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Artrite Reumatóide

O que é a Artrite Reumatóide?

A artrite reumatóide é uma doença inflamatória crônica de origem autoimune que acomete as articulações.

Estima-se que ela atinja de 0,5% a 1% da população mundial. Embora possa afetar pessoas de qualquer idade, é mais comum que se inicie entre 30 e 50 anos. É três vezes mais comum em mulheres do que em homens.

Como em outras doenças autoimunes, o corpo passa a produzir uma resposta anormal a certas células e tecidos normais do corpo, da mesma forma como reage a uma infecção ou outras formas de agressão ao corpo.

No caso da artrite reumatoide, a resposta autoimune acomete especialmente a membrana sinovial, uma membrana que reveste as articulações e os tendões.

A membrana sinovial passa a produzir quantidade excessiva do líquido inflamatório, que por sua vez levará à destruição progressiva das articulações e dos tendões.

Além disso, em 40% dos casos ela acomete outros órgãos e sistemas do corpo, incluindo pele, olhos, pulmões, coração e vasos sanguíneos (1).

Qual a causa da Artrite Reumatóide?

Diferentes genes estão relacionados à artrite reumatoide, sendo que pessoas portadoras desses genes podem ou não desenvolver a doença.

Em um indivíduo com predisposição genética, a doença pode se desenvolver a partir de certos gatilhos, incluindo:

  • Tabagismo
  • Infecções
  • Mudanças hormonais
  • Obesidade
  • Alterações no microbioma intestinal
  • Estresse
  • Ansiedade
  • Esforço físico excessivo
  • Sono desregulado
  • Consumo excessivo de álcool

Esses mesmos gatilhos podem também levar a uma reativação da doença em um paciente que se encontrava até então em remissão.

Fatores de risco

Os principais fatores de risco para a artrite reumatóide incluem:

  • Gênero: em pacientes abaixo dos 50 anos, a incidência da Artrite Reumatóide é aproximadamente cinco vezes maior entre as mulheres. Nos pacientes acima de 60 anos, as mulheres são duas vezes mais acometidas do que os homens (1).
  • Idade: embora a artrite reumatóide pode ocorrer em qualquer idade, é mais comum que ela tenha início entre os 30 e os 60 anos (1).
  • Histórico familiar: o risco é três vezes maior em pessoas que têm familiares de primeiro grau com artite reumatoide (1).
  • Tabagismo: o tabagismo aumenta o risco de desenvolver artrite reumatoide em 40% (1). Além disso, ele também parece estar associado a uma maior gravidade da doença (1).

Como as articulações são acometidas?

A artrite reumatoide faz com que a membranas sinoviais fiquem inflamadas. Com o tempo, forma-se uma camada anormal de tecido fibroso, denominada de pannus.
O tecido inflamado libera substâncias químicas nas articulações. No início, as articulações fiquem sensíveis, quentes e inchadas. Mas, com o tempo, ela pode provocar erosão óssea, destruição da cartilagem e lesão ligamentar progressiva.

Da mesma forma, a proliferação sinovial nas membranas que reverstem os tendões leva ao acometimento e rompimento desses tendões, contribuindo para o desenvolvimento de instabilidade e das deformidades articulares.

Sinais e sintomas da Artrite Reumatóide

Os sinais e sintomas da artrite reumatóide estão relacionados especialmente às articulações. No entanto, pode haver também o acometimento extraarticular, especialmente em quadros inflamatórios mais significativos.

O quadro clínico pode variar em gravidade e pode ir e vir. Períodos de aumento da atividade  alternam com períodos de remissão relativa – quando o inchaço e a dor desaparecem.

Sintomas articulares

Os sintomas articulares mais comuns da Artrite Reumatóide são a dor, rigidez articular e inchaço. Com o tempo, o paciente desenvolve contraturas, deformidade e instabilidade articular.

A rigidez matinal é um dos sinais mais característicos da Artrite reumatoide. Ela habitualmente tem duração de ao menos uma hora, sendo aliviada com o movimento.

O calor local pode estar presente. No entanto, vermelhidão é incomum.

Muitos pacientes apresentam também sintomas, como mal-estar, fadiga, anorexia ou mialgia.

Tipicamente, a doença  acomete mãos e pés.

Nas mãos, ela acomete o punho e as articulações metacarpofalângica e interfalângicas proximais, poupando as interfalângicas distais.

Quando há acometimento das interfalângicas distais (ponta dos dedos), deve-se pensar em outras condições, especialmente a Osteoartrose.

Da mesma forma, os pés são habitualmente acometidos nas interfalângicas proximais, mas têm as interfalângicas distais preservadas.

 

As grandes articulações, incluindo joelhos, quadris, ombros, cotovelos ou coluna cervical podem também ser acometidas. No entanto, a coluna torácica, lombar e sacroilíacas geralmente são poupadas.

O acometimento é habitualmente simétrico. Isso significa que ela geralmete afeta ambas as mãos simultaneamente, ambos os pés simultaneamente e assim por diante.

Vale considerar que nem todos os pacientes apresentam esses sinais e sintomas desde o início. Eventualmente, a Artrite reumatóide pode iniciar com o acometimento isolado de um joelho, por exemplo.

 

Sintomas extra-articulares

Cerca de 40% das pessoas com artrite reumatóide também apresentam acometimento extra articular.

Geralmete, isso acontece na vigência de quadros inflamatórios mais exacerbados, seja no início da doença ou naqueles pacientes com doença de longa data.

Da mesma forma como o sistema imunológico ataca as articulações e provoca inflamação local, ela pode também atacar outros órgãos e tecidos, especialmente pele, olhos, pulmões, coração, rins, sistema nervoso, medula óssea e vasos sanguíneos.

Estas complicações extra-articulares são as principais responsáveis por uma expectativa de vida que é em media 10 anos menor do que para o restante da população (1).

O risco de acometimento extra-articular é maior em algumas situações, incluindo (1):

  • Gênero: ainda que o risco de artrite reumatoide seja maior entre as mulheres, o risco de complicações extra-articulares é maior entre os homens.
  • Gravidade da doença: quanto maior a gravidade da doença articular, maior o risco de acometimento extra-articular;
  • Tabagismo
  • Manifestações da doença em idade mais precoce

Manifestações vasculares

A Vasculite, ou inflamação dos vasos sanguíneos, pode acometer os vasos sanguíneos de diferentes órgãos e tecidos do corpo, podendo comprometer a chegada de sangue, com necrose tecidual. Ela é responsável por muitas das manifestações da doença na pele, pulmão, coração rins ou outros órgãos.

Manifestações Cutâneas

Nódulos subcutâneos estão presentes em 20 a 30% dos pacientes, sendo mais comum naqueles com Fator reumatóide positivo. Eles refletem a atividade da doença e geralmente são assintomáticos. São mais comuns na superfície extensora dos cotovelos, mãos e pés.

Os nódulos se formam em decorrência da vasculite de pequenas veias com necrose e proliferação fibroblástica.

A vasculite característica da Artrite Reumatóide pode também acometer a pele. Dependendo do caso, pode levar a formação de manchas acastanhadas nas unhas e poupas digitais, úlceras na pele ou até mesmo a gangrena dos dedos.

Manifestações oftalmológicas

A Artrite reumatoide pode estar associada à Síndrome de Sjogren em até 20 a 30% dos pacientes. Ela se caracteriza por ressecamento articular, podendo levar secundariamente a lesões na córnea.

A Epiesclerite é outra manifestação característica, provocando vermelhidão e dor nos olhos. Geralmente é autolimitada.

Manifestações pulmonares

Manifestações pulmonares da Artrite Reumatóide são mais comuns em homens.

O paciente pode desenvolver inflamação da pleura (pleurite), e derrame pleural associado. O derrame geralmente é de pequeno volume, sendo pouco sintomático ou até mesmo assintomático.

Os nódulos reumatoides podem estar presentes no parênquima pulmonar, podendo ser únicos ou múltiplos. Eles geralmente são assintomáticos, mas eventualmente podem se infectar ou podem se romper, formando um pneumotórax ou fístula broncopleural. Podem também se calcificar, sendo vistos nos exames de imagem como um nódulo calcificado.

A Fibrose pulmonar é mais comum em homens com doença de longa data, pode levar a uma redução na capacidade pulmonar de padrão restritivo.

Manifestações cardíacas

A Pericardite está presente em até 50% dos pacientes. Geralmente é de pequeno volume e pouco sintomática.

Os Nódulos reumatoides podem ser observados no miocárdio ou nas válvulas cardíacas, podendo levar a distúrbios de condução, arritmias ou insuficiência valvar.

A Vasculite, quando acomete as artérias coronárias, pode levar a Infarto Agudo do Miocárdio.

Por fim, a Artrite Reumatoide é também considerada um fator de risco para a Doença Arterial Coronariana, sendo essa a principal causa de morte em pacientes com a doença.

Manifestações neurológicas

A proliferação da membrana sinovial ao redor dos tendões pode levar a uma compressão de nervos periféricos, provocando as neuropatias compressivas, como a Síndrome do Tunel do Carpo ou a Síndrome do Túnel do Tarso.

O paciente pode também desenvolver Vasculite dos vasa vasorun, que são os vasos sanguíneos que irrigam e nutrem os nervos, podendo levara uma perda sensitiva.

Manifestações renais

A Nefropatia membranosa geralmente está associada ao uso de certos medicamentos para a artrite reumatoide e pode levar à Insuficiência Renal.

Diagnóstico

O diagnóstico da Artrite Reumatóide pode ser feito com base na história clínica, exame físico, exame de sangue e exame de imagem.

O ideal é que o diagnóstico seja feito nos estágios iniciais, quando o tratamento tera maior impacto na evolução da doença a ena qualidade de vida futura. No entanto, a artrite reumatóide pode ser confundida com muitas outras doenças nesse momento, o que torna o diagnóstico mais difícil. Vale aqui considerar que não existe um exame de sangue ou achado físico que isoladamente possa ser usado para confirmar o diagnóstico.

Nas fases mais avançadas da doença, os sinais clínicos são mais evidentes e o diagnóstico mais direto.

Exames laboratoriais

Provas inflamatórias

Os exames de provas inflamatórias, especialmente a Velocidade hemossedimentação e (VHS) e a proteína C reativa (PCR) costumam estar elevadas.

Estes exames são indicativos da presença de um processo inflamatório no corpo. Entretanto, o exame é pouco específico, o que significa que ele pode estar aumentado em muitas outras condições além da Artrite Reumatóide.

AS provas inflamatórias são importantes também durante o seguimento do paciente, para avaliar o nível de atividade inflamatória. Isso é importante para o eventual ajuste no tratamento.

Fator reumatoide

Fator reumatoide é o nome que se da a um tipo específico de anticorpo IgG. Apesar do nome, ele pode estar presente em outras condições além da Artrite Reumatoide, incluindo doenças reumáticas autoimunes, doenças inflamatórias crônicas variadas (cirrose hepática, fibrose pulmonar), infecções crônicas e até câncer.

Ele pode também estar positivo em baixos títulos em 1 a 5% da população adulta saudável e em até 25% dos indivíduos saudáveis acima dos 60 anos de idade (1).

Até 50% dos pacientes com Artrite Reumatoide apresentam o exame de Fator Reumatóide normal ou pouco alterado durante a fase inicial de evolução da doença (1). Nas fases mais avançadas, a positividade sobe para até 80% dos casos.

Por outro lado, a associação de um Fator Reumatoide fortemente positivo (acima de três vezes o valor normal) com sintomas característicos permite que se feche o diagnóstico da Artrite Reumatóide.

Anti-CCP

O exame de Anti-CCP (autoanticorpos contra o peptídeo citrulinado cíclico) busca detectar esses autoanticorpos que são altamente específicos para a artrite reumatoide.

Ele tem alta sensibilidade e alta sensibilidade. Isso significa que a maior parte das pessoas com artrite reumatoide serão positivos para o Anti-CCP, e que a maior parte das pessoas com Anti-CCP terão de fato a artrite reumatoide.

O exame é solicitado geralmente quando outros critérios para o diagnóstico da doença são inconclusivos.

Exames de imagem

O exame de imagem mais importante na avaliação do paciente com artrite reumatoide é a radiografia.

O que se busca avaliar nas radiografias é a gravidade e as características da destruição articular provocada pela artrite reumatoide.

Algumas características da radiografia ajudam na diferenciação entre a Artrite Reumatoide e a artrose. Enquanto a artrose tende a provocar mais destruição óssea, a artrose tende o que mais chama a atenção é a perda do espaço articular.

Mais do que isso, a radiografia é fundamental para se avaliar as possibilidades terapêuticas, especialmente em relação ao tratamento cirúrgico.

A ressonância magnética também deve ser considerada para avaliar o comprometimento de partes moles (tendões, sinóvia, musculatura). Isso é válido especialmente nos casos mais leves e iniciais.

Critérios diagnósticos – Colégio Americano de Reumatologia

Segundo o Colégio Americano de Reumatologia, o diagnóstico de artrite reumatóide é feito quando pelo menos 4 dos seguintes critérios estão presentes por pelo menos 6 semanas:

  • Rigidez articular matinal durando pelo menos 1 hora
  • Artrite em pelo menos três áreas articulares
  • Artrite de articulações das mãos: punhos, interfalangeanas proximais (articulação do meio dos dedos) e metacarpofalangeanas (entre os dedos e mão)
  • Artrite simétrica (por exemplo no punho esquerdo e no direito)
  • Presença de nódulos reumatóides
  • Presença de Fator Reumatóide no sangue
  • Alterações radiográficas: erosões articulares ou descalcificações localizadas em radiografias de mãos e punhos.

Diagnóstico diferencial

Os principais diagnósticos diferenciais da Artrite Reumatóide incluem a Poliartrite viral, a osteoartrose e outras formas de doenças reumatológicas sistêmicas.

Artrite reumatoide X Poliartrite viral

As infecções virais e a artrite reumatoide constituem os principais diagnósticos diferenciais das poliartrites agudas.

Na prática, as síndromes virais agudas podem simular a artrite reumatoide no início da sua evolução.

A possibilidade de etiologia viral deve ser suspeitada para todo paciente com sinovite ou poliartralgia com menos de 6 semanas de evolução.

Além disso, a presença de rush cutâneo (erupções na pele) deve levar à suspeita de poliartrite viral.

Embora a grande maioria das poliartrites virais se resolva num prazo de dias a poucas semanas, há casos em que o sintoma articular persiste por meses ou anos. Isso é válido especialmente no caso da infecção por Chikungunya.

Outros vírus frequentemente associados à poliartrite incluem:

  • Alfavírus: Cem nosso meio, destacam-se ohikungunya e os da dengue
  • Vírus associados a hepatites: A, B e C
  • Togavírus: rubéola
  • Retrovírus: HIV
  • Parvovírus: principalmente o eritrovírus B19 (antigo parvovírus)
  • Herpes-vírus: vírus Epstein-Barr, citomegalovírus e varicela
  • Paramixovírus: caxumba

Artrite Reumatóide X Artrose

Tanto a Artrose como a Artrite Reumatóide são doenças que causam dor, rigidez e derrame articular nas articulações.

Entretanto, a causa para isso é diferente:

  • A Artrose está associada ao desgaste progressivo que acontece pelo uso da articulação. Ela se desenvolve em decorrência do avanço da idade ou como consequência de lesões, cirurgias ou traumas prévios.
  • A artrite Reumatoide se desenvolve como uma resposta anormal do sistema imunológico.A diferenciação entre estas duas condições pode ser feita com base na história clínica, exame físico, exames de imagem e exame de sangue, conforme a tabela abaixo:
Artrite Reumatoide Artrose
Progressão rápida da doença e dos sintomas Progressão habitualmente mais lenta da doença e dos sintomas. Mas, em alguns casos, os sintomas podem evoluir de forma mais acelerada.
Dor e rigidez, especialmente ao acordar ou após ficar muito tempo sem se movimentar. A Rigidez pode ou não estar presente. Alguns pacientes têm dor pior com o movimento, outros têm dor pior no repouso.
O acometimento nas mãos envolve as articulações metacarpofalangeanas e interfalangeana proximal. O acometimento nas mãos envolve especialmente as articulações interfalangeanas distais.
Acometimento simétrico nos dois lados do corpo. Pode acometer uma ou múltiplas articulações em um ou nos dois lados do corpo. Entretanto, este acometimento costuma ser assimétrico (um lado pior) e em tempos diferentes.
Destruição óssea nas radiografias chama mais a atenção do que a perda do espaço articular Perda do espaço articular nas radiografias chama mais a atenção do que a destruição óssea.
Fator reumatoide pode ser negativo ou positivo Fator reumatoide negativo ou levemente positivo
Provas inflamatórias (VHS, PCR) positivas Provas inflamatórias (VHS, PCR) habitualmente negativas

 

Artrite reumatoide X outras doenças autoimunes

A fase inicial da Artrite Reumatóide pode ser difícil de distinguir da artrite causada por outras doenças autoimunes, incluindo:

  • Lúpus Eritematoso Sistêmico;
  • Síndrome de Sjögren;
  • Dermatomiosite.

Além de um quadro clínico inicial parecido, o Fator Reumatóide também pode estar aumentado em todas estas condições.

Em contraste com a Artrite Reumatóide, esses distúrbios são geralmente caracterizados pela presença de outros sinais e sintomas sistêmicos, como erupções cutâneas, boca seca e olhos secos, miosite ou nefrite.

Além disso, estas condições podem levar ao aumento de certos autoanticorpos que não observados com frequência na Artrite Reumatóide.

Na fase crônica da doença, a tendência é que o diagnóstico fique mais evidente.

O padrão de doença de longa duração, rigidez matinal, artrite simétrica, nódulos subcutâneos e as deformidades características da Artrite Reumatóide habitualmente não se desenvolvem nesses outros distúrbios.

Estágios da Artrite Reumatóide

A artrite reumatoide pode ser classificada em quatro estágios de evolução. Os estágios 1 e 2 são também chamados de iniciais, enquanto os estágios 3 e 4 são também chamados de avançados.

Estágio 1

No Estágio 1, os pacientes geralmente começam a apresentar sintomas leves, incluindo dor e leve inchaço nas articulações, especialmente em articulações menores, como as das mãos e dos pés.  Fadiga e mal-estar também são comuns.

Este estágio inicial é crítico para o diagnóstico, pois detectar a doença precocemente pode afetar drasticamente o resultado do tratamento.

O diagnóstico nesta fase geralmente envolve exames de sangue para identificar marcadores como o fator reumatoide e a proteína C-reativa. No entanto, muitos pacientes ainda apresentam o fator reumatoide negativo.

Exames de imagem como raios X ou ressonâncias magnéticas também podem ser realizados para verificar se há algum dano articular precoce.

Estágio 2

No segundo estágio da AR, é mais comum que o corpo comece a produzir o fator reumatoide.

Os sintomas se tornam mais significativos e mais persistentes. A inflamação das articulações pode causar mais desconforto, sendo mais difícil de ignorá-los.

Rigidez matinal torna-se mais comum. A mobilidade das articulações é afetada.

Grandes articulações podem ser acometidas.

Os exames de sangue se tornam cada vez mais importantes para identificar os níveis de fator reumatoide e outros marcadores inflamatórios. Esses exames ajudam a confirmar a presença de AR e descartar outras formas de artrite inflamatória.

O tratamento precoce neste estágio pode ser benéfico para retardar a progressão da Artrite Reumatóide.

Estágio 3

O estágio 3 é quando os pacientes começam a sentir formas mais graves de inflamação e dor nas articulações.

Nódulos reumatoides, que são caroços firmes sob a pele, também podem começar a se formar. O dano articular se torna mais pronunciado, com limitação funcional e desenvolvimento de deformidades.

Exames de imagem mostram sinais mais claros de destruição articular.

O diagnóstico se torna mais direto e evidente nessa fase. Os exames de sangue geralmente mostram altos elevados de marcadores inflamatórios.

Estágio 4

O estágio 4 é marcado por danos articulares significativos e deformidade, afetando significativamente a qualidade de vida do paciente.

Clinicamente, ele é caracterizado por dor e inchaço extremos nas articulações, deformidades significativas e facilmente perceptíveis mesmo sem exames de imagem.

A Fadiga crônica e a sensação generalizada de mal-estar torna-se bastante pronunciada.

Tratamento sem cirurgia

Cerca de 80% do dano articular acontece nos dois primeiros anos após o diagnóstico. Por isso, o tratamento deve ser precoce e agressivo.

Não existe cura para a artrite reumatóide. Assim, o objetivo do tratamento pode incluir:

  • Manutenção do paciente na fase de remissão dos sintomas;
  • Controle da inflamação das articulações;
  • Controle ou correção das deformidades ósseas;
  • Melhora da função das articulações.

O objetivo principal do tratamento é atingir a remissão da doença.

A remissão  é um período em que a doença apresenta pouco ou nenhum sintoma. Ela pode durar semanas, meses ou anos. 

Para caracterizar a remissão da Artrite reumatoide, é preciso considerar:
  • Ausência de dor, inchaço ou rigidez nas articulações
  • Normalização dos marcadores inflamatórios no sangue
  • Pouca ou nenhuma progressão de danos às articulações
Medicamentos

Os principais medicamentos usados no tratamento da Artrite Reumatóide incluem:

Medicamentos Antireumáticos modificadores da doença

Medicamentos Antireumáticos modificadores da doença incluem os imunossupressores sintéticos e os imunobiológicos

Esses medicamentos retardam a progressão da artrite reumatoide e são dados para quase todas as pessoas com a doença assim que o diagnóstico da doença é feito.

Esses medicamentos podem levar até 6 a 12 semanas para fazerem efeito. Assim, habitualmente são prescritos medicamentos anti-inflamatórios ou corticoesteroides até que os medicamentos modificadores da doença estejam fazendo efeito.

Imunosupressores sintéticos como metotrexato, hidroxicloroquina, leflunomida e sulfassalazina são as drogas de primeira escolha. Quando a resposta a esses medimentos for insatisfatória após aproximadamente 6 meses de tratamento, os imunobiológicos devem ser considerados.

Todos esses medicamentos possuem efeitos adversos sobre diferentes órgãos e sistemas, de forma que uma avaliação clínica completa se faz necessária antes e durante o uso dos medicamentos.

Além disso, eles fragilizam os sistemas de defesa do organismo, de forma que o risco de infecção é maior. Todo paciente deve também ser educado a identificar os sinais de infecção. O tratamento dos quadros infecciosos deve ser mais agressivo do que para a população geral, devido ao maior risco de agravamento da infecção.

Anti-inflamatórios

Os anti-inflamatórios não esteroides podem ajudar no alívio da dor e da inflamação. Eles não modificam o curso da doença e possuem efeitos colaterais importantes, especialmente nos rins, trato gastrointestinal e coração. Assim, o uso de longo prazo deve ser evitado.

Eles geralmente são mantidos até que as drogas modificadoras da doença estejam fazendo efeito, o que pode levar até 6 a 12 semanas.

Corticoesteroides

Medicamentos corticosteroides têm uma potente ação anti-inflamatória e ajudam a retardar os danos nas articulações.

No entanto, têm efeitos colaterais indesejáveis de longo prazo, incluindo osteoporose, diabetes, ganho de peso, perda de massa muscular.

Geralmente, eles são usados nas agudizações e busca-se interromper o uso posteriormente. Ainda assim, alguns pacientes podem necessitar do uso de cortocoesteroides em baixas doses por longo prazo.

Fisioterapia

A fisioterapia tem como objetivos a reeducação postural, a melhora da função muscular e articular e o aumento da força e da flexibilidade.

Para isso, exercícios específicos são orientados de acordo com as necessidades individuais de cada paciente.

Durante a fisioterapia, é indispensável a mobilização articular passiva em cada articulação afetada pela doença.

Órteses (imobilizadores removíveis)

Os imobilizadores removíveis podem ser indicados no caso de instabilidade das articulações (1). Isso acontece, por exemplo, na presença de lesões irreparáveis de tendões

Elas têm por objetivo a recuperação da função, além de evitar a progressão de deformidade.

As órteses são habitualmente indicadas para as pequenas articulações das mãos. Mas, eventualmente, podem ser indicadas para as grandes articulações, como os joelhos.

Tratamento cirúrgico

A cirurgia pode ser considerada quando a dor, a estabilidade, as deformidades e a função não puderem ser razoavelmente estabelecidas por meio dos tratamentos sem cirurgia descritos acima.

A cirurgia de Artrite Reumatoide pode envolver um ou mais dos seguintes procedimentos:

  • Sinovectomia (remoção de parte da membrana que envolve as articulações e os tendões).
  • Reparo de tendões.
  • Artrodese (fusão entre dois ossos).
  • Artroplastia: substituição da articulação desgastada por uma prótese.

Sinovectomia

A sinovectomia é um procedimento no qual é feita a remoção do tecido sinovial abundante das articulações ou ao redor dos tendões. Ela pode ajudar a reduzir a inflamação e, com isso, melhorar a dor e a flexibilidade.

A sinovectomia torna a articulação mais saudável e menos inflamatória, podendo com isso evitar a progressão da destruição articular (1).

O procedimento geralmente é indicado para os estágios iniciais da doença, quando os medicamentos não forem suficientes para evitar os surtos inflamatórios da doença.

Dependendo do caso, ela pode ser feita por via aberta (cortando a pele para observar a articulação) ou artroscópica (por meio de videocirurgia).

Reparo de tendões

A inflamação crônica pode fazer com que os tendões ao redor da articulação se soltem ou se rompam. Isso acontece especialmente nos tendões ao redor dos punhos e mãos.

Sem os tendões, a articulação evolui com deformidade progressiva e perda de movimento. Para evitar isso, pode ser indicada a cirurgia para o reparo de tendões.

O reparo destes tendões pode ajudar a recuperar a função da articulação e retardar a instauração de deformidades ósseas.

Fusão articular (artrodese)

A fusão cirúrgica de uma articulação, procedimento tecnicamente denominado de artrodese, é uma cirurgia na qual dois ossos são grudados por meio de parafusos ou outras formas de fixação, passando a funcionar como se fossem um único osso.

Ela pode ser recomendada para corrigir deformidades graves associadas a instabilidade. O paciente troca uma articulação instável e dolorosa por outra estável e sem dor, mas tudo isso às custas da perda de movimento. A melhora funcional também costuma ser significativa.

A artrodese é mais comumente usada para tratar o desgaste dos tornozelos, dedos dos pés ou mãos, punhos e coluna.

Artroplastia (prótese)

A Artroplastia é uma cirurgia na qual a articulação é substituída por uma prótese. Ela é indicada para o tratamento de dor grave associada a desgaste e destruição da articulação.

A colocação da Prótese é habitualmente indicada no tratamento de grandes articulações, como quadris, joelhos ou ombros. Eventualmente, poderá ser feita também nas articulações menores nos dedos das mãos e dos pés.

A prótese na artrite reumatoide costuma ser indicada em uma idade mais precoce do que na artrose idiopática. O risco de complicações, como soltura e desgaste, aumenta nestes casos (1). Ainda assim, com os novos implantes disponíveis nos dias de hoje, a tendência é que a durabilidade seja muito maior do que em tempos passados.

O risco de infecção também é maior, devido ao uso crônico de medicações corticoesteroides e imunossupressores.

A infecção é uma das complicações mais sérias da cirurgia de artroplastia e, de fato, estudos demonstram risco de infecção duas vezes maior após uma prótese em pacientes com artrite reumatoide.

Apesar de tudo isso, estudos demonstram uma melhora significativa na qualidade de vida do paciente com artrite reumatoide após a prótese e um índice de satisfação acima da média dos outros pacientes que realizam este procedimento.

Prognóstico da Artrite reumatoide

O prognóstico para artrite reumatoide varia muito, sendo difícil prever o efeito exato na qualidade de vida ou mesmo na expectativa de vida de uma pessoa.

Como regra geral, pessoas com artrite reumatoide têm duas vezes mais probabilidade de morrer do que pessoas da mesma idade sem a doença.

No entanto, com o tratamento adequado, muitas pessoas podem ter vidas longas e com sintomas relativamente leves.

Cerca de 80% do dano articular acontece nos dois primeiros anos após o diagnóstico. Por isso, o diagnóstico precoce e o  tratamento precoce e agressivo são determinantes no prognóstico do paciente.

Com as melhorias no tratamento e na condução da doença, as taxas de admissão hospitalar, as taxas de artroplastia (cirurgia para colocação de prótese), bem como as altas taxas de mortalidade vistas anteriormente em casos graves estão em declínio.