluno especial?
Agora que pudemos pensar sobre os aspectos psicológicos do aluno especial, vamos discutir sobre algumas ações que a família e a escola podem colocar em prática para ajudar as nossas crianças e adolescentes que receberam algum diagnóstico.
Afinal, assim como para os adultos, para eles não é fácil atravessar o estigma, o preconceito e até mesmo o autoconceito deturpado que podem ter. Por isso, estamos aqui para apresentar algumas considerações interessantes. Sigamos!
1. Vivência do luto
Antes de tentar buscar mil e uma soluções, especialmente no caso dos pais, deve-se viver o luto que o diagnóstico pode acarretar. Sem dúvidas, ninguém gosta de receber um diagnóstico, e isso pode abalar a estrutura familiar, ao menos inicialmente.
Respeitar o tempo de assimilação dos membros da família, que vão aceitando a situação e vivendo o luto da perda da “saúde plena” é algo importante.
Ninguém precisa aceitar o caso da noite para o dia, mas, sim, o ideal é viver as emoções do momento, expressando-as e permitindo-as serem “desabafadas”.
Inclusive, inicialmente a negação pode aparecer, o que é muito comum. Porém, é necessário que ela seja atravessada aos poucos, até que a família restabeleça o equilíbrio diante da nova realidade, aceitando a situação e reconhecendo a necessidade de buscar ajuda profissional, por exemplo.
2. Buscar saber mais sobre o caso clínico
O conhecimento pode fazer toda a diferença na hora de lidarmos com os aspectos psicológicos do aluno especial. Afinal, quando entendemos o que acontece em determinado quadro clínico, podemos ter uma visão mais clara das ações que podem funcionar e do que deve ser descartado do dia a dia da criança.
Por isso, buscar por fontes de informação, como profissionais da saúde especializados no quadro clínico, é uma forma de buscar dados que ajudem a criar uma atmosfera mais sadia para as crianças.
No caso das escolas, é preciso contar com a especialização dos professores, fazendo formações e treinamentos focados nos quadros presentes no ambiente escolar.
3. Contar com a ajuda de uma equipe multidisciplinar
A família, assim como a escola, não precisa deter todos os conhecimentos e, magicamente, saber lidar com todos os aspectos psicológicos do aluno especial. Afinal, isso seria impossível.
Para isso, existem profissionais multidisciplinares que podem oferecer suporte e conhecimentos valiosos na hora de oferecer um ambiente mais acolhedor ao aluno.
Por isso, buscar ajuda de fonoaudiólogo, psicólogo, neurologista, entre outros, é uma forma de criar uma maior harmonia entre as diferentes áreas da vida da criança.
4. Não rotular
Nunca, em hipótese alguma, a escola ou a família deve rotular o aluno. Jamais usar o diagnóstico como forma de descrevê-lo ou chamá-lo. Por exemplo, nunca se deve usar algo como “o aluno com TDAH derrubou a tinta guache”, mas, sim, sempre usar o nome do aluno para descrevê-lo ou descrever uma ação dele.
Também não se deve apresentar a criança a alguém e logo em seguida falar do seu diagnóstico, como se ela fosse resumida a isso.
Embora o diagnóstico seja realmente importante e impacte o indivíduo, ele não é o único traço da pessoa. Existem muitos outros fatores que tornam cada pessoa única e incomparável.
5. Oferecer uma atmosfera alinhada aos limites da criança
Cada caso clínico pode apresentar limites específicos. Por exemplo, uma criança autista pode ter mais dificuldades para fazer trabalhos em grupo na escola. Sendo assim, cabe aos educadores pensarem em estratégias para implementar aulas em grupo que respeitem os limites do aluno, sem querer expô-lo a qualquer custo a situações que possam ser desagradáveis.
Caso contrário, a criança poderá se sentir completamente sozinha no ambiente escolar, ao perceber que não recebe o apoio e a compreensão de ninguém que está ali.
Portanto, preparar aulas e rotinas que respeitem as singularidades do aluno é indispensável. E isso vale tanto para alunos com diagnóstico quanto para alunos que não o tem.
6. Nunca comparar
Jamais compare um aluno especial com outro, independentemente de esse outro ter ou não um diagnóstico também.
As pessoas não são nem nunca serão comparáveis. Cada um tem os seus limites, forças, dificuldades, qualidades, etc. Então, não existe a menor chance de haver uma comparação justa.
Quebrar esse discurso é imprescindível para, aos poucos, quebrarmos os comportamentos estigmatizantes que impactam os aspectos psicológicos do aluno especial.
Para finalizarmos, lembre-se de que é importante conversar com profissionais da saúde, como psicólogos, em caso de dúvidas. Além disso, até mesmo a psicoterapia, para pais e para a família, pode ser pertinente na hroa de lidar com essa questão.
Referências
SALAZAR, Roberto Moraes. O laudo psicológico e a classe especial. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 16, p. 4-11, 1996.