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Aspectos médicos da Corrida de Rua

Aspectos médicos da corrida de rua

A corrida de rua é o esporte mais praticado no mundo, devido à facilidade de acesso e aos inúmeros benefícios para a saúde. Quando o treinamento é bem orientado, é um esporte seguro e com risco de lesões relativamente baixo.

Praticamente qualquer pessoa está em condições de praticar a corrida de rua. As pessoas aprendem a correr muito cedo na vida e a maior parte das pessoas com um mínimo de preparo físico se consideram aptas para isso. Basta um par de tênis e sair na rua em frente de casa.

Ao mesmo tempo em que essas facilidades popularizaram e democratizaram a prática de corrida, muitas pessoas passam a correr sem o mínimo de preparo e sem orientação profissional. Quando isso acontece, o risco de lesões aumenta significativamente. Não é atoa que as provas que mais preocupam em termos de lesões e outros problemas físicos e de saúde são as maratonas e ultramaratonas (devido ao esforço excessivo e prolongado) e as provas de 5 quilómetros ou menos, em que pessoas mal preparadas se arriscam a participar.

Iniciação na corrida de rua

A iniciação na corrida de rua deve ser avaliada com cuidado. Ainda que a maior parte das pessoas sejam capazes de correr, as deficiências técnicas são comuns.

Quando a técnica é ruim, a sobrecarga nas articulações torna-se inaceitavelmente elevada, com risco de diferentes lesões por sobrecarga.

Ainda que a busca por um melhor condicionamento físico seja a justificativa para que muitas pessoas iniciem no esporte, a corrida exige um mínimo de preparo físico. Sem força e mobilidade adequada nas articulações, dificilmente uma pessoa será capaz de desenvolver uma boa técnica de passada. Com isso, o amortecimento da pisada será deficiente, gerando grande impacto nas articulações.

Outro problema comum é o incremento muito acelerado na carga de treino. As mudanças na rotina de atividade física devem ser sempre graduais, para que o corpo tenha condições de se adaptar às novas exigências.

Não é incomum que as pessoas se empolguem com a corrida e se inscrevam em provas de meia maratona ou maratona quando mal têm condições de correr uma prova de 5 ou 10 quilómetros. A progressão para a maior parte das pessoas sempre deve passar pelas provas de menor distância, sem pular as distâncias intermediárias.

Este é também um bom momento para realizar uma avaliação médica de rotina, de preferência com o médico do esporte. Essa avaliação deve incluir ao menos a parte ortopédica, cardiológica e laboratorial, inclusive para pessoas aparentemente saudáveis e fisicamente bem condicionadas. Ajustes na alimentação também serão necessários.

O médico do esporte poderá também ajudar com a prescrição de exercícios. Em uma pessoa com condicionamento ruim, uma estratégia interessante é combinar a corrida com outras atividades de menor impacto articular. Isso permite uma melhora no condicionamento físico geral ao mesmo tempo em que evita sobrecarga excessiva nas articulações. À medida em que o condicionamento melhora, a carga de corrida pode ser gradualmente elevada.

Carga de treino

A carga de treino é o fator mais importante no desenvolvimento de lesões na corrida de rua, independentemente do nível do atleta.

Quando falamos em carga de treino, nos referimos a volume e intensidade da corrida.

O volume é geralmente medido em quilómetros percorridos por semana; já a intensidade pode ser determinada com base em diferentes fatores, incluindo:

  • Melhor tempo em distâncias como 3k, 5k ou 10k;
  • Frequência cardíaca, determinada a partir de testes específicos;
  • Escores subjetivos de fadiga.

Cargas excessivas prejudicam o desempenho esportivo e aumentam o risco de lesões.

Fatores como peso, composição corporal, técnica de corrida, preparação física global e resistência aeróbia influenciam em como o atleta responde a determinada carga de treino.

Periodização dos treinos

Periodização se refere ao planejamento dos treinos ao longo do ano. Ela se justifica pelo fato de que nenhum atleta é capaz de manter seu rendimento máximo por tempo prolongado. Mais do que isso, a tentativa de desempenhar no limite de forma persistente aumenta muito o risco de lesões por overusing, que são as mais comuns na corrida de rua.

O primeiro passo é determinar quais serão as corridas principais, quando se espera atingir o pico de performance. Dependendo da distância e do nível competitivo do atleta, geralmente se estabelece de 2 ou 3 competições alvo.

O tempo total de preparação voltada para uma prova específica é denominado de macrociclo. Ele é dividido em períodos menores, cada um dos quais buscam aprimorar determinadas valências. Esses períodos são denominados de mesociclos.

Habitualmente, uma prova de corrida é seguida por um período de recuperação, com redução no volume e intensidade dos treinos. A seguir, vem mais um ou dois mesociclos, chamados de “base”. O foco nesses períodos é voltado para o volume. Os treinos podem variar de acordo com o dia da semana, mas prevalecem os treinos de maior volume e menor intensidade.

A seguir vem um mesociclo de intensidade, onde o volume diminui e a intensidade aumenta. Isso geralmente se inicia entre 4 e 6 semanas antes da competição principal.

Por fim, vem o período pré competitivo, em que o volume fica bastante reduzido, geralmente na última semana antes da competição.

Preparação física na corrida

A corrida de rua é um esporte eminentemente aeróbico, que exige grande capacidade cardiovascular. A imagem de corredores de rua como indivíduos extremamente magros leva em muitos casos a um conceito errado de que a força e a preparação física não é um elemento importante para o corredor e que, para correr mais rápido, o importante é simplesmente aumentar o volume de treinos de corrida.

A hipertrofia muscular e a aparência musculosa de fato pode ser prejudicial para o desempenho do corredor, mas é importante que se compreenda que o treino de força não necessariamente envolve hipertrofia. Ter a musculatura forte é fundamental para o corredor impor uma boa técnica esportiva e também para que consiga aumentar o pace.

Avaliação da técnica corrida

O principal “segredo” para melhorar o desempenho na corrida de rua é otimizar o gasto energético. Independentemente se o seu pace é de 3:30 ou 7:00 minutos por quilómetro, a corrida precisa ser solta e relaxada, o que depende de se ter uma boa mecânica de corrida.

Erros na técnica de corrida são frequentes mesmo entre corredores experientes, e sua correção pode levar não apenas a uma melhora no desempenho como a uma redução de até 60% no risco de lesões. Esta correção, porém, deve ser feita com cuidado e sempre sob supervisão. Isso porque não é incomum que uma tentativa má executada de corrigir a passada leve a uma piora no movimento, maior impacto e maior risco de lesões.

Exercícios educativos podem ajudar a corrigir a mecânica da corrida, mas vale lembrar que ter musculatura e peso adequados são também importantes para que o movimento seja feito corretamente.

A força no tornozelo e nos glúteos é essencial para gerar propulsão, e sem força de propulsão é impossível manter uma boa mecânica de corrida.

Clínicas especializadas de fisioterapia podem realizar uma avaliação biomecânica completa da corrida, onde o corredor usa marcadores específicos e é filmado correndo, para avaliar o movimento de cada articulação durante a passada.

Amortecimento da pisada

Quando se fala em amortecimento, a primeira coisa que vem na cabeça da maioria dos corredores é o tênis.

Sem desconsiderar a importância do tênis de corrida, os efeitos dos modernos sistemas de amortecimento de calçados sobre a incidência de lesão têm se mostrado, bastante limitados. O amortecimento está muito mais relacionado com a forma como se corre do que com aquilo que se veste no pé. Os pés devem funcionar na corrida como uma mola, absorvendo o impacto da pisada e devolvendo a energia para impulsionar a passada seguinte. Observar o barulho produzido pela corrida é a melhor forma de se avaliar se isso está sendo feito de forma adequada. Quem está acostumado a correr em esteiras, provavelmente já observou como algumas pessoas correm de forma bastante suave e silenciosa, enquanto outras são muito mais “barulhentas”. Isso está relacionado ao quanto o corredor é capaz de amortecer a pisada durante a corrida. Quanto mais silencioso for o corredor, menor será a energia dispendida na corrida, melhor será o desempenho e menor o risco de lesões. Estudos demonstram que a simples orientação para tentar reduzir o barulho produzido pela pisada já ajuda na melhora na mecânica da corrida de muitos atletas.

Comprimento da passada

Para correr melhor e mais rápido, muitas vezes se sugere uma corrida com passadas mais longas. Até aí, tudo certo, o problema é como aumentar essa passada.

Este aumento pode ser feito de duas formas: levando-se o pé mais a frente ou aumentando-se a força de propulsão da perna para trás.

A maior parte dos corredores apresentam uma musculatura anterior da coxa (quadríceps) dominante em relação à musculatura posterior (glúteos e isquiotibiais), de forma que esticar a perna para frente é o método mais “natural” para se alongar a passada. Mecanicamente, porém, isso não é desejável, uma vez que leva ao que denominamos de “overstriding”: o apoio inicial passa a ser feito com o pé em uma posição mais à frente do que o joelho e longe do centro de gravidade do corpo, levando a um maior estresse nas articulações e a um maior risco para diversas lesões, principalmente nos joelhos.

O alongamento da passada deve ser feito aumentando-se a força de impulsão da perna para trás, o que se consegue por meio de um trabalho de fortalecimento da musculatura glútea e dos isquiotibiais. A fraqueza destas musculaturas é comum entre corredores.

Apoio do pé

O apoio inicial do pé ao solo pode ser feito no retropé, médiopé ou antepé.

Ainda que exista uma tendência de anteriorizar o ponto de apoio inicial com o aumento da velocidade da corrida, fato é que cada corredor tem sua forma específica de correr, e existem corredores de elite correndo com apoio inicial no antepé bem como outros com apoio inicial no calcanhar.

A maior parte dos corredores consegue melhorar o padrão da corrida fazendo o apoio inicial no médiopé ou antepé. No entanto, isso deve ser feito de forma natural, melhorando o movimento da corrida.

Querer alterar artificialmente o ponto de apoio inicial muitas vezes leva a uma piora na técnica da corrida, sobrecarregando as articulações e podendo dar origem a lesões. As mudanças devem ser idealmente ser acompanhadas por um profissional especializado.

Superfície de corrida

O local onde se corre faz toda a diferença. Cada tipo de superfície tem suas características, o que deve ser levado em consideração na escolha do corredor. Discutiremos aqui as características e os cuidados ao serem tomados ao correr em cada tipo de superfície. 

Rua (asfalto) 

A maior parte das corridas na rua é feita no asfalto, uma superfície rígida e que gera baixo amortecimento. Nestes casos, um tênis de corrida com boa sustentação e bom amortecimento é vantajoso. Além disso, as ruas costumam ter uma leve inclinação lateral para o escoamento da água das chuvas, de forma que o pé que corre próximo da calçada faz o apoio inicial ligeiramente mais baixo do que aquele voltado para a rua. Isso pode ser causa de sobrecarga e lesões, de forma que, quando possível por questões de segurança, o sentido da corrida deve ser alternado com alguma frequência.

Terra batida

A terra batida é uma melhor superfície no sentido de amortecimento, porém envolve um maior risco de lesões traumáticas, principalmente o entorse do tornozelo. O risco é maior no escuro ou em dias com o solo molhado.

Montanha

O treino em montanha envolve mais ladeiras e superfícies mais irregulares, aumentando o risco de entorses e outras lesões traumáticas.

A sobrecarga articular, principalmente sobre o tornozelo e o joelho, será maior, de forma que esta é uma modalidade que exige maior experiência e condicionamento físico do corredor.

A probabilidade de pisar em poças de água ou lama é maior, e a corrida com o calçado encharcado pode levar a abrasões e lesões de pele no pé, de forma que o uso de calçados e meias específicas são mais do que recomendados.

Praia

A praia é uma superfície mais macia. Ao mesmo tempo em que ela diminui o impacto nas articulações, ela também exige maior força de impulsão e preparo físico. Sem um preparo adequado, a técnica de corrida será bastante prejudicada aumentando o risco de lesões. Mais do que isso, existe a preocupação com a inclinação lateral, fazendo com que um pé faça o apoio mais abaixo do que o outro, o que também contribui para uma maior sobrecarga

 

Calçados esportivos

Quando se fala em prevenção de lesões, a primeira coisa que vem na cabeça da maioria dos corredores é a utilização de tênis para corrida adequados. A maior parte dos corredores já realizou testes para avaliação da pisada para ajudar na escolha do “melhor tênis para corrida” ou para a prescrição de palmilhas específicas.

Sem negar a importância do calçado para o corredor sabemos hoje que essa importância é bem menor do que muitos acreditam ser.

A pisada está muito mais relacionada com a forma como se corre (ou seja, a técnica de corrida) do que a aquilo que se veste nos pés.

Várias das principais marcas calçadistas têm deixado de produzir tênis específicos para cada tipo de pisada. A Nike, por exemplo, publicou um artigo em seu site afirmando que “o melhor prognóstico para se manter saudável como corredor é escolher um sapato confortável, e não um sapato prescrito especificamente para você”. Em outras palavras, a sensação de conforto é mais importante do que a prescrição.

Peso e composição corporal para corredores

Seja você um corredor experiente que deseja melhorar o seu tempo ou um corredor casual de fim de semana que apenas quer perder peso ou melhorar o condicionamento físico, o controle da composição corporal sempre será importante.

A busca de uma perda de peso “a qualquer custo” tende a ser prejudicial em ambas as situações, como veremos a seguir.

De maneira geral, corredores velocistas apresentam uma musculatura muito forte e índices baixos mas não excessivamente baixos de gordura corporal.

Já os corredores de longa distância possuem baixa massa corporal, músculos menores e níveis extremamente baixos de gordura corporal.

Para quem busca desempenho, a gordura extra aumenta o peso que deve ser transportado e, portanto, aumenta o gasto energético da corrida.

Mesmo em corredores de resistência, como no caso de maratonistas ou ultra-maratonistas, a quantidade de gordura armazenada excede em muito a quantidade necessária para a produção imediata de energia e, dentro de limites saudáveis, quanto mais leve estes atletas forem, maior será sua vantagem competitiva.

De outra forma, se você tem alguns quilos a mais e gostaria de perder peso, a corrida é, de fato, uma ótima atividade, desde que observados certos cuidados.

O excesso de gordura faz com que a força dissipada nas articulações cada vez que o pé toca ao solo seja elevada, aumentando o risco de sobrecarga e lesões relacionadas à corrida.

Não existe um valor absoluto no qual a corrida seja contraindicada. Mas, para pessoas muito acima do peso, pode ser interessante iniciar a prática esportiva por atividades com menos impacto sobre as articulações e, à medida em que o condicionamento melhora, introduzir a corrida gradativamente.

Quando a perda de peso se torna prejudicial

Quantidades de gordura corporal muito baixas ou a perda muito abrupta de peso podem afetar tanto a saúde como o desempenho dos corredores, e devem ser evitados.

Nestas situações, o organismo interpreta que o atleta está em “privação de alimentos”, o que fará com que ele busque preservar as reservas de energia (gordura) e passará a produzir energia através das proteínas provenientes dos músculos, que de fato é o tecido que mais consome energia no corpo. Ao invés de diminuir ainda mais a quantidade de gordura, este atleta passará a perder tecido muscular.

Além da questão energética, a gordura tem outras funções fundamentais no organismo, como a produção de hormônios, o que também ficará comprometido nestas situações.

Discutimos mais sobre isso em um artigo sobre a Deficiência Energética no Esporte.

Infelizmente, não existe um percentil de gordura ideal universal, cada um tem o seu.

Mais do que isso, não existe uma forma de se aferir objetivamente qual o ideal para cada atleta. Atletas de elite, que são submetidos a testes frequentes, costumam saber empiricamente qual o percentil de gordura no qual apresentam melhor rendimento. No entanto, estes valores serão diferentes de uma atleta para o outro. Medidas isoladas tendem a ser pouco elucidativas, mas a mensuração frequente pode trazer informações valiosas.

Para saber mais sobre os diferentes métodos de avaliação da composição corporal e suas indicações, sugiro a leitura do nosso artigo sobre composição corporal no atleta.

Alimentação na corrida de rua

Como discutido acima, corredores se beneficiam de baixo peso corporal e baixos percentis de gordura corporal. Não existe um peso ou percentil de gordura ideal para todos os corredores, o que deve ser avaliado sempre de forma individualizada. No entanto, deve-se ter cuidado com as restrições calóricas com o objetivo de perda de peso.

A corrida de rua quando se pensa em desempenho esportivo está associada a grande volume de treino e alto gasto energético. Em alguns casos, a demanda energética é tão alta que o atleta tem dificuldades para conseguir as calorias que necessita mantendo uma alimentação saudável e sem prejudicar a rotina de treino. Nesses casos, poderá ser sugerida a suplementação alimentar.

O carboidrato deve ser a base da alimentação do corredor, já que essa é a principal fonte energética em esportes de endurance. Manipulações de dietas com restrição do carboidrato não deve ser indicada na maior parte dos corredores. Alguns atletas de elite em provas de longa distância podem se beneficiar de algum grau de restrição do carboidrato em períodos específicos de treinamento, mas sempre com o suporte de nutricionistas habituados com a modalidade.

A maior parte dos corredores é capaz de suprir suas demandas de proteína através da alimentação regular. Em casos específicos de pessoas com baixo consumo proteico, a suplementação poderá ser considerada.

Corredores de rua estão mais vulneráveis às deficiências de ferro, especialmente as mulheres que menstruam. O ferro é essencial para a produção de hemoglobina, que transporta oxigênio dos pulmões para os músculos. Quando há falta de ferro, o transporte de oxigênio diminui, o que leva à fadiga, menor resistência e desempenho atlético. O desempenho na corrida é bastante sensível para deficiências de ferro.

A deficiência de vitamina D é menos comum entre corredores, que habitualmente têm grande tempo de exposição solar. No entanto, é uma preocupação para aqueles que treinam na maior parte das vezes em esteira ou no período noturno.

Coluna do corredor

Dor na coluna é a queixa mais comum em consultórios de ortopedia como um todo. No entanto, é ainda mais comum entre corredores de rua, devido aos impactos repetitivos que se mantêm por tempo prolongado.

Sobrepeso ou obesidade, fraquezas e desequilíbrios musculares, má técnica de corrida e aumento repentino na carga de treino são fatores que aumentam a sobrecarga na coluna e podem contribuir para o desenvolvimento de dor lombar.

Muitos corredores amadores passam também boa parte do tempo em que não estão correndo sentados em frente ao computador, o que é um fator de risco independente para a dor nas costas.

Na maior parte das vezes, as dores estão associadas à sobrecarga mecânica, sem uma lesão estrutural que justifique a dor. Em muitos desses casos, podem estar presentes alterações como doença discal ou até mesmo artrose. São problemas que podem deixar a coluna mais sensível, mas que geralmente não são abordados durante o tratamento.

Ajustes no treinamento com a correção dos fatores de risco discutidos acima, fisioterapia ou outras formas de reabilitação, como o RPG ou pilates, constituem-se a base do tratamento da dor lombar.

Casos que não melhoram com o tratamento convencional, que estejam associadas a irradiação e formigamento para as pernas ou quando a dor é muito intensa precisam sempre da avaliação médica. Discutimos mais sobre a avaliação e tratamento em um artigo específico sobre lombalgia / dor nas costas.

Joelho do Corredor

Dor no joelho é uma das queixas mais comuns entre corredores. Diferentes causas podem ser consideradas para isso.

Dor femoropatelar (condromalácia da patela)

Dor sobre a patela, na parte da frente do joelho, é a queixa mais comum. No consultório médico, ela pode ser denominada de condromalácia patelar, dor femoropatelar, hipertensão patelofemoral ou condropatia patelar, nomes que como regra geral remetem ao mesmo problema.

Ainda que seja uma causa comum de dor na corrida independente da prática de corrida, é fundamental que se tenha atenção com alguns aspectos biomecânicos da corrida que, caso não sejam corrigidas, levarão ao insucesso do tratamento.

Primeiramente, o adequado amortecimento da pisada é fundamental. Corredores com amortecimento deficiente da pisada estão sob maior risco de desenvolver diferentes problemas ortopédicos, sendo a condromalácia um dos principais deles.

Outro problema técnico associado à condromalácia é o overstriding. Esse termo se refere a uma técnica ruim de passada na qual se tenta alongar o tamanho dos passos, apoiando o calcanhar (geralmente o retropé) em uma posição mais para frente do que a altura do joelho. Quando isso acontece, a patela acaba sendo bastante sobrecarregada.

Alterações na cartilagem que protege a patela são comuns nesses pacientes. Quando apenas as camadas mais superficiais da cartilagem estão acometidas, ela tende a ser um fator secundário no desenvolvimento da dor. Lesões que acometem as camadas mais profundas da cartilagem passam a ser mais relevantes para o desenvolvimento da dor e podem precisar de tratamento específico.

Tendinopatia patelar

Tendinopatia patelar ou tendinite patelar é outra causa comum de dor na parte da frente do joelho de corredores. Enquanto na condromalácia a dor se desenvolve sobre a patela propriamente dita, na tendinite patelar ela acontece no ponto onde o tendão se prende na patela ou então no corpo do tendão propriamente dito.

Ela é comum em corredores, principalmente a partir dos 40 anos.

No início, o corredor apresenta dor no começo da corrida, melhora quando está aquecido e depois volta a doer mais ao final ou após a corrida.

Mais uma vez, é uma condição associada a uma técnica ruim de corrida, com pobre amortecimento da pisada.

A fisioterapia tende a ser eficaz na maior parte dos casos. Quando ela não é suficiente para prover a melhora da dor, a avaliação médica se faz necessária, já que outros tratamentos podem ser indicados.

Atrito da banda iliotibial

O atrito da banda iliotibial ou trato iliotibial é um problema pouco comum na população em geral, mas com incidência elevada entre ciclistas, corredores e praticantes de outras modalidades que envolvem a corrida.

O paciente apresenta uma dor na parte externa do joelho, que geralmente se inicia após uma certa distância de corrida. Ele refere que consegue correr bem por 3 ou 5km, por exemplo, quando a dor se inicia e aumenta progressivamente até que precise interromper o treino.

O atrito da banda iliotibial tende a acontecer quando o corredor não tem uma boa estabilidade do quadril durante o apoio inicial do pé na corrida. Isso leva a uma pequena “queda”no quadril, que na maior parte das vezes é pouco perceptível por olhos menos treinados. Essa queda no quadril leva a um mau alinhamento dinâmico do membro inferior e aumenta a tenção sobre o trato iliotibial.

Na maior parte das vezes, o atrito da banda iliotibial se resolve bem por meio da redução da carga de treino até o limite onde a dor se inicia, combinado com um trabalho de fisioterapia. À medida em que a dor melhora, a carga de corrida é novamente aumentada de forma gradativa.

Nos poucos casos em que isso não se mostra suficiente, a infiltração medicamentosa no local da dor é uma opção.

Artrose no joelho

Especialmente entre os corredores mais velhos, a artrose do joelho passa a ser uma causa frequente de dor. A dor ocorre principalmente no início e após a corrida, e pode estar associada a um rangido no joelho, embora com a evolução do desgaste a dor passa a acontecer durante todo o exercício ou mesmo fora do exercício.

Ainda que a artrose leve muitos a abandonarem a corrida, não é incomum que a pessoa seja capaz de manter suas rotinas esportivas com relativo conforto. Para isso, um bom trabalho paralelo de preparação física é fundamental.

Fratura por estresse

A fratura por estresse deve ser considerada sempre que o atleta referir dor que se iniciou após um aumento significativo na carga de treino de corrida. A dor se intensifica durante a corrida e tende a sem menos ruim fora da corrida.

O afastamento temporário da corrida e de outras atividades de maior impacto é fundamental. Mas, em alguns casos, atividades de menor impacto podem ser consideradas com o objetivo de preservar o condicionamento físico.

Pé e tornozelo do corredor

Diferentes problemas podem acometer o pe e o tornozelo do corredor.

Tendinite calcânea (tendinite de Aquiles)

A tendinite calcânea, também chamada de tendinite de Aquiles é uma das causas mais comuns de dor no tornozelo do corredor.

Embora possa acontecer em corredores de qualquer idade, ela é mais comum a partir dos 40 anos.

No início, o corredor apresenta dor no começo da corrida, melhora quando está aquecido e depois volta a doer mais ao final ou após a corrida.

Mais uma vez, é uma condição associada a uma técnica ruim de corrida, com pobre amortecimento da pisada.

A fisioterapia tende a ser eficaz na maior parte dos casos. Quando ela não é suficiente para prover a melhora da dor, a avaliação médica se faz necessária, já que outros tratamentos podem ser indicados, incluindo infiltrações, laser ou a Terapia por Ondas de Choque.

Fascite plantar

A fascite plantar é uma causa bastante comum de dor no tornozelo na população em geral e que também acomete corredores.

O paciente apresenta uma dor na sola do pé, especialmente no calcanhar. A dor tende a ser pior ao se levantar pela manhão ou ao se levantar após um longo período sentado.

A maior parte dos pacientes se recupera bem com um trabalho de fisioterapia.

Fraturas por estresse

Fraturas por estresse são lesões que acometem a continuidade do osso em decorrência do esforço repetitivo.

O diagnóstico deve ser considerado sempre que houver um aumento repentino ou uma mudança na rotina da corrida. Por ser uma lesão na maior parte das vezes com boa estabilidade, é comum que o corredor consiga manter suas prática de corrida apesar da fratura, ainda que com dor. No entanto, há o risco de ela se tornar uma fratura completa.

Diferentes ossos no pé ou tornozelo podem ser acometidos pelas fraturas por estresse, incluindo o maléolo medial do tornozelo, a fíbula, o calcâneo, o cuboide, os ossos metatarsais ou os sesamoides.

O afastamento temporário da corrida e de outras atividades de maior impacto é fundamental. A avaliação por um médico especialista se faz sempre necessária, uma vez que cada tipo de fratura por estresse pode exigir tratamentos específicos, que podem variar de fisioterapia a cirurgia.